28 junho 2012

A culpa é a Mãe de todos os males...

 
A minha Mãe foi uma Mãe ausente até aos meus 13 anos. Sempre trabalhou horas e horas a fio, tendo sido o meu Pai o principal responsável por me criar. Aos 13 anos tudo mudou quando a anorexia entrou na minha vida e devastou a criança alegre que tinha sido até então. Nessa altura, a minha Mãe achou que estava na hora de dedicar mais tempo a mim, mesmo que isso implicasse poucas horas de sono. Nunca a culpei pelo tornado que enfrentei durante muitos anos. Aliás, mesmo que me torre a paciência e seja a pessoa mais critica que conheço, adoro-a e considero-a a melhor Mãe on Planet Earth. Até pode não ser, mas é a minha. Ela não esteve lá não porque fosse negligente mas porque lutava por uma vida melhor, para me dar a mim, sua única filha, o Mundo. Ou perto disso. E convenhamos que eu não estava entregue aos lobos. 
No entanto, dizia a mim própria, do alto do meu vasto conhecimento de um mundo desconhecido, que quando eu tivesse um filho iria ser diferente da minha Mãe. Que iria dedicar horas e horas e horas ao meu rebento. Que havíamos de brincar até cair de exaustão. Que não iria perder cada milestone da petiz. Hoje, depois de ser Mãe, apercebo-me que ela deve ter sofrido horrores com o sentimento de culpa. Culpa porque não esteve, culpa porque foi a última a perceber, culpa porque fez, culpa porque não fez, culpa porque não viu, culpa porque não deu beijinho no dói-dói para sarar a ferida, culpa porque não me recebeu nos seus braços a cada amanhecer... 
Deito-me tarde, muito tarde. Levanto-me cedo. Muitas vezes saio de casa ainda a minha filha não acordou do seu sono bom. Muitas vezes, não sou a primeira cara que vê no começo de um novo dia. Muitas vezes, não sou eu que lhe dou o seu pequeno-almoço, nem que a visto, nem que lhe dou um beijo de bons dias. Chego a casa sem energia para meter o carro na garagem ou rodar a chave na porta. Mas arranjo forças, nem eu sei aonde, para dar banho, vestir o pijama, fazer e dar o jantar à petiz, brincar um bocadinho, dizer adeus ao Senhor Sol, um beijo de boa noite e cama com o seu KikoNico, enquanto interiormente peço que tenha uma noite recheada de sonhos de todas as cores do arco-íris. E que seja uma noite boa, que a Mãe tem de voltar para a sua prisão: o computador, a merda da Tese e o concurso a que vai concorrer, sabendo de antemão que é mais por descargo de consciência do que pela possibilidade real de conseguir o que tanto deseja. But if you never try, you'll never know...  
Trabalho horas a fio numa coisa que me está a consumir aos poucos com a ideia que vai valer a pena, que é uma fase, que é um sacrifício necessário para que lhe possa dar uma vida melhor. Explico-lhe, embora ela ainda não tenha capacidade para perceber, que a Mamã e ela estão longe do Papá porque é o preço a pagar para ter novas, e se Deus quiser ,melhores e boas oportunidades. Para lhe dar o Mundo. Para que tenha orgulho na Mãe. Quando se calhar, a única coisa que a Francisca queria era ver a Mãe mais que duas horas por dia. A Francisca não está entregue aos lobos, está ao cuidados dos Avós que cuidam dela com todo o amor e carinho possível.  
A história repete-se.  
Filha és, Mãe serás... E só uma Mãe sabe que a culpa é a Mãe de todos os males... 

4 comentários:

Valsita disse...

há dias em que parece que me lês o pensamento...
Sentimento de culpa permanente, a cada hora que passo longe dela...

Magui disse...

Fizeste-me chorar e olha que não é muito fácil... Estou aqui de lágrimas nos olhos!
Tudo tão verdade!

Melancia disse...

Consta que a culpa faz parte do pacote "Mãe", mas também só é verdade que ela existe porque nos importamos, porque queremos dar o nosso melhor, porque amamos tanto aquelas criaturas que questionamos cada passo que damos. Porque para eles queremos o Mundo e temos sempre medo de lhes dar as direcções erradas!

raquel disse...

Minha querida, fiquei aqui tolhida de lágrimas nos olhos. Tão, mas tão verdade!

Acho que todas nós sentimos isto, cada um ao seu nível, cada um à sua maneira.

E sim, sem sombra de dúvidas, só depois de sermos mães sentimos e compreendemos tantas coisas. Tanta coisa que prometemos ser diferente!

Só te desejo a maior sorte do Mundo e que tudo te/vos corra pelo melhor.

Um beijo enorme, de ♥