Dizem que a maneira como se dorme diz muito sobre a pessoa, a posição do sono. Durmo sempre de lado. Virada para a parede. Com um braço a cruzar-me o peito. A fechá-lo. Num acto instintivo de protecção de mim. Hoje, acordei enovelada em mim. Acordo devagar. Estico as pernas. Deixo o meu braço que me guardava esticar-se e fico de peito aberto. Devagar. Deixo a protecção dos sonhos cair. Devagar. Abro os olhos. Devagar. E espero para ver o que o dia me vai querer trazer. With arms wide open, under the sunlight... E assim, bom dia, bom dia...
30 abril 2013
Bom dia, bom dia...
29 abril 2013
Just in case...
Maria Francisca, bicho bom de sua Mãe:
para o caso de um dia a sanidade mental, aquela se me vai(s) comendo aos poucos se esgotar, fica aqui o registo. No dia em que tiveres uns trocos e achares que a tua Mãe, esta que escreve, até que nem é má rés e até que é uma gaja porreira para ti, livra-te, assim, que nem te passe pela cabeça, de me ofereceres pelo dia da Mãe ou por qualquer outra ocasião festiva alusiva à minha pessoa o seguinte: colares, berloques, pulseiras, pelúcias, camisolas, tatuagens de colar com cuspe ou outros que tal a dizer "Mom", "Mãe", "Mommy", "Mamã" (ou outras designações referentes ao ter-te posto neste Mundo e te criar) seguidos de um "I lobe you", "#1 Mom", ou "Mommy knows best". Seria coisa de me dar uns abafos. Credo!
A arca congeladora é a arca dos tesouros...
Encontrei um relógio. Na arca congeladora. E uma pépé. Congelados. Ambos descongelaram. Ambos funcionam. Francisca investiga os poderes da criopreservação. Eu perco mais uma gota de sanidade mental. Depois de explicar que ali se guarda comida. Não tesouros. ( E depois de me rir às escondidas....)
Caro senhor do tempo...
... ou que manda no tempo, ou São Pedro ou seja lá quem for: tenho a dizer-lhe que tem um sentido de humor absolutamente retorcido. Isto uma pessoa queixa-se que está calor, abafos, queimaduras e tal, mas caso não saiba, o Português é excelente em queixar-se. Profissionais mesmo. Mas, andei eu nas sopeirices de troca camisolões por t-shirts e saias e ai que está calor e vou comprar mais umas sandálias (e estava, quando as comprei e há-de voltar, no returns, ómessa) e agora alombo com este gelo? Ahahahah. Pois. Piadinha. Verdadeiramente retorcido, esse sentido de humor. Deu ma libre. (claro que me vou queixar quando voltar o calor. Um esmero na arte do queixume meterológico). E depois, até que me corre bem o dia, frios à parte. Even on a Monday... vá-se lá perceber...
27 abril 2013
Ela também quer(ia)...
... uma mala daquelas, pretas, clássicas, daquelas que vão com tudo. Mas Cháneles não há. Acho que ela não se importa ( em tempos, posaria piquena numa sala de gente decente. Agora, é assim uma coisa indefinida.)
26 abril 2013
Um (o) coração...
Um coração é uma casa. Com telhado, portas e janelas. Um coração é uma moradia. Com um jardim em frente a ela, onde se senta quem não é convidado a entrar, a trespassar a porta de entrada. Um coração é uma casa. Com várias divisões. Tem uma sala onde ficam os que não são convidados a privar na intimidade. Um coração tem espaços reservados, como uma casa de gente. Onde só se vai sob autorização. Onde só se entra quando se é permitido, sob pena de ser banido do mesmo se se infringir a vontade do dono desta casa que é o coração. Porque um coração não vive de porta aberta, de janelas escancaradas. Porque um coração é uma casa e tem janelas mas também tem portadas. Porque tem porta mas também tem fechadura. Porque no meu só entra quem eu quero. Porque quando nele entram, ficam a morar em mim. Porque no fundo, um coração é uma casa. E o meu é apenas casa de quem gosto. Sem espaço ao luxo de pensar que um dia a casa vem abaixo...
25 abril 2013
25 de Abril e como o que mudou ficou igual...
O meu Pai é da geração da Revolução. Andou na rua a lutar por uma Liberdade. Os anos passaram. O meu pai foi da geração da Revolução. Dos cravos vermelhos. Das manifs. Do lutar por poder falar. De ver os Amigos fugirem para França, em busca de dias melhores, de vidas melhores, em fuga a uma prisão certa por elevar a voz contra o Regime. Os anos passaram. Hoje, tenho muitos mais anos do que o meu Pai tinha quando andou a lutar por uma Liberdade. Eu sou da geração rasca. Ou da geração à rasca. De uma geração que vê na mesma partir os Amigos. Que os vê sem perspectivas de futuro neste Portugal. De uma geração que se vê sem horizontes. Mais de metade dos meus Amigos partiram. Os que ainda cá estão, alguns, irão partir em breve. Outros, continuarão na esperança de melhores dias. Uns ficam porque querem, outros ficam porque partir (ainda) não é opção. Ponderei muitas vezes partir. Ir embora sem ideia de voltar um dia. Ficar do lado de lá do Atlântico. Ir para os Países Nórdicos. Mas fui ficando. Vou ficando. Ainda. Os anos passaram. E o meu Pai, hoje, recusa-se a falar dos dias e das noites em que saiu à rua a lutar por uma liberdade. Porque olha para a Filha e vê que sim, que pode falar, que pode exprimir a sua opinião sem isso acatar uma sentença de prisão. Mas onde lhe vê as mesmas dificuldades, a mesma luta, a que achou que quando saiu à rua e cantou "Grândola", seria a borracha das dificuldades em gerações vindouras. Eu olho para a minha Filha e não sei que futuro lhe poderei dar. Porque eu, até hoje, safei-me. Procurei. Esforcei-me. Tentei. Falhei. Voltei a tentar de novo. Tive sorte, admito. Não foi só sorte, mas tive-a também. Mas olho para a minha Filha e não sei que futuro lhe poderei dar. Gostaria de não ser esta geração tão à rasca. Tão desanimada. Tão soturna. Gostaria de lhe dar um Portugal de horizontes. Um Portugal onde a ideia de partir porque é impossível ficar não fosse o legado da minha geração. Esta, que a conta-gotas pesadas, se vai embora. Eu, vou ficando. Porque sei que se for, não voltarei a este meu País. E gostaria muito de pensar que, um dia, o meu Pai volte a achar que tudo valeu a pena. Que não foi em vão os riscos que correu. Que das cinzas que vejo neste meu País algo bom renascerá. Porque sou Portuguesa. E gosto do meu País.
24 abril 2013
O primeiro de muitos...
Francisca foi de boca ao chão no seu passeio matinal. Diz que passou cão e piquena foi no furacão canino. Sangues e urgências à parte, Francisca está bem. A capacidade do corpo dos piquenos sarar é algo que me fascina. Anda a correr atrás da Mofli como se nada se tivesse passado. E ainda bem que assim é. Tem o lábio inchado e um lanho que há-de sarar. No fundo, o primeiro de muitos. Porque eu esfolei muito joelho e muito cotovelo. E quero que a minha filha saiba o que é brincar fora de 4 paredes. E que aprenda que os acidentes acontecem, porque o Mundo não é almofadado. Aprender que se cai mas que também se levanta. E que haverá sempre alguém para a ajudar a levantar. E que isso lhe dê a vontade de ser curiosa, de brincar, de correr. Sem medo de poder cair. E quando a queda acontecer, saber que no meu regaço estará sempre o melhor anestésico ( diz que só pode comer coisas frias e assim tipo gelados... está aborrecidíssima... )
23 abril 2013
No dia mundial do livro...
E tudo o vento levou. As palavras que nunca te direi. Cem anos de solidão. 1984. Anna Karenina. Amor, curiosidade, prozac e dúvidas. Admirável mundo novo. Trilogia Millenium. O amor é fodido. Harry Potter. Os Maias. Memórias das minhas putas tristes. O mundo de Sofia. Paula. Retrato a sépia. A casa dos espíritos. Antes de adormeceres. Como água para chocolate. As pupilas do senhor reitor. A queda de um anjo. O Princepezinho. Fernão Capelo Gaivota. O perfume. Misery. The dark half.
Sem ordem de preferência, alguns dos livros que me deram muito. Que li e reli. Que me deram sorrisos. Que me deram lágrimas. Que me prenderam até à última página.
Se a magia está nas pinturas...
Quando era miúda, passei uma fase em que ouvia No Doubt ad nauseum. Hoje, enquanto descobria que o pincel do blush estava babado até à quinta casa, lembrei-me de uma música. Magic's in the makeup... Qualquer coisa como... " (...) makeup's all off, who am I, if the magic's in the makeup, then who am I?". Enquanto a colocava, lembrei-me dela. BB, blush, rímel. Porque tudo se aprende. E muitas coisas, para serem aprendidas, têm de se sentir bem fundo na pele, bem fundo, bem lá dentro. E enquanto me olhava ao espelho, sei que aquela do outro lado do espelho é a capa de mim, não eu . Porque eu não quero que seja. Porque eu não me permito isso. And now, who am I?
22 abril 2013
Silêncio...
Por esta altura, começa(r)am as trovoadas. As mais bonitas aos meus olhos. Trovoadas em que avisos amarelos e vermelhos eram emitidos com a antecedência permitida pela inconstância do tempo. Por vezes, muitas vezes, 30 minutos antes do céu desabar. Foram as trovoadas mais bonitas que já vi. Lembro-me de uma vez em particular, em que escolhi caminhar a pé para casa. Seriam uns 45 minutos. em que precisava muito de caminhar em silêncio com a minha música. Saí num dia claro, de céu limpo. A meio do caminho, o céu ficou negro, escuro, carregado, num espaço de dez minutos. Escolhi continuar a pé. Precisava muito de caminhar em silêncio com a minha música. Lembro-me de ficar encharcada. De guardar a música e ir só assim, em silêncio, cortado pelo som dos trovões. Lembro-me também do silêncio nessas noites de tempestade. Cortado pelo som dos trovões. De me sentar naquela janela, por mim escolhida para temporariamente morar. Uma janela enorme, que inundava a sala de luz boa. Assim como se enchia com a luz branca que cortava o breu de quando em vez. Da chuva grossa a bater nela. Do som de um céu fechado, mas bonito. Por vezes, bebia um copo de vinho, sentada à janela. Para aquecer o peito e distrair a cabeça. Por esta altura, começa(r)am as trovoadas. Agora, o silêncio poderia ser diferente. Lá fora, há um céu limpo. A luz branca é a do luar, que entra tímida nesta janela pequena. Mas o silêncio, esse, permanece igual. Porque descobri que vive em mim, em mais sítio algum, este meu silêncio. Porque me pertence.
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