06 setembro 2013

Queres ser minha amiga?

Lembro-me de, no meu primeiro dia de Escola Primária, me sentar na carteira ao lado de uma miúda franzina, de cabelo negro e olhos cor de azeitona. Chamava-se Juliana e depois de terminar a Primária nunca mais soube o que foi feito dela. Mas lembro-me perfeitamente do momento em que me sentei ao lado dela e, porque afinal de contas não conhecia ninguém e não, lhe ter perguntado "Queres ser minha amiga? Não sei em que idade é que é suposto (ou sequer se é suposto perder-se) a capacidade de querer ser amigo de alguém só porque sim, sem medo ou receio de depositarmos ali esperanças, mesmo que essas esperanças passem apenas por partilhar rebuçados na hora do recreio ou por precisar de um ombro para chorar quando os rebuçados já são apenas guloseimas e não o doce da vida. Talvez não seja isso, talvez seja a capacidade de nos habituarmos, com o passar dos dias que se transformam em anos, a estar rodeados de desconhecidos, sem a necessidade de pedir amizade, porque depositar esperanças se começou a tornar difícil. Não sei. Mas às vezes, bem cá dentro, ouço a minha voz infantil, bem baixinho a dizer "Queres ser minha amiga?". Mas os meus lábios não se movem e a minha voz fica em silêncio. 

2 comentários:

Magui disse...

Adorei... Também não percebo porque é que agora não é assim fácil como dantes! Porque é que temos sempre uma carapaça de tartaruga?

M.P. disse...

É tudo tão mais simples quando somos crianças...