31 janeiro 2014

A minha gata aderiu à "moda" dos anti-depressivos.

Eu não estou a brincar ou a ser irónica. Estou mesmo a falar a sério. Chica, a gata quadrilontra, gorda na quinta casa, está a tomar anti-depressivos. Sim, anti-depressivos, não me enganei a escrever. Eu nem sabia que os gatos podiam tomar anti-depressivos. Diz que a bicha ficou muito afectada pela mudança de casa e porque o irmão, o Chico, teve de se mudar de volta para o Porto. O Chico voltou às origens porque, basicamente, capotou das ideias. Um dia acordou e começou a achar giro virar bully e vai de porrada na Mofli e na Francisca. Um dia, o bicho capotou das ideias e por muito que me custasse, não dava para continuar a assobiar para o lado e a fazer de conta que aquilo lhe ia passar. Era pancadaria a toda a hora e ousasse a Francisca passar-lhe perto, tau, arranhadela. Pronto, voltou para o Porto, para junto de um outro irmão, onde se diz estar feliz da vida. Já comprovei e sim senhor, bicho está satisfeito. Mas diz que a Chica está em processo de desgosto. Começou a ir à areia 3481 vezes por dia, a fazer casa de banho de onde lhe parecia bem e quem ia tendo um ataque de nervos era eu. Diz quem sabe de gatos que tem uma infecção urinária e está em stress, ansiosa e coisas gato-psiquiátricas, por isso, o veterinário deu-lhe uns drunfezinhos. Eu até tinha vontade de me rir. Mas como de cada vez que tenho de lhe enfiar o comprimido goela abaixo fico sem um dedo (e a manicure, senhores, a manicure!) perco logo a vontade de me rir. E menos me dá ainda quando a Francisca vem, curiosa e diz que também quer remédinho da Chica (agarrada esta rapariga, adora tomar remédinhos, credo!). Fez-me lembrar uma estória que me contaram da filha de dois psiquiatras: um dia, estava a criança sentada no sofá, muito quieta e perguntaram-lhe o que tinha. Ao que a criança, de uns 4 anos, respondeu solenemente "estou deprimida". A mãe saltou para a beira dela e disse "não estás nada deprimida, percebes? Estás só um bocadinho triste está bem? Um bocadinho triste!" Maneiras que eu tem dias em que me sinto num filme do Kusturica, até porque gato branco nem vê-lo, mas gato preto é o Chico. Agora a gata Chica toma anti-depressivos, a Francisca está doente, tosse noite dentro, febre estrela-ovos-na-testa e parece a miúda do exorcista em vómitos. Eu nem sei se me ria ou se chore. Depois penso que é melhor a gata não quinar ou precisar de psicoterapia. A minha vida não dava um filme. Só se fosse de humor negro. 

30 janeiro 2014

Eu sei que sim, mas eu tenho coração.

Hoje, fui às urgências com a Francisca. Apanhei um susto. Eu sei, eu sei, não é nada de catastrófico, mas dizerem-me que a miúda já não estava com a saturação de oxigénio como devia e que estava em esforço, fez o meu coração parar. Para logo a seguir, numa fracção de segundos, a adrenalina o voltar a obrigar a bater. Disse a mim própria para não ser mariquinhas. Para usar a cabeça e não o coração. Eu sei, eu sei, coisas de crianças. Um bocadinho de oxigénio para ajudar a respirar melhor (e para mim? respira, respira mariquinhas, mantém a calma, tu sabes que não é algo do outro mundo, respira, dá-lhe calma, dá-lhe conforto, aguenta-te que motherhood is not for sissies!). Medicação, resguardo, mimo, carinho, paciência. Eu sei, eu sei, não é nada de muito grave e há coisas muito piores. Limpa-se vómito e ranho, diz-se que já vai passar tudo com o "remédinho", aguenta-se as más noites de choro pela doença, limpam-se as lágrimas de desconforto, vela-se a respiração, medicação certinha e tudo vai passar. Eu sei, eu sei, eu sei que isto passa e não tarde está de novo aos pinotes e não foi nada com ela. Mas como dizia o meu querido Matt, quando a filha de um colega nosso foi submetida a uma pequena cirurgia, as pequenas cirurgias são as que são feitas nos outros, não em nós ou nos nossos. Agora, Francisca dorme, de respiração ofegante.  Deixou-se dormir no sofá, encolhida sobre ela mesma. Levei-a ao colo para a cama, a cabeça encostada no meu peito, tão pequena a minha Menina grande, tão minha, tão de mim. De cada vez que a Francisca fica doente e a vejo com aqueles olhos fundos, parte de mim também adoece. E eu sei que é a melhor parte de mim. 

Bom dia, bom dia... (quase em versão fófinha, quase…)

Pronto. Está tudo janado. Mete cãezinhos. 

(Sim, eu sou um bicho que se derrete com animais. Gosto mais deles do que de algumas pessoas. E sim, dormi muito mal e muito pouco e fico um bocadinho menos cubo de gelo  quando estou podre de sono e agora vou ali passear a minha cria às urgências. E nem sei o que é pior, se gramar com a malta e o ambiente sinistro das urgências pediátricas desta terra do inferno ou ter a Oksana aqui a zumbir-me os ouvidos que eu sou uma bicha má porque lhe disse que era preciso limpar o forno e as juntas da tijoleira, ai a minha vida ou o baralho...) 

29 janeiro 2014

O melhor do meu dia.

Confesso que hoje não foi fácil encontrar o melhor do meu dia. Não é a primeira, nem será a última vez que a Francisca está doente. Mas custa. Cansa. Aperta o coração. Tanto vómito, tanto ranho, tanta febre, tanta impotência, tanto nada e vai tudo na vassoura. Hoje o melhor do meu dia, foi mesmo ouvir esta música. 
() 
Believe me when I say  
It's not about your scars 
 It's all about your heart
(…) 

Eu sabia que o problema era o não fazer a cama!

Eu adorava ser capaz de ter mais 5 minutos todas as manhãs. Claro que podia acordar mais cedo, mas também podia gostar de bacalhau e abomino o dito. Também se os tivesse, era menina para os usar para dormir, que eu sou uma pessoa muito dada a sonos. Não é defeito é feitio. Assim, claramente, o problema de ser destrambelhada advém de não fazer a cama. Assim, respondendo ao inquérito (?) que encontrei no Querido mudei a Casa , vejamos: 

Todos os dias, desfazemos a nossa cama e no corre-corre das tarefas diárias, pode muitas vez surgir a questão: porquê fazer a cama todos os dias? 
- a acção de fazer a cama reposiciona-o no momento "aqui e agora", numa espécie de meditação e ritual.  
Muitos dias, demoro imenso tempo a perceber onde estou. Quando percebo onde estou, procuro o telemóvel às apalpadelas e tento desbloqueá-lo, o que nem sempre é simples. Depois, vejo as horas. Quando vejo as horas, percebo que já estou atrasada. É um ritual também, certo? A minha meditação passa por pensar como vou não chegar muito atrasada e mesmo assim fazer tudo o que gosto de manhã. 

- é algo que pode fazer de imediato e dá-lhe uma "injecção de organização" para começar o dia com a sensação de que está tudo "em ordem". 
Prefiro injecções de cafeína. Mas sou organizada porque tenho o caminho livre entre a cama e a máquina de café, fruto de vários acidentes, mas isso não interessa agora.

- é um bom hábito que traz outros bons hábitos. Uma rotina de bem-estar provoca produtividade. 
Café também dá produtividade. 

- ao fazer a sua cama está a criar um espaço agradável e convidativo, está a cuidar do quarto destinado ao seu descanso. Isso produz uma ambiência de beleza e bem-estar, ainda que para alguns o caos seja inevitável. 
É isso, eu sabia!!! Eu cresci no caos da Tribo, nunca vou chegar a jacaré. 

- a sua cama reflecte o que se passa dentro de si. Uma cama caótica, o que quererá dizer de si próprio? 
Ahahahahah, não faço ideia. De verdade! Move, train wreck!!! 


- vai ver que vai dormir melhor! Há sensação melhor do que entrar numa cama feita com cuidado, os lençóis cheirosos e bem esticadinhos? De acordo com um inquérito realizada pelo National Sleep Foundation, as pessoas que fazem suas camas todas as manhãs, têm um sono melhor à noite. 
Eu cá durmo muito bem. Não sejam dores diversas, a minha criança ululante ou os meus vizinhos de cima, quero lá saber se fiz a cama ou não. Sou dada a dormir. Já disse? 

Não são privilégios convincentes para uma tarefa que leva cinco minutos,  no máximo?
Naaaaaa!!!  


28 janeiro 2014

O melhor do meu dia.

Febres e vómitos à parte, o melhor do meu dia foi vê-la correr para mim, quando a fui buscar mais cedo à Escola, a gritar feliz e com cara de doente "Mamã!!!" O melhor do meu dia foi poder dar-lhe colo, ser o porto de abrigo. O melhor do meu dia, foi ter a minha Filha perto. Hoje, foi impossível não ver o vídeo da Mãe do Rui Pedro, a Filomena, e  sentir o coração pequeno pela dor inimaginável daquela Mãe. Hoje, não pude não agradecer por ter a minha Filha perto, por poder ser (A) Mãe para a Francisca. Em coisas "simples" como dar "remédinho", "cupusitório" (nem comento…), velar o sono e ouvir a respiração ofegante, enquanto penso que doença infantil será desta vez. O melhor do meu dia, foi poder ser o porto de abrigo para a minha Filha, ser-lhe (A) Mãe. E desejar que nunca, nunca, nunca me roubem esse direito. 

O curioso caso de Benjamin Button.

Gostei do filme. Já passaram uns anos e ainda me recordo plenamente dele. Ontem, ouvi algo que me levou de volta ao "Curioso caso de Benjamin Button": "para que quer um velho um Ferrari? Devia ser possível viver ao contrário, ter um Ferrari enquanto se é novo, trabalhar quando se é velho, para ter a sabedoria de o saber fazer. E claro, os reflexos para conduzir o Ferrari no auge da juventude". Fiquei a pensar nisso. Não sei bem ao certo o que me prendeu nessa conversa de café, que ouvi porque não sou surda, mas algo me fez não esquecer. Não aspiro a ter um Ferrari. Mas, gostava muito de um dia ter a sabedoria da minha Avó. Talvez se a conseguisse ter hoje, tudo fosse diferente. Mas "o caminho faz-se caminhando" e a sabedoria não se passa em meia dúzia de conversas, letras de livros e palestras. A sabedoria a que me refiro, claro, não é a dos livros e papéis onde passeio o cérebro grande parte do dia. Talvez só sejamos mesmo capazes de aprender com os erros. Ou nem assim. Talvez a experiência seja a condição indispensável. Não a dos outros ou a do meu laboratório, mas a experiência que dói no corpo e sobretudo na alma. Viver ao contrário seria uma paródia. Porque tenho para mim que, por muito que alguém muito mais velho não tenha os reflexos que eu tenho hoje, tenho a certeza que será muito mais capaz de aproveitar o carro que tem nas mãos. Sobretudo, porque muito provavelmente já aprendeu que o que importa não é o destino, mas sim a viagem. 

Eu é mais atum.

Vir de casa dos meus Pais é como ter ido ao supermercado sem pagar. Não, não meto coisas às escondidas na mala do carro. E sim, tenho zero de vergonha de dizer que os meus Pais me atestam a mala do carro (e me oferecem um depósito de gasóleo) quando vou a casa deles. Mimada, dirão. Defeitos de filha única, talvez. A-zar, eu cá agradeço imenso a ajuda deles, porque como diz o senhor meu Pai, se não me der a mim vai dar a quem, à Mofli? Bem, esta vez, senhora minha Mãe passou por mim, directa à mala do carro e disse qualquer coisa como "o Pai comprou atum para ti que estava em promoção". Não liguei e disse "ya ya ya poreiro, fixe, obrigada" que de borla até injecção na testa. Ontem estive a arrumar as coisas. Contei as latas de atum. 56 latas de atum. Cin-quen-ta e seis latas de atum. Em caso de cheias, tremores de terra ou cataclismos variados, estou assegurada. Tenho 56 latas de atum. 

27 janeiro 2014

De praxes, vidas e o que o mar roubou nunca mais trará de volta.

O texto abaixo não é meu. Partilho-o porque sou Mãe. Porque me dá um nó no peito pensar naqueles Pais que precisam de uma resposta, de algo que ajude a atenuar a dor, porque passar, nunca vai passar. Porque não quero estar no lugar deles e porque sou incapaz de saber o que estão a passar. Mas, sou Mãe. E saberem o que aconteceu não trará de volta o que o Mar lhes roubou... mas trará alguma paz, algum conforto. Porque sou Mãe e sei o que sou capaz de fazer pela minha Filha. E porque acredito que os Pais não devem nunca ficar órfãos de filhos. Nunca. 
Dux:

Ando aqui com esta merda entalada há já algum tempo. A ouvir as diferentes versões, a pensar nas dúvidas e a pôr-me no lugar das pessoas. Tento pôr-me no lugar dos pais dos teus colegas que morreram. Mas não quero. É um lugar que não quero nem imaginar. É um lugar que imagino ser escuro e vazio. Um vazio que nunca mais será preenchido. Nunca mais, Dux. Sabes o que é isso? Sabes o que é "nunca mais"?

A história que te recusas a contar cheira cada vez mais a merda, Dux. Primeiro não falavas porque estavas traumatizado e em choque por perderes os teus colegas. Até acredito que estivesses. Agora parece que tens amnésia selectiva. É uma amnésia conveniente, Dux. Se calhar não sabias. Ou então andas a ver se isto passa. Mas isto não é uma simples dor de cabeça, Dux. Isto não vai lá com o tempo nem com uma aspirina. Já passou mais de 1 mês. Continuas calado. Mas os pais dos teus colegas têm todo o tempo do mundo para saber a verdade, Dux. E vão esperar e lutar e espremer e gritar até saberem. Porque tu não tens filhos, Dux. Não sabes do que um pai ou uma mãe é capaz de fazer por um filho. Até onde são capazes de ir. Até quando são capazes de esperar.

Vocês, Dux... Vocês e os vossos ridículos pactos de silêncio. Vocês e as vossas praxes da treta. Vocês e a mania que são uns mauzões. Que preparam as pessoas para a vida e para a realidade à base da humilhação, da violência e da tirania. Vou te ensinar uma coisa, Dux. Que se calhar já vai tarde. Mas o que prepara as pessoas para a vida é o amor, a fraternidade, a solidariedade e o civismo. O respeito. A dignidade humana e a auto-estima. Isso é que prepara as pessoas para a vida, Dux. Não é a destruí-las, Dux. É ao contrário. É a reforçá-las.

Transtorna-me saber que 6 colegas teus morreram, Dux. Também te deve transtornar a ti. Acredito. Mas devias ter pensado nisso antes. Tu que és o manda-chuva, e eles também, que possivelmente se deixaram ir na conversa. Tinham idade para saber mais. Meco à noite, no inverno, na maior ondulação dos últimos anos, com alerta vermelho para a costa portuguesa? Achavam mesmo que era sítio para se brincar às praxes, Dux? Ou para preparar as pessoas para a vida? Vocês são navy seals, Dux? Estavam a preparar-se para alguma missão na Síria? Enfim. Agora sê homenzinho, Dux. E fala. Vá. És tão dux para umas coisas e agora encolhes-te como um rato. Sabes o que significa dux, Dux? Significa líder em latim. Foste um líder, Dux, foste? Líderes não humilham colegas. Líderes não "empurram" colegas para a morte. Líderes lideram por exemplo. Dão o peito e a cara pelos colegas. Isso é um líder, Dux.

Não sei o que isto vai dar, Dux. Não sei até que ponto vai a tua responsabilidade nesta história toda. Mas a forma como a justiça actua neste país pequenino não faz vislumbrar grande justiça. És capaz de te safar de qualquer responsabilidade, qualquer que ela seja. Espero enganar-me. Vamos ver. O que eu sei é que os pais que perderam os filhos precisam de saber o que aconteceu. Precisam mesmo, Dux. É um direito que eles têm. É uma vontade que eles precisam. Negá-los disso, para mim já é um crime, Dux. Um crime contra a humanidade. Uma violação dos direitos humanos fundamentais. Só por isso Dux, já devias ser responsabilizado. É tortura, Dux. E a tortura é crime.

Sabes, quero me lembrar de ti para o resto da vida, Dux. Sabes porquê? Porque não quero que o meu filho cresça e se torne num dux. Quero que ele seja o oposto de ti. Quero que ele seja um líder e não um dux. Consegues pereceber o que digo, Dux? Quero que ele respeite todos e todas. Que ele lidere por exemplo. Que ele não humilhe ninguém. Que seja responsável. Que se chegue à frente sempre que tenha que assumir responsabilidades. Que seja corajoso e não um rato nem um cobardezinho. Que seja prudente e inteligente. E quero me lembrar também dos teus colegas que morreram. Porque não quero que o meu filho se deixe "mandar" e humilhar por duxezinhos como tu. Não quero que ele se acobarde nem se encolha perante nenhum duxezinho. Quero que ele saiba dizer "não" quando "não" é a resposta certa. Quando "não" pode salvar a sua dignidade, o seu orgulho ou até a sua vida. Quero que ele saiba dizer "basta" de cabeça erguida e peito cheio perante um duxezinho, um patrãozinho, um governozinho ou qualquer tirano mandão e inseguro que lhe apareça à frente. É isso que eu quero, Dux. Quem o vai preparar para a vida sou eu e a mãe dele, Dux. Não é nenhum dux nem nehuma comissão de praxes. Sabes porquê, Dux? Porque eu não quero um dia estar à espera de respostas de um cobarde com amnésia selectiva. Não quero nunca sentir o vazio dos pais dos teus colegas. Porque quero abraçar o meu filho todos os dias da minha vida até eu morrer, Dux. Percebeste? Até EU morrer. EU, Dux. Não ele.

Eu o facebook. Eu e a porra do facebook. O problema, sou eu.

Volta e meia, sou acometida por nervos variados e azias diversas e digo que vou acabar com a conta que possuo no dito. Ai córrore já chega, já chega, não serve para nada e atirem-se aos cães que não me vêm as trombas por lá. Nem da 'mha rica Filha, que com a idade, comecei a ser muito chata, ou conscenciosa e eu é que escolho o que partilho ou guardo. Pronto, talvez vá pelo chata e démode, bicho do mato também serve. Sim, volta e meia sou atacada de um qualquer surto psicótico e digo que é hoje, é hoje, é hoje segurem-me que vou acabar com a coisa. Argh. Blach. O problema não é o facebook, sou mesmo eu. Depois, calha de estar aborrecida da vida e lá abro a coisa. E descubro que a minha Afilhada tem namorado e quase caio da cadeira. Está bem que a rapariga vai fazer 18 mas eu preferia não dar com o focinho em certas coisas no facebook, tipo fotos e declarações de amor do mais piroso possível. Deu-se-me algo parecido com um afrontamento. Já passou, que já fiz um check de quem é a personagem, além de interrogatório completo, olhos nos olhos. Creio que encostei a "miúda" literalmente à parede, apesar de ela ter mais um palmo de altura que eu. Depois, bem depois, o problema não é o facebook, sou mesmo eu. Também como vou lá quando o Rei faz anos, fico sem perceber 90% das coisas que ocupam o meu feed de notícias e sinto-me uma info-excluída que vive numa caverna. Além de que não tenho nada de interessante para escrever no facebook. Quem é que quer saber se hoje estou muito mal do meu cóxis ou que está um rico dia se não chover? O problema não é o facebook, sou mesmo eu. E então, porque não acabas com a conta e te calas com isso? Simples. Resumindo, na óptica desta utilizadora, o facebook serve, basicamente, para: 1) me dar afrontamentos; 2) ver coisas que não quero/não preciso/ não tenho de/ não era suposto saber; 3) descobrir que estou fora de moda em diversas áreas e 4) descobrir lojas como esta ou esta (ah mas esta é para a Piquena, não conta. Conta?) ou ainda esta e estourar dinheiro. Maneiras que o problema não é o facebook, sou mesmo eu e a minha tara com compras. Assim, enquanto o propósito número 4 se mantiver, a conta de facebook vai ficando. Fútil. Fútil. Tem dias que não quero ser mais que fútil. Processem-me. 
*no dia em que acabar de vez com a conta, vou continuar a saber das Pessoas por onde mantenho contacto exclusivamente via facebook. Porque gosto delas e as procurarei.  Simples. 

26 janeiro 2014

O melhor dos meus dias ( em modo fim de semana)

O Porto. Nas suas diversas dimensões. Nas suas dimensões que são em parte minhas, o Porto das minhas Pessoas. O Porto num cheesecake da Ribeiro onde me cantaram de novo os parabéns nos e aos 30. No nevoeiro e na chuva, no cinza contínuo e na marginal tão calma, tão presente. O Porto, nas ruelas de luz difusa e de encantos comprometedores. Na Francesinha e no copo (enorme) de vinho do Porto que cravei ao Empregado. No riso incontrolável. O Porto do Dragão, onde levei a minha Avó a comemorar os seus 87 anos, feitos Sábado e festejados com gritos de golo (e muitos palavrões pelo meio). O Porto. Não é só a minha Cidade. Mas é também o meu Mundo. 

25 janeiro 2014

23 janeiro 2014

2. O melhor do meu dia

Rir. Rir como uma perdida até às lágrimas no meu estaminé. Com colegas  amigos(?) amigos  (o tempo responderá a isto, quem sabe…?). Cantar. E rir até às lágrimas. Com pessoas novas. E querer que sejam, também, parte das minhas Pessoas. Porque José Cid é universal. E rir, rir é das coisas que mais gosto. Rir de "Favas com chouriço". Rir. (e eu adoro favas com chouriço, de verdade, a-do-ro!).  
(…) 
Faz-me favas com chouriço 
O meu prato favorito 
Quando chego para jantar 
Quase nem acredito! 
(…)
 O melhor do meu dia: rir. E sorrir. Nem que seja à custa de favas. 

22 janeiro 2014

1. O melhor do meu dia.

A história da hora de deitar. Devagar, numa cadência de ternura e baixinho "(...) hás-de lembrar-te de mim." O sono que finalmente vence. "E quando esse dia chegar, meu amor, hás-de lembrar-te de mim".  

O melhor do meu dia.

"No final do dia. antes de fechar os olhos e ceder ao cansaço, fazemos um exercício: 

escolher o melhor do nosso dia.

Fazemos as pazes com o que correu mal, aceitamos as respostas que ainda precisam de tempo, acalmamos os medos e as angústias e guardamos apenas o melhor. 

Podem ser horas de festa ou apenas um instante de silêncio.
"O melhor do meu dia" é uma fotografia feita de letras em que ficamos sempre bem. 

É essa a memória que queremos guardar. 
É a essa a força que queremos para o dia seguinte: adormecer com um sorriso. "
Tinha visto noutros blogues. Pensei se. Achei piada à ideia de a cada dia fazer este exercício. Pensei se. Hoje, foi o dia, depois uma conversa curta de tempo mas longa de emoção. 

Se mal de burro...

… pior de arado. Isto de mudar de casa tem o seu quê. Não se muda só de casa, muda-se de pessoas. Nunca me tinha apercebido. A maior parte da minha vida, morei numa moradia onde os vizinhos estavam do lado de lá da cerca e quando muito, só os da moradia abaixo me irritavam, adeptos fanáticos do Benfica (blach). Adorava ver o desânimo deles quando a equipa perdia, mas isso é porque eu sou má. No meu prédio antigo, nunca tive problemas com barulho. Nunca. Tinha um vizinho estranho e vá, o meu vizinho de baixo volta e meia bebia de mais em dias de festa e havia festival nas escadas. Mas era pontual e eu ria-me. também porque simpatizava com a pessoa em questão. Pelo menos, o mínimo para me rir das bebedeiras. Os meus vizinhos, mesmo o estranho, eram pessoas "silenciosas". Não faziam barulho, não chateavam ninguém, tudo na paz. Dois dos três vizinhos eram Amigos. Os meus antigos vizinhos do lado eram meus Amigos e ainda hoje me custa terem ido embora. Tinham um bebé que pouco se ouvia, eram prestáveis, ajudaram-me muitas vezes quando me vi em apertos diversos. Tenho-lhes muitas saudades. Mudei para um casa melhor, mais confortável. Mas mudei também para outras pessoas. Nunca tinha pensado nessa questão. E até ver, não gosto. Já falei dos meus vizinhos de cima, que gritam tipo cabras do monte, martelam no chão, não têm chinelos para calçar e por aí. Mas ontem descobri que se mal de burro, pior de arado. À uma e meia da manhã, os meus vizinhos do lado acharam por bem ir correr na sua passadeira. Gente adepta do desporto, sim senhor, dá saúde. Correr na passadeira, uau, upa upa. Ora, mas e a passadeira onde está? Na arrecadação por baixo do meu apartamento. Uma e meia da manhã. Vão ser fanáticos de desporto para o raio que vos parta (para não dizer pior) de madrugada. Quero dormir. A Francisca quer dormir. Eu preciso de dormir. Tum-tum-tum. Música aos berros "weeeeee fooooound love in a helpleeeeeeesssssss place". Desejei que tropeçassem na porra da passadeira de uma vez por todas, mas isso é porque eu sou má. Tum-tum-tum-tum. Pensei em levantar-me, por a mão na anca e dar o meu ar de mulher do Norte cheia de sono, do alto do meu robe de vaca. Mas, por questões que aqui não são chamadas, não o posso fazer. Uma e meia da manhã. Tum-tum-tum-tum. "Weeeeeee foooooooound love in a helpless plaaaaaaaceeeeee". E usar phones, será que não conhecem o conceito? Camafeus do… . A minha casa nova é muito mais confortável, tem mais luz, mais sol, parece-me mais minha do que a antiga. Mas as pessoas que me rodeiam dão-me vontade de voltar a empacotar tudo e dizer que afinal, esquece lá vidros duplos e ares condicionados, quero o meu sossego de volta. 

20 janeiro 2014

A outra era de maçã, esta é de chá, quereis ver?

Gosto de chá. Sempre sem açucar. Verde, Preto, de Jasmim, de Menta, chás meios marados de combinações improváveis and so on and so forth. 'Mha rica sogra decidiu oferecer-me uma série de chás da última vez que veio ao meu Pardieiro. Até que achei piada e "ai que giro" com sinceridade.  Hoje fiquei em casa com a Maria Ranhosa, fruto do tempo, penso, logo lhe passa. Fui fazer chá, armada em fina. Descobri os ditos pacotes. Deu-me, sei lá eu porquê, para procurar a data de validade. 2007. Dois mil e sete. A validade daquilo terminou em 2007. 
… 
Estou maravilhada. 

É uma espécie de "suínitóde"...

Acordei. Com uma motosserra. A podar a porra das p@#$=  das árvores lá fora. As que ficam perto da janela do quarto. Acordei com uma motossera. Lembrei-me do "suínitóde". Está muito frio. E eu de robe de vaca. E a motossera. E quis arrancar a cabeça a alguém. Muito "suínitóde". 

19 janeiro 2014

As "saudades" que eu já tenho do meu vizinho estranho

O meu vizinho estranho era para lá de esquisito. Mas acho que, no fundo, tinha bom coração, aquela alma meia penada que habita um prédio deserto agora. Às vezes lembro-me dele e sinto pena de o saber sozinho na sua solidão, sem ninguém a quem reclamar do frio das casas ou de reclamar de algo, coisa em que era perito. Os meus (novos) vizinhos de cima não me dão vontade de rir como o meu vizinho estranho dava. Dão-me acessos de mente perturbada em versão "eu vou-lhes ao focinho, segurem-me!". Têm uma miúda de uns 6 anos que faz tanto barulho como 4 de 3 anos. Gritam muito. Martelam no chão e acordam a minha criança da sesta. Atiram coisas para o chão às 3 da manhã em cima da minha tola e acordam-me. Gritam muito, todos os dias, não sei se já disse. Acordam-me quase de madrugada, toc toc de saltos, vem-a-casa-abaixo de botas. E gritam muito. Não gosto de gritos. Incomodam-me. Maneiras que o meu vizinho estranho sempre dava para eu me rir um bocado. Acho que com a nova vizinhança ainda acabo na esquadra. Sem vontade de me rir. 

18 janeiro 2014

Cenas que (só) (um)a Mãe sabe.

Francisca tem cara de doente. Francisca tem os olhos fundos. Francisca está atacada de ranho verde em doses industriais. Pela enésima milionésima vez. Francisca cheira a infecção, a doente. Literal e figurativamente. 

17 janeiro 2014

Ide referendar para o raio que vos parta.

Sou a favor da adopção (estou-me a marimbar para o novo acordo ortográfico, processem-me) e não sou eu que tenho algo que ver com as orientações sexuais de cada um, isso é com eles. Do foro íntimo de cada um e do casal. Desde que saibam lidar com o caminho que lhes virá no futuro, o de serem Pais e de prepararem a criança para a sociedade ou Mundo ou o que quiserem (o nome deveria ser referendado?) mesquinho que se lhes pode atravessar no caminho. Que quase de certeza, se lhes vai atravessar no caminho, nem que seja nos olhares arregalados e de esguelha. Nunca ninguém se lembrou de referendar se o colo e o mimo são bons. Ou se devem ser dados às crianças. Mas, num País na penúria, gaste-se dinheiro a referendar "se" os casais homossexuais podem ou não adoptar crianças. Talvez alguém se devesse ter lembrado de referendar as crianças institucionalizadas. Se preferem ter uma caminha num quarto para elas, colo e mimo, beijos mágicos cura dói-dóis. Não estou a querer dizer que as Instituições não fazem o seu trabalho bem. Fazem-no (algumas).  Mas os (alguns) Hospitais também tratam bem os seus pacientes e nem por isso uma pessoa tem menos vontade de voltar para sua casa. Por isso, referende-se se colo, mimo, carinho, cuidado, entrega, disponibilidade, vínculo e tudo o mais que vem na bagagem etiquetada "Pais" é bom e se deve ser dado. Mesmo que seja por dois homens. Ou por duas mulheres. Não se referenda o colo. Ponto. Por isso, ide com a nova proposta (aprovada) de referendo para o raio que vos parta. 

Quero a minha Mãe.

Quero a minha Mãe. No sentido figurativo. Quero a minha Mãe, como dizem as crianças. Quem tem uma Mãe tem tudo. Quero a minha Mãe, no sentido lato. Quero o colo da minha Mãe. Quero o mimo da minha Mãe. Quero ser mimada como mimo a Francisca. Quero que a minha Mãe me diga que não vem ninguém a meio da noite. Que não há Lobo Mau que me roube o sono e me entre descanso adentro com pesadelos. Como eu digo à Francisca. Que o Lobo não vem, porque a Mãe dá porrada no lobo. Porque a Mãe te protege, Francisca, dorme tranquila, que a única coisa que a Mãe deixa entrar são os sonhos. Sim, para ti e para o teu boneco João. E para o Bambi made in IKEA. Quero a minha Mãe. No sentido mais simples da coisa. Quero a minha Mãe. Quero a comida da minha Mãe. Quero as descomposturas da minha Mãe. Quero a frieza pragmática da minha Mãe. A frieza pragmática que me magoa muitas vezes mas que outras tantas tenho de lhe reconhecer um certo ponto de vista, não a ela, mas a mim. Quero enrolar-me em posição fetal e ficar aconchegada, como fica um feto no ventre materno. Protegido. Quente. Quero a minha Mãe. Que me afague o cabelo e me diga para ter juízo, que sou capaz de devorar a vida, se assim eu entender. Ou que me diga para dormir, que o meu mal é sono. Ou para comer, come rapariga, pareces um cabide pendurado pelo cabelo. Pese o que pese agora ou com mais 20 kg no pelo, come rapariga, alimenta-te. Quero a minha Mãe. Não sei em que sentido. Quero ser Filha mesmo já sendo Mãe. Como as crianças, quando caem e se magoam e berram com o ranho que a Mãe limpará, com as costas de uma mão para com a outra lhes secar as lágrimas. Quero a minha Mãe.  Quero o cheiro do perfume demasiado doce que a minha usa e me dá tonturas. Quero a minha Mãe. Num sentido qualquer. 


Para os braços da minha mãe 

16 janeiro 2014

Porque é que...

 … apesar da precariedade, do cansaço mental, de tentar e tentar e tentar e nem sempre conseguir, gosto do que faço? Porque cientificamente, na incerteza da investigação, acredito de coração que um dia o cancro será uma doença curável. Seja ele qual for. Para que um dia, não sei quando, o cancro não roube mais vidas. A mais nenhuma N. A mais nenhuma família. A mais nenhum Pai, Mãe, Filho ou Filha, Irmão ou Irmã. Porque acredito que nos bastidores, pessoas que fazem o que eu faço, um dia darão o guião para muitas mais estórias de sucesso do que de fracasso. Independentemente de o meu País escolher ou não investir em mim, em nós, aos que ficam nos bastidores. Independentemente de não me encher o bolso, enche-me o coração. Para que o cancro não "vá ao bolso da vida". 

Era um dia de outono, em 2011. Mais uma entrevista, mais um artigo para fazer. No caso, já não me recordo bem em que contexto, encontrar alguém que tivesse vencido a batalha contra o cancro. A N., cujo nome não será aqui revelado em respeito a si e aos seus, era uma mulher feliz. Ainda não tinha chegado aos 40 e tinha já sulcos cravados numa juventude roubada pela doença. Mesmo assim, era uma vencedora.
Uma entrevista sem "glamour" nenhum, num café de bairro no meio de nenhures, escondido para os lados de Sintra. A N. estava ainda abalada pelos tratamentos, mas tinha no olhar o brilho da esperança. “Vou poder viver outra vez, dar aulas aos meus queridos alunos”, dizia-me cheia de alegria.
A N. tinha fintado por duas vezes o cancro. Perdoem-me a falha mas a pouca memória que resistiu ao vigor dos dias não me permite saber ao certo o lugar das incidências da maleita. Ainda assim, a N. vencera o cancro. Basta-me saber isso.
Graças às maravilhas do século XXI, fui-lhe acompanhando o regresso à normalidade. Ao longe, observava-lhe os comentários internáuticos e confortava-me saber que a N. estava bem e, acima de tudo, viva. Até ao dia. Até àquele dia de há poucas semanas. Homenagens de conhecidos seus inundaram-lhe a página pessoal online. “Descansa em paz”, “foste uma mulher cheia de coragem”, “nunca nos esqueceremos de ti”. O habitual. O triste habitual. A N. perdeu uma guerra apesar de ter passado os últimos meses a vencer as batalhas todas. Que raio de estratégia militar nos leva desta maneira?
É estranho ver desaparecer pessoas que conhecemos por um dia. A memória está mesmo aqui à mão de semear, cristalizada no outono de há uns anos. A memória que nos deixa sonhar que aquela pessoa há-de estar mesmo aqui, à distância de um telefonema. E depois, vai-se a ver, e ninguém atende do outro lado. Porque o bastardo do cancro não pede licença para regressar, atreve-se a ir-nos ao bolso da vida e rouba mais um ser dos nossos.
Morreremos sempre de alguma coisa, de qualquer coisa. O elixir da vinda ainda não saiu da mitologia e parecer tardar em chegar. De qualquer forma, são pessoas como ela que nos dão lições sobre como enfrentar a ceifeira: a lutar, com cada célula saudável.
Que se lixe o cancro. A vontade da vida será sempre capaz de o esmagar. Mais um dia, mais uma vitória. Nos laboratórios, há outros heróis que trabalham a tempo inteiro para nos livrar de vez da maldição. Até lá, mais cairão e outros sobreviverão. Hoje eu, amanhã tu, ou vice-versa ou nada disto. Mas, acima de tudo, lembra-te: se caíres, não te esqueças de cair de pé. É desta forma que sempre serás recordado. Tu e todos aqueles que já perdeste. Tu e todos aqueles que foram roubados pelo estupor do cancro.
Estas humildes letras são dedicadas à N., aos que perderam amados para o cancro e àqueles que bravamente o enfrentam dia após dia. 

Porque não devo usar óculos para ver o site da Zara.

Era mais feliz antes de ver isto. Não sou infeliz mas fiquei agoniada e a precisar de água com gás. É que não sei bem por onde comece... Se pelo cenário da foto, muito elaborado e muito ala psiquiátrica. Ou se pela pose da "modelo", que me faz lembrar que alguém lhe disse algo como anda-lá-podes-sair-do-quarto-e-ver-pessoas-mas-não-as-assustes-que-isso-não-vale. Se pelo cabelo da moça, que parece que foi penteada por Rosé, a vaca que é choné, numa lambidela descuidada e amarrado com um elástico daqueles de por no papel, dos de borracha, estais a ver? Se pela conjugação "altamente fashionista" da saia com os chenatos-que-são-da-minha-Avó-são-"bintáge"-não-percebes-nada-de-moda!. Se pelo ar completamente deprimido da "modelo", que parece gritar Prozac, Prozaaaac… Fluoxetina, fluoxetina!!!. Claramente, não percebo nada de moda. Mas pelo menos, este ano o meu ar fantasmagórico Neoblanc parece estar in, tal a alvura da moça. 

Nada? Nada. Na-da. Absolutamente, nada.

A licença de maternidade já terminou faz tempo, mas o meu cérebro não está convicto. É que tive mesmo que colocar os dois pés no emprego novamente. Quando chegou a hora do biberão da manhã, estava no pára-arranca na autoestrada. E quando chegou a hora de vestir e depois brincar, estava à frente do computador a ver emails, metade dos quais eram spam. Mais tarde, na altura da birrinha de sono, sentei-me numa sala de reuniões a discutir se o logotipo era mais para a esquerda ou mais para a direita. Bem-vinda à vida como ela era, antes de ser esta.
Nunca tinha parado de trabalhar. Até punha as duas mãozinhas sapudas no fogo em como, ao fim destes meses, estaria mortinha por regressar ao trabalho. Para descansar. Agora, antes de adormecer, ponho gelo e faço compressas para acalmar este ardor nas mãos e no coração. É que vamos entranhando a maternidade e inventando que regressaremos, um dia, ao trabalho. Lá para 30 de Fevereiro.
Não que pretendesse fazer carreira maternal. Nem qualquer outra. Esta fantasia da carreira é como acenar com a cenoura à frente do burro: há os grandes burros, que adoram cenouras, e há os burritos, que se lhes acenarem com couve portuguesa, também comem. A carreira é como uma propaganda que a sociedade fez o favor de inventar num dia em que estava aborrecida a olhar para o ontem. Mas que até tem piada, pois aflige as pessoas sem evidentes dotes artísticos – 'Olá, tudo bem?'. Ou seja, a maioria dos cidadãos. Mas será que dá para fazer carreira de burro? Depois de chegar a cavalo, podemos ainda aspirar a ser unicórnios?
Estava a almoçar com uma amiga quando a filha de oito anos lhe telefonou, chorosa, por ter tido um Satisfaz num teste da escola. Só. Porque um simples Satisfaz, já não satisfaz. Nem aos pais, nem aos filhos. Já ninguém quer ser normal, pelo que chamar alguém de normal tornou-se num grande palavrão. Talvez seja mesmo a maior das ofensas nos dias de hoje: “Sai da frente, meu grande normal!”. Com os filhos passa-se o mesmo: nove meses a rezar para nascerem normais e o resto da vida à espera que revelem o seu corninho unicórnio.
É encantador escutar alguém dizer: “Tens é de fazer o que gostas!”. Só que a maioria das pessoas não sabe do que é que gosta. Ou até sabe, só que não é um gosto que alimente uma barriga, quanto mais duas ou três. Por isso, são muitos os que passam uma vida de rabo para o ar à procura da agulha no palheiro. É uma posição tramada para levar a vida.
Começa tudo na idade da creche com a pergunta tão enganadoramente pedagógica: “O que é que queres ser quando fores grande?”. Polícia, bombeiro, princesa. Nenhuma criança diz que quer ser técnico das finanças, caixa de supermercado ou traficante. São anos e anos de infância a soprar nos ouvidos dos miúdos a lengalenga de que têm de ser alguma "coisinha que se veja" quando crescerem. Os adultos adoram perguntar às crianças acerca das suas aspirações profissionais. Desconfio que é o subconsciente adulto a querer confirmar qualquer coisa como “eu não fui astronauta, este puto também não vai ser, isso é que era bom”.
Não querer ser nada, não estar numa categoria reconhecida socialmente, não é digno. O que, para muitos – 'Olá, outra vez!' -, é aquilo que melhor sabem fazer. Ser um grande Nada ou concluir um mestrado em Excelência do Nada não é valorizado. Estranhamente, pois acredito que quem o consiga fazer só pode ter uma inteligência superior. “Bom dia, queria falar com o senhor Dr. Nada, se faz favor”. “O senhor Dr. Nada agora não está a fazer nada, ligue mais tarde”. 
No fundo, continuamos todos na escola, com a nossa turma, horário e professor. Uns chegam a horas, a maioria nem por isso. Em vez de cromos trocamos cartões-de-visita e quem nos dá réguadas é o patrãozinho e não o senhor professor. Só o cenário é que mudou. Porque a mesada continua a não chegar até ao fim do mês. A minha filha, aos 7 meses, já tem um porta-moedas da Dora Exploradora. Com dinheiro lá dentro e tudo. É o que nos safa na farmácia. 
Tenho inveja da Laura. Porque ela não faz nada e eu faço tudo. Enquanto brinca no chão da sala, controlo os seus movimentos com um olho na miúda e outro no pai, uma mão no teclado do computador e outra no telefone, ambos os ouvidos estão sincronizados com a panela com água a ferver ao lume, a boca mastiga um grande “normal” de um chocolate e o meu cérebro elabora a lista mental de tarefas para o dia seguinte. Vá, quem é que me inveja a mim? São mais que argumentos para ter ciúmes da cabeça vazia de preocupações da miúda. Ciúmes dos gritos que dá quando lhe apetece e só porque lhe apetece. Dava uma unha do pé pela liberdade de não saber, pensar, fazer ou preocupar-me com nada durante… Ah! Mas dava uma unha do pé do meu marido.
Só que já não há mães que não fazem nada. Vou ter de explicar à Laura que a mãe faz mais do que nada. Que não posso entrar pela farmácia de Xabregas adentro e apontar uma pistola: “O leite ou a vida!” (até porque os funcionários de lá são todos amorosos). Que o centro de saúde só tem médico de família e que a pediatra dela é um luxo. Que as vacinas fora do plano de vacinação nacional não são pagas com cascas de banana. E o que é que isto lhe interessa a ela? Outro nada. Concluo que a vida é um somatório de nadas, o que reforça a minha ideia de que o Nada devia mesmo ser profissionalizado. Num instante tínhamos mais Nadas do que desempregados. “Então, estás desempregado?” “Nãoo! Estou sem fazer nada”.
Não ter, fazer ou saber nada é de uma simplicidade digna somente dos mais puros: os bebés. Porque o Nada é o terreno mais fértil para criar e para crescer. A verdade é que já sinto de peito cheio que a miúda é minha filha. E que está com graça. Os primeiros meses foram trabalhos pesados. Mas agora que começo a dominar a cria, tive de vir criar para outro lado. Alguém se vai rir muito com ela, porque para mim pouco ou nada vai sobrar ao final do dia. Mas se continuar a persistir nesta teoria de que o Nada é muito, vou ter todo o tempo do mundo para me rir com ela.

Sofia Anjos, 38 anos, directora de contas numa agência de comunicação, foi mãe pela primeira vez em Maio.  in P3

15 janeiro 2014

30!

 
(CAUTION: sabem aqueles discursos que as "mobie setares" fazem quando recebem um Óscar? é mais ou menos isso o que se segue…) 
Hoje faço 30 anos... Já quase, quase, quase chorei de emoção e com alegria genuína. Já me olhei ao espelho a tentar perceber se pareço ter 30, se pareço ter mais, se pareço mais velha ou mais nova e depois pensei "que se lixe o que pareço, quem não gostar que ponha na beirinha do prato". Já tentei convencer a Francisca que a Mãe hoje faz anos, mas como não viu bolo logo de manhã a lambareira, mandou-me às urtigas mais o cantar-me os parabéns… Já recebi muitos beijinhos e muitos abraços e muitas esse-eme-esses e muitos telefonemas e muitas mensagens no facebook e prendas e tudo e tudo e tudo! Hoje faço 30 anos. E estou feliz por os fazer. E por os poder partilhar, de uma forma ou de outra, com tanta gente que faz parte de mim e dos meus dias. Hoje faço 30 anos! E porque é a "Drive" a música da minha vida também aos 30, o que me apetece mesmo mesmo mesmo dizer agora, é que o whatever tomorrow brings I'll be there! E obrigada! O-bri-ga-da!!!! Mais de 30 vezes seguidas e aos saltinhos dos meus saltos… o-bri-ga-da! A quem me lê neste estaminé e não me sabe a voz, a quem me lê neste estaminé e sabe o meu nome, a quem passa pela minha vida e fica, a todos os que ocupam o seu lugar em mim, o-bri-ga-da!!! Hoje faço 30 anos e fazer anos relembra-me a quantidade de pessoas boas, verdadeiramente boas, que tenho na minha Vida. E que é bom estar viva com tudo que isso acarreta, porque a vida não é só flores e dias de sol e cachorrinhos e rebéubéu pardais ao ninho. E ainda por cima, eu adoro chuva e dias de chuva como o de hoje, que consta ter sido a meteorologia de há 30 anos (e também de há 6, quando nasceu o meu Afilhado… bem, é Janeiro, não se estranha). E é isso e estou um bocadinho sentimental porque não se fazem 30 todos os anos e caramba, sou trintona, pá! Anyway….  Happy B'day to me! 

14 janeiro 2014

Vou fazer 30 anos este mês #10 e 30 filmes da minha Vida...


  • - Gone with the Wind (1939);
  • - The Lion King (1994) :
  • - Pretty Woman (1990) ;
  • - City of Angels (1998);
  • - Romeo + Juliet (1996);
  • - The English Patient (1996);
  • - Independence Day (1996);
  • - A lot like love (2005);
  • - Great Expectations (1998);
  • - Shakespeare in Love (1998);
  • - The Guardian (2006);
  • - Look Who's Talking (1989);
  • - The Phantom of the Opera (2004);
  • - Anna Karenina (1948);
  • - The Game (1997);
  • - A Perfect Murder (1998);
  • - Conspiracy Theory (1997);
  • - Moulin Rouge (2001);
  • - When a Stranger Calls (2006);
  • - The Others (2001);
  • - My Blueberry Nights (2007);
  • - The Black Dahlia (2006);
  • - V for Vendetta (2005);
  • - Black Swan (2010);
  • - The Girl with the Dragon Tattoo (2011);
  • - The Strangers (2008); 
  • - O Pátio das Cantigas (1942); 
  • - The Sixth Sense (1999); 
  • - The Constant Gardenerer (2005); 
  • - The Silence of the Lambs (1991). 
Podiam ser mais. Muitos mais. Foram os que me lembrei. 

Vou fazer 30 anos este mês #9 (que é como quem diz, amanhã)

Duas coisas absolutamente extraordinárias de tão banais e sem nexo que descobri no último dia dos 20 e… : 
- a minha escova de dentes é daquelas "xpto" e demora dois minutos a dizer-me que já está bom a cena do um-copo-com-água-uma-escoooova-e-pasta. Exactamente o mesmo tempo que é suposto deixar o amaciador no cabelo para que este não pareça um ninho de ratos. Nunca tinha pensado nisso. Acho que ninguém se põe a pensar nisso. Mas eu lembrei-me disso hoje de manhã; 
- nasci de cesariana, no começo de uma madrugada fria de Janeiro. A minha Mãe achou boa ideia esperar deitadinha na cama até as contracções apertarem. Até aqui tudo bem, até porque a especialidade dela é mesmo a de por bebés neste Mundo. Só que também achou por bem ir comendo uns iogurtes, apeteciam-lhe iogurtes, fazer o quê? Quando se apresentou na Maternidade e acordou com o Médico a cesariana, o anestesista ia tendo um treco, porque iogurte é indigesto e há 30 anos atrás, cesariana era de anestesia geral. Hoje de manhã, lembrei-me disto. Tudo porque quando estou de ressaca (que não é o caso, wish I…) a única coisa que tolero comer são iogurtes. 
Duas coisas verdadeiramente estúpidas e sem interesse algum que me levaram a esta frase:  
Logic will get you from A to B. Imagination will take you everywhere 
(Einstein)
Vou fazer 30 anos amanhã. Não me apetece perder esta capacidade de me abstrair, unir pontas soltas, fazer associações idiotas e rir-me de mim no final. Não quero perder a capacidade de me rir de mim. Ou a capacidade de sonhar. Ou de imaginar. Chegarei na mesma de A até B, mas por um caminho mais divertido ou mais choroso, não importa. Faço 30 anos amanhã. Não estou com a neura da idade (são só 30, ainda), já comprei há uns meses um creme anti-rugas e se pensar com calma, até que já fiz alguma coisa de jeito dos e aos meus dias. Pela primeira vez, penso em todos os anos em que escolhi fazer festas com amigos e não ficar em casa, perto dos meus Pais. Faz parte de crescer mas, hoje, gostava de amanhã estar perto deles, sem ser num ecrã de computador. 30 anos são três vezes duas mãos cheias de dedos, três vezes duas mãos cheias de tudo e cheias de nada. Amanhã faço 30 anos. E hoje descobri que o amaciador e a escova de dentes estão sincronizados, assim como finalmente percebi porque como iogurtes quando estou de ressaca. 

13 janeiro 2014

Já disse tanta barbaridade (em tão pouco tempo) que vou dormir masé!

Sentei-me a encetar (palavra fina, upa upa!) uma tentativa de ah-e-tal-vou- trabalhar-agora-recuperar-o-tempo-perdido-nestes-dias-e-agora-é-que-vai-for. Quando sento o meu rabo (ainda) partido no meu "quelósete" (desde que habemus pardieiro novo, tenho um "quelósete"que, basicamente, é o sítio onde habitam os meus sapatos, roupas e cenas diversas, assim como a secretária onde sento o meu rabo para trabalhar de casa. Também tenho vidros duplos e muito menos humidade mas isso já não tem nada de fino para dizer, portanto, o "quelósete".), é isto que vejo, a foto acima, que vos mostro. Acho que resume tudo: o bloco (não que alguma vez eu tenha feito bolachinhas, não lhe dou muito nisso), o pisa-papéis (onde tem pintado Francisca) e a moldura. Maneiras que, após fazer de conta que ia trabalhar, fui fazer coisas muito importantes, como: 
- rever o fato do Messi deste ano e pensar que com tanto dinheiro bem que podia pagar a conta da luz para não se vestir às escuras. Também gostei mais do das bolinhas, tinha um je ne sais quoi; 
- procurar o que a Irina usou no "balão de oiro" que é muito mais interessante para mim, moça horrorosa de gira, não há direito; 
- rever e babar com o vestido da Cate Blanchet nos Globos de Ouro e pensar que eu também quero um mas só não tenho porque depois não tinha onde o usar, sendo esse única e exclusivamente o factor que impede a coisa de acontecer; 
- fazer olhinhos a umas peças da Bijulândia AF
- perceber se a encomenda da Zara vem ou não vem… É que o jum-pe-sui-te tive de o caçar numa Cidade, mas a nova malunfa pode vir pelo correio e perceber se vem ou não vem é da máxima urgência. 
Deve ser por isso que tenho a secretária no "quelósete"… para me lembrar que se quero mesmo adicionar mais um parzinho ali às prateleiras ou uns trapos nas cruzetas, então que trabalhe para eles. Mas vou guardar este último pensamento, muito inspirador  e digno de estar numa daquelas fotos que populam no feed de alguns trausentes do facebook, uber inspiradoras (ou não), para amanhã. Vou masé recolher-me ao meu leito, no meu pijama de vaca, todo um glamour fashionista, que pensais? Tenho sono. Pareço a minha Avó que faz 87 (e não 85 anos como disse algures) este mês. Com a diferença que eu até percebo que o Benfica tenha ganho ontem e lhe tenha dito que era pela alma. Ao que ela me respondeu, no seu Trasmonstano perfeito, algo que traduzido seria como "atira-te aos cães masé!" Não me atiro aos cães mas atiro-me aos sonos. E agora que vejo o que escrevi, reparo que não disse nada de jeito. "Nada desta bida", como dizia a outra. 

Sei lá, não me apetece ou vou fazer 30 anos este mês #8

Há uns tempos li num blog a expressão "sentar e jantar com a vida" (creio ter sido no "Panados e Arroz de Tomate", de que muito gosto, mas não tenho a certeza absoluta). Não me sentei a jantar com a vida, até porque acho que seria uma refeição que terminaria em indigestão ou para mim ou para a vida. Ou para ambas. Tenho estado adoentada, tenho rins que são muito bons a produzir cristais, mas que, com muita pena minha, não são Swarovski. Ontem telefonei a uma Amiga que fazia anos e quando lhe disse que tinha estado a faltar ao trabalho por estar doente, ouvi do outro lado um "então estás mesmo mal". Também não sei muito bem o que diz isso sobre mim e não me apetece saber, sei lá, que diferença faz? Tenho tido tempo para pensar, entre dores e efeitos secundários de medicamentos, que não me apetece sentar e jantar com a vida. Não me apetece quase nada, verdade seja dita. Vou fazer 30 anos na quarta feira. Também me perguntaram, inocentemente, há umas semanas, o que ia fazer agora aos 30. "Já fizeste tudo antes dos 30… e agora, que vais fazer?". O que é fazer tudo? O que vou fazer? Sei lá, não sei. Suponho que hei-de continuar a rir-me, nem que seja de mim. E a chorar desalmadamente às escondidas quando me apetece, porque sim. Aprendi antes dos 30 também isso, a chorar escondida mas a chorar quando me apetece. Podia chorar à frente de plateias, escrever no facebook que estava a chorar ou coisas variadas. Mas não me apetece. Gosto de chorar, por estúpido que pareça, mas tem de ser em solidão e solitária. Hoje fiquei em casa, toldada por efeitos secundários de medicamentos para dores. Podia dizer que estou a curtir a moca que me dão, mas não, estou bastante nauseada e cansada. Apetece-me dormir e talvez o faça, estou verdadeiramente cansada, mas também não sei bem do quê.  Ouvi a minha Filha sair para a Escola de manhã e o meu coração quase me engoliu a capacidade de ser racional. Chorei. Não faz sentido, mas também não me apetece que faça. Chorei ao lembrar-me que a Francisca ontem me fez festinhas no cabelo e disse que a "Mamã era super valentona". Aos olhos dela, deve ser qualquer coisa como a Mamã é uma espécie de super herói. Aprendi que não posso chorar em frente à minha Filha. Se quando era bebé quando muito poderia sentir-me mais frágil, agora fica muito preocupada quando a Mãe chora ou lhe parece que tem cara de choro. A Francisca cresceu muito nos últimos meses, ou pelo menos, assim me parece. Mas sei que ainda quer a Mãe. Eu vou fazer 30 anos e tem dias em que olho para o telefone e quero a minha Mãe. Se calhar é isso, vou ligar à minha Mãe. Gostava que a minha Mãe estivesse mais perto por vezes. Tenho (muita) pena de não festejar os 30 perto dos meus Pais e das minhas Pessoas. Se calhar, vou mesmo ligar à minha Mãe. Por isso, se me sentasse a jantar com a vida e tentasse descobrir o que vou fazer depois dos 30 que chegam quarta feira, acho que viver seria a opção. O que vou fazer? Sei lá. Nunca soube muito bem. Há vidas planeadas ao pormenor, com guiões meticulosamente estudados. A minha nunca foi assim e não me parece que vá começar a ser agora, depois dos 30 de quarta feira. 

11 janeiro 2014

Cenas do tudo m'acontece ou Vou fazer 30 anos este mês #7

Maneiras que hoje vim a uma cidade Cidade fazer um exame que é comum a senhoras idosas, senhoras menopáusicas ou afins. A técnica, moçoila para ter a minha idade, olha para mim, olha para a ficha, confirma o meu nome e data de nascimento 2 vezes. Após esclarecer que era mesmo a minha pessoa que tinha de fazer o tal exame, diz-me, de olho bem arregalado:
- Ah, mas a Menina ainda é muito nova para fazer este exame.

- Ya, juuuuura! No shit, Sherlock!

( melhor, só mesmo a 'mha rica Filha a dizer, alto e bom som, que os pratos do "ristorante" estavam uma jabardice. Ouviu uma vez e aplicou logo, tãaaaao esperta a catraia! Ah, nada como trazer Aldoar para Cascais! )

10 janeiro 2014

Vou fazer 30 anos este mês# 6

E mais de uma década volvida, eu, filha ingrata (sons de chicotes e búuuus), ainda se pergunta porque é que o Pai (sim, eu fui mimadinha… sim, o Papá deu-me um carro quando fiz 18 anos…  processem-me, apredrejem-me! meu rico carrinho, tão piqueno e com mais de 10 anos, ainda andamos a passear rua acima, rua abaixo, maquinão bom!)  não lhe deu um Smart descapotável e lhe deu um "carro a sério", segundo ele. Sim, vou fazer 30 anos este mês e ando de novo a pensar em Smarts descapotáveis. Eu, num Smart descapotável, 'ca Mofli com um lenço flower power na guedelha e a Francisca na sua cadeirinha com uns óculos de sol estilo Coco Channel e um chapéu pónei, a percorrer os 2 minutos que fazemos todos os dias. Sim, vou fazer 30 anos mas tem dias que a minha idade mental é muito "jóbe". É o que é preciso… Sim, eu sei, já começo a ter tenho idade para ter juízo. 

Ah os saldos e serve para quê mesmo?


(Zara) 
Não sei muito bem quando ou para que usaria este macacão. Ai córrore, não se diz macacão, que labrega sois Princesa sem Reino, jum-pe-sui-te, diz-se jum-pe-sui-te. Mas o facto é que fiquei cosólhos nele quando o avistei na loja. Gosto de azul escuro. Gosto de coisas de veludo azul. Acho que se for a uma Cidade brevemente, o vou ver ao vivo. só ver, só ver. Só ver, 'tá? 
(a piada do "só ver": há uns anos, a minha Mãe tinha uma gata no jardim que teve uma ninhada de gatinhos (duh, uma gata havia de ter uma ninhada de cachoros queres ver? adiante). Convenci um grande Amigo a ir lá ver os gatinhos, que era só ver, só ver. Acabou a levar uma para casa. Ainda hoje, de vez em quando, diz que a gata é a "só ver".)

08 janeiro 2014

A Bela Adormecida-short version

Após o desespero se instalar:
"(...) a Bela Adormecida estava a dormir. Veio um Príncipe qualquer de um Reino falido e deu-lhe um beijinho. A Bela Adormecida acordou e disse ao Príncipe se não queria dormir um bocadinho, que ela era uma pessoa dada a sonos(...)"
Fim.
Francisca:
-Máaaaanhe e o caçador?
Mánhe:
- A época de caça só abre em Fevereiro.  
( a minha rica sogra não percebe que há coisas que não interessam ao Menino Jesus, como passar à frente caçadores que esventram a malta. Ela não percebe de omitir pormenores mas eu, no entanto, estou no bom caminho para um novo guia de " How to screw up your kid in 5 easy steps": 1) adultere histórias infantis. A maioria vende a banha da cobra e não há paxorra. ) 

Vou fazer 30 anos este mês #5

Porque já sou Mãe. Porque serei sempre Mãe. Porque já caí. Porque sei que vou voltar a cair. Porque a minha Filha já caiu muitas vezes e vai cair outras tantas. E eu vou ensiná-la a levantar-se. Porque vou voltar a cair. E a minha Mãe, no seu jeito, vai voltar a ensinar-me, se não a levantar, qual a melhor maneira de cair. 
Alfred Pennyworth: Took quite a fall, didn't we, Master Bruce?

Thomas Wayne: And why do we fall, Bruce? So we can learn to pick ourselves up. 
Batman Begins (2005)

Cenas de mudar de casa #10

Morar num rés-do-chão tem as suas vantagens. Uma delas, é que me permite sacudir a toalha da mesa na varanda na boa, sem sentimentos de espero-que-ninguém-repare-mas-olhe-deixe-lá-que-os-passarinhos-comem-as-migalhas. Permite-me também pensar que agora, muito provavelmente, serei eu o objecto das migalhinhas-deixe-lá-que-os-passarinhos-comem, assunto sobre o qual me dedicarei a reflectir profundamente quando não tiver nada de interessante para fazer. Melhor que sacudir toalhas, só mesmo poder soltar vários palavrões de madrugada, insultos variados e ameaças sem nexo. Tudo porque o meu vizinho de cima, homem madrugador ao qual nunca vi o focinho, sai da cama cheio de energia e em vez de calçar uns chinelos de pelo fófinho ou uns meiotes, calça uns grandes botaifos, que fazem o tecto estremecer. E eu não sou uma pessoa boa quando acordada por botas em cima da cachola. Besta. 

07 janeiro 2014

Vou fazer 30 anos este mês #4

 
Porque sim. Porque sei que sim. Em 2014 ou em 2056. A vida dá sempre a volta. 
( e eu emociono-me com este spot publicitário e quem achar mal ou que estou a ficar senil com a chegada dos 30 pode ir atirar-se aos cães.)

Vou contar-te uma estória, Pequenina…

Francisca vou contar-te uma estória. Bem baixinho, enquanto dormes no silêncio da noite. Vou contá-la sem os meus lábios se moverem, para não perturbar o teu doce sono. Vou começá-la por "Era uma vez…", tu agora já gostas que as estórias e histórias comecem assim. Ouve, Francisca e guarda-a, onde eu te digo que a Mâe vai sempre, no teu coração… 
Era uma vez uma Menina. Como vamos chamar a essa Menina? Menina? Está bem, a Menina chama-se Menina. Então, era uma vez uma Menina que queria ser um Leãozinho. Forte, destemida, com garra. Sabes, Francisca os Leões são os Reis da selva. São corajosos. O Pai dessa Menina achava que sim, que ela era um Leãozinho, porque de uma maneira ou de outra, sempre arranjava maneira de ultrapassar obstáculos e seguir em frente. Como tal, passou a chamá-la assim. Quando a queria elogiar ou dar um mimo, dizia "lindo leãozinho". Sabes, seguir sempre em frente, Francisca. Parar e ficar a olhar para trás não traz o que passou de volta, não ajuda, não cura. Parar no presente a olhar para o passado não te vai trazer nenhum futuro. Tal como os Leões, Francisca, que são os reis da selva, no matter what, andar para a frente é o que é preciso na selva da vida, que um dia vais ter de perceber como é. Se fores para a área das ciências, survival of the fittest será o que te vou dizer e tu saberás identificar o autor dessa frase, tal como a Menina que queria ser um Leãozinho soube. Mas, apesar de todos acharem que a Menina era um Leãozinho, a Menina guardava nela uma Libelinha. Sabes, Francisca, as Libelinhas são muito frágeis, embora não o pareçam. Às vezes, a Menina sentia-se muito cansada. Sentia que o corpo que devia ser de Leãozinho lhe falhava e a deixava frágil como uma Libelinha. Sentia que as forças de um Leão lhe falhavam e que nem as asas de Libelinha conseguia mover. Nessas alturas, a Menina escondia-se e fechava-se nela. Não queria contar a ninguém que, se calhar, não era tão Leãozinho como todos pensavam. Nessas alturas, quando a garra do Leão se tornava inexistente, a Menina tinha muito medo que percebessem que, afina,l era frágil e que a magoassem por o perceberem. Survival of the fittest, Francisca... Por isso, a Menina escondia-se. Até que um dia a Menina descobriu que a Libelinha que nela vivia já não sabia chorar por querer ser um Leãozinho e que não podia esconder-se do Mundo quando o corpo lhe falhava em ser um Leãozinho. Um dia, a Menina percebeu que podia ser um Leão e uma Libelinha ao mesmo tempo, sem que a magoassem com isso, sem que lhe fizessem qualquer tipo de dói-dói que um beijinho mágico não cura. Um dia, a Menina aprendeu a deixar-se dormir e a despertar como uma Libelinha e a viver como um Leãozinho. Para enfrentar a selva da Vida, Francisca. Percebes, Pequenina? Não acordes… Não tem moral da história esta estória Francisca… Porque a Menina cresceu e está agora sentada na cadeira de baloiço de que tanto gosta. E diz, sem a voz soar, para guardares esta estória onde me guardas: no teu coração. 

Vou fazer 30 anos este mês #3

A última vez que fui à farmácia aviar (gosto muito do termo aviar, não tem nada a ver com receitas, eu sei, mas a mim faz-me lembrar frangos. Frangos e farmácia também tem nada a ver mas eu gosto do termo aviar, bem, continuando…) uma receita passada em meu nome, foi-me oferecida uma caixinha para colocar os comprimidos. 
… 
Por altura do dia. 
... 
Tal e qual como a da minha Avó, que faz este mês não 30, mas 85.  
... 
Há algo aqui que não combina. E não é a minha Avó. 
...