09 novembro 2012

A memória curta e a fome dos outros...

Sempre contribuí para o banco alimentar. Em dias de recolha, levanto o rabo do meu sofá e vou a um supermercado qualquer. Enquanto assim o puder, pretendo continuar a fazê-lo. Porque quem fome tem, não pensa se o que lhe vai calar a barriga vazia é bife ou "apenas" sopa. 
Se há coisa que me incomoda severamente é a doença da memória curta. Isabel Jonet imprimiu uma dinâmica impressionante a uma instituição de grande valor, impedindo que muita boa gente, apanhada nas malhas da pobreza (da verdadeira pobreza, a que rouba o pão para a boca), vá dormir de barriga vazia. Não sei se é boa pessoa, se come bifes todos os dias, se come lagosta e bebe Vale Pradinhos ao jantar, se é Tia nas horas vagas. Sei é que não me chocam particularmente as declarações por ela prestadas. A verdade que custa a aceitar, é que durante muitos anos se viveu na ilusão de que se poderia viver acima das posses.Tudo estava ao alcance, bastava passar o cartão. A factura, essa, alguém haveria de pagar. Choca-me que se retirem frases do seu todo e as isolem, que não se enquadrem as coisas num contexto. E choca-me mais ainda que se esqueçam que o Banco Alimentar contra a Fome, para além da generosidade característica do nosso povo, tenha sido sempre uma instituição de referência graças ao seu trabalho. 

3 comentários:

S. disse...

Tiraste-me completamente as palavras da boca. Parabéns.

Melancia disse...

Criticar é bom, é fácil e faz esquecer a muita coisa. adoro que haja quem levante a voz para dizer que se deve demitir, como s eo Banco Alimentar não se tratasse de uma instituição privada. talvez alguns exemplos não tivessem sido os melhores, mas acho engraçado que digam que ela "gozou com os pobres" quando há poucas pessoas em Portugal que fizeram um trabalho real pelos que realmente sentiram a miséria e a fome em casa.

LC disse...

Quando vi as declarações, associadas a um post de crítica no Facebook, não entendi, sinceramente que não entendi a crítica. A senhora limitou-se a dizer o que é verdade, que custa ouvir e engolir. Não fui capaz de me prenunciar, visto que toda a gente naquele post apoiava a crítica e enunciavam palavras de "vergonha" e "demissão". Sinto um certo alívio em ler o que pensas, pois concluo que não entendi mal o que a senhora disse e que a crítica é um pouco descabida.