05 maio 2012

Do dia da Mãe...

Amanhã é dia da Mãe. Ou dia 8 de Dezembro, como quiserem. Mas convencionou-se, nos últimos anos, que seria o primeiro domingo de Maio. A mim, parece-me bem. Maio cheira a Primavera, cheira a flores, cheira a sol.  
Gosto muito da minha Mãe. Não lho digo tantas vezes como deveria, mas tenho um orgulho imenso nela. Acredito que ela sabe disso, mesmo que não o diga (muitas vezes) por palavras. Por vezes, foi uma Mãe um pouco ausente.Não por opção mas porque assim teve de ser. Por vezes foi e é bruta, ríspida. Mas é sincera e é de boa intenção que se enchem as suas frases mais duras com as quais me brinda. Nem sempre concorda com as minhas decisões e opções e faz questão de mo dizer, mas apoia-me incondicionalmente. Não direi que a minha Mãe é a pessoa a quem conto tudo, mas é o meu porto de abrigo. Não há colo como o de uma Mãe. Não há melhor colo no mundo que o dela.  
Quem tem uma Mãe, tem tudo, diz o povo sábio.  
Dou mais valor à minha desde que eu me tornei Mãe. Correcção, aprendiz de Mãe. Não tenciono ser a Mãe perfeita. Sou humana e um poço de defeitos. Tenho as minhas coisas como todo ser humano. Se há dias que o meu coração transborda paciência e serenidade outros há em que trago um furacão cá dentro. Mas com a chegada da Francisca, aprendi a que o furacão passasse a ser (apenas) uma tempestade tropical. Se é bom ser Mãe? É, muito bom. Olhar para aquela criança e saber que a gerei no meu ventre, que aconteça o que acontecer, ela é minha filha. Nunca deixará de o ser. Mas, perdoem-me os mais sensíveis, não vou vender a ideia que é tudo um mar de rosas. Idealizava a maternidade com harpas e passarinhos a chilrear como som de fundo. Não compreendia os desabafos de Mães cansadas e que soltavam um "apetece-me atirá-lo pela janela por vezes". Hoje compreendo. Aprendi que a maternidade se enche de todas as bandas sonoras possíveis e imaginárias. Aprendi que os momentos idílicos de contemplação do pequeno ser são mais escassos dos que o que pensava serem. Há dias em que admito que são raros. Mas quando os há, são bons. Diria que se enchem de algo sublime, etéreo. Porque aquela pequena criatura é minha filha, saiu das minhas entranhas. Ouviu o bater do meu coração como jamais alguém ouvirá. Porque lhe reconheço os caprichos das birras, porque aquela pequena mão gorducha me procura quando acorda sobressaltada. Não sou o exemplo da Mãe de filmes ou de livros delicodoces, sou uma Mãe de carne e osso. Uma Mãe que tem dias de desespero em que a última coisa que quer neste mundo e outros é estar mais uma hora a ouvir pequeno ser gritante. Dias em que tudo é demais e que a falta de controle sobre a minha vida, sobre os humores da pequena entre outras variantes, se abatem sobre mim e me deixam esgotada. Os 9 meses de gravidez não me preparam para esta aventura. Talvez pela minha credulidade em relatos de Maternidade maravilhosos. Talvez por achar que a minha Mãe me quereria passar uma imagem distorcida. De um momento para o outro, sem formação digna desse nome, traz-se um bebé nos braços para casa. E é suposto faze-lo vingar, faze-lo feliz. Educá-lo para ser uma pessoa boa. Transmitir-lhe valores. Sim, pode ser overwhelming. Assustador. Foi-o e por vezes, nos poucos silêncios da casa, ainda o é. Mas basta um sorriso para regressar à realidade e ganhar forças. Seja para mais uma noite com passeios a cada três horas até à cama da cria, seja para mais meia hora de guinchos. Ou para cantar canções que nunca imaginei trautear. Ou para apenas continuar a aprender a cada dia de que se reveste este admirável mundo novo da maternidade. 
Daqui a uns anos, Francisca também pensará vezes sem conta que a Mãe que lhe calhou no ovo kinder é uma chata como nunca outrora vista. E que as Mães das amigas serão sempre melhores. Mais permissivas, mais companheiras, melhores. Francisca pensará também que a Mãe não percebe nada de nada e que se entretém a dificultar-lhe a vida com regras e com conselhos que não pediu. O tempo dar-lhe-á a sabedoria e experiência para reconhecer, assim espero eu, que não há colo melhor que o regaço onde a embalo e a acalmo. Que uma Mãe, assim como uma filha, é para sempre. Que deste coração jorra amor, na sua forma mais pura. O tempo dar-lhe-á a capacidade de perceber que os seus interesses se sobrepõem aos meus, mesmo que por vezes a Mãe não o declare. O tempo mostrar-lhe-á que, apesar das asas que a ajudarei a ganhar, porque o que a Mãe mais quer é a sua felicidade, gostará de um dia voltar ao ninho. Ou pelo menos, assim o espero. 
Considero-me uma aprendiz de Mãe. Se for metade da Mãe que a minha Mãe o foi, ficarei feliz.  
Para todas as Mães ou aprendizes de Mãe... um feliz dia da Mãe. 
Sim eu sei que só é amanhã, mas amanhã é dia de boicote ao computador. Dia para ser Mãe a tempo inteiro de pequena cria, no dia em que apesar de ela ainda não o saber, diz a sociedade que é a mim (nós) dedicado. 

6 comentários:

MamãdoAfonso disse...

Adorei e chorei... revejo-me em muito do que escreveste. Feliz dia da mãe



Susana Neto

M.P. disse...

Que belo texto...Gostei muito. Feliz dia da Mãe!

Magui disse...

Só te digo que me puseste a chorar baba e ranho... Este primeiro dia da Mae a serio está a deixar-me comovida e tu fazes este texto... Nao me aguentei! Um beijinho enorme e feliz primeiro dia da Mae para nós!

sofia disse...

Completamente! Que bom alguém que assuma que somos de carne e osso. Eu ainda sinto saudades dos primeiros dias na maternidade onde me sentia tão segura. O dia em que de lá saí foi o mais confuso de que me lembro! É difícil, mas quando é bom, é muito bom mesmo!

Valsita disse...

Faço minhas as tuas palavras... :) Feliz dia da Mãe para ti tb...

raquel disse...

oh minha querida, adorei este texto!
identifico-me com tanto do que aqui escreveste!
hoje que estou demasiado sensível não devia ter lido este texto que me pôs de lagrimas a correrem.
um beijo especial, com muito carinho*