24 junho 2014

Ah, os nomes…

"Nestes tempos globalizados e em que as nossas exportações batem recordes,  nomeadamente a exportação de gente – ainda no outro dia ouvi na rádio “as exportações subiram 4,6% este trimestre, fortemente impulsionadas pelos combustíveis e pela exportação de Paulos e Anas Cristinas” –, percebe-se que as pessoas queiram dar aos seus rebentos um nome internacional, uma tendência com cada vez mais adeptos.
Mas o que é isso afinal de um nome internacional?
Aparentemente é algo que permita ter um endereço de e-mail escorreito, para que não se dê o insuportável ridículo de escrever “goncalo” ou “joao”, por exemplo, e que o estrangeiro consiga pronunciar sem embaraços, excessos de cuspe ou aneurismas cerebrais. Não convém por exemplo obrigar o pobre do estrangeiro a dizer “gontzalo” ou “joauuuu”, como se fosse uma cadela com o cio.
Ao que consta, os potenciadores de cio e aneurismas são nomes rebuscados, que têm cedilhas e acentos extraterrestres, como o til, ou mesmo acentos em geral, e nomes caracteristicamente portugueses, como Vasco, esse nome tão complexo. Não olhem para mim, não fui eu que inventei. Há mesmo quem ache Vasco proibitivo, por excesso de portugalidade.
Se calhar o facto de ter mais de uma sílaba também não ajuda. Convém também que seja um nome reconhecido no mundo anglo-saxónico, esse farol da humanidade, por isso, se estava a pensar chamar Adosinda à sua filha, esqueça, não se esperam muitas Adosindas no próximo censo de recém-nascidos dos Estados Unidos.
Em suma, se no caso dos rapazes os alvos a abater são os Joões, os Simãos ou os Amândios, no caso das raparigas esqueça as Inêses, as Assunções ou as Vicências, o que está a dar são nomes versáteis, universais, de típica adolescente americana parveca, como Melissa, Samanta, Abigail. Por isso, não estranhe se daqui a uma geração tivermos uma escritora Samanta de Mello Breyner ou a ministra Melissa Ferreira Leite.
Mas eu até acho bem que as pessoas se preocupem com estas questões internacionais. Aliás, se é para facilitar a vida à pequenada, uma vez que o mundo é tão grande, porque não definir logo no nome da criança o país de destino de emigração? Por exemplo, se eu quisesse que o meu filho emigrasse para o Brasil, o importante não era o nome, era um apelido sonante. Chamava-lhe Camargo, que soa a gente que nasce logo a saber fazer cimento. E se quisesse que a minha filha emigrasse para a Coreia do Sul chamava-lhe Maria do Ampark, para lhe dar um toque luso-coreano. Ou então, se quiser realmente adaptar o nome ao país de destino, chamo ao meu filho Bruno e mando-o para o Brunei.
A chatice é quando se dá um nome internacional ao filho e depois ele nunca sai de Carnaxide. “O que estás aí a fazer no sofá? Vai mas é estudar, que não te dei um nome internacional para passares a vida enfiado em Carnaxide.” Um tipo quase se sente obrigado a ir para Oxford. “Eu queria ir para o politécnico da Guarda, mas a minha mãe tanto me chateou que acabei por ir para Oxford.”
A verdade é que ainda sonho com o dia em que Portugal seja um grande exportador de nomes. E não é de nomes pipis como Matilde ou Lourenço. Não! Nomes à séria, antigos e de personalidade vincada, como Amândio, Acácio, Onofre, Cesaltina, Quitéria. De modo a que possamos ouvir falar do grande realizador Amândio Spielberg ou da Princesa Quitéria do Mónaco."
 daqui 

1 comentário:

Jei disse...

Que direi eu, a respeito deste texto, que tenho uma filha chamada Melissa?!
Não trocaria este nome por nenhum outro, e tenho o dito!