13 dezembro 2013

"Tens qualquer coisa partida dentro de ti"...

Há uns dias atrás, alguém trauteava uma música de Natal no estaminé. Perguntei, sorrindo, se estavam com vontade de morrer, assim, sei lá, à laia de me dar um ataque psicótico com os "queristemas-cároles" com que sou bombardeada nas poucas lojas onde entro, que só são poucas porque neste Terra do Inferno não há muitos e de onde saio depressinha, saía de qualquer das formas porque são horrorosas, mas com "queristemas-cároles" ainda sou mais lestinha das pernas. Maneiras que já me perdi. Bem, o que eu queria dizer era que há uns dias, após a minha saída Grinch, alguém me disse "tens qualquer coisa partida aí dentro, temos de te reabilitar". Não sei se foram estas as palavras ao certo, mas foram muito próximas disto. "Tens qualquer coisa partida dentro de ti". Quando a Francisca nasceu, disseram-me que eu ia voltar a gostar do Natal, que a (suposta) magia iria regressar. Tinha ainda a Francisca meses, eu recuperava de uma depressão pós-parto e decidi esforçar-me nesse ano. Fiz uma Árvore de Natal, daquelas até ao tecto, decorada a meu gosto, simples. Mas não senti magia nenhuma, não senti o que quer que fosse. Senti que tinha tido imenso trabalho a montar aquilo e que por mim ia directa como estava para a arrecadação quando chegasse o dia de Reis. Não senti o que me haviam prometido que haveria de voltar a sentir. No ano seguinte, ou seja, no ano passado, recusei-me a fazer Árvore de Natal, porque pura e simplesmente não o passo neste lado do País. Convenci-me de que a Francisca já tinha coisas natalícias q.b. na Escola e que teria em casa dos Avós a tal Árvore de Natal. Nesse mesmo ano, no ano passado, voltei a não sentir o que me haviam prometido regressar quando fosse Mãe. Não senti nenhuma magia. Não senti nenhum espírito mais aberto, mais sensível ou o que quer que fosse. O quente que senti foi dos copos de vinho que fui bebendo. Não senti que a alegria da minha Filha ao ver os presentes na mesa e as prendas embrulhadas de forma a serem mais apetecíveis, fosse diferente da que expressa quando lhe dou uma goma ou a levo a comer doces. Senti que estava alegre e feliz , tudo bem, mas a Francisca é alegre e feliz (quase) todos os dias, especialmente no mimo dos Avós. Este ano voltei a não fazer Árvore de Natal. Vou mudar de casa e para quem se choca comigo e com a minha inaptidão natalícia, uso esse motivo como desculpa para não me moerem o juízo, porque sinto que não sou obrigada a gostar do Natal e muito menos a ter de me justificar. Ninguém é obrigado a gostar do que quer que seja. Respeito imenso o lado religioso da época, apesar de me ter desligado um pouco ao longo dos anos. Mas não gosto do Natal. "Tens qualquer coisa partida dentro de ti". Talvez. Talvez algo se tenha mesmo partido dentro de mim há muitos anos atrás e nunca mais volte a sarar. E quando a Francisca crescer e começar a perguntar porque é que não tem Árvore de Natal em casa como os outros Meninos? O que irei responder? Como lhe vou explicar que a Mãe não gosta do Natal? Como irei explicar a uma criança que talvez a Mãe tenha mesmo algo partido dentro dela e que nenhum beijinho mágico cura dói-dóis sabe tratar? Não sei. Este ano não há Árvore e ainda não existem as perguntas incómodas. "Tens qualquer coisa partida dentro de ti". Talvez...

4 comentários:

Magui disse...

Que tens qualquer coisa partida dentro de ti, todos sabemos... É o rabo... Quanto ao resto ninguém é obrigado a gostar de nada, provavelmente acabarás por fazer mais árvores de natal só para a ver feliz, mas não és obrigada a gostar do que não gostas e sinceramente acho que é isso mesmo... Podemos passar por cima de algumas coisas pelos filhos, mas não deixamos de ser quem somos...
Eu é o carnaval, odeio de morte, faz-me comichão e se ele não pedir MUITO para mim é época que não existe no calendário!
Beijinho enorme e não tarda estamos juntas a fazer o nosso natal com uns copos de vinho do bom

Bi disse...

Olha minha querida Princesa, eu adoro o Natal e confesso que assim a frio, custa-me, ou melhor, estranho que haja que nada sente pela época. Mas depois, pensando bem, independentemente de qualquer significado, o Natal pode ser um acto, um sorriso, uma boa acção num outro dia qualquer. Presentes? Ok, é bom dar e receber. Mas também não tem de ser naquele dia. Mas acredito que quando a Francisca crescer, e perceber mais um bocadinho, vais fazer um esforço por ela. Pelo menos, farás a árvore! :) E quando ela crescer ainda mais um bocadinho, farás a árvore, porque ela gosta (ou não), mas vais explicar-lhe que não é a tua altura de ano, que não ligas...
Não te marterizes! E não tens nada partido aí dentro. Aposto que não!
Um grande beijinho*

4D disse...

sinto-te tão triste:(

M.P. disse...

Há coisas do nosso passado que inevitavelmente nos marcam para toda a vida. Àparte da tua falta de sentimento pelo Natal e de tudo o resto que possas estar a sentir, conheço-te o suficiente para saber-te uma grande mulher, lutadora, e com um enorme coração. Isso é só o que mais devia importar.