07 janeiro 2014

Vou contar-te uma estória, Pequenina…

Francisca vou contar-te uma estória. Bem baixinho, enquanto dormes no silêncio da noite. Vou contá-la sem os meus lábios se moverem, para não perturbar o teu doce sono. Vou começá-la por "Era uma vez…", tu agora já gostas que as estórias e histórias comecem assim. Ouve, Francisca e guarda-a, onde eu te digo que a Mâe vai sempre, no teu coração… 
Era uma vez uma Menina. Como vamos chamar a essa Menina? Menina? Está bem, a Menina chama-se Menina. Então, era uma vez uma Menina que queria ser um Leãozinho. Forte, destemida, com garra. Sabes, Francisca os Leões são os Reis da selva. São corajosos. O Pai dessa Menina achava que sim, que ela era um Leãozinho, porque de uma maneira ou de outra, sempre arranjava maneira de ultrapassar obstáculos e seguir em frente. Como tal, passou a chamá-la assim. Quando a queria elogiar ou dar um mimo, dizia "lindo leãozinho". Sabes, seguir sempre em frente, Francisca. Parar e ficar a olhar para trás não traz o que passou de volta, não ajuda, não cura. Parar no presente a olhar para o passado não te vai trazer nenhum futuro. Tal como os Leões, Francisca, que são os reis da selva, no matter what, andar para a frente é o que é preciso na selva da vida, que um dia vais ter de perceber como é. Se fores para a área das ciências, survival of the fittest será o que te vou dizer e tu saberás identificar o autor dessa frase, tal como a Menina que queria ser um Leãozinho soube. Mas, apesar de todos acharem que a Menina era um Leãozinho, a Menina guardava nela uma Libelinha. Sabes, Francisca, as Libelinhas são muito frágeis, embora não o pareçam. Às vezes, a Menina sentia-se muito cansada. Sentia que o corpo que devia ser de Leãozinho lhe falhava e a deixava frágil como uma Libelinha. Sentia que as forças de um Leão lhe falhavam e que nem as asas de Libelinha conseguia mover. Nessas alturas, a Menina escondia-se e fechava-se nela. Não queria contar a ninguém que, se calhar, não era tão Leãozinho como todos pensavam. Nessas alturas, quando a garra do Leão se tornava inexistente, a Menina tinha muito medo que percebessem que, afina,l era frágil e que a magoassem por o perceberem. Survival of the fittest, Francisca... Por isso, a Menina escondia-se. Até que um dia a Menina descobriu que a Libelinha que nela vivia já não sabia chorar por querer ser um Leãozinho e que não podia esconder-se do Mundo quando o corpo lhe falhava em ser um Leãozinho. Um dia, a Menina percebeu que podia ser um Leão e uma Libelinha ao mesmo tempo, sem que a magoassem com isso, sem que lhe fizessem qualquer tipo de dói-dói que um beijinho mágico não cura. Um dia, a Menina aprendeu a deixar-se dormir e a despertar como uma Libelinha e a viver como um Leãozinho. Para enfrentar a selva da Vida, Francisca. Percebes, Pequenina? Não acordes… Não tem moral da história esta estória Francisca… Porque a Menina cresceu e está agora sentada na cadeira de baloiço de que tanto gosta. E diz, sem a voz soar, para guardares esta estória onde me guardas: no teu coração. 

2 comentários:

M.P. disse...

:-))) beijinho grande

Magui disse...

Que estória linda... Adorei ler e continuo a achar que devias juntar as letras às células e escrever um livro de contos...