Não quero a minha Filha sentada a mando de ninguém *
Li isto um dia destes algures neste admirável mundo novo digital: "Não quero que a minha Filha passe o dia sentada a mando de quem quer que seja". Que bonitinho. Se há coisa que me admira hoje em dia é o elogio do "ser criança". Fico fascinada, que sim! Criança que se preze tem é de ser selvagenzinha, correr rua/campo/restaurante/whatever fora, tipo cabra do monte. Tem de fazer o que gosta, só o que gosta e não levar com merdas chatas, vulgo, regras. Se quiser comer com as mãos "está a explorar o tacto", se quiser rasgar os cortinados "está a explorar o tacto", se quiser riscar as paredes ou cortar o pelo da cadela à tesourada "está a explorar a sua veia artística". Se quiser gritar em pleno supermercado, está a testar os seus decibéis de audição e as várias frequências do som e a expressar a sua frustração porque porra, disse que não a um balão da Princesa Sofia. Óbvio, estou a ser castradora, porque lhe arregalo os olhos e lhe ralho baixinho ao ouvido, é a receita mágica para lhe destruir a infância e mais, estou a humilha-la em público!!! Bardamerda, sim? Querem cá ver que eu sou a Nazi da Infância? E, se eu me passar porque não estou para repetir a mesma coisa trezentas vezes, eu, assim EU é que não estou a entender que eu, assim EU, é que estou mal e não piquena sostra, que escolhe ignorar e ver se passa sem arrumar a cangalhada que faz do corredor uma corrida de obstáculos. Sabeis que mais? Eu acho que sim, óptimo, excelente, o que quiserem. Depois o Mundo tratará de a seu tempo encaixar o rabo da criancinha de hoje numa cadeira de adulto num Mundo pouco elástico. A minha Filha pede para sair da mesa e já por várias vezes ouvi o "ai que querida, deixa-a ir, é criança!". Temos pena, é criança e lálálá, pobre petiz, que deve ser uma seca estar sentada num restaurante e não andar a rebolar no chão, a explorar ou a fazer qualquer coisa altamente didática (???) mas são as regras: não sai da mesa até todos terminarem. A Francisca não passa o dia sentada a mando de quem a educa, mas quero que se sente, em casa e fora dela, assim que tal lhe seja solicitado. Não quero criar um autómato, um ser obediente sem capacidade de pensar por si. Nada disso. Mas não quero criar a Francisca com a ideia de que o Mundo se vai moldar a ela. Isso não vai acontecer, habemus pena. É a lei da vida e muita sorte temos nós de estar no topo da cadeia alimentar. E viver na Europa, já agora.
* E sim, eu também não quero que a minha Filha passe o dia sentado a mando. Quero que brinque, que corra, que salte e pule, se suje, se esfole mas que, quando lhe seja pedido para se sentar, se sente, sem ser preciso "mandar". Quero que saiba distinguir que há regras e que há tempo para tudo. Tudo porque acredito que o sentar-se, ouvir e aprender não fará dela menos criança.
4 comentários:
Mai nada... Cansada de selvagens com o rótulo de que crescem livres... No meu tempo os que cresciam livres eram os ciganos que iam à escola só 3 vezes por ano!
Nem mais!!!
Concordo totalmente...
Ai a criancinha a destruir tudo o que toca (na casa dos outros).. "é um explorador. gosta de explorar tudo!!"
O tanas!
Bom, bom e bom a valer este post :)
Sabias palavras!
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