21 junho 2013

E no dia mais longo do ano...

A minha Tese de Doutoramento tem para aí umas 200 páginas. Cinco anos da minha vida (o tempo de cama devido a gravidez de alto risco e a licença de maternidade também contam, que não desliguei). Cinco anos de coisas muito boas, de coisas muito más. Cinco anos onde conheci pessoas que me marcaram para a vida, pelo bom e pelo mau que me trouxeram. Sobretudo, pelo bom. Essas pessoas, sabem quem são. No meu jeito muito próprio de lhes dizer, porque sou má de pessoas. E elas sabem-me e sabem-no. Cinco anos que me proprocionaram experiências pessoais únicas. Onde aprendi que me podem mandar para o outro lado do Mundo sozinha, à laia de unshit yourself, que está tudo bem. Onde aprendi o significado de "Ever tried, ever failed. No matter, try again. Fail again, Fail better". Cinco anos de algumas (muitas) noites mal dormidas. Cinco anos onde cresci. Em tic-tac de contra relógio, fui a Casa e soube quando seria o dia do fim do principio de uma nova fase, como dizia Churchill "Now this is not the end. It is not even the beginning of the end. But it is, perhaps, the end of the beginning." Sei-lhe o dia. Sei-lhe os dias que faltam. Sei que será o que tiver de ser. Depois, nem tudo se resume a números. São 200 páginas. Foram cinco anos. Mas não consigo contabilizar tudo o que ganhei durante esses dias nesses 5 anos da minha vida. Também perdi, quanto mais não seja, alguma sanidade mental. Mas ganhei muito, muito mais. Em todos os aspectos. São 200 páginas de papel. Para mim, são 200 páginas de muito de mim. O "Doutora" é só um título que nada me diz. Tudo o resto, também sou eu. Em tic tac de contra relógio, dei por mim a ter a noção de que me fazem falta muitas pessoas, logo a mim, que sou má de pessoas. Que me fazem falta. Muita. Que me acarinham e acarinham a melhor parte de mim e isso, a mim, que sou má de emoções, me toca profundamente, num doce esconder da voz tremida. Em tic tac de contra relógio, voltei a pegar num recém nascido. Já não me lembrava de como são. Pequeninos, indefesos, num Mundo deles. Dormir. Comer. Comer. Dormir. Chorar. Sujar fraldas. Dormir mais. Chorar mais. Já não sabia o peso de um ser tão pequeno nos braços. Mas lembrei-me que de facto, gosto muito mais das fases seguintes. Não senti saudades da minha Filha recém-nascida, admito. Não senti nada cá dentro que me dissesse "que saudades tenho de bebés". Não tenho. Mas gosto daquele pequenote, gosto muito. Segurei-o e pensei que o importante é que cresça feliz, saudável. Que se torne num Homem bom. Desejo àquele pequenote o mesmo que desejo para minha Filha. Desejo que a Vida os molde para serem pessoas profundamente boas. O resto, virá. No dia mais longo do ano e porque a vida não funciona em binários, sorrio ao relembrar o que em três dias de contra relógio fez crescer em mim. Porque os tic tacs são pulsações, rítmicas ou descompassadas. No dia mais longo do ano, de mais luz, por mais tempo, em tic tac de contra relógio, sem outra meta que não viver. Sempre um bocadinho mais, a cada dia. 

1 comentário:

amigos das onze horas disse...

como eu te percebo...eu também conto a minha licença de maternidade no meu doutoramento. Apesar de não ter feito muito, lembro-me de me sentir com um fardo nas costas à conta da tese... agora já está entregue e estou à espera da defesa.
beijinhos