Francisca queixa-se que lhe dói a barriga. Há dias que ouvia a ladaínha do "Mánhe, dói a barriga". Volta e meia, comida fora. Febre intermitente. Eu não percebo nada de maleitas infantis. Tempos houve em que quando não sabia o que era, apostava na máxima "são dentes, senhor". A única coisa que me ocorre agora é que são bichas. Bichas, sim. Sei lá, as crianças têm bichas, não? Insiste que lhe dói a barriga. E volta e meia, comida semi-digerida para a roupa e o mais que estiver no caminho de sucos gástricos. A-do-ro. De-li-ro. Pronto, estamos em casa. Francisca agarrada à barriga, amarela, olheirenta e encolhida a ver os "desanimados". Desanimada estou eu, pá. Eu sei que as crianças ficam doentes. Faz parte, têm de construir o sistema imunitário e eu secretamente desejo que o dela sejam bem melhor que o meu, que é uma nódoa de resistências. Talvez sejam bichas, sei lá eu. Também não vou em pressas para a urgência infantil porque honestamente a coisa (ainda) não se justifica a uma nova incursão no mundo maravilhoso das urgências pediátricas. Mas caramba, podia construir o sistema imunitário de sexta a domingo. Vai na volta e o sistema imunitário in construction dela tem um sentido de humor retorcido e acha que é giro ficar choné aos domingos e capotar a semana toda da Mánhe. Bem, vai na volta e agora em vez de dizer "sei lá o que é, são dentes" passo a dizer "não faço ideia do que seja, devem ser bichas". A coisa sobe de glamour com a idade, querem ver?
10 fevereiro 2014
Serão as bichas os novos dentes?
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