02 julho 2015

Um mês depois.

Passou um mês desde que escrevi aqui. 
Não aconteceu nada que me impedisse de o fazer. Não estive doente. Não tive ninguém doente. A minha Avó está doente mas são 88 anos e para já, está bem dentro dos dias que lhe (es)correm. Adoptei um cão para os meus Pais, o tal que falei e que queria, acabou por ser para mim (nós). Fui buscá-lo a um domingo. Lavei-o, esfreguei-o, desparasitei-o, brinquei, alimentei. Levei-o à rua na minha hora de almoço, debaixo de um calor de terra do inferno. Na 5a feira seguinte, fui com ele no colo para o veterinário. Esteve internado 5 dias entre a vida e a morte (parvovirose) e eu prometi que ia cortar o cabelo e ele se salvava. Dei uma valente tesourada nos meus cabelos longos e tenho-o acima dos ombros agora. Pode ter sido a promessa mais fútil da história, o abdicar da coisa mais idiota de sempre, mas foi o que me ocorreu na altura. O Nicky salvou-se, está bem, óptimo, maravilhoso e vive já com os donos "a sério", os meus Pais. Já foi vacinado, chipado e mimado até mais não. Acho que lhes vai trazer alegria, ao meu Pai e à minha Mãe. Não gosto de me ver com o cabelo assim. Sinto-me "não eu". Não tem mal, voltará a crescer. É "só" cabelo. A minha Mãe está com um ar extremamente cansado e eu, que sou má de demonstração de afectos, apetece-me dar-lhe um abraço. Ainda não dei. Mas vou dar.  Voltei temporariamente aonde cresci muito profissionalmente. Cresci mais em 15 dias do que nos últimos 3 anos. Fico muito tempo absorta em mim, nos meandros da minha cabeça. A Francisca foi para a praia. Voltou ao otorrino e ficou sem sequelas, recuperou totalmente a audição após a cirurgia do ano passado. A Francisca vai ser baptizada em breve no sitio com a vista mais bonita de todas da Cidade que é a nossa Casa. E em breve fará 4 anos. 
Passou um mês desde que aqui escrevi. 
A vida decorreu no seu ritmo... não tive vontade de aqui vir, confesso. Não tive vontade de vir contar as minhas angústias, as minhas alegrias, as lágrimas que chorei, as decisões que tomei ou o que vou fazer da e na vida. Os casamentos a que fui, os sustos que levei, as saudades que sinto e que senti. As amizades que cimentei e às que disse boa noite ao freitas, encolhendo os ombros e seguindo em frente. Fast healer, fast forward. Não aconteceu nenhuma mudança drástica, a terceira guerra mundial ou descobri a cura do cancro. Não me apeteceu vir reclamar com os idiotas que não vacinam as crianças. Chamem-me o que quiserem, atirem pedras, calhaus e pedregulhos... quero nem saber: os Pais da criança que morreu com difteria vão ficar para sempre com a culpa da morte do filho e eu não consigo sentir empatia. Sou um monstro talvez, mas não consigo. Tenho pena da criança inocente, não tenho para com os Pais. Nenhum Pai merece enterrar um filho, mas os Pais devem proteger os filhos de todas as formas possíveis. Morreu porque não foi vacinado. Estupidez humana no seu melhor, modas que não entendo. Vamos todos voltar ao tempo da peste negra, varíola e morrer de constipações. Voltemos também ao tempo em que as Mães morriam no Parto e as crianças de desnutrição porque a Mãe não tinha leite para dar de mamar. Não sei qual é esta nova sociedade que me passa ao lado, mas fico muito contente por me passar ao lado. Vá de retro, xô. Sou uma mulher da ciência, pragmática q.b, mas se for preciso dizer que corto o cabelo e que acredito que isso vai mover qualquer força no universo para salvar um (O) cão, faço-o. Estou farta de gente saudável, de gente que não manda uma caralhada e que está sempre bem disposta. Ou dos que estão sempre mal dispostos, de beicinhos empinados, de olhares de gatos das botas. Um mês depois, cá estou. Hoje, quis voltar a escrever. Não quer dizer que amanhã ou daqui a duas horas o queira de novo. 
A tabanca vai continuar. Ao sabor dos meus dias, ao sabor de mim, ao ritmo em que decidir deixar os meus dedos voltarem a teclar. 

4 comentários:

S. disse...

O comentário mais egoísta, mas o possível. Fizeste-me falta.

raquel disse...

Saudades, muitas saudades.
Senti a tua falta por cá.
Um beijinho enorme*

Pitú disse...

Podia ter sido eu a escrever isto! Tirando a parte de adoptar um cão, de ter uma avo de 88 anos (infelizmente ja nao tenho) ou de ter coragem para cortar o cabelo! Gosto de te ler!

M.P. disse...

Oh pá, é por isso que adoro ler-te, caralho!!
Saudades vossas!!
Beijinhos