03 novembro 2012

Post não fófinho...

Passo muito tempo sozinha. Mesmo muito tempo. Numa cidade que só me diz ele, mais nada. Não é bonita. Não é acolhedora. É feia como os trovões. Mas tem o nós e isso vale o vómito que o burgo é. Passo muito tempo sozinha com a minha cabeça. Uso-a demais. Fui treinada para a usar demais. Devia ter feito mais desporto. Penso em tudo e nunca concluo nada. Amontoam-se pensamentos que atiro para o vão da memória porque me envergonham de tão escabrosos que conseguem ser. Às vezes deito-os cá para fora em jacto. Atropelam-se uns aos outros, num vómito libertador. A idade fez de mim menos tolerante para as pessoas cheias de merdices e para as merdices das pessoas cheias de merdices. Paciência zero, tolerância ridiculamente ausente. Estou cada vez menos capaz de esquecer. De dar palmadinhas no ombro, dê cá beijinho e tudo de bom, tudo de bom. Eu cá desejo semelhante ou em dobro do que a mim me desejam. Dá para o bem e para o mal. Se bem que a parte do mal desejo que envolva diarreias explosivas em espaços públicos.  Esqueci-me de como se consegue perdoar em nome do ai que eu sou muito boa e quero ir para o céu (dos pardais que é a barriga dos pássaros). A idade devia ter o efeito contrário. Olha, temos pena. Get in line para reclamar. Continuo a passar muito tempo sozinha, ser cabra só me entretém por alguns momentos. Depois penso que falhei em tantas coisas básicas que me deviam processar. Eu processava-me se pudesse. 
E nisto, as horas escoam-se lentamente enquanto espero por algo que nem sei bem o que é. E acabo sempre a voltar à casa de partida, à minha cabeça, porque vivo livre dentro de uma prisão. 

1 comentário:

Jardim de Algodão Doce disse...

Este teu post dá muito que pensar ... Em algum ponto nos toca, cada um à sua maneira. Porque não tentares ocupar a tua mente com coisas que te distraiam, com coisas que gostas de fazer por exemplo. O tempo assim passa mais depressa e a tua cabeça fica mais livre dos pensamentos grotescos. Dizem que nos habituamos a viver em qualquer cidade ou ponto do mundo. Eu não concordo. Há lugares em que pertencemos e depois há os outros...