07 maio 2013

Das Queimas e do que o tempo queimou...

Hoje, é dia de Cortejo. Lá longe, onde fica Casa. Onde ficam os meus cheiros e o que pulsa nos meus cantos escondidos, aqueles que abafo em saudades que calo como posso, como consigo, entre murmúrios interiores que nem à Mofli confesso. Lembro-me do meu primeiro Cortejo e de passar a Tribuna, não de quatro, porque tinha sido operada havia pouco. Mas lembro-me de chorar copiosamente por deixar de ser caloira. Eu, que pouco ligava às praxes, chorei desalmadamente, no meio daquele que viria a ser o núcleo duro de Amigas dos tempos de Faculdade. Esse núcleo que foi ganhando satélites e como tal também os perdeu. A minha Avó sempre me ensinou que quem se vai embora é porque não era para ficar. E nada é mais verdade que isso. Lembro-me do meu último Cortejo como se fosse hoje. Da minha Cartola que ainda guardo. Da t-shirt preta feita de propósito para o dia que ainda uso por casa. Da bengala com as cores do curso que vejo todas as manhãs. Das calças de ganga que usei que nunca mais me serviram. De estar quente e de alguém brincar a dizer que era desta que ia ao chão. Lembro-me das cantilenas e da alegria de quem tem o futuro à espera depois de mais uma noite de copos. Hoje, imagino os caloiros e finalistas que se passearão naquelas ruas. Imagino os seus sonhos e ambições no que esperam do fim que dita o começo do que se diz ser a vida adulta. Hoje, à distância de já alguns anos, sei que muitos meus ficaram para trás. Por opção, por escolha e porque a Vida assim o quis. Olho para o núcleo de Amigas e acredito que sintam o mesmo que sinto bem cá dentro. Eu era a Maria das festas. Se havia festa, estava no ir. Também era aquela que em época de exames se fechava em casa e não via mais nada à frente. De todas, a Mãe mais improvável. De todas, a primeira a sê-lo. Mas, se perguntassem àquela miúda de t-shirtt preta e calças de ganga claras, se se via assim no futuro que começou no fim daquela Terça, ela ria-se até às lágrimas. E no entanto, esta é a minha Vida.  A miúda ganhou rugas na testa. Olheiras fundas que disfarça a muito custo. Ainda passa muitas noites em claro, mas muitas poucas entre uma sangria e um cigarro ou outra coisa qualquer. A miúda, perdeu-se e reencontrou-se vezes sem conta. Todas as que o tempo e a vida queimaram com o seu preço, aquele também de vermos, todas nós, que nada foi o planeado. Porque os anos foram queimando sonhos. Mas também foram ateando o fogo de sonhos novos. Porque afinal, no final da Terça de Cortejo, o futuro estava à espera. Talvez apenas não aquele que sonhamos. Talvez um melhor. Talvez um que nos ensinasse bastante mais. E hoje, à distância dos anos que me separam da míuda naquela Terça, sei que cá dentro, muito mudou. Mas muito permanece igual. Em estado puro. 

4 comentários:

Ana Rita Gil disse...

A minha desvirtuou-se completamente... Cortejo na queima de coimbra ao Domingo?!?!?! Já nem vou à hometown do coração ver queima nesta altura. No way. A dor deve ser excruciante. Fico no meio destes Lisboetas que nunca na vida vão saber o que é vida académica...

Pitú disse...

Lembro-me bem de todas as minhas queimas em que só falhei uma noite ao longo de 5anos..(e tinha orgulho nisso lolo). Lembro-me dos cortejos, das chuvas, dos dias na cama a recuperar. Lembro-me e tenho saudades!

Magui disse...

Adorei...

Lia disse...

Fizeste me lembrar das minhas Terças de cortejo. Na minha última Terça de cortejo. Das noites de Queima, dos sons, da porra do frio que se fazia sentir aí pelas 5h, quando a temperatura já era bem baixa e o calor do alcool já não aquecia o suficiente... Da vontade de cama aí pelas 6h e nós ainda no Queimódromo tão longe ainda dos lençois. Aqueles dias de Maio eram tão curtos! Ai saudades!!!