03 fevereiro 2014

Querida Mãe, Querido Pai...

então que tal? Nós andamos do jeito que Deus quer.  A toque de caixa, a toque de medicamentos. A vossa Neta voltou à Escola, feliz da vida. Sabem, a Francisca é uma criança fácil de deixar feliz. Eu cá acho que isso é bom. Não quero nunca que ela se contente com menos, ou pelo medíocre, mas se conseguir levar vida fora a capacidade de ser feliz em coisas simples, vai ser capaz de sorrir abertamente mais vezes ao dia no que o futuro lhe guarda. Hoje quando acordou a primeira coisa que me perguntou foi se a Escola hoje estava aberta e se podia voltar para lá. Devorou o pequeno-almoço num ápice com a promessa de que sim, hoje voltava à Escola. E que sim, podia levar a Nenuca que vocês lhe deram. Não se preocupem, a miúda é rija. Tudo lhe pega mas ela pega nas bichezas (bem mais depressa do que eu) e as manda borda fora. Entre os dias que passam menos mal, lá vem um que nos dá mais que fazer. Tenho pena que ainda não tenham toda a disponibilidade de tempo para serem Avós. Que o Pai faça todos os meses contas em quanto perderia se se reformasse antecipadamente.  E todos os meses, chega à conclusão que não se reformará tão cedo. Tenho pena que chegues a casa sempre tão tarde, Mãe e acabe a falar contigo 3 minutos numa chamada Skype que roça o surreal, enquanto me preparo para deitar a Francisca e vocês se preparam para jantar. Tenho pena que ainda não possam ser Avós a tempo inteiro. Ou Avós apenas quando o meu tempo se consome em minutos que perco não sei muito bem onde, entre uma gripe e outra coisa qualquer. Porque nos dias que passam menos mal, querida Mãe, querido Pai, não me lembro tanto da distância e do tempo que vos foge como Avós. Mas nos dias em que há algo mais que fazer, volta-me à ideia o que sempre repeti (e que vocês me incutiram): desenrasca-te. Afinal, a vida é toda ela uma sucessão de desenrasques, não é? Uma pessoa desenrasca-se para sair de casa de manhã, desenrasca-se para chegar (minimamente) a horas, desenrasca-se para que nada falte em casa, desenrasca-se para ser Mãe e a melhor que consegue, desenrasca-se de enrascanços variados… só nunca se vai é conseguir desenrascar do enrascanço final, mas isso são outros quinhentos. Querida Mãe, querido Pai, então que tal? Nós andamos do jeito que Deus quer. Mas um dia, querida Mãe, querido Pai, não andaremos mais do jeito que Deus quer. Andaremos ao nosso ritmo, nos nossos dias, do jeito que se quiser. Mesmo nos dias que trazem na algibeira algo mais que fazer. 

2 comentários:

Magui disse...

Eu acho que quando chegar o dia de andares como queres e não como Deus quer, vais escrever um livro... Tu tens mesmo jeito... Anda para aí muita Margarida Rebelo Pinto da vida que não tem metade do teu jeito...

raquel disse...

Escreves tão bem.
Descreves tudo tão bem.
Um beijinho minha querida.
E que esses dias, que vamos fazer as coisas ao jeito que nós quisermos, venham rápido.