31 julho 2013

De certezas e talvez.

Acho que nunca senti tantos nervos na minha vida. Acho que nunca consegui em fracções de segundos acalmar-me de tal ordem e falar sem as mãos me tremerem, quase não reconhecendo a segurança da minha voz. Acho que não estava a contar com palavras que o Júri me disse. Acho que estava meia piegas quando as lágrimas me vieram aos olhos em frente de tanta gente. Acho que muita gente não percebeu a profundidade do "obrigada" que lhes quis dizer... acho que continuo a ser má de palavras em termos de inteligência emocional. Acho que foi a única festa surpresa (coisa a que não acho muita piada) que tive na vida, apesar de saber que a coisa se ia dar, mas que mais me tocou e me fez querer ser menos cubinho de gelo, mas congelei as lágrimas antes de estas serem estado líquido. Acho que não me devia ter rido quando me falaram da sensação de "vazio sem stress", now the joke is on me. Acho que ainda estou meia anestesiada com tudo. Acho que só agora o cansaço e o stress acumulado das últimas semanas me estão a cair agora em cima sem dó nem piedade, em que tenho 3 segundos para dizer "estou cansada de verdade da cabeça" para 3 segundos depois retomar e para a frente que atrás vem gente, enquanto como sono e a ideia de querer rebolar o dia inteiro sem fazer nenhum, o que, basicamente, não vai acontecer, temos pena. Acho que nunca mais na vida bebo dois red-bull seguidos de um café porque acho que o meu coração achou que ia capotar. Acho que me passou o TIR da idade por cima ao ver as fotos de há 5 anos atrás mas acho que a idade me está a fazer bem. Sei que vou ter saudades de muitas coisas. De muita gente. Sei que vão continuar a fazer parte da minha Vida. Sei que um Doutoramento não se faz sozinha, é um caminho que se faz caminhando sempre com companhia. Sei que dei sempre o meu melhor e o melhor de mim. Sei que à pergunta que me fizeram "qual o papel da Investigação na sua vida futura" dei a resposta mais sincera, ao lhe atribuir um papel principal. Sei, agora que o ciclo se fechou, que tudo valeu a pena. 

Coisa mai' linda!

Quando vejo a publicidade do " Benfica TV" sinto vergonha alheia pelos outros. Ou seja, pelos Benfiquistas que ainda não viram o fogo do Dragão. Depois lembro-me que assim é que está bem, faz " pandant" a publicidade c'o resto. Vou só rebolar mais 30 segundos a rir-me. 

29 julho 2013

Francisca esclarece.

Francisca foi à Pediatra. Foi inquirida sobre o nome da Mãe. Sem hesitar, esclareceu a questão:
- Pinxesááá! 

23 julho 2013

Descompensada much?

Dado que como disse a minha Filha passa os dias com Avós, também me chega à noite recheada de modas novas. Ou é " eu tenho uma mala chique" ( don't ask) ou a que trauteia ad nauseum " meeeeeeeuuuuuu pintxiiiiiinhooooo amarelinhoooo, cabeeeee aqui na minha mão... lai lai lai...eleeeee batxiiii as asas ele faxxxxz piú-piú...". Tenho medo de a meio da Defesa me dar o descompensanço e a branca e começar nessa onda. Com choreografia. A modos que já vinha a cantar isso sozinha pelo meio da rua. Ah, como era bom quando ainda me restava alguma sanidade! 

Deixem-me ser delicodoce 5 segundos.

Tenho a Francisca doente. Na última semana e meia, deixo-a ao cuidados dos Avós e perco-me entre papéis, a puta da Tese, a apresentação que pode sempre ficar ainda mais perfeita e vamos lá a despachar isto, p'lo amor da Santa que n'aguento mais de nervos. Vejo-a de manhã, cheia de sono ou aos pulos na cama. Se chegar cedo no tarde da noite, vejo-a a tempo do "boa noite, Filha". Não sinto culpa. Não sinto remorso. Não sou má Mãe. Mas custa-me. Custa-me ter de a deixar. De a ouvir a chamar "Mánhe" ao telefone. De, pela primeira vez, ficar a chorar e dizer "Mánheeee, Mánheee" com os olhos rasgados tristes, quando me despeço dela. Mas depois... ah depois, os gritinhos de alegria quando me vê, exausta, voltar para ela. Porque volto sempre para o calor e o abraço das mãos pequeninas da minha Filha. Para a paz do seu sorriso e da sua voz estridente a dizer "Paquica Pincesa, Mánhe Pincesa, Mómó cão (já se mentalizou que o cão que lhe calhou na rifa é uma amostra de). Sou-lhe a Mãe. Por muito que um pouco ausente durante estes dias, sou-lhe a Mãe. Tenho a Francisca doente. Que chora e tosse noite fora e acabo por pedir auxílio para, por mais uns dias, aguentar. Depois? Depois espero que tudo tenha valido a pena. Por agora, regresso aos meus papéis. 'Cause everything's not lost. E eu não sou de ferro. Sou de sangue e coração quente.  
When I'm counting up my demons 
Saw there was one for every day 
With the good ones on my shoulder 
I drove the other ones away  
If you ever feel neglected 
If you think all is lost 
I'll be counting up my demons yeah 
Hoping everything's not lost 
(...)

21 julho 2013

É toda uma lógica (retorcida).

Ter de defender a Tese passa pelo mesmo processo mental que, mesmo que seja por fracções de segundos, quando se está gravídíssima, pés inchados, pulmões meios colapsados pela criança sentada neles, bacia desfeita, mamas a explodir,  desconfortos variados, ocorre em mentes de qualidade duvidosa: dá para dizer que não se quer agora? Pois, tal como na gravidez, uma pessoa encolhe os ombros e agora aguenta aí os nervos. E não pia. Como diz a minha Avó: está no carro, há-de ir. Eventualmente.

19 julho 2013

Bons motivos para um destes dias me darem o pê-h-dê...

... olhando em retrospectiva e atacadíssima de nervos, não faço a mais pequena ideia do que estava a pensar quando me meti nisto. Mas acho que o meu nome fica bonitinho com o PhD à frente. 

15 julho 2013

Já comeste fruta hoje?

Não. Mas tenciono comer. A que está no copo. Sou muito saudável. À parte beber sozinha, claro. Mas sim, por quem sois, vou-me vitaminar. Entre outros. 

P.S- Avó, isto gere-se o stress de pê-hê-dês-perhaps conforme se pode. E não estou a beber sozinha, estou com o meu amigo imaginário. Mas só eu é que o vejo, é tímido, percebes? 

14 julho 2013

Nevoeiro.

Já há várias semanas que não via a beleza do nevoeiro. Lá fora, agora, não se vê um palmo à frente do nariz. A minha vida é, muitas vezes, uma espécie de nevoeiro para mim própria. Sem ser certinha, programada, tudo se sucede numa série de coincidências inevitáveis e aleatórias, irónicas, por vezes. Porque o nevoeiro não delimita sombras nem entraves, mas também não permite antecipar obstáculos, acabo muitas envolta no mesmo e em colisões frontais com a realidade. Porque há dias em que também toda eu sou nevoeiro por dentro. Calma, densa, fechada. Sem esperar um Dom Sebastião. 

13 julho 2013

Vacinar devia ser obrigatório. Ponto.

Aonde me encontro em jeitos de tenho-de-comer-papers-para-defender-a-Tese-do-Inferno, só tenho os 4 canais de TV. À hora de almoço, liguei a TV para me distrair 5 minutos. Num canal generalista, apanhei um daqueles programas de entrevista a figuras públicas e "o que dizem os teus olhos" a uma actriz portuguesa. Apanhei a parte em que falava, convicta, da sua recusa em dar ao filho todas as vacinas do plano nacional de vacinação, uma vez que algumas tinham riscos associados. Diz ela que investigou e sabe o suficiente para tomar essa opção em consciência. Falou que acha que nós conseguimos curar tudo o que nos acontece, que nunca esteve no hospital ou levou o filho a um. Em seguida, defendeu que nunca deu antibióticos ao filho, dizendo que os vírus ficam cada vez mais fortes por se recorrer aos antibióticos por nada. Maravilhoso. Espero que saiba mais de vacinas que de antibióticos, uma vez que estes são usados em infecções bacterianas e nunca víricas. Espero mesmo que saiba mais de vacinas do que demonstrou saber sobre antibióticos. Cada um escolhe a Medicina que quer para si. Mas em e com plena consciência de que há opções sem retorno. Como a de não vacinar. Que nem deveria ser opção. É a minha posição perante posições como as que vi defender no tal programa, pela tal actriz. 

12 julho 2013

O conceito do pão quente

O conceito do " pão quente" enquanto local e não pão acabado de sair do forno, aprendi ser um quase desconhecido em Terras de Porco Preto. Ainda me dediquei a ir perguntando aqui e ali se algo semelhante existia no Burgo. Óbvio que não. Ainda ouvi uns quantos " vocês do Norte e a mania do pão quente". Pois que alapadíssima que estou num só me apraz dizer que não sabem o que perdem. Gosto do conceito " pão quente", do cheiro destes sítios, do acolhedores que são. Não obstante, também gosto de pão quente! 

11 julho 2013

Contradições ...

Costumo ser atendida pela mesma funcionária ao supermercado onde vou quase sempre. Gosta de me perguntar se não vou levar uns girassóis de que tanto gosto ou gomas naquele dia. Conta-me que o marido todos os sábados vai ao santo Amaro e lhe compra um ramo de jarros quando os há, a sua flor favorita. Costumo ir a um café por estas bandas onde vim parar. Umas vezes com companhia, outras sozinha. Não sabem o meu nome, mas perguntam-me pela Maria Francisca. E dou por mim a sentir algo de reconfortante nestas perdas mínimas de anonimato. Eu. Que tanto gosto de ser anónima. 

Dos dias que me (es)correm...

Uma Tese é uma espécie de filho. Durante anos, alimenta-se. Cuida-se. Dá alegrias e dores de cabeça. Dá-se tempo sem medidas em unidades porque as horas ao longo dos anos gastaram muitos dias e fizeram muitas noites longas. Dá cansaço porque uma Tese é díficil de parir e as epidurais da coisa são café e red bull. Anos que se me foram mais rápido do que o tempo que eu senti passar em mim. No final, pede-se que em 30 minutos se expliquem 5 anos, sem margem a erros, a falhas. Sem explicar que aquele gráfico foi o resultado de ano e meio a testar, optimizar, a pedir baixinho que desse certo. O resultado de finais de dia em que a noite entrava já longa, em que se ia para casa com vontade de desistir de tudo, porque o sono pesava nos ossos, mas não o suficiente para não voltar na manhã seguinte. Mas isso não interessa a ninguém. No final, pedem-te que em 30 minutos expliques porque valeu a pena investirem em ti. Porque mereces o título que vais ali reclamar e defender nas horas que se seguem, em que poderás ter a sorte de os arguentes serem de faca menos afiada ou o azar de ter de fazer das facas da arguência pedaços de metal rombos. E no final, dou por mim sentada a pensar onde raio estava com a cabeça quando me meti nisto. Mas tal como um filho, espero daqui a umas semanas dizer que me deu alegria. Que valeu a pena cada bocadinho de sanidade mental que se me foi. Que valeu a pena todos os fins de semana que foram dias úteis. Que valeu a pena a minha ausência intermitente durante semanas a fio como Mãe enquanto a passava para o papel, entre um "bom dia Filha" e a hora a que regressava momentaneamente a casa para a embalar, para em seguida me perder noite dentro em anos de trabalho. Quando tudo assentar, quando o medo passar, quando os nervos se desvanecerem, quando souber que fui capaz, então, acredito que sim, que tudo valeu a pena. Quando o ciclo se fechar. 

09 julho 2013

Estou atacadíssima de coiso.

Estou atacadíssima das Tourettes Estrebeiras da bela Cidade que me viu nascer. Apetece-me soltar uns palavrões bonitinhos e fófinhos, bem delicodoces e socialmente inapropriados, sobre a merda com que me deparo na versão 89.0 do que ela, a minha estagiária-fusão-de-Floribella-meets-Ovelha-Choné chama orgulhosamente (shoot me, now!) de relatório. Ah espera, aqui nestas zonas, um "merda" mandado à laia de vírgula não se usa, fica tudo a olhar e só falta começarem a dizer "amêeeee amêeee..." Tipo hoje , que espetei o salto do sapato novo na merda (ai, perdoem-me) da calçada  e depois aquilo não queria sair e os sapatos eram novos e eu atacadíssima dos nervos e calores saiu-me baixinho, de verdade, baixinho: "merda". A senhora que passava quase se benzia e me agarrava pelo cabelo até me enfiar na água benta mais próxima. Mas só olhou, vá lá, se bem que com este calor até me tinha sabido bem. Ah espera, mas depois as borratadelas que pus de manhã, é melhor não, é chato e coiso e já me perdi no que estava a dizer. Ah, isso. Pois que apetece-me mandar a estagiária à merda também, mas ela ia começar a chorar e depois a Tourette atacava mais forte. Portanto, basicamente, estou atacadíssima dos nervos, tenho mais que fazer e apetece-me escrever em comentário no ficheiro word "isto está uma merda". E é isso. Estou atacadíssima das Tourettes Estrebeiras. Porque de vez em quando, não há melhor adjectivo ou interjeição que um belo "merda". Mas isso agora não interessa nada, tenho mais que fazer. Merda. 

Coisa digna de Mãe fófinha.

Acho o máximo ver a minha cria às voltas na sua motoreta cor de rosa pónei, a dar ao pézito descalço. Acho o máximo quando ela pega nos bebés idiotas e lhes dá boleia, na sua motoreta cor de rosa pónei. Também acho o máximo que ela suba e desça o degrau das varandas ao volante da sua motoreta cor de rosa pónei a dar ao pézito descalço. E pronto, foi um momento Mãe quasi-fófinha. Agora vou ali ralhar com a cria que se sentou a jantar Purina em irmandade com a mai' belha. 

08 julho 2013

E foram 30 segundos

A minha estagiária mandou-me o seu relatório. Após leitura durante o longo e penoso tempo de 30 segundos, concluo que: 
- não faz a mais pequena ideia de que porra andou a fazer; 
- não sabe escrever; 
- não usa corrector automático (It's 21st century for crying out loud); 
- é bastante mais tónho do que o que eu pensava; 
- me apetece arrancar-lhe a cabeça.  
Coisas assim, portanto. 

06 julho 2013

O problema não é ele, são as osgas.

A Mofli é uma touça. Da pior espécie. Mofli achou giro terminar o seu passeio nocturno a meter-se no carro do meu vizinho estranho, acabado de chegar ao prédio. Eu a ver a cena ao longe e "Moooofliiii, Moooofliii, não. Nãooooooo". Mofli entra disparada no carro do meu vizinho estranho. Eu solto uns quantos palavrões mentalmente enquanto corro (raios parta a cadela...). O meu vizinho estranho grita em pânico. 
-Ah não tenha medo, ela é muita meiga!(idiota até à quinta casa, mas meiga). 
- Ah, sim, eu sei, mas assustei-me, pensei que fosse uma osga. 
- (wtf?!?! uma osga peluda e de rabo a abanar. uma osga?!?!?!? WTF??? ). Pois, aqui há muitas e tal ( indo de mansinho para a porta e boa noite, boa noite). 
- Sabe... 
- (nãooooo quero saber, boa noite, boa noite). 
- É preciso ter muito cuidado com as osgas. Olhe, tenha cuidado com a sua roupa intíma, sabe? Elas metem-se lá e depois veste e sabe, faz mal. Tem de ter cuidado com a sua roupa íntima minha senhora. 
- (por favor, digam-me que o calor me está a dar alucinações, este gajo não está a falar da minha lingerie enquanto em vez de me olhar para a cara me olha para o decote) ah sim, pois claro. Boa noite então.  
Acho que nunca subi as escadas tão depressa. O meu vizinho estranho acha de bom tom falar-me de osgas e lingerie, enquanto em vez de me olhar para a cara me fixa o decote. A culpa é das osgas, está visto. My life sucks sometimes. Mas duvido que tanto como a dele. 

05 julho 2013

O luxo de trabalhar com a cabeça.

Trabalhar (só) com a cabeça é um luxo. As únicas emoções que dá é quando a coisa corre bem, dá satisfação e quando corre tudo ao contrário, dá dores de cabeça, na cabeça que se usa para trabalhar. Fora isso, é um luxo trabalhar com a cabeça. Dá uma liberdade enorme e uma sensação de controlo. Agora faz-se esta reacção e escolhe-se quando e como se vai parar. Controla-se os parâmetros que se quer testar, agora mais assim, agora mais assado, agora vai tudo para o espaço. É um luxo trabalhar (só) com a cabeça. Pode-se muito bem escolher deixar o coração à porta e ser um robot, sem sequer ficar contente quando corre bem ou a praguejar quando corre mal. Claro que, e aqui me desboco, não me é possível essa escolha, mas a bem da realidade dos factos, conheço umas quantas pessoas que estão muito próximo do status "pro" nessa condição. Deve ser por isso que eu seria uma médica ou profissional de saúde medíocre à luz do que exige: estaria sempre com o coração nas mãos enquanto a cabeça se achava no luxo de estar sozinha. Talvez um dia me deixe de luxos de sapatos e chegue ao luxo de trabalhar só com a cabeça. 

I'm on (a highway to) hell...

O Inferno não deve ser muito diferente. Quer-se dizer, mesmo em termos paisagísticos, calculo que sejam ambos semelhantes, assim uma coisa de oh my eyes, my eyes, my eyes. Mas o Inferno não deve ser muito diferente em termos de temperatura. E quem gosta muito do calor, pois que bem, bom proveito. Eu quero ursos polares. Assim, de repente, lembro-me do Pólo Norte. Mas sim, o Inferno não deve ser muito diferente. Até porque penar já peno no calvário do "não caias, não caias, anda lá". Não me mata o calor por me mandar ao chão, talvez me mate a quantidade absolutamente estúpida de açúcar que acabo a ingerir. Já pareço uma agarrada com os pacotes de açúcar. E mesmo assim, o corpo recusa-se a colaborar. A respiração estupidamente lenta. O ouvir tudo um pouco ao longe. Ah e "não caias, não caias, não caias". Não há nada mais vulnerável do que cair no chão, inanimada. E isso, atormenta-me. Não o desligar momentaneamente, been there, done that, got tons of bruises e traumatismos. Mas atormenta-me a possibilidade da vulnerabilidade súbita. Não tenho culpa de o meu corpo reagir assim, de funcionar assim, de ter um coração lento, a seu ritmo. Independentemente disso, recuso-me a ficar prisioneira, fechada, em frente a uma ventoinha ou a um ar condicionado. A vida decorre. Um pouco mais açucarada nos azedos que esta Terra de bafo do Inferno me traz. 

03 julho 2013

Maybe tomorrow.

I've been down and, I'm wondering why, These little black clouds, Keep walking around, With me, With me... Há uma rotunda onde saio (quase) sempre na mesma saída. A (supostamente) errada. It wastes time, And I'd rather be high, Think I'll walk me outside, And buy a rainbow smile, But be free, They're all free. A saída é para fora do Desterro. Por vezes, demoro um par de kms a perceber que me enganei. Faço inversão de marcha. Volto à mesma rotunda. So maybe tomorrow, I'll find my way home, So maybe tomorrow, I'll find my way home. Cometo (quase) sempre o mesmo erro. Das vezes que lá passo, saio na placa que diz "Lisboa". Mas Lisboa não é Casa, faz pouco sentido, talvez. I look around at a beautiful life, Been the upperside of down, Been the inside of out, But we breathe, We breathe... É inconsciente e tem dias que a consciência regressa já depois da primeira curva. I wanna breeze and an open mind, I wanna swim in the ocean, Wanna take my time for me, All me... Saio na inconsciência da consciência de (ainda ?) não (me) saber a  (em) Casa. Na inconsciência da consciência de saber que (ainda ?) não pertenço a estas ruas e estradas e cheiros e ventos e sabores. Ainda não sei onde é Casa. Talvez me tenha esquecido de onde é Casa. Talvez ainda não tenha descoberto onde é Casa. Talvez nunca tenha verdadeiramente sabido onde é Casa. So maybe tomorrow, I'll find my way home, So maybe tomorrow, I'll find my way home... Cometo (quase) sempre o mesmo erro. Saio na saída que é, supostamente, a errada. Mas sei aonde aquele caminho me leva ou poderá levar. Se eu quiser. So maybe tomorrow, I'll find my way home... 

02 julho 2013

Não poderia ser um cão.

Acaso acreditasse na reencarnação, nunca poderia ser um cão. Um cão possui-se. Um cão precisa de um dono, está-lhe na genética, um cão não sabe viver sem ter dono. Um cão é sôfrego de ordens, da segurança de pensarem por ele. "Agora senta. Dá a patinha. Rebola. Língua de fora." Um cão não sabe viver sem ser comandado. Fará trinta por uma linha para que lhe atirem a bola. E irá buscar a porcaria da bola todas as vezes que a mesma lhe passar em frente aos olhos para ganhar uma festa no focinho. Ou um doce. Um cão precisa do aplauso do dono para se sentir um bom cão, para sentir que vale alguma coisa, quase como para ter a certeza de que o oxigénio que converte em dióxido de carbono é bem empregue. Precisa da unanimidade das palmas e do reconhecimento do "muito bem, cão, fazes tudo o que eu digo, nem ouses pensar, és um cão excelente porque simplesmente fazes o que eu mando, estúpido ou não". Definitivamente, acaso acreditasse na reencarnação, seria um péssimo cão. Não sei que animal seria, nunca pensei muito nisso. É que por acaso, não acredito na reencarnação. Mas acaso a coisa até seja verdade, nunca um cão. E eu até que gosto imenso de cães, mas só dos quadrúpedes. 

Sabes que a partir daí é sempre a subir...

... quando sais de casa de manhã e o teu vizinho estranho está na varanda a curtir o seu cigarrinho e te diz " bom dia, minha senhora". De boxers. De boxers justos. Só. Nada como a visão do Inferno para pensar que pior que isto não pode ficar. Pânico. Medo. Muito medo. 

01 julho 2013

É uma questão de esperar.

Há uma torneira que não pára de pingar. Faz aquele som rítmico, irritante, perturbante a altas horas da noite. Ping ping ping. Não a consigo encontrar. Não sei qual é a torneira que pinga para a fechar. Ping ping ping. O barulho dos relógios a altas horas da noite começa a incomodar também. Tic tac tic tac tic tac. As horas a escorrerem-me pelas mãos, o tempo que me foge. O dia que nasce lá fora. Ping ping ping. Tic tac tic tac tic tac. O sol a entrar desavergonhado pelas friestas da persiana aberta. Tic tac tic tac tic tac. O choro intermitente que vem do quarto da Francisca, um mal estar qualquer que a incomoda e que eu não sei identificar. Talvez seja do calor. Talvez seja porque sim. Talvez seja birra, quase de certeza que é birra. A birra de querer-me a tempo inteiro para si, dia e noite, noite e dia, dia e noite, noite e dia. Se puser os phones tudo melhora. A noite não engoliu a Mãe, Francisca. A Mãe só quer dormir. A Mãe precisa de dormir, por favor. A Mãe tem um limite porque é humana e e esse limite já está bem lá atrás. A birra a subir de tom. A Mãe está aqui, a Mãe estará sempre aqui enquanto o tempo lhe permitir estar. Mas por favor, a Mãe precisa de dormir. O colo que ela quer mas que eu já não consigo dar. A minha Filha pesa mais do que eu consigo aguentar em dores. Não sou de ferro. A dor de não lhe poder dar colo. Não é sempre por opção que lhe nego o colo, muitas vezes é por uma questão de saber o que depois se segue. E uma Mãe não cala sempre a dor. A dor das palavras que me atiram. Faço de conta que nem as ouço. Sou melhor que isso. Ping ping ping. Tic tac tic tac tic tac. Já é dia e eu quase não soube o que era a noite mais uma noite. Pesa-me o meu próprio corpo. Pesa-me o barulho na cabeça. Tic tac tic tac tic tac. Se puser a almofada em cima da cabeça talvez volte o silêncio. Não, não resolve. É dia. Acorda. Acorda. Acorda. Anda, deixa-te de ser queixinhas, ninguém quer saber. Aguenta. Levanta-te. Ninguém quer saber se a torneira pinga. Acorda. Há horários a cumprir. Tens deveres a cumprir, tens exigências a satisfazer. Acorda. Acorda. Acorda. Depois, a água bem quente no corpo lava mais uma noite mal dormida. Entro-lhe no quarto em desassossego com um sorriso no rosto e digo-lhe "Bom dia, Filha". Ela responde " Bom dia, Mánhe". E o dia recomeça sem nunca ter verdadeiramente terminado. Com o sorriso que ela me empresta. E com a certeza de que mas dia menos dia, o silêncio na noite regressará.