08 abril 2014

Já não se a-guen-ta. Mesmo.

O regresso às origens. Não se a-guen-ta. Eu percebo que a malta queira regressar às origens, de verdade que sim. Eu cá hei-de um dia, espero eu, mesmo que seja já velha caquética e choné, voltar ao meu Porto. Mas quando falo no regresso às origens, falo na moda do "vou viver do que a natureza me dá, cultivar a minha batatinha, não vou vacinar os putos, vou beber água do poço que fervo antes de beber numa fogueira, nada de coisas chiques como gás, quanto mais placas de indução, que nas origens não havia gás nem electricidade, não tomo medicamentos químicos só coisas naturais, vou deixar de ter internet e telefone e nos entretantos, caço na mata e pesco de madrugada". A moda até que tem a sua certa piada, a sério que sim, mas suspeito que para tal se tenha as costas quentes (vulgo: uma conta recheadíssima, mas não se usa cartão multibanco porque nas "origens" não havia disso). Ou isso ou então se um dia lhes der uma dor de barriga, passa logo a vontade da missa sobre "as origens". É que uma pessoa, por muito idealista que seja e que acredite que as fadas moram nas árvores, não vive sem dinheiro. Pode viver com menos ou com mais, ser atleta olímpico de gerir o pouco, pode ser dada a luxos ou minimilista, who cares, mas viver sem um tostão, não estou a ver como. De todo. E já agora, esperemos que não se piquem num prego ferrugento. É que nas origens, também se morria de tétano e era a modos que… chato. Perdoem-me quem acredita que se pode viver sem nada. Eu acredito que se possa viver com pouco. Mas nasci no século XX, onde morrer de tétano está démode, a mortalidade infantil e materna decresceu como nunca antes, se vive mais e melhor. Porque até a minha Avó, que nasceu no que muitos chamam de "as origens", vive hoje em dia muito melhor com a próteses que lhe "instalaram". Por isso, posso ser canastrona e muito dada às maravilhas do admirável mundo moderno (e não novo, mas já agora, um excelente livro, o Admirável Mundo Novo), mas não tenho pachorra. Mesmo.