Já o disse antes: eu sou má de pessoas. Por norma, não gosto muito delas, das pessoas. Em alturas da minha Vida em que tudo o que mais precisava era de sentir humanidade, essa que se diz quente, senti fel e frio. Muito frio. Senti olhares gelados, dilacerantes. Senti indiferença. Senti palavras que me ecoaram e me deitaram literalmente ao chão. Levantei-me, sempre. São marcas que não se apagam. São marcas que nunca vou conseguir apagar porque simplesmente não quero, porque me ensinaram e ensinam a valorizar o doce, o bom, o bem. Enquanto tiver capacidade de me lembrar, não quero esquecer. Não fui sempre assim. Não importa, sou assim agora. Quando gosto das pessoas, gosto mesmo. Gosto de verdade, não gosto mais ou menos, não gosto hoje e amanhã nem por isso porque me dói a cabeça, gosto. Há uns meses atrás, precisei de amparo para mim e para a minha Filha. Adoecemos ambas ao mesmo tempo. Precisei muito de ajuda. De colo. De carinho. Lembro-me de naqueles dias ser um farrapo rasgado pela doença e pela angústia de não conseguir cuidar da Francisca. Não pedi ajuda, a ajuda veio ter comigo. Levou a minha Filha doente e cuidou-a como se dela fosse. Passou a noite em claro com ela, tendo ela também dois filhos pequenitos para cuidar. Alimentou-a. Medicou-a. Deu-lhe banho. Vestiu-a. Deu-lhe colo e mimo, como se fosse dela. E eu nunca vou esquecer isso. Muito mais do que quem minha Filha beija, minha boca adoça, ela foi Mãe para a minha Filha quando a doença me deitou numa cama. Ela, vai sair desta Cidade onde me desterrei de raízes e das minhas Pessoas. Ela, a quem eu tanto me afeiçoei e de que tanto gosto, vai finalmente sair desta Cidade para a que há muito desejava, para melhor. Vai ser mais feliz, ou pelo menos, é o que se espera. Fico feliz por ela, de verdade que sim. Mas sei que no dia em que precisar, não lhe poderei ligar, despida de merdices de durona e dizer "preciso de ajuda". Sei que não vai haver tão cedo alguém que saiba que eu sou uma merda enquanto durona fechada entre quatro paredes e que se aperceba que eu preciso de ajuda muito antes de o admitir. Sei que sou má de pessoas. Mas sei que quando gosto, gosto mesmo. Gosto de verdade, não gosto mais ou menos, não gosto hoje e amanhã nem por isso porque me dói a cabeça, gosto. E por muito que a Vida mude, a Vida deu-me a benção de conhecer uma Pessoa assim. E o meu Mundo de Pessoas ficou mais bonito também por causa dela, porque um dia, aprendi que o que ela fez, poucos o fariam por mim. E que mesmo sendo má de pessoas, há Pessoas que se cruzam comigo e que me fazem perceber que afinal, apesar de ser má de pessoas, a Vida me tem dado a sorte de Pessoas como ela se cruzarem no meu caminho. Serei-lhe eternamente grata. Quero que quando for tempo de ela começar a sua nova Vida, numa outra Cidade, numa outra rotina, num outro céu azul, leve um abraço bem sentido meu e a sensação de que, por muito que a Vida mude, estarei aqui para ela. Como ela esteve para mim.
29 junho 2013
Porque sou má de pessoas...
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5 comentários:
Uma Pessoa assim, com P maiúsculo, é algo absolutamente precioso! Boa sorte para essa "sua" Pessoa - está visto que merece toda e mais alguma!
Posso chorar? :) Beijinhos
a vida com Amigos é outra qualidade*
eu vou ficar por aqui ;)
E encontras Pessoas assim, porque as mereces!
Um beio enorme, minha querida*
(adorei!)
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