01 maio 2015

Still alive (Música nos meus ouvidos)

Não abandonei a tabanca, caso tivessem dado pelo silêncio por estas bandas. Gosto muito deste estaminé para isso e tem sido uma constante neste meus últimos anos, o meu poço dos desabafos, de lembranças e que me permitiu também conhecer gente boa. Simplesmente, apeteceu-me estar calada, não me expor. Quanto mais ansiosa, preocupada ou chateada, mais o silêncio que sai das minhas mãos e dos meus lábios. A vida decorre deste lado, com dias bons, dias maus e essas coisas todas.
A minha Avó esteve às portas da morte, foi operada e agora está a recuperar. Tudo aos 88 anos, quando ninguém acreditava que tal fosse possível. Nem eu, confesso, que quando soube que iam avançar para a cirurgia, porque não havia mais nenhuma opção viável, desatei a chorar no meio de um hipermercado, algures entre a ração da Mofli e a areia da Chica. E eu não choro em público, digo-o muitas vezes do alto da minha armadura sorridente de olhos rasos de lágrimas, mas ali os soluços subiram-me à garganta e as lágrimas caíram grossas, duas a duas, deixando um rasto na base com que tapei as olheiras da noite mal dormida. Acho que ninguém reparou. Espero que não. 
Ainda por aqui ando. 
Depois bem, comecei a ficar um bocadinho a dar ao muito saturada de gente que quer salvar o mundo. Ou gente que descobriu a luz ao fundo do túnel em forma de stevia  ou merdas afins, que o glúten é o mal de todo o mundo e o açúcar um veneno tipo cianeto. Não sei como a minha Avó com 88 anos sobreviveu até agora, rija, sem saber o que era stevia e a comer o que a terra dá e que louca, comia batatas e arroz!!!  Isso e sem batidos de proteína. Go figure. Irrita-me as entranhas, sou pessoa dada a nervos. Eu sei que deveria ser melhor pessoa e mimimimi ajudar toda a gente e o próximo e o next in line e lálálá mas a vida, se calhar, tornou-me cínica e eu aprendi que não se consegue ajudar toda a gente. Especialmente, quem não quer ser ajudado. Suicidou-se uma conhecida esta semana, encheu a barriga de álcool e comprimidos e adormeceu para não mais acordar. Não era minha amiga, conhecia só de vista mas fez-me muita confusão. Ainda cá ando, repeti para mim e agradeci em silêncio por nestes meus genes manhosos, de rins que não valem ponta e infecções recorrentes, ter também a resiliência das mulheres da minha família, especialmente das minhas Avós. Quem era próximo tentou ajudar, cada um fez o que conseguiu e foi até onde o instinto de auto-preservação permitiu. A depressão é destruidora de quem se atravessa no seu caminho e por isso mesmo, chega a uma altura, em que o afastamento é a maneira de sobreviver e não ser sugado nessa espiral de tomento. É instinto de sobrevivência, puro e simples. Mas, no fim, ela não queria ser ajudada, só queria encontrar a paz da sua dor e achou que a morte era o melhor caminho. Foi uma escolha, há que respeitar. Espero que agora tenha conseguido a paz que há anos tentava alcançar. 
Vejo as notícias e apercebo-me, em horror e de ombros encolhidos, que não se pode salvar toda a gente, não se pode ajudar toda a gente. Se quem devia proteger são os primeiros a maltratar. Soa muito mal dizer isto mas é a minha verdade: não tenho ambições de salvar o mundo. Não sou egoísta, sou realista. Se cada um tentar salvar-se a si mesmo e ajudar a que a vida seja melhor por onde passa, já não é mau. Vejo as noticias e leio o jornal (não, não leio o Correio da Manhã porque até para os mínimos há mínimos, já vejo o TLC de quando em vez, quando preciso emburrecer por um par de horas) e constato que cada vez gosto menos de pessoas. Olho para a Francisca em silêncio e penso que talvez ela venha a ser diferente nesse aspecto: Francisca gosta de pessoas, gosta muito de pessoas. Diz-se que é o espelho de quem fui em pequena: alegre, viva, "rapioqueira". Depois passou-me o TIR da vida por cima e virei meio bicho do mato. Espero que venha a ser diferente com a minha Cria. 
Mas pronto, ainda por aqui ando. Still alive.   
E já agora: Bom dia gente! 

4 comentários:

  1. 2015 não esta a ser um ano fácil. Mas vai mudar! Tem de mudar! Ou nao! Mas nós, Gajas, vamos prosseguir*

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  2. <3 <3 <3
    Não sabia que a tua avó está a passar por tudo isto!
    Espero que as coisas estejam a correr bem.
    Não te esquecas que ca estou para o que precisares.
    Gosto muito de te ter "por aqui e por todo o lado". Tenho sempre saudades de te ler.
    Gosto muito de ti.
    Um grande beijinho*

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  3. Só agora li este post! Um beijinho enorme

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