29 julho 2016

Sometimes I get lost inside my mind...

Será que se anestesia a capacidade de sentir? 
Será a vida, nos seus embates de frente com a realidade, a lidocaína dos sonhos? Como a vertigem da anestesia (vai contar até 10, está bem?), o frio (está tudo bem, vai só dormir um bocadinho), o queimar dos fármacos na veia. Aquela mão desconhecida que nos faz festas na face mas que, apesar de não saber nada sobre mim, segura a minha vida pelo fio invisível da combinação perfeita das drogas (bons sonhos...)... E depois, o vazio que se segue, os minutos perdidos que se transformam em horas esquecidas.  Adormecer nesse torpor, com a certeza de que haverá sempre epinefrina capaz de fazer retomar a consciência, mesmo que não saibamos onde estamos ou quem somos. Há oxigénio nos pulmões e o coração bate, tudo o que importa. E é nessa fração de segundos, que encerra em si o que de mais primitivo se tem, que me apercebo que podemos viver sem a consciência do sentir. Apenas agarrados ao instinto de sobrevivência. 
E que vivemos tantos dias assim, cirurgicamente removendo e suturando essa coisa a que alguns chamam de sentimentos. 

21 julho 2016

Embirranços diversos



Sou uma espécie de devora livros, tenho muita pena de não conseguir esticar mais o tempo para poder ler mais. E também a carteira porque, para dinossauros como eu, que só gostam de ler em papel, dobrar lombadas e cantinho de folhas, a coisa não sai barata. Leio de quase tudo.*, mas sobretudo livros sobre gente quinada da cabeça e policiais. Leio um ou outro romance mas têm de ser mesmo meeeesmoooo bons para me convencerem a comprar, estórias de faca e alguidar e suspiros de amor não são, de todo, a minha cena. O meu pai, quando eu era miúda, zangava-se imensas vezes comigo por causa da velocidade a que lia os livros que me dava. Tive a sorte e a felicidade de crescer com a possibilidade de ter criado uma biblioteca jeitosa, tendo os meus Pais alimentado sempre o meu gosto pela leitura.
Há uma regra em relação a idas ao supermercado com a Francisca: não há brinquedos, esses ficam para os Avós darem (já desisti da cena do "só em datas especiais" e mimimimimimi), guloseimas etc e tal mas, se pedir um livro, tem. Não consigo dizer que não a livros. Gosto de lhe por livros nas mãos, é das coisas que mais gozo me dá. A Francisca não tem tablet e no que depender de mim, vai passar muito tempo sem ter um. Na escola, tem o seu tempo dedicado à coisa, que também não quero que pareça que a muda vive numa gruta e não saiba o que é e como funciona, estamos no século XXI. Mas fora isso, debaixo da minha alçada (na Lalaland a estória é outra mas eu já assobio para o lado, admito) não há cá tablet, pokemon go e vai e chega ou o baralho, jogos manhosos e corpo curvado sobre um pequeno ecrã. Há livros e jogos de tabuleiro (em que é uma batoteira do pior). E é se quer. 
Se lessem mais, tenho em crer que não havia tanto Dr. e Dra. que não sabe escrever sem erros ortográficos. Pronto, ler a Dica ou a Máxima é melhor que nada, mas tentem, de vez em quando, pegar num livro. Não dói, de verdade! Poderiam poupar umas verdadeiras naifadas na gramática... (E não, não foi o auto corretor, porque ou se sabe ou não se sabe quando é "há", "à" ; "cosa" e "coza", etc e tal. )


* excepto a porra de livros de auto-ajuda. Dão-me vontade de espetar garfos nos olhos " ame-se a si e o mundo tomará as cores que quiser", "confie na sua força interior", "você é capaz porque tem em si a capacidade de mudar e lálálá"., " encontre o seu pónei interior e faça dele um unicórnio"... Oh vai-me à loja! E livros de dietas!!! São hilariantes, vale sempre a pena folhear um para ver as "Dicas e Truques" das nutricionistas, com ingredientes que só se encontram na fase da lua cheia,  nas montanhas atrás do sol posto e onde pastam cabras albinas. Ah e Pedro Chagas Freitas, credo em cruz! Vai-se a ver, e até sou uma bocado nojinhas em relação ao que leio. 




18 julho 2016

O problema não é o verão, o problema são as pessoas de verão!

Não é segredo que eu detesto o verão. Acho a silly season deprimente, para lá de todos os escitaloprans e prozacs desta vida. Poderia dizer que eu tenho um problema (mas era mentirinha que até tenho vários mas isso agora não interessa nada) com o calor, que m'abafo, que apanho escaldões brutais com SPF 50 e mimimimimimi. Mas não, o problema não são esses "pormenores". O problema do verão são as pessoas de verão. Aquelas que saem da toca, após a hibernação em que se lamentaram todo o santo dia porque chovia, estava frio, fazia vento e o camandro e que, ao primeiro raio de sol, 'simbora, bunda e pança de fora, pé sem pedicure (completamente assassinado, um crime aos meus olhos sensíveis) na areia e bumba, fotos numa qualquer rede social de todos e mais ângulos possíveis (ao menos lavem a carinha de manhã, remelas não é sexy, ok?). Ou quem decide fazer elogios gastronómicos ao que comeu, com localização exacta de GPS, latitude e longitude e tudo e tudo in real time (ladrões, you're welcome!) ou muito próximo disso, como se nunca comessem fora o resto do ano. Se calhar até que nem comem mas isso também não me interessa minimamente. Assim como também não me interessa se comeram e beberam bem, quantas bolas de berlim enfardaram, se estão a torrar a bunda ou o dedo mindinho, se o biquini custou ojolhos da cara ou foram à Primark. Eu gosto das redes sociais*, não se passem. Mas acho que as pessoas perderam a noção. Poderia dizer que são os jovens, que é toda uma geração perdida. Mas não, são as pessoas da minha idade ou mais velhas que se prestam a tal. 
Podem perguntar-me, legitimamente e cheios de razão: se não gosto porque vejo? 
Simples. Por 3 motivos: primeiro porque ainda há quem perceba o conceito da rede social e o use inteligentemente; depois porque como me ajuda a manter o contacto com pessoas que me estão a muitos kms de distância, tenho de fazer scroll e não sou ceguinha; terceiro: porque fui operada e passo os meus dias esticada a ver se me cai um bocado de céu velho! Eu preciso de entretenimento gente e já se sabe, este género de coisas é como um acidente de comboio: ninguém quer olhar mas não dá para desviar os olhos da desgraça!  Maneiras que cá por mim, se acham que estão bem, força nisso! A gerência do aborrecimento agradece! 
* quem me segue no Instagram sabe bem que sim. 

15 julho 2016

Interregno

Passou meio ano.  
Desiludi-me (muito). Aprendi (muito). Chorei (ainda mais), mas mesmo assim menos vezes do que aquelas que precisava para afogar algumas dores. Dei colo e pedi colo. Fui forte mas fraquejei. Ajudei mas soube pedir e aceitar ajuda. Ri-me (ainda mais). Bebi muito tinto e celebrei a vida a cada brinde. Abracei e beijei quem bem me quer e me quer bem. Viajei o que a carteira permitiu. Tomei decisões que me custaram, mas que espero que o tempo dite como certas. E se não o forem, peço a humildade de saber reconhecer para voltar atrás. Aprendi a resguardar-me (ainda mais). Aprendi que há pessoas que gostam da exposição ao ridículo por meia dúzia de likes, mas ensinei-me a não dar importância. Curei maleitas e fui curada. Tenho cumprido as promessas que fiz quando soube da doença do meu Pai. Continuarei a cumprir com o prometido no que resta do ano e a tentar superar-me, a minha forma de agradecer o meu Pai estar livre de cancro. 
Tento deixar o bicho anti-social em casa e conviver mais com os Amigos de sempre.   Eles sabem quem são. Continuo péssima de pessoas e de sentires mas gosto das minhas Pessoas sem mas.  Tento dizer o quanto gosto delas mais vezes, mas ainda assim digo-o muito menos vezes do que as que penso. Acredito piamente que os meus sabem-me e por isso não se espantam para longe. Luto todos os dias contra a minha cabeça e com a sensação, verdadeira ou falsa mas sempre esmagadora, de que nunca serei boa o suficiente. Aprendi que se o disser em voz alta para ninguém ouvir, fica mais leve este "fardo mental".
Passou meio ano. Diz-se que as tempestades fazem as árvores criar raízes mais fortes. Também se diz que se não gostas de onde estás, muda-te, não és uma árvore. Não percebo nada de árvores e sou incapaz de manter uma planta viva, mas sei que as certezas que consolidei levam raízes no coração e mudanças para o futuro. Hoje, com a esperança de que será para todos os dias e mais alguns.