04 abril 2014

Em contra-relógio.

Há dias em que chego a casa já bastante tarde. O conceito de bastante tarde, depois de ter sido Mãe, mudou radicalmente. Antes, o bastante tarde poderia ser o bastante cedo, dependendo do ponto de vista, que é como diz, aí umas 5 da manhã. Hoje em dia, chegar bastante tarde é já muito próximo das sete. Porque até à hora de jantar, há sopa para fazer, jantar para preparar, banho para dar, pijama para escolher, roupa do dia seguinte para deixar pronta e mais umas quantas coisas raçadas de sopeirice que vão surgindo nos entretantos, entre um "olha a Dra. Briquedos" (a nova obsessão) e um "deixa-me ver a tua torre de Legos, que gira!", "ah, está bem, agora és um canguru", "não, não podes dar de comer na boca da Mofli, ela come sozinha" e outros afins. Chegar muito perto das sete implica querer fazer tudo o que é preciso, até às oito da noite, em contra-relógio. Cresci numa casa onde não havia horas para as refeições. Em boa verdade, não havia horas para o que quer que fosse, sendo ainda hoje assim. A desorganização, o tudo ao deus dará. Comia-se quando calhava, muitas vezes frango assado, trazido de uma grande superfície pelo meu Pai. Lembro-me de alturas em que a minha Mãe devia ter mais trabalho e então, frango assado ou omelete de queijo com esparguete, era o menu do dia, dia sim, dia sim. Deve ser por isso que não consigo comer frango assado, uma vez que a omelete foi banida do cardápio quando o colesterol do meu Pai começou a ser mais que a conta. Mas gosto que a Francisca tenha horas (não tem de ser ao minuto, entenda-se) para jantar. Que tenha as suas rotinas, hoje em dia bem diferentes das do tempo do biberão de 4 em 4 horas, arrota, muda fralda, dorme (e bem mais giras agora, digo eu). Às vezes, também eu gostava de ter mais tempo. Mas depois lembro-me que ao fim-de-semana, há o luxo do facilitar um bocadinho. De fazer tudo com mais tempo, com mais vagar, com menos pressa. Do facilitar um bocadinho a hora de ir para a cama, para a ter mais meia hora a papaguear na sala e a inventar as suas estórias, que começam invariavelmente com um "sabes uma coisa, Mánhe?". Gosto que a Francisca tenha rotinas e que saiba que ao fim-de-semana, a corda se estica mais um bocadinho, sem ser em contra-relógio. Para perceber um dia, também, que o tempo é algo de muito valioso.

3 comentários:

M.P. disse...

Oh se é...

Magui disse...

Como te entendo...

Sónia disse...

Cá em casa eles também têm as rotinas deles e claro ao fim de semana e nas férias alargamos mais um bocadinho os horários, e sabe tão bem vê-los felizes por poderem ficar mais um bocadinho acordados a brincar.