11 setembro 2012

Confissões da antítese de uma Mãe perfeita...

Há quem diga que nasceu para ser Mãe. Há quem diga que esse é o único papel que a preenche por completo, que ser Mãe é o seu mojo. Eu ouço, respeito e aceito. 
Durante muitos meses, pensei que havia algo de errado comigo, que não seria normal. Que o pink elephant in the room estaria a levar a melhor sobre a minha lucidez. Que acabaria internada num qualquer serviço de psiquiatria porque não era normal desejar mais para mim do que dedicar os meus dias a cuidar da minha filha.  Que era um ser abjecto e indigno da palavra Mãe. Que a minha filha estaria melhor sem mim, uma mulher à qual a Maternidade por si só não chegava para se sentir realizada. 
Hoje admito: eu não nasci para ser Mãe. Nasci para ser Mulher, no seu todo. Sim, Mãe, porque a natureza mo permitiu. Mas também Mulher, Esposa, Profissional. Amo a minha filha acima de tudo e de todos. Não há nada neste mundo que seja tão bom, tão delicioso, tão gratificante como um sorriso da Francisca, como cada nova conquista, como a saber bem, feliz. Mas e apesar de me encher a alma, eu, egoísta na minha condição humana, desejo mais para a minha filha. Desejo-me a mim, completa, não apenas Mãe. Desejo-me bem e tranquila, para lhe dar o melhor de mim e não ser apenas meia Mãe, perdida em mim mesma, desfasada do que sou no meu ser mais recôndito.  
Não nasci (só) para ser Mãe, mas sou a melhor Mãe que consigo. Uns dias melhor, outros pior, por certo. E se alguém nunca errou como Mãe, que atire a primeira pedra. 
Hoje é dia de levar o pink elephant in the room ao médico (que já é mais um amigo, tantos anos volvidos desde que nos conhecemos). Um ano depois de ter voltado à sua convivência, a coisa compos-se, com muito apoio, com muita paciência de quem me rodeia. Com muita merda farmacêutica também. Mas sobretudo, o que ajuda, é o assumir do que se sente. Deixei de me mascarar. Deixei de acreditar em pássaros que chilrream ao som de choros lânguidos e passei a assumir que sim, a minha filha também chora. E berra. Bem alto por vezes. E faz birra. E suja a melhor roupa no chão. E leva a minha paciência a limites que eu desconhecia. E que há dias em que quando o meu Marido chega a casa eu saio e a Francisca fica com o Pai. Porque eu preciso de sair, de respirar bem fundo e reencontrar-me. Para a reconfortar quando tem um sonho mau a meio da noite. Para a adormecer. Para ser Mãe. E saio com o meu Marido e ela fica com os Avós. Sem culpas. Porque eu preciso dele enquanto Homem e não Pai apenas.  E ele precisa de mim não só como Mãe mas como a mulher que o beija apaixonadamente. Deixei de vender a lenga lenga do dava tudo para ficar em casa só a cuidar dela. Não dava. Preciso de viver o mundo e que o mundo viva em mim para que possa transmitir à minha filha que há um mundo lá fora e que esse mundo tem tanto de bonito como de assustador, mas que há que o viver para o aprender a saborear no seu todo. Assumi que a depressão levou mais um pedaço de mim mas me trouxe mais garra, mais força, mais alegria, mais coragem para pegar no touro pelos cornos e chamar as coisas pelo nome. 
Assumi que eu preciso de mais do que ser (apenas) Mãe para ser Eu e não um fantoche repleto de dogmas da sociedade. E isso, é libertador. Extremamente libertador...

9 comentários:

Jardim de Algodão Doce disse...

Compreendo-te perfeitamente e ainda que por outras palavras também já escrevi sobre isso. Eu também preciso desse eu, penso e sinto assim tal como dizes.

Sónia disse...

Eu neste momento estou em casa a tempo inteiro porque sou obrigada a isso, mas sinto tanta mas tanta falta de trabalhar de chegar a casa e ver aqueles bracinhos a abrirem-se para mim.
Tem dias que deixo os dois com os avós e vou dar uma volta e isso sabe tãop bem!!!
Eu adoro-os de paixão mas sinto falta de outra parte de mim, claro é bom ve-los crescer mas sou como tu quero mais muito mais.
Mas não me sinto menos mãe por isso, por querer ter uma carreiras, ter tempo só para mim, para o meu marido enquanto homem. Achjo que isso é que nos completa.
Tem dias que não aguento mais as birras, os choros as fraldas lol mas tenho de aguentar e esperar...
Beijo grande e solta o elefante sem vergonhas e sem medos!!!!

S. disse...

O facto de teres dito isto, de sentires isto, é o melhor presente que podes dar à Francisca.

Magui disse...

Percebo isso tão bem... Eu gostava de trabalhar menos horas, gostava de chegar a casa mais cedo, gostava de não estar com ele 1 a 2h por dia quando já está cansado e a morrer de sono, gostava que essas 2h não fossem cheias de banhos e jantares e sopas e pudessem ser dedicadas a mimos e brincadeiras... Mas não gostava de estar em casa a tempo inteiro, já tive essa experiência antes dele nascer e não gosto, preciso de mais, preciso despir o fato de treino e arranjar-me, preciso de "limpar" a cabeça com o trabalho... Ainda não encontrei o meio termo, se calhar nunca vou encontrar, mas sou de certeza mais mãe se me sentir realizada... E tu és de certeza mais mãe por conseguires assumir/escrever isso tudo... Nada como vivermos a vida sem máscaras (ou com o mínimo de máscaras possível)!

Cláudia, Vila do Conde disse...

Oh linda...no fundo todas as mulheres sentem o que descreveste...podem é não ter a coragem de o admitir tal como tu o fizeste...

Ana disse...

Compreendo-te perfeitamente, como bem sabes, porque também eu já escrevi sobre isto para me libertar. O curioso é que é bem mais fácil escrever do que falar. Quando falei sobre esta perspectiva com outras mulheres senti-me incompreendida, confesso, e quando falo com o meu marido, a quem nunca deixo nada por dizer, sinto muitas vezes que me apoia no momento mas que acabamos por adiar mais vezes do que deveríamos esses momentos que me fariam uma Mulher mais feliz. E Princesa, digo isto muitas vezes para mim mesmo: sou a mãe perfeita do Pedro porque faço mesmo o melhor que sei.

PS disse...

Eu não conseguiria descrever melhor que tu o que sinto.
Há mulheres que nasceram para ser mães sim senhora e eu conheço algumas, mas eu nao sou nem pretendo ser como elas. Sinto-me bem a sair de casa de manha a deixar o meu piolho na escolinha, a sentir saudades durante o dia e ao final do dia poder abraça-lo com o coração cheio. Não julgo nem critico quem é diferente de mim, cada um na sua, o importante é estarmos bem.
Uma coisa garanto, umas não são melhores que as outras.

Beijinhos

Fashionista disse...

que texto lindo! Indentifiquei-me MUITO!

raquel disse...

Compreendo-te muito bem.
Sei bem o que sentes e o que dizes.
Tenho pena de não ter mais tempo de qualidade com o António, tenho pena de não poder disfrutar mais do que disfruto, tenho pena de ter que chegar a casa pelas 19h e ter que me preocupar com jantares, sopas, banhos, roupas, ferros. tenho pena de não poder fazer os meus horários.
mas sim, preciso de trabalhar, preciso de sair de casa, de me arranjar, de ser mulher, de ser profissional, para ser melhor esposa e melhor mãe!