10 janeiro 2013

Maria Rita ...

Chamava-se Maria Rita a minha Avó Paterna. Perdeu para um cancro renal tinha eu 5 anos. Lembro-me pouco dela, muito pouco. Infelizmente, a minha recordação mais vivida dela é de a ver deitada numa cama, a chamar pelo meu Avô, repetindo o seu nome incansavelmente, enquanto a minha Mãe lhe dava uma pica. Óbvio que entrei no quarto sem autorização quando me tinha sido expressamente proíbida a entrada. Levei uma valente palmada no rabo quando me detectaram e me arrastaram dali para fora, lembrando-me que eu era uma criança e não tinha nada que riscar no que não me dizia respeito. Muito menos desobedecer deliberadamente. Soube mais tarde, anos depois, quando aquela imagem ainda marcada a ferros me veio à memória, que a pica era morfina e que a minha Avó tinha morrido na semana seguinte. O meu Pai é a imagem dela, física e psicologicamente, diz quem conheceu bem a minha Avó. Era também ela filha única e uma mulher com pulso de ferro, nada dada a mimosices. Fazia o melhor fumeiro que muitos dizem ter provado. Era turra, se embicava para ali, para ali seria. Alta, de cabelo sempre apanhado num puxo. Todas as fotos a mostram de ar grave, sério, quase sisudo. Mas ainda hoje consta na Vila que era a Mãe dos que nem um cibo de pão tinham para o bicho da fome roer, nesses tempos idos de ditaduras. Na casa da Maria Rita e do João, havia sempre espaço para mais um lugar na mesa e uma fogaça extra para levar e matar a fome no dia seguinte. Era uma mulher bondosa, mas não dada a delicodoces. Faleceu em Janeiro, dias depois do meu aniversário. Lembrei-me dela hoje. E lembrei-me que se não tivesse sido Maria Francisca, seria Maria Rita. É nome de gente forte. 

1 comentário:

Magui disse...

E assim de repente também tu tens muito de Maria Rita (que é um nome lindo também)!