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"closing time
every new beggining comes from some other beggining's end"
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Feliz 2016!
Podia dizer que achei amoroso aquele vídeo em que o Pai explica ao Filho os atentados em Paris, em que acaba por dizer qualquer como os mauzões têm armas mas nós temos flores para os combater (Aaaaah, e que se tornou viral! Sim, porque porra, agora é tudo viral!!!! Ah e tal estava numa rede social, a malta em pijama botou "laique" e pumba, mimimimi lálálá viral. Está bem, whatever, adiante). Não que não tenha achado amoroso, que até achei. Só que o que mais gostei nem foi a parte da explicação do Pai... O que eu achei curioso (e sim, amoroso) foi a forma como aquele Menino tinha consciência de que o Mundo não é assim um sítio tão bonitinho. Prefiro mil vezes explicar à Francisca que há gente má até aos ossos do que a levar a acreditar que o Mundo é um sítio simpático, sem becos e vielas escuras. Que há um Mundo sem morte. Um Mundo sem doença. Sem dor. Sem sofrimento. Sem gente que é humana mas sem humanidade. Não que lhe diga todos os dias que o Mundo é uma coisa estranha... mas, prefiro responder o mais próximo da verdade, do que a fazer crer que as flores que foram deixadas em sinal de memória e respeito, servem para parar as balas das armas dos mauzões. Tudo porque acho que se educam as crianças para serem adultos... e até hoje, a Terra do Nunca, ainda não foi encontrada pelo meu GPS.
De repente, tudo virou perito na interpretação da Constituição da República Portuguesa. Quase citam que tal referência à possibilidade x está prevista na linha h.
Então e vós, Princesa sem reino, não opinais?
Ora pois claro, por quem sois, eu cá também tenho de dar a minha opinião. Pode ser simplória, burra e sem fundamento, mas não faz mal, pelo andar da carruagem, vale tudo. Então isto é democracia ou não ?
Eu, pessoa que vota em pessoas e ideias, não em cores, símbolos ou slogans vazios, levantei o real fofo do sofá e fui votar. Porque era meu dever, porque também cá vivo, porque afinal alguém tem de governar isto, lálálálá mimimimi. Da próxima não vou, já aprendi a lição, que isto brincar assim, olha, não m'apetece. Mas pelo menos, já estou mais satisfeita da vida: cheguei à conclusão que o meu amado e adorado FCP foi campeão na época passada e não o gorduroso do Benfas... Como? Fácil. Juntou os pontos dele mais os do "Zbording" e foi peaners. Está bonita a festa... Ah, oh, aaaahh que nunca tal se tinha visto, a esquerda unida, ah oh, o êxtase. Está bonita a festa, está. Vamos a ver é se no afterhours, quando a pica da festa desaparecer, a boca souber a papel de música e o mundo se plantar à espera de acção e não só de reacção, vamos ver nessa altura se (ainda) somos capazes de dizer "foi bonita a festa, pá!".
... porque é a uma merda que me atormenta todos os anos sem excepção. Arre, que ainda só é novembro!
Todos os dias recebo pedidos /convites para me juntar a um grupo qualquer que quer ajudar: ajudar cães, ajudar gatos, ajudar refugiados, ajudar a angariar dinheiro para isto, ajudar a angariar donativos para aquilo, ajudar alguém que perdeu tudo, ajudar alguém que teve a infelicidade de a vida ser madrasta, ajudar a, b, c. Perdoem-me, mas não, não vai dar. Não. Sou a favor de ajudar, sim, mas dentro dos limites do razoável, dentro do que considero ser viável. Talvez seja umbiguista, egoísta e mais umas quantas coisas, mas admito sem pudor que não tenho a intenção de mudar o mundo, de curar as dores e maleitas a todos e a mais alguns. Sei que não se pode salvar toda a gente, é a lei da selva, é a lei da vida, é a lei de Darwin, o que quiserem. Ah e sim, todos vamos morrer um dia, fazer tijolo, deal with it. Apredejem-me, whatever, estou de mau humor. E sim, talvez até morda, se for atiçada. Todos temos os nossos desafios, as nossas dificuldades e obstáculos e não me parece justo ser bombardeada to-dos, toooodos os dias com pedidos para isto, para aquilo e mais além. Vou ao supermercado e há sempre alguém, sempre, que pede para uma causa. Não duvido que seja uma causa nobre, tão nobre como causas a que me decido associar e dar o meu tempo e dinheiro, em alguns casos *. Parte-me o coração, sim, ver o sofrimento, a fome, a miséria, o desespero. Mas em momento algum, devemos condenar quem diz "não": não sabemos se aquela pessoa tem dinheiro para comprar os medicamentos que precisa para o filho, se há uma semana que só come sopa porque o rendimento não chega para outras refeições, se tira da sua boca para por na dos filhos, se conta os cêntimos e os dias que faltam para o final do mês.Não sabemos se vive ou se sobrevive. Voluntários e outros que se dedicam a ajudar: não sejam tão rápidos a julgar quem vos diz um "não, obrigada", dizendo que "mas é uma causa que merece todo o seu apoio, não vai ajudar?", porque não queremos comprar um boneco que custa 5 euros para ajudar a associação Y ou porque não temos uma moeda para deixar. Para muitos, 5 euros, 1 euro, 50 cêntimos, representam a diferença que faz mexer o prato da balança das contas de casa do pólo positivo para o negativo. (In)felizmente, a vida já me deu uma série de lições, já me fez cínica o suficiente para conseguir dizer sem pudor que tenho zero de intenções de salvar o mundo e de ajudar todos e cada um. Ajudo na medida das minhas possibilidades, quando quero, como quero mas sobretudo, como posso. Lamento, mas não ambiciono o lugar da Madre Teresa de Calcutá. Acredito piamente que não temos de ir a todos os fogos porque, se cada um escolher apenas uma coisa em que invista para ajudar o próximo*, de certeza que o mundo já se tornará um lugar melhor.
* eu escolhi dedicar-me ao Banco Alimentar contra a Fome, tão válido como qualquer outra, tão sujeito a ouvir nãos como qualquer outra causa.
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Oh God why am I here?
An anti-social pessimist but usually I don't mess with this
And I know you mean only the best and
Your intentions aren't to bother me
But honestly I'd rather be
Somewhere with my people we can kick it and just listen
To some music with the message (like we usually do)
And we'll discuss our big dreams
How we plan to take over the planet
So pardon my manners, I hope you'll understand
That I'll be here Not there in the kitchen with the girl
Who's always gossiping about her friends
So tell them I'll be here
Right next to the boy who's throwing up cause
He can't take what's in his cup no more
Oh God why am I here?
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cair
verbo1.transitivo indireto e intransitivoir de cima para baixo, ir ao chão; tombar."caiu da janela"2.transitivo indireto e intransitivoprecipitar-se sobre a terra; ocorrer (ger. fenômenos meteorológicos)."a chuva cai torrencialmente"
Se se substituir o verbo cair por ruir, será que este é considerado o antecedente de reconstruir? E se cair for apenas isso mesmo? E se a queda for tão violenta que leva ao aluimento de todas as barragens e barreiras que nos suportam?
Nas voltas da vida, nas certezas que ninguém tem, repito que tal como os gatos não têm vertigens e se passeiam elegantemente em equilíbrio periclitante, também cair não será uma acção de fim, mas sim de contínuo que, não necessariamente, levantar.
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"When you feel life coming down on you,like a heavy weight.When you feel this crazy society,adding to the strain.Take a stroll to the nearest waters edgeremember your place."
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Dizem que Deus, seja na forma em que O acreditamos, seja pelo nome pelo qual O chamamos, só nos dá aquilo que conseguimos aguentar. A minha Avó acreditou até ao último momento que Deus não a iria abandonar, que não lhe falharia. Tenho muita, muita, muita pena de não ter sido tocada por uma fé profunda. Não serviu de nada à minha Avó, pelo menos nesta dimensão, no Mundo terreno. Tenho pena... Por não ser capaz de me agarrar a algo sem perguntar porquê. De confiar em algo de bom acima de nós. Dizem que Deus só nos dá aquilo que podemos suportar. Mas eu não quero suportar. Eu só gostava de lhe perguntar porquê. Porque escolhe sempre o mesmo cabrão, a mesma sombra negra a pairar, como que uma semente do mal, prestes a despertar e a destruir. Gostava de perguntar porque nos faz suportar a dor da doença, uma e outra vez. Porque me faz ter medo de dizer a palavra que tanto li, que tanto estudei. Porque me faz duvidar da ciência quando tudo o que sei é ciência. Mas, enquanto me perco nos meandros de números e taxas de sobrevivência, dou por mim a pensar que o que mais queria agora, era acreditar em algo acima de mim, de nós, que fará com que o meu Mundo volte a girar no seu eixo. Deus, se existe, tem um sentido de humor muito retorcido.
Há uma palavra em loop na minha mente. Aperta-me o coração, deixa-me comprimida, não deixa o ar passar. Dói-me tudo, doem-me as pernas, aquela dor nas pernas, tão familiar. Rewind, pause, restart. Há uma palavra em loop na minha mente, que traz, nos seus grilhões, umas quantas outras, com o som de chãos de linóleo e corredores em penumbra. Afasto-as. Regressam. Afasto-as. Empurro-as. Desprezo-as. Mas regressam sempre. Sempre.
Aviso à Navegação:
As Mães fófinhas não dizem estas coisas. Nem sei se o pensam mas se o fazem, disfarçam muito bem. Como estou excluída dessa classe , aqui vai disto:
A minha Filha está chata como o raio que a parta. Assim, sem espinhas. Chata, chata, chaaaaataaaaa. Tem dias em que, sei lá só me apetece assim, atirá-la pela janela, está a ver Ambrósio? E depois, hm, sei lá, dizer-lhe para voltar quando tiver 25 anos. Ou mais.
É capaz de levar um dia inteiro nisto, se for preciso :*
Mánhe, Mánhe brinca comigo às Princesas. (só se eu puder ser a Bela Adormecida, eu ronco; tu brincas)Não, Mánhe, tens de dançar e pular e fazer penteados de Princesa (yeaaaahhhh, right, not gonna happen);
Mánhe, Mánhe, Mánhe! (diz). Hmmm, queria dizer-te uma coisa.... (sim?).... Sabes.... (não, conta lá)... Hmmmm.... (sim, Francisca?)... Hmmm, oh olha já me esqueci (sus-pi-ro.);
Máaaaaanhe, anda cá ao meu quarto, se fáxfabore! Olha Mánhe pintei o chão para ficar colorido, estava tãaaaaaao sem cor (eu mereço, dizei-me, eu mereço?);
Máaaanhe, oooh Máaaaanhe, olha Mánhe, não estou bonita, com os 367 ganchos que pus no cabelo? (e que tu, Mánhe, vais ter de tirar e eu vou uivar como se o mundo fosse acabar, já viste a tua sorte, hein?);
Mánhe, Mánhe, Mánhe, Máaaa-nhêeeee, canta as músicas do Frózênén, a da "ÁniElsa" quando eram bebés ("vem fazer bonecos de neeeeeve, há um que é só teeeeeu ".... tenho de pedir desculpa aos vizinhos, coitados). Mais Mánhe!!! (já chega, Francisca, a Mãe não quer cantar mais) Óh Mánhe, agora aquela de quando eles abrem as portas, Mánhe (não quero cantar mais!) Mas tens de cantar!!!!! (or else???);
Mánhe, mas eu não quero sopa! (e eu com isso. deixa cá apontar na lista das coisas que em que quero lá saber se queres ou não... ah, a democracia parental!);
Mánhe, estou exáaaausta (WTF??) e por isso não posso arrumar os brinquedos (deve ser, deve);
Máaaanhe, posso comer na sala a ver os desanimados? (não) Mas eu quero (N-ão). Oh váaaaaa láaaaa. (não) E se for assim só um bocadinho (não). E assim, um bocadinho mais pequenino (também não). É rápido Mánhe, um minutinho só, não demora nada (.... não). Vá lá Mánheeee (nop). Óh Mánheeee... (não, já disse, fim de conversa.);
Mánhe, não quero. (o quê') Não quero (mas o quê?) Não sei, não quero!(ah, estou a ver). Não quero. (e eu com isso);
Mánhe, Mánhe, Mánhe olha Mánheeeeeee e se eu comer só assim? E assim? E só isto? (segurem-me, p'lo amor da Santa);
Mánhe, Mánhe, óooooohhhhh Máaaaaaanheeeeeeeee.
Mánhe, Mánhe.Mánhe, Mánhe, Mánhe, Mánhe, Mánhe, Mánhe, Mánhe, Mánhe.
Dass.
* exemplificação muitíssimo resumida dos eventos que, usualmente, ocorrem entre as 19h e as 21h.
O Martin McFly não chegou. Senti-me a modos que defraudada. Creio que ele também se sentiria defraudado se visse que o futuro, afinal, não é o que lhe tinham prometido. Mas é o que há. Não chegou o Martin McFly, mas voltei eu a esta tabanca (é quase a mesma coisa... #sqn). Podemos não ter Governo, ser a Republica do Bananedo mas apeteceu-me escrever de novo (aleluia, aleluia).
Os meses que passaram foram (e ainda são) meses que de tão maus, de tantas lições aprendidas a ferros da vida, acabam por se transformar em coisas boas, em coisas bonitas. Há sempre algo de bom, há sempre algo de que rir ou, pelo menos, que faça sorrir. Quando me despedi da minha Avó, lembro-me de lhe dizer, entre o ranho e as lágrimas e os soluços, que o cabelo dela estava macio mas despenteado e que o FCP iria ser campeão (estais a ouvir meus morcões? bámos lá a dar à perna). Coisas despropositadas mas que agora, à distância dos meses, sei que a fariam sorrir. A sombra do cancro continua a pairar na minha vida. O meu Pai. Mas sei que vai correr tudo bem. Não o sei por mim, sei-o pela Francisca. Tenho de o saber por ela, mesmo que não o saiba por mim. E por muito que eu saiba, cada vez mais sinto que de nada me serve este saber frio, rigoroso, científico, PSA's desta vida. No final do dia, de nada vale. Só aquilo que se sente deixa marcas. Por isso, de volta, em jeito de um brinde com o copo meio vazio aos olhos mas meio cheio na alma: ao futuro.
De férias ou de trabalho, de descanso ou de cansaço, de dias longos ou de noites curtas... Bom dia (e uma boa semana) ...
I know there's so much left to seeI know I have so much left to giveBut the memories remain, yet the scars don't feel the sameFilling page just one by one, in the warmth of other suns
(A Francisca começou a perguntar pelas minhas cicatrizes. Digo que são feridas que a Mãe fez há muito tempo e ela pergunta se doem, passando a mão nos meus braços. Não Filha, não doem. )
Lembro-me de uma vez, há muitos anos, a minha Avó ter partido uma boneca de porcelana (horrorosa) mas que, nem sei muito bem porquê, a minha Mãe lhe tinha estima na altura. Fez-me "shhh, a Avó vai colar e tu não vais dizer à Mãe, está bem? É o nosso segredo!"*. Anui e continuei na minha vida, atarefadíssima, própria de quem tem 4, 5 anos. Uns anos mais tarde, encontrei a boneca, agora já na classe de cangalhada. Olhei para ela e recordei-me que se tinha partido e de toda a estória. Ao primeiro olhar, estava intacta e feia como sempre tinha sido. Mas, se passasse o dedo por ela, sentia-se perfeitamente o rebordo da fractura, a imperfeição da cola, as partículas minúsculas em falta que faziam com que a porcelana não unisse por completo. Demorava para perceber tal imperfeição. De relance, estava impecável. Era só uma boneca mas talvez seja essa a grande diferença que existe entre perceber as quebras e as marcas que a Vida traz a quem nos rodeia: a capacidade de ver em vez de só olhar.
(A Francisca começou a perguntar pelas minhas cicatrizes. Digo que são feridas que a Mãe fez há muito tempo e ela pergunta se doem. Já não doem as cicatrizes Francisca, mas há feridas que se sentem apenas vendo com os olhos da alma, que é o coração. )
* Não fiquei nada caladinha. A primeira coisa que fiz quando o meu Pai chegou foi logo ir contar-lhe. Queixinhas!
"Canta-se muito o espírito e a vontade e o sonho mas bastam duas noites mal dormidas para percebermos que, se algum determinismo existe, é o fisiológico.
"Está cheio de sono" é a desculpa eterna dos pais para o comportamento psicótico das paridas criancinhas. Reivindico esse mesmo queixume para os adultos.
Basta dormir bem uma noite para o dia seguinte ser uma espirituosa alegria, cheia dos mais nobres sentimentos. Podem dizer que é triste que tudo dependa de contingências fisiológicas. É mentira: é apenas deprimente. Por ser verdade.
O velho conselho "sleep on it" afinal não significa "dá tempo ao tempo; adia a decisão até amanhã" mas apenas, prosaicamente, dorme 7 ou 8 horas e sentirás, erradamente ou não, que a coisa não é tão negra como tu pensas.
É verdade que a coisa mais importante é a saúde. Mas a saúde não é a ausência de doenças: é uma satisfação fisiológica que se repôe ou retira de um dia para o outro.
Quando se está muito doente - quando não se tem vontade de comer, beber ou fazer seja o que fôr - a única coisa que fica é uma vontade de viver. Mas mesmo essa vontade é coisa pouca. Por estarmos doentes. Por sabermos como é não ter saúde bastante para acharmos imperativo esforçarmo-nos muito (ou mesmo pouco) para nos salvarmos.
Salvar quem? Salvar o quê? A única coisa que vale a pena salvar é a saúde. E a saúde é, no fundo, um problema de cansaço que vai podendo, enquanto pode, ter soluções tragicamente temporárias.
Até não ter."
Um dia destes, estava a falar com uma Amiga minha sobre convites de casamento. Já nem sei muito bem como a conversa foi aí parar, mas também não interessa nada (deve ter sido por causa do convite de batizado da Francisca. Ide ao Etsy minha gente, que há lá de tudo: giro, feio, horroroso, uber cute, lálálá e a preços muito interessantes. Satisfeitíssima, eu.) Diz que agora é moda fazer festas de casamento "adults only". Ou seja, quem tem criancinhas das duas uma: ou tem quem tome conta da canalha ou então olha, não vão (e até poupam uns trocos). Por acaso, ainda não me calhou nenhum convite desses. Por acaso também, a Francisca não foi a nenhum dos casamentos* (já somo 3 só este ano e falta, pelo menos, ainda um) pelo simples facto de que havia família que pudesse ficar com ela (a minha pessoa, a Mãe, fica sempre muito desconfiada daqueles Mickeys e Minnies manhosos que se disponibilizam a levar as criancinhas para salas contíguas). Mas voltando aos convites "adults only"... Eu percebo que ter crianças numa festa pode ser chato. Elas gritam, berram, choram, gostam de limpar as mãos no vestido da noiva, pedem para fazer chichi e cócó muito alto no meio da cerimónia e ficam, quase sempre, a tirar catotas do nariz nas fotos. Uma chatice, que sim. Mas não faz sentido nenhum convidar alguém e logo a seguir dizer "a tua Filha não pode vir, mas faço todo o gosto em que venhas". Antes de ser Mãe, até era capaz de encolher os ombros e perceber a lógica e mimimimi. Hoje em dia, faz-me confusão. Até acho mais aceitável dizer que "não podes vir à praia connosco porque cheiras mal dos pés" ou "nunca mais vou jantar com a tua irmã porque ela manda muitos perdigotos a falar, além de o hálito tresandar". Todos sabemos que as criancinhas, especialmente se forem muitas, fazem barulho. Mas fazem parte (se não forem mesmo a parte mais importante) da vida da pessoa a quem se endereça o convite. E o que não falta são tipos de eventos em que facilmente (e educadamente) se descartam as crianças, essas pequenas usurpadoras de meio metro...*Ah, espera, foi ao do Padrinho dela. Encheu a pança nas entradas e depois foi toda feliz para casa com os Avós, que foram uns queridos e a vieram buscar, já ela tinha decidido que por o patê na tosta era trabalho a mais e vai de colher-patê-boca-repete. Um olho no burro e outro no cigano minha gente, é o que vos digo...
Apesar de me ter divertido muito com este senhor:
hoje deliciei-me a ouvir Guy Verhofstadt, um belga sem papas na língua (podem ver aqui). Eu, que nem costumo aguentar 5 minutos de um discurso politico,desta vez estive quase 8 minutos maravilhada com o discurso desta personagem. Ai a banca, ai os credores, ai os sacaninhas do costume, ai, ai, ai, não pago, chamem a polícia, quero a minha Mãe. Meus amigos, o banco que vos emprestou dinheiro para comprarem a casa e ao qual têm de pagar religiosamente ao final do mês, sob pena de irem ver se debaixo do viaduto corre uma aragem, também não quer saber se estão com uma dívida de 200% nem, tão pouco, emite perdões dos tostões (em comparação com a divida de um país) se não cumprirem com a vossa obrigação, aquela que assumiram no momento do empréstimo. É muito giro falarmos em democracia, opressão, lálálá, temos de ser todos amiguinhos, dividir a riqueza por todos e paz e amor e carneirinhos cor de rosa. Também fica muita bem dizer que a Grécia ajudou a reconstruir a Alemanha no pós II Guerra Mundial e que coitadinhos, agora ninguém os ajuda a eles, umas vítimas do sistema capitalista, o dinheiro não faz falta para nada, basta ar puro e fé no futuro. Mas, tanto quanto eu sei, a Grécia não foi assolado por nenhuma Guerra ou evento catastrófico que não a má governação nas últimas décadas. Foram ajudados duas vezes já. Agora querem a terceira. Mas sem pagar e sem explicar que diabo tencionam fazer... muito na base do "dá cá o guito e depois logo se vê". Claro que, e isto sim, irrita-me, as taxas de juro que são cobradas são de uma má vontade enorme e de exploração, estando muito perto do agiotismo, mas a questão agora é a seguinte: Tsipras vai vender a Grécia a Putin? Tsipras nunca pensou estar no poder e agora está à nora? Pena dos Gregos? Eu tenho é pena de quem todos os dias luta por uma vida melhor, como daquelas alminhas que arriscam tudo e fogem para a Europa e acabam em Lampedusa, na melhor das hipóteses. Desses sim, tenho pena. Dos Gregos? Oh gente, vamos todos crescer e deixar de brincar às casinhas comunitárias, sim?
A ver se eu me consigo explicar sem me começar a rir tipo tolinha (vocês não vêem mas eu cá tenho assim uns ataques de riso incontroláveis volta e meia. Por norma, até são nas piores alturas, em coisas solenes e assim e pronto, a maluca dá-se-lhe para rir e está o caldo entornado). Onde ia mesmo ? Ah, já sei! Então: o que me apoquenta hoje severamente as ideias? Passo a expor:
a) Virou moda(?)* ser runner/correr/fazer exercício físico/ (____) fill the blank com a atividade que quiser, padel, TRX, lálálá. Nada contra. Em absoluto. Até acho que fazem lindamente em mexerem o fofo. Faz, na minha modesta e humilde opinião de sostra-mor, maravilhas à cabeça para além dos benefícios físicos. Admiro quem consegue correr 21km de uma vez mas admito que isso não é para mim, quase me benzo só de pensar. Para além da colecção de lesões na minha caderneta e mais umas quantas outras coisas à parte, acho que me aborrecia de morte, tanto tempo para chegar a um sitio, credo!!! Mas em verdade vos digo que sim, que acho que fazem mesmo muito bem em se mexerem e não serem parte integrante do sofá lá de casa.
Mas é no ponto seguinte que a coisa descamba:
b) Maltinha do ginásio/runners/lálálá-whatever: expliquem-me: como é que são capazes de gastar 200 euros numas sapatilhas, 50 num bom soutien (acho bem que salvem as ta-tas), 50 numas calças xpto para correr ou o diabo a quatro e tudo somado dá um uso diário de quê, duas horas?. É que existe a espécie que o faz mas que depois são in-ca-pa-zes, absolutamente incapazes, de se vestir bem na rua, assim no dia-a-dia normalzinho!!! Uáaaaai????? Porque não investem em roupa para irem trabalhar, para irem a um jantar, a uma festa, qualquer coisa da vida fora do exercício, como investem para ir suar as gordurinhas??? Expliquem-me, p'lo amor da santa, a lógica da coisa!!! É que a modos que eu, mas também sostra me confesso, se tiver de escolher entre uns brutos de uns sapatos para o meu dia-a-dia, uma carteira xpto (ou mala, porra que esta gente moura diz mala e também não sabem o que são repas, estrelinha que os guie masé) ou mais um vestido/calças/camisas/and so on and so forth, não tenho a mínima dúvida. Para ir deitar bofes pela boca e ficar com ar de banho de azeite, prefiro ir ali à Primark e, quando arder, lixo e venha novo. Em bom, invistam nos dois lados se são mesmo aficionados de desporto, mas, se tiverem de escolher um sitio para despejar os vossos euros, amiguinhas: vestir bem e estar bem arranjada é, também, uma forma de boa educação. E já não há cú que aguente para gente que me espeta garfos nos olhos com os seus "autefites de passeio".
* para modas piores, antes esta. Bem melhor que as calças da Resina do meu tempo do liceu ou pelos debaixo dos sovacos.
Tudo em bom. TU-DO. Ele é o título, ele é o carro, ele é a paisagem, ele é a música. Tudo, pronto. Tudo.
( o meu carro de sonho: um Volvo C70. Não peço muito, não quero um carro de milhares, não quero um carro para me olharem. Quero um carro que seja a minha cara. E continuo, ao fim de anos desta crush, a achar que nenhum carro nunca me vai assentar tão bem como um C70.)
Passou um mês desde que escrevi aqui.
Não aconteceu nada que me impedisse de o fazer. Não estive doente. Não tive ninguém doente. A minha Avó está doente mas são 88 anos e para já, está bem dentro dos dias que lhe (es)correm. Adoptei um cão para os meus Pais, o tal que falei e que queria, acabou por ser para mim (nós). Fui buscá-lo a um domingo. Lavei-o, esfreguei-o, desparasitei-o, brinquei, alimentei. Levei-o à rua na minha hora de almoço, debaixo de um calor de terra do inferno. Na 5a feira seguinte, fui com ele no colo para o veterinário. Esteve internado 5 dias entre a vida e a morte (parvovirose) e eu prometi que ia cortar o cabelo e ele se salvava. Dei uma valente tesourada nos meus cabelos longos e tenho-o acima dos ombros agora. Pode ter sido a promessa mais fútil da história, o abdicar da coisa mais idiota de sempre, mas foi o que me ocorreu na altura. O Nicky salvou-se, está bem, óptimo, maravilhoso e vive já com os donos "a sério", os meus Pais. Já foi vacinado, chipado e mimado até mais não. Acho que lhes vai trazer alegria, ao meu Pai e à minha Mãe. Não gosto de me ver com o cabelo assim. Sinto-me "não eu". Não tem mal, voltará a crescer. É "só" cabelo. A minha Mãe está com um ar extremamente cansado e eu, que sou má de demonstração de afectos, apetece-me dar-lhe um abraço. Ainda não dei. Mas vou dar. Voltei temporariamente aonde cresci muito profissionalmente. Cresci mais em 15 dias do que nos últimos 3 anos. Fico muito tempo absorta em mim, nos meandros da minha cabeça. A Francisca foi para a praia. Voltou ao otorrino e ficou sem sequelas, recuperou totalmente a audição após a cirurgia do ano passado. A Francisca vai ser baptizada em breve no sitio com a vista mais bonita de todas da Cidade que é a nossa Casa. E em breve fará 4 anos.
Passou um mês desde que aqui escrevi.
A vida decorreu no seu ritmo... não tive vontade de aqui vir, confesso. Não tive vontade de vir contar as minhas angústias, as minhas alegrias, as lágrimas que chorei, as decisões que tomei ou o que vou fazer da e na vida. Os casamentos a que fui, os sustos que levei, as saudades que sinto e que senti. As amizades que cimentei e às que disse boa noite ao freitas, encolhendo os ombros e seguindo em frente. Fast healer, fast forward. Não aconteceu nenhuma mudança drástica, a terceira guerra mundial ou descobri a cura do cancro. Não me apeteceu vir reclamar com os idiotas que não vacinam as crianças. Chamem-me o que quiserem, atirem pedras, calhaus e pedregulhos... quero nem saber: os Pais da criança que morreu com difteria vão ficar para sempre com a culpa da morte do filho e eu não consigo sentir empatia. Sou um monstro talvez, mas não consigo. Tenho pena da criança inocente, não tenho para com os Pais. Nenhum Pai merece enterrar um filho, mas os Pais devem proteger os filhos de todas as formas possíveis. Morreu porque não foi vacinado. Estupidez humana no seu melhor, modas que não entendo. Vamos todos voltar ao tempo da peste negra, varíola e morrer de constipações. Voltemos também ao tempo em que as Mães morriam no Parto e as crianças de desnutrição porque a Mãe não tinha leite para dar de mamar. Não sei qual é esta nova sociedade que me passa ao lado, mas fico muito contente por me passar ao lado. Vá de retro, xô. Sou uma mulher da ciência, pragmática q.b, mas se for preciso dizer que corto o cabelo e que acredito que isso vai mover qualquer força no universo para salvar um (O) cão, faço-o. Estou farta de gente saudável, de gente que não manda uma caralhada e que está sempre bem disposta. Ou dos que estão sempre mal dispostos, de beicinhos empinados, de olhares de gatos das botas. Um mês depois, cá estou. Hoje, quis voltar a escrever. Não quer dizer que amanhã ou daqui a duas horas o queira de novo.
A tabanca vai continuar. Ao sabor dos meus dias, ao sabor de mim, ao ritmo em que decidir deixar os meus dedos voltarem a teclar.
... mas não, não é o vestido (pensastes que seria aquele hit de música meia "coisa" que agora é lá um tipo de dança xpto qualquer, que envolve assim umas posições mui próximas... Seus tolos,, foi, não foi? Mas não.).
Levantem é mesmo o rabo do sofá durante este fim de semana e vão às compras a um qualquer supermercado. Xô, xô, vão! Comprem um pacote de massa, arroz, feijão, atum... o que entenderem! Também o podem fazer online, se de facto o "sofá calling" for muito forte, ou se, por outro qualquer motivo, não se puderem deslocar a uma superfície comercial, podem alimentar esta ideia aqui (www.alimentestaideia.net) até 7 de Junho. Cada um dá o que quer e sobretudo o que pode. Do pouco se faz muito e o pouco que seja, neste caso, faz todo a diferença. Porquê? Porque a fome existe 24 horas por dia, 7 dias por semana.
* se quiserem fazer a vossa parte a ouvir o "Lévánta, lévánta, lévánta o vestido..." é lá convosco, por mim, tudo na paz!
Perdi a aspiração a ser "Lade". Em boa verdade, nunca a tive, mas achei que me ficava bem dizer que agora, aos 30 e poucos, a perdi de vez, para não ter de admitir que desde sempre tenho alma de trolha e mente de carroceira. Tive um epifania ou coisa que me valha. Eu passo a explicar: por cada pessoa boazinha, fófinha, sou-tão-boa-pessoa-óh-pra-mim-tenho-tempo-para-tudo-ando-sempre-impecável-e-as-minhas-crias-também-não-percebo-como-não-consegues", em vez de aspirar a ser assim, uma "Lade", penso para comigo "Óh pá, 'sa f#da. Quem não gosta, bota na beirinha do prato e siga para bingo!!!" É, claramente, eu não nasci para este mundo cheio de paneileirces e somos-todos-assim- amiguinhos-fófinhos-olha-a-tolerância-e-o-glutén- e mais o baralho. Não há cú que aguente e eu ando cheia de vontade que o meu génio de carroceira venha ao de cima. É que nada, mas nada mesmo, é tão libertador como um "óh pá, vai pá @uta que te pariu! " bem metido.
Estou a tentar adoptar um cão para os meus Pais. Depois de a Lilica ter morrido há 4 anos foi tal o desgosto e dor que nunca mais quiseram nenhum. Nem sequer ouvir falar. Mas, nos últimos meses, fui mandando assim umas coisas para o ar a ver se pegava. A minha Mãe já estava com vontade de ter uma companhia e assim "comá-assim" quem manda lá em casa é ela, comecei a tentar encontrar um que achasse que se encaixava na vida deles. 6a feira, ao passar olhos numas fotos, vi-o. Hoje, estive a ouvir o meu Pai reclamar comigo durante 44 minutos ao telefone. Que não queria o cão. Que não queria um cão*. Que mimimimi e eu e as minhas coisas e mimimimimi que lhe dava sempre a volta e mimimimi tu e a tua Mãe e mais o cão (não percebi esta parte mas também não interessa, deve ser algo na linha do só me lixam o juízo) . Enquanto o meu Pai fazia de conta que estava chateadíssimo e me desbroncava pelo telefone, a minha Mãe ia-me enviando emails com o guião, já todo pensado por ela, dizendo o que devia dizer ao meu Pai. "Agora diz-lhe que já o tens!" "Agora manda-me foto que eu vou mostrar-lhe". Sim, somos uma família bastante funcional, dúvidas houvessem. Ao fim de 44 minutos, fartou-se, foi ver de novo as fotos do bicho e foi corrigir testes, já assumindo que será o novo dono do patudo. Agora só espero que o bixinho ainda esteja para adopção. Não porque lhe queira mal e que não queira que arranje uma casa, mas é que agora eu já lhe arranjei uma e sei que vai ser tratado mesmo mesmo muito bem.
* o meu Pai nunca quer nenhum animal de estimação. Até lhe aparecerem à frente e passarem a ser, também, um dos seus "ai Jesus". Foi assim com todos. Não é defeito, é feitio.
Gente que usa uma gânfia de cada cor. A sério, porquê? Hein? Uáaaai??? Cada vez que vejo uma "féshione bictime" a passar por mim nesses preparos, penso que foram a uma daquelas lojas tipo Sephora (ou uma prima qualquer) arranjar as mãos a si mesma, i.e, foram lá pintar as unhas e tiveram vergonha de admitir ao que iam. Assim no toca a dar no kit "ahahah vou experimentar este, e este e já agora mais 8, que sou pessoa que tem 10 dedos, com 10 unhas, porque não? ahaha e é féshione, ultra in style, óh pra mim!" . Isto tudo enquanto sorriem para uma daquelas meninas hiper prestáveis e mega simpáticas que, quando não queremos nada da loja (ou até queremos mas sobra mês e falta dinheiro, vidas e tal) e de facto fomos ali só mesmo borrifar o perfume que nos esquecemos de por de manhã, se colam a nós. O mais giro é que quando precisamos mesmo de alguma coisa ou temos tempo na carteira , temos de andar atrás delas na loja a implorar que nos ajude a escolher a base de cor certa para não ficarmos com ar de traveca. Bem, voltando ao cerne da questão e depois do meu devaneio de cenários: gente que usa uma gânfia de cada cor. A sério, porquê? Hein? Uáaaai???(Não me vou debruçar sobre a questão de brilhantes, "ailous kêitês" e afins nas unhadas enormes e bicudas. São outros quinhentos)
Li isto um dia destes algures neste admirável mundo novo digital: "Não quero que a minha Filha passe o dia sentada a mando de quem quer que seja". Que bonitinho. Se há coisa que me admira hoje em dia é o elogio do "ser criança". Fico fascinada, que sim! Criança que se preze tem é de ser selvagenzinha, correr rua/campo/restaurante/whatever fora, tipo cabra do monte. Tem de fazer o que gosta, só o que gosta e não levar com merdas chatas, vulgo, regras. Se quiser comer com as mãos "está a explorar o tacto", se quiser rasgar os cortinados "está a explorar o tacto", se quiser riscar as paredes ou cortar o pelo da cadela à tesourada "está a explorar a sua veia artística". Se quiser gritar em pleno supermercado, está a testar os seus decibéis de audição e as várias frequências do som e a expressar a sua frustração porque porra, disse que não a um balão da Princesa Sofia. Óbvio, estou a ser castradora, porque lhe arregalo os olhos e lhe ralho baixinho ao ouvido, é a receita mágica para lhe destruir a infância e mais, estou a humilha-la em público!!! Bardamerda, sim? Querem cá ver que eu sou a Nazi da Infância? E, se eu me passar porque não estou para repetir a mesma coisa trezentas vezes, eu, assim EU é que não estou a entender que eu, assim EU, é que estou mal e não piquena sostra, que escolhe ignorar e ver se passa sem arrumar a cangalhada que faz do corredor uma corrida de obstáculos. Sabeis que mais? Eu acho que sim, óptimo, excelente, o que quiserem. Depois o Mundo tratará de a seu tempo encaixar o rabo da criancinha de hoje numa cadeira de adulto num Mundo pouco elástico. A minha Filha pede para sair da mesa e já por várias vezes ouvi o "ai que querida, deixa-a ir, é criança!". Temos pena, é criança e lálálá, pobre petiz, que deve ser uma seca estar sentada num restaurante e não andar a rebolar no chão, a explorar ou a fazer qualquer coisa altamente didática (???) mas são as regras: não sai da mesa até todos terminarem. A Francisca não passa o dia sentada a mando de quem a educa, mas quero que se sente, em casa e fora dela, assim que tal lhe seja solicitado. Não quero criar um autómato, um ser obediente sem capacidade de pensar por si. Nada disso. Mas não quero criar a Francisca com a ideia de que o Mundo se vai moldar a ela. Isso não vai acontecer, habemus pena. É a lei da vida e muita sorte temos nós de estar no topo da cadeia alimentar. E viver na Europa, já agora.
* E sim, eu também não quero que a minha Filha passe o dia sentado a mando. Quero que brinque, que corra, que salte e pule, se suje, se esfole mas que, quando lhe seja pedido para se sentar, se sente, sem ser preciso "mandar". Quero que saiba distinguir que há regras e que há tempo para tudo. Tudo porque acredito que o sentar-se, ouvir e aprender não fará dela menos criança.
A minha Avó teve alta. Se, por um lado sei que em parte esta mesma alta passa pela "pressa" de hoje em dia vagar camas, gastar menos e 'simbora depressinha que há mais na fila, acredito também que se a deixaram voltar para casa é porque reunia o mínimo de condições para tal. Tem dores e está fraca mas porra, são 88 anos. Oi-ten-ta e oi-to. Admira-me a sua teimosia de viver. A sua garra. Orgulha-me profundamente ser sua neta. Por muito que o carrossel da vida não lhe tenha sido sempre cor de rosa, que não, nem pouco mais ou menos, a sua vontade de que ele continue sempre a girar, dá-me força quando tudo me parece de mais. E, sem ela o saber, o seu girar de carrossel que não pára nesta coisa que é a vida, também mantém o meu em movimento.
Não abandonei a tabanca, caso tivessem dado pelo silêncio por estas bandas. Gosto muito deste estaminé para isso e tem sido uma constante neste meus últimos anos, o meu poço dos desabafos, de lembranças e que me permitiu também conhecer gente boa. Simplesmente, apeteceu-me estar calada, não me expor. Quanto mais ansiosa, preocupada ou chateada, mais o silêncio que sai das minhas mãos e dos meus lábios. A vida decorre deste lado, com dias bons, dias maus e essas coisas todas.
A minha Avó esteve às portas da morte, foi operada e agora está a recuperar. Tudo aos 88 anos, quando ninguém acreditava que tal fosse possível. Nem eu, confesso, que quando soube que iam avançar para a cirurgia, porque não havia mais nenhuma opção viável, desatei a chorar no meio de um hipermercado, algures entre a ração da Mofli e a areia da Chica. E eu não choro em público, digo-o muitas vezes do alto da minha armadura sorridente de olhos rasos de lágrimas, mas ali os soluços subiram-me à garganta e as lágrimas caíram grossas, duas a duas, deixando um rasto na base com que tapei as olheiras da noite mal dormida. Acho que ninguém reparou. Espero que não.
Ainda por aqui ando.
Depois bem, comecei a ficar um bocadinho a dar ao muito saturada de gente que quer salvar o mundo. Ou gente que descobriu a luz ao fundo do túnel em forma de stevia ou merdas afins, que o glúten é o mal de todo o mundo e o açúcar um veneno tipo cianeto. Não sei como a minha Avó com 88 anos sobreviveu até agora, rija, sem saber o que era stevia e a comer o que a terra dá e que louca, comia batatas e arroz!!! Isso e sem batidos de proteína. Go figure. Irrita-me as entranhas, sou pessoa dada a nervos. Eu sei que deveria ser melhor pessoa e mimimimi ajudar toda a gente e o próximo e o next in line e lálálá mas a vida, se calhar, tornou-me cínica e eu aprendi que não se consegue ajudar toda a gente. Especialmente, quem não quer ser ajudado. Suicidou-se uma conhecida esta semana, encheu a barriga de álcool e comprimidos e adormeceu para não mais acordar. Não era minha amiga, conhecia só de vista mas fez-me muita confusão. Ainda cá ando, repeti para mim e agradeci em silêncio por nestes meus genes manhosos, de rins que não valem ponta e infecções recorrentes, ter também a resiliência das mulheres da minha família, especialmente das minhas Avós. Quem era próximo tentou ajudar, cada um fez o que conseguiu e foi até onde o instinto de auto-preservação permitiu. A depressão é destruidora de quem se atravessa no seu caminho e por isso mesmo, chega a uma altura, em que o afastamento é a maneira de sobreviver e não ser sugado nessa espiral de tomento. É instinto de sobrevivência, puro e simples. Mas, no fim, ela não queria ser ajudada, só queria encontrar a paz da sua dor e achou que a morte era o melhor caminho. Foi uma escolha, há que respeitar. Espero que agora tenha conseguido a paz que há anos tentava alcançar.
Vejo as notícias e apercebo-me, em horror e de ombros encolhidos, que não se pode salvar toda a gente, não se pode ajudar toda a gente. Se quem devia proteger são os primeiros a maltratar. Soa muito mal dizer isto mas é a minha verdade: não tenho ambições de salvar o mundo. Não sou egoísta, sou realista. Se cada um tentar salvar-se a si mesmo e ajudar a que a vida seja melhor por onde passa, já não é mau. Vejo as noticias e leio o jornal (não, não leio o Correio da Manhã porque até para os mínimos há mínimos, já vejo o TLC de quando em vez, quando preciso emburrecer por um par de horas) e constato que cada vez gosto menos de pessoas. Olho para a Francisca em silêncio e penso que talvez ela venha a ser diferente nesse aspecto: Francisca gosta de pessoas, gosta muito de pessoas. Diz-se que é o espelho de quem fui em pequena: alegre, viva, "rapioqueira". Depois passou-me o TIR da vida por cima e virei meio bicho do mato. Espero que venha a ser diferente com a minha Cria.
Mas pronto, ainda por aqui ando. Still alive.
E já agora: Bom dia gente!