31 outubro 2015

Da "Ana".

A Júlia Pinheiro falou, como Mãe, da doença que uma das suas filhas enfrenta. Nos últimos dias, surgiram também notícias sobre Rachel, a Americana que chegou a Portugal com 20 kg e se encontra a recuperar no nosso País. A mim, chocam-me os comentários irresponsáveis e maldosos que pessoas atrás de um ecrã são capazes de destilar. A anorexia nervosa não é uma frescura, um capricho. É uma doença devastadora, não só para quem sofre com ela, como para os que rodeiam. Eu fui anoréctica perdida. Passei muitos anos a lutar contra mim, contra a minha mente. Recuperei. Tenho uma vida normal, balizada pelas sequelas que a doença me deixou no corpo e na mente. Aprendi que é uma luta diária, um pé à frente do outro, sempre com o objetivo de não querer voltar onde tanta dor se sofreu. A anorexia nervosa mata, em última instância. Só com muita paciência, carinho e respeito,se recupera e se aprende a viver com os fantasmas que nos ficam debaixo da pele e, principalmente, cicatrizados na alma. Há vida depois da "Ana". No fundo, se a minha voz fosse ouvida, o que gostaria de dizer a todos os que vivem com a " Ana", é que não desistam. Não vai ser fácil, não vão ser todos os dias bons, mas há que ser mais forte que a doença e acreditar que valemos muito mais do que o que a "Ana" nos faz acreditar. Muito, muito mais. E a quem destila comentários maldosos,cheios de moralidade e de dedo em riste, espero que a "Ana" nunca lhes entre pela porta adentro, fazendo-os engolir letra a letra cada sílaba de veneno que destilaram. À Júlia, como Mãe que hoje sou e como Filha doente que fui, gostava de dizer que é um caminho longo, penoso, mas que é um caminho que vale a pena percorrer, para nunca desistir da Filha, como os meus Pais nunca desistiram de mim. 

28 outubro 2015

Bom dia, bom dia...

(...) 
Oh God why am I here? 
An anti-social pessimist but usually I don't mess with this 
And I know you mean only the best and  
Your intentions aren't to bother me 
But honestly I'd rather be 
Somewhere with my people we can kick it and just listen 
To some music with the message (like we usually do) 
And we'll discuss our big dreams 
How we plan to take over the planet 
So pardon my manners, I hope you'll understand  
That I'll be here  Not there in the kitchen with the girl  
Who's always gossiping about her friends 
So tell them I'll be here 
Right next to the boy who's throwing up cause 
He can't take what's in his cup no more  
Oh God why am I here?
(...) 

27 outubro 2015

Cair, (será sempre) o antecedente antónimo de levantar.

cair
verbo
1
transitivo indireto e intransitivo
ir de cima para baixo, ir ao chão; tombar.
"caiu da janela"
2
transitivo indireto e intransitivo
precipitar-se sobre a terra; ocorrer (ger. fenômenos meteorológicos).
"a chuva cai torrencialmente"
Se se substituir o verbo cair por ruir, será que este é considerado o antecedente de reconstruir? E se cair for apenas isso mesmo? E se a queda for tão violenta que leva ao aluimento de todas as barragens e barreiras que nos suportam? 
Nas voltas da vida, nas certezas que ninguém tem, repito que tal como os gatos não têm vertigens e se passeiam elegantemente em equilíbrio periclitante, também cair não será uma acção de fim, mas sim de contínuo que, não necessariamente, levantar. 

Bom dia, bom dia...


(...) 
"When you feel life coming down on you,
like a heavy weight.
When you feel this crazy society,
adding to the strain.
Take a stroll to the nearest waters edge
remember your place." 
(...)

26 outubro 2015

Dos dizeres.

Dizem que Deus, seja na forma em que O acreditamos, seja pelo nome pelo qual O chamamos, só nos dá aquilo que conseguimos aguentar. A minha Avó acreditou até ao último momento que Deus não a iria abandonar, que não lhe falharia. Tenho muita, muita, muita pena de não ter sido tocada por uma fé profunda. Não serviu de nada à minha Avó, pelo menos nesta dimensão, no Mundo terreno. Tenho pena... Por não ser capaz de me agarrar a algo sem perguntar porquê. De confiar em algo de bom acima de nós. Dizem que Deus só nos dá aquilo que podemos suportar. Mas eu não quero suportar. Eu só gostava de lhe perguntar porquê. Porque escolhe sempre o mesmo cabrão, a mesma sombra negra a pairar, como que uma semente do mal, prestes a despertar e a destruir. Gostava de perguntar porque nos faz suportar a dor da doença, uma e outra vez. Porque me faz ter medo de dizer a palavra que tanto li, que tanto estudei. Porque me faz duvidar da ciência quando tudo o que sei é ciência. Mas, enquanto me perco nos meandros de números e taxas de sobrevivência, dou por mim a pensar que o que mais queria agora, era acreditar em algo acima de mim, de nós, que fará com que o meu Mundo volte a girar no seu eixo. Deus, se existe, tem um sentido de humor muito retorcido. 

25 outubro 2015

Sometimes I get lost inside my mind...

Há uma palavra em loop na minha mente. Aperta-me o coração, deixa-me comprimida, não deixa o ar passar. Dói-me tudo, doem-me as pernas, aquela dor nas pernas, tão familiar. Rewind, pause, restart. Há uma palavra em loop na minha mente, que traz, nos seus grilhões, umas quantas outras, com o som de chãos de linóleo e corredores em penumbra. Afasto-as. Regressam. Afasto-as. Empurro-as. Desprezo-as. Mas regressam sempre. Sempre. 

22 outubro 2015

E agora, os dramas quotidianos.

Aviso à Navegação: 
As Mães fófinhas não dizem estas coisas. Nem sei se o pensam mas se o fazem, disfarçam muito bem. Como estou excluída dessa classe , aqui vai disto: 
A minha Filha está chata como o raio que a parta. Assim, sem espinhas.  Chata, chata, chaaaaataaaaa. Tem dias em que, sei lá só  me apetece assim, atirá-la pela janela, está a ver Ambrósio? E depois, hm, sei lá, dizer-lhe para voltar quando tiver 25 anos. Ou mais.
É capaz de levar um dia inteiro nisto, se for preciso :*
Mánhe, Mánhe brinca comigo às Princesas. (só se eu puder ser a Bela Adormecida, eu ronco; tu brincas)Não, Mánhe, tens de dançar e pular e fazer penteados de Princesa (yeaaaahhhh, right, not gonna happen); 
Mánhe, Mánhe, Mánhe! (diz). Hmmm, queria dizer-te uma coisa.... (sim?).... Sabes.... (não, conta lá)... Hmmmm.... (sim, Francisca?)... Hmmm, oh olha já me esqueci (sus-pi-ro.);
Máaaaaanhe, anda cá ao meu quarto, se fáxfabore! Olha Mánhe pintei o chão para ficar colorido, estava tãaaaaaao sem cor (eu mereço, dizei-me, eu mereço?); 
Máaaanhe, oooh Máaaaanhe, olha Mánhe, não estou bonita, com os 367 ganchos que pus no cabelo? (e que tu, Mánhe, vais ter de tirar e eu vou uivar como se o mundo fosse acabar, já viste a tua sorte, hein?); 
Mánhe, Mánhe, Mánhe, Máaaa-nhêeeee, canta as músicas do Frózênén, a da "ÁniElsa" quando eram bebés ("vem fazer bonecos de neeeeeve, há um que é só teeeeeu ".... tenho de pedir desculpa aos vizinhos, coitados). Mais Mánhe!!! (já chega, Francisca, a Mãe não quer cantar mais) Óh Mánhe, agora aquela de quando eles abrem as portas, Mánhe (não quero cantar mais!) Mas tens de cantar!!!!! (or else???);
Mánhe, mas eu não quero sopa! (e eu com isso. deixa cá apontar na lista das coisas que em que quero lá saber se queres ou não... ah, a democracia parental!); 
Mánhe, estou exáaaausta (WTF??) e por isso não posso arrumar os brinquedos (deve ser, deve);
Máaaanhe, posso comer na sala a ver os desanimados? (não) Mas eu quero (N-ão). Oh váaaaaa láaaaa. (não) E se for assim só um bocadinho (não). E assim, um bocadinho mais pequenino (também não). É rápido Mánhe, um minutinho só, não demora nada (.... não). Vá lá Mánheeee (nop). Óh Mánheeee... (não, já disse, fim de conversa.);
Mánhe, não quero. (o quê') Não quero (mas o quê?) Não sei, não quero!(ah, estou a ver). Não quero. (e eu com isso);
Mánhe, Mánhe, Mánhe olha Mánheeeeeee e se eu comer só assim? E assim? E só isto? (segurem-me, p'lo amor da Santa); 
Mánhe, Mánhe, óooooohhhhh Máaaaaaanheeeeeeeee.  
Mánhe, Mánhe.Mánhe, Mánhe, Mánhe, Mánhe, Mánhe, Mánhe, Mánhe, Mánhe. 
Dass. 
* exemplificação muitíssimo resumida dos eventos que, usualmente, ocorrem entre as 19h e as 21h.  

Back (to the future).

O Martin McFly não chegou. Senti-me a modos que defraudada. Creio que ele também se sentiria defraudado se visse que o futuro, afinal, não é o que lhe tinham prometido. Mas é o que há. Não chegou o Martin McFly, mas voltei eu a esta tabanca (é quase a mesma coisa... #sqn). Podemos não ter Governo, ser a Republica do Bananedo mas apeteceu-me escrever de novo (aleluia, aleluia).  
Os meses que passaram foram (e ainda são) meses que de tão maus, de tantas lições aprendidas a ferros da vida, acabam por se transformar em coisas boas, em coisas bonitas. Há sempre algo de bom, há sempre algo de que rir ou, pelo menos, que faça sorrir. Quando me despedi da minha Avó, lembro-me de lhe dizer, entre o ranho e as lágrimas e os soluços, que o cabelo dela estava macio mas despenteado e que o FCP iria ser campeão (estais a ouvir meus morcões? bámos lá a dar à perna). Coisas despropositadas mas que agora, à distância dos meses, sei que a fariam sorrir. A sombra do cancro continua a pairar na minha vida. O meu Pai. Mas sei que vai correr tudo bem. Não o sei por mim, sei-o pela Francisca. Tenho de o saber por ela, mesmo que não o saiba por mim. E por muito que eu saiba, cada vez mais sinto que de nada me serve este saber frio, rigoroso, científico, PSA's desta vida. No final do dia, de nada vale. Só aquilo que se sente deixa marcas. Por isso, de volta, em jeito de um brinde com o copo meio vazio aos olhos mas meio cheio na alma: ao futuro.