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22 maio 2014

Desculpem qualquer coisinha, sim?

Já corri mas deixei de o fazer. Não tenho joelhos nem tempo para isso. Tenho de por uma prótese num joelho, mais dia menos dia, mas fujo de médicos como o diabo foge da cruz, apesar de lá bater com os costados de mês a mês, na melhor das hipóteses. Eu sei que o Obama corre porque se levanta às 6h da manhã ou o raio que seja, mas eu gosto de dormir e não me vejo a acordar dez minutos mais cedo para correr.  Há uma publicidade qualquer que fala dos benefícios de dormir. Não comprovo nem desminto, mas quando estou com a telha o melhor anti-depressivo para a minha neura é mesmo dormir. Tenho de tomar comprimidos para a queda de cabelo e estou cheia de brancas, que prefiro ignorar. Já fui loura platinada mas decidi que agora serei morena, na minha cor natural raiada de brancos. Desculpem qualquer coisinha, sim? Sou viciada em gomas e fumo o meu cigarro, com os 348 cafés que me encharcam todos os dias. Não sou um poço de saudável, nunca fui nem me parece que venha a ser. Nem pouco mais ou menos. Sofro no corpo e na monha tudo aquilo que me fiz  nos anos adolescentes e nos genes que carrego, também, no sangue. Sou desnorteada e nem me perguntem onde é o Norte que não sei, aponto para um lado qualquer e digo que deve se para ali, mais coisa menos coisa, mas mete uma Torre dos Clérigos. Não gosto de lambe botas, nem de as lamber, gosto é de saltos altos, mas não das dores nos tornozelos. Já nem sei se são pisocossomáticas, mas há dias em que os meus tornozelos me doem para lá do mau. Mas também uso crocs nas horas que passo de um lado para o outro, na minha bata branca e no cabelo amarrado com dois ganchos. Não posso ter repas que tenho um remoínho que me faz ficar com um pala anos 80 e muito medo. Gosto de vinho em geral, de sangria em particular, mas tudo desce, menos zurrapa. Gosto de Francesinhas não só porque não renego o Porto que me bate na pulsação bradicárdica mas porque são divinais, se bem feitas, claro. Desculpem qualquer coisinha, sim? Sou letalmente alérgica a marisco e tenho zero aspirações a ser in, a ser bem, a ser chique. Divirto-me a chocar terceiros com as  minhas divagações de  Maternidade mui sui generis, mas sou louca pela minha Filha e sei dar tudo o que é xarope sem a acordar, sendo que também dou uma perninha em administrar supositórios sem importunar descansos e a curar tudo e mais alguma coisa com o meu colo. Gostava de voltar para os Estados Unidos, de viver lá, mas não há mar como o do Norte de Portugal e consomem-me as saudades dos meus Pais, das quais sou muita coisa única, como Filha, desculpem qualquer coisinha. Como croissants e brioches qual Marie Antoinnete mas fico-me por aí que pouco dada sou a fazer bolos. Desculpem qualquer coisinha. Não sou perfeita. Nem quero ser. E por isso, não peço desculpa. 

13 maio 2014

Cada um sabe de si.

Tenho-me encontrado (esbarrado, capotado) com muita coisa, muita imagem, muito texto, muito farrabadó, sob o signo de "mudança de mentalidade(s)". Não sou avessa à mudança, a mudanças, mas confesso que, apesar de não ser avessa, toda a mudança me causa alguma inquietação, o medo do desconhecido, a incerteza. Mas não sou avessa a mudanças, sejam quais forem, com excepção de cortes de cabelo. Lamento, mas sou irredutível neste ponto. Mas, ultimamente, tenho visto muita coisa web fora, coisas que não gosto, coisas que não percebo, coisas que não fazem sentido na minha pequenez acéfala de quem não percebe, muito provavelmente, o conceito de "mudança de mentalidades". Não percebo o que uma mulher barbuda tem que ver com "mudança de mentalidades". Desculpem lá, travesti é uma coisa, mulher barbuda é isso e só isso, mulher barbuda. Não tenho nada contra, nem a favor, cada um sabe de si, mas não façam disso uma bandeira do que quer que seja e uma questão de "mudança de mentalidades". Quem se recusa a ingerir alimentos de origem animal, pois muito bem, estão no direito deles. Quem se recusa a abdicar dos alimentos de origem animal, como eu, pois muito bem, estou no meu direito. Onde é que aqui tenho de encaixar a etiqueta "mudança de mentalidades"? Cada um sabe de si. Claro que acho que há uma série de coisas em que a mudança de mentalidades se aplicaria. Sobretudo, na capacidade de deixar os outros viverem a vida deles, sob o signo do "cada um sabe de si" e do "a minha liberdade começa onde a do outro acaba"… o que, se formos bem a ver,  (não) nem sempre é assim tão simples. 

09 maio 2014

Sometimes I get lost inside my mind…

Durante a minha adolescência, poucas vezes fui à praia. Claro que ia ver o meu mar, eu preciso de mar, daquele azul sem fim, da sensação de calma revolta que trago em mim. Mas ir à praia, estender-me ao sol até tostar, não. Por vários motivos, tais como ter uma capacidade qualquer brutal para ficar cor de lagostim ao invés daquele tom bronzeado. Outro motivo, prendia-se com a sensação de estupidificar, enquanto se vira na areia como sardinha na brasa. Jogar o que quer que fosse, também nunca me puxou. Mas, sobretudo, o que me afastou da praia durante mais anos foi a incapacidade de lidar com o meu corpo, que a certa altura se tornou numa doença. Cheguei a ir à praia com amigos, do alto dos meus 40 e poucos kg e ficar completamente vestida. Não queria que me vissem assim, sendo que o que eu via reflectido no espelho era uma alucinação da minha cabeça, soube-o quando consegui ver-me com os meus próprios olhos e não os da doença. Em boa verdade, gosto do azul imenso e da calma revolta que me traz, mas nunca primei por gostar de praia. Saio aos meus Pais, suponho. Ou não me foi incutido esse gosto em pequena, tanto faz. O Verão está a chegar e como tal, é ver os anúncios a suplementos para emagrecer, a dietas estranhas, livros com as mais variadas receitas para perder peso, blogues que crescem como cogumelos e em como perder 20 kg e ser feliz. Não duvido que haja muito boa gente que precise de emagrecer, por questões de saúde. Que precise de motivação para isso e a procure das mais variadas formas. Em mim, já não restam se não as marcas que nunca conseguirei apagar desses anos em que cobria o esqueleto em que me transformei. Mas ouço e vejo miúdas a falarem destes comprimidos. Desta dieta que está neste livro, que também está online. De comerem um iogurte com não sei o quê de nome fino "porque assim fico cheia o dia todo e tem todos os nutrientes e mais alguns". Os anos trouxeram-me rugas, trouxeram-me cabelos brancos. Mas trouxeram-me também a capacidade de aceitar o meu corpo, o meu nariz que não aprecio. Trouxeram-me a capacidade de me olhar ao espelho e agradecer este corpo, que é o meu. Que mesmo depois de tudo o que lhe fiz, foi capaz de gerar, contra todas as probablidades, uma vida e me dar a possibilidade de ser Mãe. Tudo isto para dizer que não tenho absolutamente nada contra livros, blogues, sites de dietas. Mas que a falta de bom senso com que se escreve e se dão dicas, irrita-me. Irrita-me a falta de moderação, de equilíbrio. Irrita-me a leviandade com que se fala em perder 10, 20 kg, sem que a lembrança de que, infelizmente, os distúrbios alimentares existem, passe na cabeça de tanto guru de lifestyle. Afinal de contas, é a profissão do momento: guru de lifestyle. Seja lá o que isso signifique.

05 maio 2014

De e a kms.

Fui ao Norte em contra-relógio, os minutos contados, as horas escrupulosamente divididas e não sobra um segundo. Já me pesa a viagem nos ossos. Conheço as estradas como a palma da minha mão. Dei um beijinho à minha Mãe no dia da Mãe. Recebi um beijinho e um abraço bem repenicado da minha Filha, junto com a prenda deliciosa que fez na Escola, no dia da Mãe. Mas acho que todos os dias são dia da Mãe, que já diz o Povo que quem tem uma Mãe tem tudo. E eu concordo. Fui a uma loja e o que mais gostei foi o que estava escrito na saca de papel: "um dia vou ser capaz de explicar-te porque me sinto tão feliz".  Fiz a viagem de volta. Já me pesam os kms nos ossos. Mais 100. Mais 200. Mais 300 e ainda faltam 150. E a estrada sempre a estender-se, num alcatrão sem fim e algures pelo meio não sou mais de lado nenhum. Gosto de Casa, do azul daquele mar, da pronúncia em cada esquina. Das pessoas sem merdas, sobretudo, das pessoas com o coração na boca. Pesam-me os kms e a Dra. Brinquedos no banco de trás agonia-me as sinapses. Descobri que a Dra. Brinquedos posta como Doc McStuffins tem o mesmo efeito na Francisca mas é ainda mais irritante. E às vezes, entre um carro que passa e um carro que se ultrapassa, percebo que me começa a custar fazer tantos kms, nas dores que sinto nos tornozelos e na dor invisível de me despedir dos meus Pais, mais uma vez, enquanto a Neta lhes implora para virem no carro com ela. 

24 abril 2014

Ela (ainda) não sabe… mas sonha.

Gosto da (R)revolução que os sonhos de muitos, os de alguns ou os de poucos (fazem) fizeram na vida de cada um, na de todos ou na de alguns. Os sonhos impensáveis, os impraticáveis e os impossíveis, os que fazem mover o Mundo, na sua cadência, a seu tempo. Sonhos, de maior ou menor dimensão, todos eles grandiosos. Quero que a minha Filha saiba disso: que não importa se os seus sonhos forem tão fúteis ou de tão necessária e extrema urgência para a sobrevivência da humanidade. São sonhos. Podem não revolucionar o Mundo de todos, talvez só o de alguns, mas de certeza, o Mundo dela. Que saiba sempre alimentar esse bichinho álacre e sedento, de focinho pontiagudo, que fossa através de tudo num perpétuo movimento.

23 abril 2014

De linhas.

Começou como uma linha fina, que se multiplicou depois em muitas mais e que passaram a sulcos na minha testa. Deve ser de passar muitas horas sem usar os óculos. Trago-os sempre na carteira mas acabo por vincar a testa em frente ao ecrã por diversas razões: ou porque não gosto do que estou a ver ou a ler, ou pelo simples facto de estar em esforço. Faço covinhas quando me rio (ou sorrio) mas, quando estou em desagrado comigo ou com o Mundo, todas as linhas da minha testa se tornam profundamente vincadas. Tenho medo de serem esses os vincos que deixarei na minha pele, no meu rosto, da minha estória. Devia usar mais vezes os óculos, mas esqueço-me para ser depois relembrada pelo espelho que o que foram linhas ténues são agora imagem de desagradados .Felizmente, existem as outras rugas, mais finas, mais discretas, que ficam quando me rio. Nunca percebi porque se lê (supostamente) as linhas da mão para (numa impossibilidade quase gritante) prever o futuro, quando se traz no rosto tudo o que se foi, tudo o que se quer ser. 

04 abril 2014

Em contra-relógio.

Há dias em que chego a casa já bastante tarde. O conceito de bastante tarde, depois de ter sido Mãe, mudou radicalmente. Antes, o bastante tarde poderia ser o bastante cedo, dependendo do ponto de vista, que é como diz, aí umas 5 da manhã. Hoje em dia, chegar bastante tarde é já muito próximo das sete. Porque até à hora de jantar, há sopa para fazer, jantar para preparar, banho para dar, pijama para escolher, roupa do dia seguinte para deixar pronta e mais umas quantas coisas raçadas de sopeirice que vão surgindo nos entretantos, entre um "olha a Dra. Briquedos" (a nova obsessão) e um "deixa-me ver a tua torre de Legos, que gira!", "ah, está bem, agora és um canguru", "não, não podes dar de comer na boca da Mofli, ela come sozinha" e outros afins. Chegar muito perto das sete implica querer fazer tudo o que é preciso, até às oito da noite, em contra-relógio. Cresci numa casa onde não havia horas para as refeições. Em boa verdade, não havia horas para o que quer que fosse, sendo ainda hoje assim. A desorganização, o tudo ao deus dará. Comia-se quando calhava, muitas vezes frango assado, trazido de uma grande superfície pelo meu Pai. Lembro-me de alturas em que a minha Mãe devia ter mais trabalho e então, frango assado ou omelete de queijo com esparguete, era o menu do dia, dia sim, dia sim. Deve ser por isso que não consigo comer frango assado, uma vez que a omelete foi banida do cardápio quando o colesterol do meu Pai começou a ser mais que a conta. Mas gosto que a Francisca tenha horas (não tem de ser ao minuto, entenda-se) para jantar. Que tenha as suas rotinas, hoje em dia bem diferentes das do tempo do biberão de 4 em 4 horas, arrota, muda fralda, dorme (e bem mais giras agora, digo eu). Às vezes, também eu gostava de ter mais tempo. Mas depois lembro-me que ao fim-de-semana, há o luxo do facilitar um bocadinho. De fazer tudo com mais tempo, com mais vagar, com menos pressa. Do facilitar um bocadinho a hora de ir para a cama, para a ter mais meia hora a papaguear na sala e a inventar as suas estórias, que começam invariavelmente com um "sabes uma coisa, Mánhe?". Gosto que a Francisca tenha rotinas e que saiba que ao fim-de-semana, a corda se estica mais um bocadinho, sem ser em contra-relógio. Para perceber um dia, também, que o tempo é algo de muito valioso.

17 março 2014

Dizer "bom dia" por estes corredores…

Durante muitos anos, trabalhei em Institutos grandes (e grandes Institutos, já agora). Dizia "bom dia" ou "boa tarde" a quem conhecia. Muitas vezes, apenas um aceno de cabeça, como que a dizer "vi-te, mas não tenho tempo para falar". Não sabia o nome de metade das pessoas que por mim passavam. Não havia cumprimentos. Nos cruzamentos do entra e sai da mesma porta, dizer um "bom dia", "boa tarde" ou "boa noite", era raro. A quem conhecia, sempre. Mas a desconhecidos ou aos só-conheço-de-vista, sinceramente, não me lembro de o fazer. Ou de ser cumprimentada só porque sim. Quando passo pelos corredores do sítio onde agora trabalho, raro é cruzar-me com alguém que não me diga "bom dia", "boa tarde" ou "boa noite". Alguns acrescentam um "como está?". Não lhes sei o nome. Também não sabem o meu, quase de certeza. Nem tão pouco sei o que fazem, excepto as senhoras da limpeza, que reconheço pelas batas que usam. Mas não me importa saber a posição, o grau, o que fazem, como se chamam. Simplesmente, há qualquer coisa de mais humano neste cuidado de saudar quem comigo se cruza. Talvez advenha de haver mais tempo, menos pressa, mais vagar. Não sei. Mas sei que gosto de cumprimentar e de ser retribuída. Ou de ser cumprimentada e responder um "bom dia". Ou um "boa tarde". Ou um "boa noite". Não tira pedaço. Nem rouba tempo ao meu dia. Dá-lhe sim, uma dimensão mais humana. Mais terra a terra.  

11 março 2014

Sometimes I get lost inside my mind…

Nas tuas mãos pequeninas, carregas o meu coração. Soube-o desde o primeiro momento em que seguraste o meu dedo, capturando para sempre cada batimento. Soube-o na primeira vez em que vi os teus olhos rasgados, que eles seriam a luz dos meus dias. Relembro-me a cada manhã, quando acordas e me chamas. Ou te ouço no teu quarto, entretida a calçar as tuas sapatilhas, ávida de um novo dia. Nas tuas mãos pequeninas, carregas o meu coração. Quando me chamas "Mamã" e me estendes os braços para um abraço apertadinho e sinto o cheiro do teu cabelo, relembras-me que, nas tuas mãos pequeninas, carregas o meu coração. Vão crescer, assim como tu. Mas serão sempre as mesmas mãos pequeninas, as tuas, que carregam o meu coração. 

06 março 2014

It's late o'clock e os meus relógios favoritos.

Estes dois Swatch são os top da minha colecção de relógios. A verdadeira ironia numa pessoa como eu, cuja hora mostrada é sempre "atrasada o'clock". Podem até não ser os mais fashion… Podem até não ser os mais exquisite. Mas são, sem dúvida, os mais especias. O dourado amarelo foi-me oferecido a 30 de Agosto de 2011, quando a Francisca nasceu, no dia em que fui Mãe. O dourado rosa, no dia em que fiz 30 anos. 30 de significados diferentes, mas ambos importantes para mim, ambos parte de partes de mim. 

20 fevereiro 2014

Chuva

Gosto de dias de chuva. Dos meus dias de chuva. Mesmo que o sol me entre pela janela. Gosto dos cinzas. Do cheiro da terra molhada. Da paz dos dias de tempestade. Mesmo que o sol me entre pela janela. 

12 fevereiro 2014

De manhãs.

Durante alguns anos, todas as manhãs levava a minha Mãe para o seu trabalho. A minha Mãe tem carta mas não conduz, algo que nunca consegui perceber. Não implicava sair mais cedo, a minha Mãe trabalhava (e trabalha) a 5 minutos a pé da Faculdade onde estudei. Todas as manhãs, passávamos por um Infantário. Sempre por volta da mesma hora. Cedo. Todas as manhãs, a minha Mãe dizia que sentia uma pena enorme ao ver aqueles meninos pequeninos, aninhados no colo dos Pais, que os transportavam, tentando abrigá-los da chuva e do vento nas manhãs de Inverno. Todas as manhãs, dizia-lhe que a vida é assim, os Pais tinham de ir trabalhar, assim como ela e o meu Pai o tinham de fazer e tinham feito quando eu era pequena. Todos os dias, a minha Mãe me respondia que eu tinha tido a sorte de ter ficado em casa até aos 3 anos, fazendo (hoje vejo isso muito melhor) uma ginástica temporal incrível, para trocar turnos, sair a horas. Não guardo memórias desses dias. Em que a VCI talvez se chamasse outra coisa e onde os carros eram menos de um terço dos que hoje passam na Ponte da Arrábida todas as manhãs e todas as noites. Não guardo memória de andar no Fiat 127 e gritar "Mar, Pai… Maaaaaaar!!!", enquanto o meu Pai lutava contra os minutos para ir buscar a minha Mãe e a deixar num outro sítio, para um novo turno. Contam-me que sim, que delirava a cada travessia do Rio  Douro por ver o Mar à minha esquerda. Ou à minha direita. Nessa altura, também não sabia para que lado era a esquerda ou a direita e não me fazia diferença, sabia que ali era o Mar. Sabia que gostava do Mar, que me encantava. Hoje vi uma Mãe de manhã, já não tão cedo como eu via com a minha outras a deixarem as suas crianças para irem trabalhar. Porque como lhe dizia, é a vida. Lembrei-me dessas manhãs. Lembrei-me da Ponte da Arrábida. Lembrei-me do Engenheiro que quando a construiu, meio mundo achou que a ponte cairia, tal o arco que a sustentava. Lembrei-me da estória que conta que Edgar Cardoso se sentou debaixo da ponte e disse que se caísse, cairia com ele ali. Não sei se é verdade ou não, mas acho-lhe piada. Hoje, ao ver aquela Mãe com uma criança mais pequenina que a minha Francisca, lembrei-me de todas essas manhãs. Todas elas passado. Todas com o Porto como factor comum. O meu Porto. Nas saudades do meu presente. 

04 fevereiro 2014

Sou velha de músicas...

Em casa da Tribo na minha meninice (eh pá, não foi assim há tantos anos, ok?), dia de Festival da Canção era dia de parar para ver. Em boa verdade, devia ser dos poucos eventos (está na moda a palavra evento. Há eventos para tudo, deu ma'libre) em que a minha Mãe se sentava no sofá a ver alguma coisa.  Cresci com algumas dessas músicas, das do Festival da Canção. Mais as dos tempos dos meus Pais do que propriamente as do tempo da Dina e trincas metidas em cestas de piqueninques. Depois, o Festival da Canção passou a ser qualquer coisa que já não passava lá em casa. Ficaram as velhas músicas. Agora re-inventadas. Tão antigas, tão de hoje. 
(…)
Na minha vida fui sempre um outro qualquer 
Era tão fácil, bastava apenas escolher 
Escolher-me a mim, pensei que isso era vaidade 
Mas já passou, não sou melhor mas sou verdade 
Não ando cá para sofrer mas para viver 
E o meu futuro há-de ser o que eu quiser 
()

03 fevereiro 2014

Querida Mãe, Querido Pai...

então que tal? Nós andamos do jeito que Deus quer.  A toque de caixa, a toque de medicamentos. A vossa Neta voltou à Escola, feliz da vida. Sabem, a Francisca é uma criança fácil de deixar feliz. Eu cá acho que isso é bom. Não quero nunca que ela se contente com menos, ou pelo medíocre, mas se conseguir levar vida fora a capacidade de ser feliz em coisas simples, vai ser capaz de sorrir abertamente mais vezes ao dia no que o futuro lhe guarda. Hoje quando acordou a primeira coisa que me perguntou foi se a Escola hoje estava aberta e se podia voltar para lá. Devorou o pequeno-almoço num ápice com a promessa de que sim, hoje voltava à Escola. E que sim, podia levar a Nenuca que vocês lhe deram. Não se preocupem, a miúda é rija. Tudo lhe pega mas ela pega nas bichezas (bem mais depressa do que eu) e as manda borda fora. Entre os dias que passam menos mal, lá vem um que nos dá mais que fazer. Tenho pena que ainda não tenham toda a disponibilidade de tempo para serem Avós. Que o Pai faça todos os meses contas em quanto perderia se se reformasse antecipadamente.  E todos os meses, chega à conclusão que não se reformará tão cedo. Tenho pena que chegues a casa sempre tão tarde, Mãe e acabe a falar contigo 3 minutos numa chamada Skype que roça o surreal, enquanto me preparo para deitar a Francisca e vocês se preparam para jantar. Tenho pena que ainda não possam ser Avós a tempo inteiro. Ou Avós apenas quando o meu tempo se consome em minutos que perco não sei muito bem onde, entre uma gripe e outra coisa qualquer. Porque nos dias que passam menos mal, querida Mãe, querido Pai, não me lembro tanto da distância e do tempo que vos foge como Avós. Mas nos dias em que há algo mais que fazer, volta-me à ideia o que sempre repeti (e que vocês me incutiram): desenrasca-te. Afinal, a vida é toda ela uma sucessão de desenrasques, não é? Uma pessoa desenrasca-se para sair de casa de manhã, desenrasca-se para chegar (minimamente) a horas, desenrasca-se para que nada falte em casa, desenrasca-se para ser Mãe e a melhor que consegue, desenrasca-se de enrascanços variados… só nunca se vai é conseguir desenrascar do enrascanço final, mas isso são outros quinhentos. Querida Mãe, querido Pai, então que tal? Nós andamos do jeito que Deus quer. Mas um dia, querida Mãe, querido Pai, não andaremos mais do jeito que Deus quer. Andaremos ao nosso ritmo, nos nossos dias, do jeito que se quiser. Mesmo nos dias que trazem na algibeira algo mais que fazer. 

28 janeiro 2014

O curioso caso de Benjamin Button.

Gostei do filme. Já passaram uns anos e ainda me recordo plenamente dele. Ontem, ouvi algo que me levou de volta ao "Curioso caso de Benjamin Button": "para que quer um velho um Ferrari? Devia ser possível viver ao contrário, ter um Ferrari enquanto se é novo, trabalhar quando se é velho, para ter a sabedoria de o saber fazer. E claro, os reflexos para conduzir o Ferrari no auge da juventude". Fiquei a pensar nisso. Não sei bem ao certo o que me prendeu nessa conversa de café, que ouvi porque não sou surda, mas algo me fez não esquecer. Não aspiro a ter um Ferrari. Mas, gostava muito de um dia ter a sabedoria da minha Avó. Talvez se a conseguisse ter hoje, tudo fosse diferente. Mas "o caminho faz-se caminhando" e a sabedoria não se passa em meia dúzia de conversas, letras de livros e palestras. A sabedoria a que me refiro, claro, não é a dos livros e papéis onde passeio o cérebro grande parte do dia. Talvez só sejamos mesmo capazes de aprender com os erros. Ou nem assim. Talvez a experiência seja a condição indispensável. Não a dos outros ou a do meu laboratório, mas a experiência que dói no corpo e sobretudo na alma. Viver ao contrário seria uma paródia. Porque tenho para mim que, por muito que alguém muito mais velho não tenha os reflexos que eu tenho hoje, tenho a certeza que será muito mais capaz de aproveitar o carro que tem nas mãos. Sobretudo, porque muito provavelmente já aprendeu que o que importa não é o destino, mas sim a viagem. 

17 janeiro 2014

Quero a minha Mãe.

Quero a minha Mãe. No sentido figurativo. Quero a minha Mãe, como dizem as crianças. Quem tem uma Mãe tem tudo. Quero a minha Mãe, no sentido lato. Quero o colo da minha Mãe. Quero o mimo da minha Mãe. Quero ser mimada como mimo a Francisca. Quero que a minha Mãe me diga que não vem ninguém a meio da noite. Que não há Lobo Mau que me roube o sono e me entre descanso adentro com pesadelos. Como eu digo à Francisca. Que o Lobo não vem, porque a Mãe dá porrada no lobo. Porque a Mãe te protege, Francisca, dorme tranquila, que a única coisa que a Mãe deixa entrar são os sonhos. Sim, para ti e para o teu boneco João. E para o Bambi made in IKEA. Quero a minha Mãe. No sentido mais simples da coisa. Quero a minha Mãe. Quero a comida da minha Mãe. Quero as descomposturas da minha Mãe. Quero a frieza pragmática da minha Mãe. A frieza pragmática que me magoa muitas vezes mas que outras tantas tenho de lhe reconhecer um certo ponto de vista, não a ela, mas a mim. Quero enrolar-me em posição fetal e ficar aconchegada, como fica um feto no ventre materno. Protegido. Quente. Quero a minha Mãe. Que me afague o cabelo e me diga para ter juízo, que sou capaz de devorar a vida, se assim eu entender. Ou que me diga para dormir, que o meu mal é sono. Ou para comer, come rapariga, pareces um cabide pendurado pelo cabelo. Pese o que pese agora ou com mais 20 kg no pelo, come rapariga, alimenta-te. Quero a minha Mãe. Não sei em que sentido. Quero ser Filha mesmo já sendo Mãe. Como as crianças, quando caem e se magoam e berram com o ranho que a Mãe limpará, com as costas de uma mão para com a outra lhes secar as lágrimas. Quero a minha Mãe.  Quero o cheiro do perfume demasiado doce que a minha usa e me dá tonturas. Quero a minha Mãe. Num sentido qualquer. 


Para os braços da minha mãe 

16 janeiro 2014

Nada? Nada. Na-da. Absolutamente, nada.

A licença de maternidade já terminou faz tempo, mas o meu cérebro não está convicto. É que tive mesmo que colocar os dois pés no emprego novamente. Quando chegou a hora do biberão da manhã, estava no pára-arranca na autoestrada. E quando chegou a hora de vestir e depois brincar, estava à frente do computador a ver emails, metade dos quais eram spam. Mais tarde, na altura da birrinha de sono, sentei-me numa sala de reuniões a discutir se o logotipo era mais para a esquerda ou mais para a direita. Bem-vinda à vida como ela era, antes de ser esta.
Nunca tinha parado de trabalhar. Até punha as duas mãozinhas sapudas no fogo em como, ao fim destes meses, estaria mortinha por regressar ao trabalho. Para descansar. Agora, antes de adormecer, ponho gelo e faço compressas para acalmar este ardor nas mãos e no coração. É que vamos entranhando a maternidade e inventando que regressaremos, um dia, ao trabalho. Lá para 30 de Fevereiro.
Não que pretendesse fazer carreira maternal. Nem qualquer outra. Esta fantasia da carreira é como acenar com a cenoura à frente do burro: há os grandes burros, que adoram cenouras, e há os burritos, que se lhes acenarem com couve portuguesa, também comem. A carreira é como uma propaganda que a sociedade fez o favor de inventar num dia em que estava aborrecida a olhar para o ontem. Mas que até tem piada, pois aflige as pessoas sem evidentes dotes artísticos – 'Olá, tudo bem?'. Ou seja, a maioria dos cidadãos. Mas será que dá para fazer carreira de burro? Depois de chegar a cavalo, podemos ainda aspirar a ser unicórnios?
Estava a almoçar com uma amiga quando a filha de oito anos lhe telefonou, chorosa, por ter tido um Satisfaz num teste da escola. Só. Porque um simples Satisfaz, já não satisfaz. Nem aos pais, nem aos filhos. Já ninguém quer ser normal, pelo que chamar alguém de normal tornou-se num grande palavrão. Talvez seja mesmo a maior das ofensas nos dias de hoje: “Sai da frente, meu grande normal!”. Com os filhos passa-se o mesmo: nove meses a rezar para nascerem normais e o resto da vida à espera que revelem o seu corninho unicórnio.
É encantador escutar alguém dizer: “Tens é de fazer o que gostas!”. Só que a maioria das pessoas não sabe do que é que gosta. Ou até sabe, só que não é um gosto que alimente uma barriga, quanto mais duas ou três. Por isso, são muitos os que passam uma vida de rabo para o ar à procura da agulha no palheiro. É uma posição tramada para levar a vida.
Começa tudo na idade da creche com a pergunta tão enganadoramente pedagógica: “O que é que queres ser quando fores grande?”. Polícia, bombeiro, princesa. Nenhuma criança diz que quer ser técnico das finanças, caixa de supermercado ou traficante. São anos e anos de infância a soprar nos ouvidos dos miúdos a lengalenga de que têm de ser alguma "coisinha que se veja" quando crescerem. Os adultos adoram perguntar às crianças acerca das suas aspirações profissionais. Desconfio que é o subconsciente adulto a querer confirmar qualquer coisa como “eu não fui astronauta, este puto também não vai ser, isso é que era bom”.
Não querer ser nada, não estar numa categoria reconhecida socialmente, não é digno. O que, para muitos – 'Olá, outra vez!' -, é aquilo que melhor sabem fazer. Ser um grande Nada ou concluir um mestrado em Excelência do Nada não é valorizado. Estranhamente, pois acredito que quem o consiga fazer só pode ter uma inteligência superior. “Bom dia, queria falar com o senhor Dr. Nada, se faz favor”. “O senhor Dr. Nada agora não está a fazer nada, ligue mais tarde”. 
No fundo, continuamos todos na escola, com a nossa turma, horário e professor. Uns chegam a horas, a maioria nem por isso. Em vez de cromos trocamos cartões-de-visita e quem nos dá réguadas é o patrãozinho e não o senhor professor. Só o cenário é que mudou. Porque a mesada continua a não chegar até ao fim do mês. A minha filha, aos 7 meses, já tem um porta-moedas da Dora Exploradora. Com dinheiro lá dentro e tudo. É o que nos safa na farmácia. 
Tenho inveja da Laura. Porque ela não faz nada e eu faço tudo. Enquanto brinca no chão da sala, controlo os seus movimentos com um olho na miúda e outro no pai, uma mão no teclado do computador e outra no telefone, ambos os ouvidos estão sincronizados com a panela com água a ferver ao lume, a boca mastiga um grande “normal” de um chocolate e o meu cérebro elabora a lista mental de tarefas para o dia seguinte. Vá, quem é que me inveja a mim? São mais que argumentos para ter ciúmes da cabeça vazia de preocupações da miúda. Ciúmes dos gritos que dá quando lhe apetece e só porque lhe apetece. Dava uma unha do pé pela liberdade de não saber, pensar, fazer ou preocupar-me com nada durante… Ah! Mas dava uma unha do pé do meu marido.
Só que já não há mães que não fazem nada. Vou ter de explicar à Laura que a mãe faz mais do que nada. Que não posso entrar pela farmácia de Xabregas adentro e apontar uma pistola: “O leite ou a vida!” (até porque os funcionários de lá são todos amorosos). Que o centro de saúde só tem médico de família e que a pediatra dela é um luxo. Que as vacinas fora do plano de vacinação nacional não são pagas com cascas de banana. E o que é que isto lhe interessa a ela? Outro nada. Concluo que a vida é um somatório de nadas, o que reforça a minha ideia de que o Nada devia mesmo ser profissionalizado. Num instante tínhamos mais Nadas do que desempregados. “Então, estás desempregado?” “Nãoo! Estou sem fazer nada”.
Não ter, fazer ou saber nada é de uma simplicidade digna somente dos mais puros: os bebés. Porque o Nada é o terreno mais fértil para criar e para crescer. A verdade é que já sinto de peito cheio que a miúda é minha filha. E que está com graça. Os primeiros meses foram trabalhos pesados. Mas agora que começo a dominar a cria, tive de vir criar para outro lado. Alguém se vai rir muito com ela, porque para mim pouco ou nada vai sobrar ao final do dia. Mas se continuar a persistir nesta teoria de que o Nada é muito, vou ter todo o tempo do mundo para me rir com ela.

Sofia Anjos, 38 anos, directora de contas numa agência de comunicação, foi mãe pela primeira vez em Maio.  in P3

13 janeiro 2014

Já disse tanta barbaridade (em tão pouco tempo) que vou dormir masé!

Sentei-me a encetar (palavra fina, upa upa!) uma tentativa de ah-e-tal-vou- trabalhar-agora-recuperar-o-tempo-perdido-nestes-dias-e-agora-é-que-vai-for. Quando sento o meu rabo (ainda) partido no meu "quelósete" (desde que habemus pardieiro novo, tenho um "quelósete"que, basicamente, é o sítio onde habitam os meus sapatos, roupas e cenas diversas, assim como a secretária onde sento o meu rabo para trabalhar de casa. Também tenho vidros duplos e muito menos humidade mas isso já não tem nada de fino para dizer, portanto, o "quelósete".), é isto que vejo, a foto acima, que vos mostro. Acho que resume tudo: o bloco (não que alguma vez eu tenha feito bolachinhas, não lhe dou muito nisso), o pisa-papéis (onde tem pintado Francisca) e a moldura. Maneiras que, após fazer de conta que ia trabalhar, fui fazer coisas muito importantes, como: 
- rever o fato do Messi deste ano e pensar que com tanto dinheiro bem que podia pagar a conta da luz para não se vestir às escuras. Também gostei mais do das bolinhas, tinha um je ne sais quoi; 
- procurar o que a Irina usou no "balão de oiro" que é muito mais interessante para mim, moça horrorosa de gira, não há direito; 
- rever e babar com o vestido da Cate Blanchet nos Globos de Ouro e pensar que eu também quero um mas só não tenho porque depois não tinha onde o usar, sendo esse única e exclusivamente o factor que impede a coisa de acontecer; 
- fazer olhinhos a umas peças da Bijulândia AF
- perceber se a encomenda da Zara vem ou não vem… É que o jum-pe-sui-te tive de o caçar numa Cidade, mas a nova malunfa pode vir pelo correio e perceber se vem ou não vem é da máxima urgência. 
Deve ser por isso que tenho a secretária no "quelósete"… para me lembrar que se quero mesmo adicionar mais um parzinho ali às prateleiras ou uns trapos nas cruzetas, então que trabalhe para eles. Mas vou guardar este último pensamento, muito inspirador  e digno de estar numa daquelas fotos que populam no feed de alguns trausentes do facebook, uber inspiradoras (ou não), para amanhã. Vou masé recolher-me ao meu leito, no meu pijama de vaca, todo um glamour fashionista, que pensais? Tenho sono. Pareço a minha Avó que faz 87 (e não 85 anos como disse algures) este mês. Com a diferença que eu até percebo que o Benfica tenha ganho ontem e lhe tenha dito que era pela alma. Ao que ela me respondeu, no seu Trasmonstano perfeito, algo que traduzido seria como "atira-te aos cães masé!" Não me atiro aos cães mas atiro-me aos sonos. E agora que vejo o que escrevi, reparo que não disse nada de jeito. "Nada desta bida", como dizia a outra. 

Sei lá, não me apetece ou vou fazer 30 anos este mês #8

Há uns tempos li num blog a expressão "sentar e jantar com a vida" (creio ter sido no "Panados e Arroz de Tomate", de que muito gosto, mas não tenho a certeza absoluta). Não me sentei a jantar com a vida, até porque acho que seria uma refeição que terminaria em indigestão ou para mim ou para a vida. Ou para ambas. Tenho estado adoentada, tenho rins que são muito bons a produzir cristais, mas que, com muita pena minha, não são Swarovski. Ontem telefonei a uma Amiga que fazia anos e quando lhe disse que tinha estado a faltar ao trabalho por estar doente, ouvi do outro lado um "então estás mesmo mal". Também não sei muito bem o que diz isso sobre mim e não me apetece saber, sei lá, que diferença faz? Tenho tido tempo para pensar, entre dores e efeitos secundários de medicamentos, que não me apetece sentar e jantar com a vida. Não me apetece quase nada, verdade seja dita. Vou fazer 30 anos na quarta feira. Também me perguntaram, inocentemente, há umas semanas, o que ia fazer agora aos 30. "Já fizeste tudo antes dos 30… e agora, que vais fazer?". O que é fazer tudo? O que vou fazer? Sei lá, não sei. Suponho que hei-de continuar a rir-me, nem que seja de mim. E a chorar desalmadamente às escondidas quando me apetece, porque sim. Aprendi antes dos 30 também isso, a chorar escondida mas a chorar quando me apetece. Podia chorar à frente de plateias, escrever no facebook que estava a chorar ou coisas variadas. Mas não me apetece. Gosto de chorar, por estúpido que pareça, mas tem de ser em solidão e solitária. Hoje fiquei em casa, toldada por efeitos secundários de medicamentos para dores. Podia dizer que estou a curtir a moca que me dão, mas não, estou bastante nauseada e cansada. Apetece-me dormir e talvez o faça, estou verdadeiramente cansada, mas também não sei bem do quê.  Ouvi a minha Filha sair para a Escola de manhã e o meu coração quase me engoliu a capacidade de ser racional. Chorei. Não faz sentido, mas também não me apetece que faça. Chorei ao lembrar-me que a Francisca ontem me fez festinhas no cabelo e disse que a "Mamã era super valentona". Aos olhos dela, deve ser qualquer coisa como a Mamã é uma espécie de super herói. Aprendi que não posso chorar em frente à minha Filha. Se quando era bebé quando muito poderia sentir-me mais frágil, agora fica muito preocupada quando a Mãe chora ou lhe parece que tem cara de choro. A Francisca cresceu muito nos últimos meses, ou pelo menos, assim me parece. Mas sei que ainda quer a Mãe. Eu vou fazer 30 anos e tem dias em que olho para o telefone e quero a minha Mãe. Se calhar é isso, vou ligar à minha Mãe. Gostava que a minha Mãe estivesse mais perto por vezes. Tenho (muita) pena de não festejar os 30 perto dos meus Pais e das minhas Pessoas. Se calhar, vou mesmo ligar à minha Mãe. Por isso, se me sentasse a jantar com a vida e tentasse descobrir o que vou fazer depois dos 30 que chegam quarta feira, acho que viver seria a opção. O que vou fazer? Sei lá. Nunca soube muito bem. Há vidas planeadas ao pormenor, com guiões meticulosamente estudados. A minha nunca foi assim e não me parece que vá começar a ser agora, depois dos 30 de quarta feira. 

08 janeiro 2014

Vou fazer 30 anos este mês #5

Porque já sou Mãe. Porque serei sempre Mãe. Porque já caí. Porque sei que vou voltar a cair. Porque a minha Filha já caiu muitas vezes e vai cair outras tantas. E eu vou ensiná-la a levantar-se. Porque vou voltar a cair. E a minha Mãe, no seu jeito, vai voltar a ensinar-me, se não a levantar, qual a melhor maneira de cair. 
Alfred Pennyworth: Took quite a fall, didn't we, Master Bruce?

Thomas Wayne: And why do we fall, Bruce? So we can learn to pick ourselves up. 
Batman Begins (2005)