24 março 2015

O blazer amarelo.

Associo sempre a chegada da Primavera a um blazer amarelo pastel. O meu primeiro blazer, comprado na Zara. Já se passaram tantos anos desde que andava na Terceira Classe e a Dona Júlia era a minha Professora, ela que, pacientemente, me respondia às milhentas perguntas que não podia fazer à minha Mãe, a 300 km de distância em trabalho. Eram outros tempos, não havia telemóveis e em casa dos meus Pais existia um telefone acizentado dos TLP, em que marcar um número era uma eternidade naquele disco que fazia uns barulhentos tão característicos. Falava com ela uma vez por dia, coisa de pouco tempo, que não existiam chamadas grátis e a vida custava (e custa) a ganhar. Lembro-me de num fim-de-semana ir às compras, numa das raras ocasiões em que havia tempo para isso e de me ter encantado por um blazer amarelo da nova colecção, quando ainda existiam apenas duas coleções por ano: a de Outono/Inverno e a de Primavera/Verão. Hoje em dia há mais umas tantas quantas intermédias entre essas. Lembro-me de escolher o blazer e de a minha Mãe me alertar que apenas seria para vestir na Primavera (era início de Março). Disse que sim senhor, pois claro, só na Primavera. Pendurei o dito numa cruzeta no meu armário, com a etiqueta, como ainda hoje faço com qualquer peça de roupa nova: a etiqueta só sai quando a vou estrear, seja no dia seguinte ou 3 meses depois. Todos os dias admirava o blazer, era coisa de gente crescida, um casaco como os que a minha Mãe usava. Sentia-me importante com ele vestido, sentia-me segura de mim. E contava os dias para a Primavera. No dia 21 de Março (sou mesmo antiga, era a 21 e não a 20 que começava a Primavera) estava frio, o tempo farrusco e cinza do meu amado Porto dava o ar de sua graça, como manda a lei do Norte. Insisti, bati o pé, pintei a manta e pela técnica da exaustão*, acabei por conseguir levar o meu novo "autefite" de gente grande para a Escola, no primeiro dia de Primavera. Rapei um frio desgraçado. Lembro-me de serem 19h30 e de me irem buscar ao ATL. Não me queixei, não contei ao meu Pai o frio que a minha teimosia me tinha feito sentir nos ossos e, muito menos, o fiz ao segurar aquele telefone pesadíssimo ao contar o meu dia à minha Mãe. Nunca mais me esqueci daquele blazer amarelo pastel. Podia dizer que associo a Primavera a flores e verdes e está bem abelha mas a verdade é que o começo da estação de novos começos e do verbo renascer, me ficou para sempre associado àquele tom amarelo pastel e ao frio que senti naquele dia. Nunca mais me dei ao trabalho de discutir em relação à roupa que me era posta para aquele dia. Até ser adolescente e acéfala, está claro. 
* a genética é tramada e agora sou eu a vítima da técnica da exaustão. 

1 comentário:

Magui disse...

Muito bom!!! E o que eu gosto de roupa amarela :D