06 novembro 2014

Sometimes I get lost inside my mind..

Quando andava a tirar a carta, sôfrega de pegar na chave e ir para onde quisesse a meu bel prazer (ou assim achava eu, que depois de recuperada de uma cirurgia ao pé que me tinha deixado dependente e de canadianas durante 10 meses, estava tola da vida para dar uso ao carro que me esperava na garagem, tão tontinha senhores… ), o percurso acabava sempre, invariavelmente no regresso à casa de partida, por passar pela Rua da Escola Normal. Fazia-me muita confusão ter de travar naquela rua, chegava a ser pânico. Para quem não conhece, a Rua da Escola Normal desce a pique e desemboca em Santa Catarina, rua de sentido único, com uns semáforos mesmo, mesmo, mesmo no fim. Invariavelmente, acabava a pedir às alminhas que o semáforo estivesse verde. A Rua da Escola Normal, mais propriamente as travagens na dita, inundavam a minha cabeça de imagens dantescas, em que eu travava a fundo e o carro girava sobre o seu próprio eixo 180º, acabando eu assim de cabeça para o ar, a ver o fio grosso de ouro com o crucifixo do meu instrutor pendente do seu pescoço, a abanar como nos filmes trágicos enquanto a poeira assenta (ou algo assim, só para dar a ideia de cenário de horror). Em todas as hipóteses que eu colocava, o ter de travar naquela rua angustiava-me sempre.  E se o carro fizesse o pino? E se os travões falhassem e eu me enfaixasse na montra da Hertz? (muito cena à 007, mas aí não era um Yaris vermelho nem a Hertz, era um Série 7 e uma Avis, mas vai dar ao mesmo, não interessa muito ao caso). E se eu acertasse no semáforo? E se eu ficasse daltónica e visse verde e fosse albarroada por quem descia do Marquês? Ou pior, se fosse albarroada por um autocarro dos STCP em hora de ponta, cheio de gente irada? Tirei a carta.Travei muitas vezes nessa rua e noutras a pique. Até hoje, nenhum dos carros que conduzi deu uma volta de 180º, fez o pino, nem eu entrei num salto galopante para dentro de uma montra qualquer ao volante. Independentemente disso, nunca me esqueci do que a Rua da Escola Normal fazia ao meu imaginário de condutora maçarica. Não sei porquê, mas hoje, ao travar por alguma coisa, lembrei-me da Rua da Escola Normal, dos seus semáforos e de como eu implorava, aos santos e alminhas, que o semáforo estivesse verde. Tudo, para não ter de travar. 

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