03 janeiro 2013

Aos que eu conheço e aos que cá passarem: Carta aberta a futuros Pais (porque me apetece)...

Tenho dois casais próximos a quem 2013 vai trazer um bebé. Havia muita coisa que gostava de lhes (vos) dizer olhos nos olhos, sem panos quentes, frosquices e harpas e passarinhos. Mas não posso porque há todo um filtro social que me impede e toda uma barreira de Papás in the making que não aceita o que se diz, donos da verdade do desconhecido. Fair enough. Mas deixo aqui escrito o que me vai na alma para aliviar a (minha) consciência... 
Queridos futuros Papás: 
Preparem-se. A vida como a conhecem acaba. É um facto. Não há volta atrás, a vida muda TODA. As prioridades alteram-se. De repente, são Pai e Mãe e têm de conseguir encontrar o vosso lugar na vossa relação de casal de novo. Não se anulem como apenas Papá e Mamã. Lembrem-se que já eram um casal antes de decidirem trazer uma vida ao Mundo. Mimem-se. Apoiem-se. Remem para o mesmo lado e a corrente da mudança custará menos a levar a bom porto. Mas aceitem que jantares a dois, saídas quando se quer, ir aqui ou ali, dormir uma manhã inteira terá uma logística diferente de tudo o que até então conheciam. Não abanem a cabeça e digam que são os Pais mais práticos à face da terra. Verão mais tarde o que eu quero dizer com isto, mas fiquem desde já alertados para o facto que até um passeio numa tarde de sol requer algum planeamento. 
Um bebé não é um Nenuco. Não é sempre fófinho, não é sempre cheirosinho. Um bebé não sabe dormir. De todo. Por um bebé de meses a dormir uma noite inteira requer algum trabalho e disciplina, mais ou menos, depende da sorte que vos calhar. Mas mesmo os bebés fáceis vão dar más noites de quando em vez. Ou serão cólicas, ou dentes, ou terrores nocturnos, ou pesadelos, ou a necessidade de não se sentirem sozinhos no Mundo e saberem que está alguém por ali. Ou irão chorar e berrar porque é a única maneira que conhecem (ainda) de comunicar, embora inteligível para nós. Com o tempo, aprenderão a interpretar o choro do vosso bebé. Reitero, com o tempo. Não se aprende a partir do momento que o colocam no vosso colo. Haverá noites que serão contínuas com os dias, mesmo que tenham a felicidade de ter uma criança santa, um verdadeiro come-e-dorme-e-faz-coisas-de-fralda. Apoiem-se nas olheiras, cansaço extremo e maus humores. Façam turnos. Atirem a moeda ao ar. Mas lembrem-se que estão ambos juntos nisto. A Mãe "só" porque é Mãe não tem a responsabilidade de arcar com tudo, especialmente se amamentar. E muito menos sob a capa da Licença de Maternidade e o "tu é que estás em casa". Cuidar de um bebé pequeno é desgastante, física e emocionalmente. Dias houve em que eu esperava Mêhóme chegar a casa, sôfrega de tempo para mim, para poder tomar um banho em paz. Ou sair de casa e respirar um sossego provisório. Dividam e partilhem tarefas, será tudo muito melhor. Não atirem culpas de um lado ao outro nem passem atestados de incompetência. Ambos estão a aprender e ambos irão errar e desesperar e pensar "mas porque chora desta vez?? Que fiz de errado???". Nada. Estão a aprender, assim como estarão ao longo de toda a vida. Com o nascimento de um bebé, irão também crescer vocês enquanto pessoas, seres humanos. E se assim o quiserem e fizerem por, enquanto casal. 
Riam-se com os percalços de Pais de 1ª viagem. Eles vão acontecer. Alguém que se esquece de fechar bem a fralda. Alguém que não se lembra quantas colheres de leite já colocou na água e vá de começar tudo de novo às 4 da manhã. Collants vestidos ao contrário. Chuchas M.I.A. Toalhitas que acabam e ninguém se lembrou de comprar mais. 
Não esperem ouvir harpas e passarinhos a chilrear. Isso não existe. Não criem essa ilusão ou quando baterem de frente com a realidade irá custar mil vezes mais. 
Mamãs, não se subjuguem aos estereótipos da sociedade no que respeita à Maternidade. Vivam-na da melhor maneira para vocês. Não tenham medo de dizer que precisam de 5, 10 minutos, 3 horas a sós, longe de fraldas e chupetas e biberões. Se quiserem amamentar, amamentem. Se não quiserem, defendam a vossa posição, baseando-a em factos concretos. Se quiserem e não for possível (o meu caso pessoal) não se deixem vergar pelo peso da culpa. As mamas são vossas, decidam apenas em consciência o que é melhor para todos, vocês incluídas. O amor de Mãe existe e é tudo o que dizem. Mas mais uma vez, vem com o tempo. Fortalece-se nos laços que se criam e estreitam todos os dias, nos detalhes sublimes que descobrem a cada novo nascer do sol. Não achem que existe algo de errado porque gostam do vosso bebé mas não sentem os foguetes que vos venderam. Dêem tempo para se conhecerem, se explorarem. O amor nasce lentamente, como qualquer amor digno de tal nome. Estejam atentas a baby blues que demoram a passar. A depressão pós-parto é sorrateira mas instala-se de armas e bagagens. Se não se sentirem bem, uma tristeza imensa, um choro interminável, um pânico quando o vosso bebé chora, peçam ajuda. Falem. Não se calem porque "foste Mãe e devias estar no sétimo céu". Ela existe e magoa muito, destrói pedacinhos de vocês a cada dia que não pedem o socorro que precisam. Não esperem que o que se modificou ao longo de meses volte ao sítio após parir. Não volta. E provavelmente, muitas coisas não voltarão a ser como eram. Uma estria, uma cicatriz de cesariana, derrames nas pernas, as mamas que se modificaram um pouco. Aprendam a desvalorizar essas marcas, fruto de uma gestação. Se vos incomodam verdadeiramente, tentem solucionar a coisa. Mas não levem isso muito a sério, relativizem. São amadas como Mulheres, não como Top Models. 
Se quiserem partilhar cama com a cria, partilhem. A cama é vossa e ninguém tem de mandar nela senão ambos que lá dormem. Mas chegará a altura em que quererão voltar a ser dois, a ter a vossa intimidade e não será justo, de todo, pedir a um bebé que até ali só conheceu aquela realidade, que aceite de bom grado uma cama fria e um quarto só e esperar que seja tudo rosas e que a criancinha diga "porreiro, pá, estou à larga". Decidam em consciência e com a consciência de que tudo, mas tudo na Bebélândia, se repercute no longo prazo. 
E lembrem-se: um bebé é uma alegria imensa, mas dias haverá que não saberão o que andam a fazer. Ou no que se foram meter e que nunca mais vão dormir. Vão. Eventualmente. 
O nascimento de um filho pode e deve ser uma bênção, não algo transtornante e capaz de gerar conflitos de proporções catastróficas. Leiam, conversem, informem-se, a dois. Um filho não se faz sozinho, it takes two to dance the Tango. E já dizia a Simone que "quem faz um filho, fá-lo por gosto". E acreditem, que mesmo que não haja cenários idílicos, que não os há, nada neste Mundo e em possíveis outros se compara ao "fazer" crescer um filho. Será sempre o vosso coração que já não vos pertence, mas vive agora naquele minúsculo e piqueno ser. A melhor parte de vocês. As preocupações com um filho nunca acabam. Não acabam no dia em que ele faz um ano ou no dia em que faz 35. Irão ser parte integrante de vocês até a um último suspiro do vosso corpo. Abracem a mudança que esse bebé trará às vossas vidas. Mas aceitem que é uma mudança sem retorno. Se o fizerem, a vida a três será muito mais pacífica. E muito, muito, muito mais feliz. E o que eu quero, é que sejam imensamente felizes na vossa nova vida. 

12 comentários:

Magda disse...

muito bom princesa. há muito boa gente que deveria mesmo ler.

Susana Andrade disse...

O desconhecido de repente foi desvendado !! Melhor não poderia ter sido escrito, toda a verdade está escarrapachada aqui mas se eu soubesse de antemão antes de ter feito um filho fá-lo-ia na mesma ;o)

M.P. disse...

Tudo, tudo, tudo verdade!!
Verdade verdadinha mesmo!

Magui disse...

Está espectacular... É tudo tão verdade e faz tão bem ler isto antes de entrarmos na tormenta, por muito que só se compreendam verdadeiramente as coisas no fim de passarmos por elas!

raquel disse...

Minha querida,
sabes que compactuo com cada palavra que aqui escreves.
De tal forma que até estou emocionada com as tuas palvaras.

É que é isto mesmo! Tudo isto. E tenho pena que não mo tenham descrito assim antes de parir, enquanto só me falaram dos pássaros e dos violinos a tocar. E muitas, muitas vezes achei que estava algo muito mal comigo.
E isto é a verdade. Tal e qual como é!

É muito, muito bom ser mãe. É o maior amor que realmente se pode conhecer, mas é um abanão enorme a todos os níveis.

Mas também percebo que só se entenda tão bem quando se passa por elas. Mas se podermos ir "avisados" de que pelo menos existem pessoas que sentiram ou sentem algo parecido connosco, garanto que é bem melhor!

Um beijo e parabéns (mais uma vez) pela forma como tão bem escreves.
Adoro*

Mamã Apuros disse...

Gostei muito do post. Vou ser mãe em 2013 e sei que a minha vida vai mudar, não tenho bem consciencia de como. Mas sei que vai ser uma grande mudança.

Anónimo disse...

Amén! Sem tirar nem por

Vanilla disse...

óh God! É tão...mas tãoooo verdade. E agora vem mais um!
Tenho plena consciência de que desta vez não vou ter tanta sorte, há dias e dias mas a minha filha é um anjo (selvagem) como eu lhe chamo nos dias "não".
Mesmo depois de ter passado por um ano de existência, tenho a certeza que não sei mesmo o que vem ai, rezo para que a mana mais velha continue apenas e só, a dar o trabalho que tem dado até agora.
Não tenho medo dos dias que se avizinham, mas tenho muito medo de não aguentar a carga que vem junto.

MissLilly disse...

excelente texto sem duvida. Eu pra ja continuo sem instinto maternal, nao o tenho e a minha irma diz a mesma coisa, portanto acho q tem de acontecer, eu nao me vejo a planear para tal embora biologicamente nao tenha mto mais tempo.
adiante, tenho imenso receio da mudanca de um filho na nossa relacao, e muito duro e desgastante psicologicamente (apesar de todos os lados bons, e de ver um filho a crescer e a nos fazer sorrir ser mto especial), mas eu tenho medo. Portanto ou queremos ambos mto mto e estamos preparados para o q der e vier, ou nao ha nada pra ng

S* disse...

Não há prazer maior do que educar uma criança, formá-la, ver-se tornar uma pessoa íntegra e de bem. O trabalho é muito, o caminho é sinuoso, mas vale a pena.

Ana Rita Gil disse...

Sooo true... Por mais que nos avisem, nunca ninguém está preparado para o que aí vem. Nunca.

Ana disse...

Muito bom. É curioso que tive uma conversa semelhante com uma amiga que está finalmente grávida e, perante o seu ar assustado, disse-lhe várias vezes "olha que é melhor estares preparada, a mim ninguém me disse isto...". Aliás, dei comigo a pensar que serei muito melhor como mãe numa segunda volta, mas gostava de não ter aprendido tanto com os meus erros. Alguns teriam sido seguramente evitados se uma carta como esta tivesse chegado à minha caixa do correio. ;)