04 fevereiro 2015

E de repente, caiu-me a ficha.

Como todas as manhãs, fui levar a Francisca à Escola. Hoje quis levar um livro. Três quinze dias de indecisão entre o Pinóquio, A Dra e a Sereia que não sabia nadar e o qualquer-coisa-Princesa-Sofia. Acabou por escolher o último. Só um, é assim o nosso acordo, pode levar uma única coisa de casa para a Escola, sem negociações de itens extra. É a vida. Quando chegou à Sala, caiu-me a ficha. Francisca de mão na cinta, a fazer aquela pirraça de criancinhas irritantes e "eu também tenho um livro na minha mochila" para uma coleguinha que lhe exibiu o seu. Por acaso, não tinha, que tinha-se esquecido do dito no carro, mas não deu fé de tal. A competição continuou. Não gostei de ver. Não gostei de ver Francisca de mão na anca, a dizer "e eeeeuuuu tambéenhe teeeeenhoooooooo!!!". Desagradou-me. Não, não gostei nem um bocadinho. Sei que são crianças, sei que são cruéis e mimimimi. Mas também sei que terão toda a vida adulta para competir: por um emprego melhor, por um carro melhor, por um cabelo mais liso, por um elogio do chefe, por reconhecimento, por um lugar no mundo. Mas ver a Francisca, mão na anca e a sua preocupação em demonstrar que sim, ela também tinha, ficou-me gravada. Acabei por ir buscar o livro ao carro,  não porque lhe quisesse dar as armas para a disputa, mas porque tive de regressar à sala. Assim não fosse, não lho tinha levado. Quando voltei já a disputa tinha acabado. Mas, não sei porquê, tenho a sensação de que será uma coisa muito mais recorrente do que o que eu pensava. Talvez ainda seja cedo para a Francisca perceber o que significa quando lhe digo que cada um tem o que pode. Mas talvez não seja má ideia começar a insistir mais nesta ideia, de que não se tem tudo o que se quer e que é feio, muito feio, exibição de posses e pertences. Em qualquer idade. 

3 comentários:

Ana Rita Gil disse...

yep. Mas é mesmo assim. Eles são assim. Quando levo Mini Mig à sala, aprecem-me logo não sei quantos a zumbir, a mostrar os ténis, as malinhas e sei lá mais o quê. Enfim, TODOS. Acho que faz parte, mesmo.

Magui disse...

Também tento ensinar aos poucos o que é certo, mas os valores demoram uma vida a fazerem parte de nós... Ah e com essa reacção dela também me parece mais reacção a uma provocação já de outro dia, mas sem dúvida que não se ensinam as coisas certas só aos 10 anos ou aos 20, é um trabalho desde pequeninos...

Patrícia Teodoro disse...

Tambem ando numa situação idêntica...de repente vi que estas coisas já começaram, este tipo de semtimentos que não gosto...também me deixou desgostosa