09 maio 2014

Sometimes I get lost inside my mind…

Durante a minha adolescência, poucas vezes fui à praia. Claro que ia ver o meu mar, eu preciso de mar, daquele azul sem fim, da sensação de calma revolta que trago em mim. Mas ir à praia, estender-me ao sol até tostar, não. Por vários motivos, tais como ter uma capacidade qualquer brutal para ficar cor de lagostim ao invés daquele tom bronzeado. Outro motivo, prendia-se com a sensação de estupidificar, enquanto se vira na areia como sardinha na brasa. Jogar o que quer que fosse, também nunca me puxou. Mas, sobretudo, o que me afastou da praia durante mais anos foi a incapacidade de lidar com o meu corpo, que a certa altura se tornou numa doença. Cheguei a ir à praia com amigos, do alto dos meus 40 e poucos kg e ficar completamente vestida. Não queria que me vissem assim, sendo que o que eu via reflectido no espelho era uma alucinação da minha cabeça, soube-o quando consegui ver-me com os meus próprios olhos e não os da doença. Em boa verdade, gosto do azul imenso e da calma revolta que me traz, mas nunca primei por gostar de praia. Saio aos meus Pais, suponho. Ou não me foi incutido esse gosto em pequena, tanto faz. O Verão está a chegar e como tal, é ver os anúncios a suplementos para emagrecer, a dietas estranhas, livros com as mais variadas receitas para perder peso, blogues que crescem como cogumelos e em como perder 20 kg e ser feliz. Não duvido que haja muito boa gente que precise de emagrecer, por questões de saúde. Que precise de motivação para isso e a procure das mais variadas formas. Em mim, já não restam se não as marcas que nunca conseguirei apagar desses anos em que cobria o esqueleto em que me transformei. Mas ouço e vejo miúdas a falarem destes comprimidos. Desta dieta que está neste livro, que também está online. De comerem um iogurte com não sei o quê de nome fino "porque assim fico cheia o dia todo e tem todos os nutrientes e mais alguns". Os anos trouxeram-me rugas, trouxeram-me cabelos brancos. Mas trouxeram-me também a capacidade de aceitar o meu corpo, o meu nariz que não aprecio. Trouxeram-me a capacidade de me olhar ao espelho e agradecer este corpo, que é o meu. Que mesmo depois de tudo o que lhe fiz, foi capaz de gerar, contra todas as probablidades, uma vida e me dar a possibilidade de ser Mãe. Tudo isto para dizer que não tenho absolutamente nada contra livros, blogues, sites de dietas. Mas que a falta de bom senso com que se escreve e se dão dicas, irrita-me. Irrita-me a falta de moderação, de equilíbrio. Irrita-me a leviandade com que se fala em perder 10, 20 kg, sem que a lembrança de que, infelizmente, os distúrbios alimentares existem, passe na cabeça de tanto guru de lifestyle. Afinal de contas, é a profissão do momento: guru de lifestyle. Seja lá o que isso signifique.

2 comentários:

Magui disse...

Tinha este assunto na minha cabeça ha que tempos... Hoje fizeste-me escrever sobre o que me tem assustado nos últimos tempos!

raquel disse...

Nem mais.
Tudo tem que ter conta, peso e medida!
E acho que se está a perder a noção...

Ao contrário de ti, adoro praia! Principalmente para estar a estupidificar deitada na areia... Que saudades de uns dias assim!
Este ano vou de burka. Bem bonita, por sinal...