A depressão pós-parto é um assunto quase tabu. Ou, pelo menos, a mim parece-me tal.
Eu, Mamã da Francisca, assumo que esse bicho horrível chamado depressão mora cá por casa. Não tenho orgulho. Nenhum. Mas também não tenho vergonha nem me sinto culpada, má Mãe ou algo dentro dessa linha. Simplesmente, a minha química cerebral não funciona como deveria.
Se me perguntarem o porquê de ter dias em que me sinto uma inútil, choro copiosamente horas a fio e sinto que não faço nada certo...a resposta será que não sei. Nem sempre tem de haver um porquê.
A depressão é uma velha conhecida, desde os tempos da anorexia nervosa na adolescência. Mas que foi indo e vindo, entrando e saindo da minha vida. Com alturas boas, com alturas muito más. Durante a gravidez da Francisca, uma bebé muito desejada, estive sempre meds free. Mesmo quando fiquei na cama semanas a fio, cheia de dores e sem mobilidade. Mesmo nessa altura, sentia-me bem. Mas com o nascimento da minha Texuguinha, o meu tesouro mais precioso, uma série de hormonas que me davam essa sensação de bem estar deixaram de existir. Talvez o episódio desastroso chamado amamentação possa ter sido o trigger para o desmonoramento. Ao certo, não sei, ninguém sabe. Até podia ter corrido tudo bem com a amamentação e mesmo assim o meu cérebro não perceber nada de química na mesma e esquecer-se que serotonina faz muita falta à malta.
No inicio, quando das primeiras crises de choro e ansiedade, achei que eram os famosos (e esses sim, muito falados) baby blues. Mais uns dias e passava e tudo entrava nos eixos. Mas não passou. Começou a tomar proporções fora do normal para ser tal. Tenho de admitir que não fui eu que achei que estava na hora de pedir ajuda. Foi quem me rodeava e me via cada vez pior, dia após dia, o meu Marido e a minha Mãe. Fui, muito renitente, muito contrariada, ao médico. Não queria admitir que isto, mais isto, me estava a acontecer, a mim. Não podia ser. Agora era Mãe, tinha uma pequenina dependente de mim. Uma filha para cuidar e criar, não tinha o direito de ficar doente. De ter uma depressão pós-parto.
Arrastarem-me para o médico foi o melhor que me podiam ter feito. Fui medicada e hoje em dia sinto-me quase eu de novo. Já não choro tanto. Já me rio quase como antigamente. Cuido da minha Francisquinha com imensa alegria e prazer, sempre com um sorriso nos lábios e palermices para lhe dizer! Faço a minha vida quase normal (com excepção da pubalgia, que ainda é work in progress to fix, ter ossos aos pinotes tem muito que se lhe diga).
Decidi escrever este post não para exorcizar os meus demónios. Sou bem resolvida no que toca a saber lidar com as minhas fragilidades emocionais... Desde os tempos da magreza extrema até hoje já se passaram vários anos que me deram a capacidade de aceitar e falar sobre este género de assuntos. Decidi escrever sobre este "assunto tabu" porque talvez haja alguém na mesma situação (e que, sabe Deus porquê, com tanto blog giro e porreiro) leia este post. E sinta que não está sozinha, que não é um bicho raro ou algo semelhante. Que há imensa gente na mesma situação. Que não há que ter vergonha. E que pedir ajuda não é sinal de fraqueza mas sim de força.
A depressão dói. Muito. E é uma dor que não se explica. Que não se cura com um ben-u-ron. Que não é palpável e à qual uma grande parte da sociedade ainda reage com o escudo do preconceito. Em especial no que toca à depressão pós-parto. Porque fomos Mães e é o momento mais feliz da vida de uma mulher. Mas a depressão pós-parto existe, é um facto. E se mentes fechadas não o aceitam como doença, temos pena. Atirem-se aos cães...
Ser boa Mãe passa, entre muitas outras coisas, por estarmos no nosso melhor. Porque só assim é possível dar o melhor de nós aos nossos Filhos. E eu quero isso. A minha filha merece o melhor de mim. Mesmo que para tal tenha de pedir ajuda e recorrer a maravilhas da indústria farmacêutica. Elas existem para alguma coisa... certo?
2 comentários:
Certo.. e Tens sido fantástica! Sabes que podes sempre contar comigo..
És uma Rockstar Mommy..
Minha querida...
gostei tanto de ler o teu post...
felizmente nao me revejo nele... nem agora nem em momento algum da minha vida (até ao momento)
Tinha muito medo que depois do parto entrasse em depressão, pois foram uns bebés tao desejados que sentia que depois de os ter poderia achar que estava de "missao cumprida" e desintereaar-me do resto...
Graças a Deus estava enganada...profundamente enganada...
mas tenho um grande respeito e admiração por quem passa pela situação, pois se a adaptação ao bebé já não é coisa facil, com probelmas acrescidos piora significativamente...
Que bom que para ti não é assunto tabu e que vieste partilhar a tua experiencia.....
Rápidas melhoras...
Beijinhos e abracinhos muito, muito apertados...
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