12 maio 2013

De Fátima, de Fado(s) e de Futebóis...

Todos os anos, por esta altura, volto a pensar que gostava muito de um dia ir a pé a Fátima. Não sou uma pessoa com a felicidade de ter uma Fé profunda e inabalável, com muita pena minha. Acho que deve ser reconfortante, a Fé profunda. Pensando melhor, nem sei muito bem em que(m) é que tenho fé. Poderia dizer que tenho Fé na ciência. Sei lá, que acredito piamente na ciência. E acredito, mas não é uma Fé que possa girar em torno de dogmas, não é uma Fé cega e inquestionável. É uma Fé muito relativa, sujeita a mudanças constantes e a uma velocidade estonteante. Pior ainda, é uma Fé baseada nas pessoas que a fazem. E as pessoas são seres muito pouco dados à linearidade que o género de Fé que eu gostava de ter precisa incondicionalmente. Mas todos os anos, lá me lembro que um dia vou a pé a Fátima. Só para tentar perceber que espécie de Fé é capaz de fazer pecorrer kms a pé, muitas vezes num sacrifício de lágrimas de dor. Imensas vezes ultrapassando a barreira da resistência física. Depois lembro-me de outras fés como por exemplo, a malta da fé no futebol. Essa fé que não tenho, nem quero ter. Uma fé oca e tão volátil. Tão agressiva em palavras duras. Uma fé dos 90 minutos vividos de coração na boca, coração na mão, insultos na ponta da língua e a fé que se o jogo for ganho o Mundo é um lugar bem melhor só porque sim. Uma fé cheia de dogmas esquisitos, porque, quanto mais não seja, o árbitro há-de ser sempre o cabrão de serviço e isso é uma verdade absolutamente inquestionável. Mas depois, parece-me que tudo isto da fé é Fado. Porque aprendi que o Fado não tem necessariamente de ser triste. Porque um dia parei e ouvi, com calma. Porque aprendi que o Fado tem é de ser sentido, de coração na boca e por isso, calculo que ter Fé, verdadeira Fé, seja muito assim. O sentir bem dentro algo que reconforta e dá segurança. E no fundo, sentir é todo um Fado que não é triste. Eu, vou continuar a todos os anos me lembrar por esta altura do ano que um dia vou a Fátima pé. Até ao dia em que for de verdade. Ou até ao dia que descubra o que é ter Fé. Até lá, vou acreditando em mim e escolhendo acreditar que o Fado de quem comigo se cruza é o Fado de gente de Fé. Quanto mais não seja, na bondade humana. 

1 comentário:

Magui disse...

Eu não tenho uma fé incondicional, fruto (acho eu) de me entender tão bem com a ciência que sempre me explicou melhor a vida! Mas tenho que admitir que quando estamos mal nos lembramos da fé e ela aparece de novo, quando vemos a nossa vida do avesso por uma coisa que não controlamos a fé aparece e nós pedimos logo ajuda aos santos mesmo que seja a ciência a resolver-nos o problema... Tenho muito mais fé hoje do que tinha há um ano atrás antes da vida me tirar o tapete debaixo dos pés, duas vezes seguidas!