Recebi umas cuecas fio dental azuis da minha sogra para me dar sorte (WTF???). Consegui, no último dia do ano, partir um dos "copos da quermesse"!
Nailed it!
Recebi umas cuecas fio dental azuis da minha sogra para me dar sorte (WTF???). Consegui, no último dia do ano, partir um dos "copos da quermesse"!
Nailed it!
Que seja de começos, de recomeços, de finais, de princípios, de sorrisos, de lágrimas, mas sobretudo, que seja de vida.
"Então, que seja doce"!
Foi um Feliz Ano Velho. Que seja um Feliz Ano Novo.
"Enquanto somos crianças, vamos aprendendo as regras básicas da vida em sociedade. A escola, os pais, a família alargada, as pessoas que nos rodeiam, vão transmitindo (espera-se!) aquilo que são os princípios de convivência social. Uma espécie de dez mandamentos em versão cívica. Não matarás, não roubarás, não comerás com os cotovelos em cima da mesa. E como diria o outro, e muito bem, it takes a village.
À medida que vamos crescendo, é necessário aprender a dominar outras linguagens para não sermos triturados por uma comunicação mal sucedida. Encontrarmos a melhor forma de lidar com o Toninho do 9ºC, que decidiu ir-nos à tromba (agora chama-se bullying, tenho de me actualizar), saber como cantar a canção do bandido à Sara Marisa das mamas grandes, dizer as palavras certas ao nosso chefe para nos mantermos à tona lá no trabalho. Isto implica conhecer os códigos de conduta, dominar a linguagem não verbal e saber como, aqui e ali, desferir um soco rápido rezando para que seja suficiente (mais no caso do Toninho, se ele não vier com os amigos).Para quê esta reflexão aturada e profunda? Bem, porque quando temos putos, passamos a jogar um campeonato ainda mais complexo e impiedoso: a etiqueta parental. Passo a explicar. Se o puto está a brincar no parquinho enquanto um gajo lê o jornal no banco mais próximo, e no mesmo parquinho também está o pequeno Sancho com a mãezinha, temos uma situação sensível de etiqueta parental a cumprir, ou a desrespeitar. Começamos logo por aí. Um tipo não pode estar placidamente a ler o jornal enquanto o puto brinca, ainda que, claro está, com um olho no burro e outro no cigano. Naaão. Temos que estar à beira do petiz, perscrutando cada movimento à procura do mínimo sinal de alarme. Fica aqui ao pé da mãe, amor. Olha o buraco. Não subas que é alto. Não desças que é baixo. Anda beber água. Anda comer o pãozinho. Não vás para aí. Olha que cais. E ao fim de um bocado, esse olhar perscrutador já anda em busca do progenitor desnaturado que não está, como ela, de olhos fixos no puto.E se, nesta fúria protectora, o puto cai e começa a chorar, e um gajo ainda demora uns segundos a dobrar o jornal? Ui. Um gajo parece um pária, um excluído do mundo dos progenitores. Como pode o petiz estar mais de 1,5 segundos desamparado? (para não falar das multas da brigada do ai-jesus por o puto andar de triciclo sem capacete e joelheiras e luvas e o camandro).Mas não ficamos por aqui. Obviamente que o pequeno Gui não pode estar simplesmente a brincar; tem de beber água, comer um lanchinho, uma lambarice. E o nosso puto também vai querer, claro. E depois lá tem um gajo que interromper novamente a leitura para dizer que não, obrigado, o puto já comeu e não quer um danoninho ou um bocado de bollicao ou beber da água do pequeno Caetano. Ou então interromper a mãezinha que, sem perguntar nada, tomou ela própria a iniciativa de dar suminho ao menino, coitadinho que também quer. Acho que vou por uma placa ao pescoço do rapaz: É FAVOR NÃO ALIMENTAR O PUTO.E depois a pièce de résistance. Qual é a coisa mais provável de acontecer entre putos de 3 ou 4 anos quando estão a brincar? Isso mesmo, andar ao sopapo. Mas atenção às subtilezas. Se se engalfinham, é obrigatório intervir, mesmo que não chorem, mesmo que pareçam estar a resolver a coisa entre eles. Um dos motivos mais frequentes? O Matias é incapaz de sair de casa sem um monte de carrinhos e bonecos e o raio que depois servem de pomo da discórdia. Irra. Vão para a rua, levem os sapatos. Ponto. Uma versão dos sopapos é o pequeno Vicente ser um estuporzinho litigante que distribui porrada por dá cá aquela palha, e que tem uma correspondente mãezinha que não vai além do então, amor, não se faz… pede desculpa ao menino… e que só acalma com um evil eye que diz fazes isso outra vez e levas no focinho. Muito útil, essa técnica, recomendo. Mas sempre numa altura em que a mãezinha não esteja a olhar, não queremos cá incidentes diplomáticos. Deus nos livre. "
pelo Pai Anónimo, no Eu, Mãe, aqui
(estava a ler isto, que supostamente é a versão masculina e caiu-me a ficha que sim, de facto, devo ter um défice qualquer, hormonal ou assim, será grave? É que me revi neste texto não no lado da Mãe fofinha mas no do Pai Anónimo, óh-meu-deus-não-sou-fófinha!!!! Já agora, confirmo que o olhar de "volta a fazer isso levas e no focinho faz ma-ra-vi-lhas!)
Fui ver o que era a "Maria Capaz". Ou quem era. Diz que "Maria Capaz é uma plataforma de ideias, um espaço de afirmação da mulher portuguesa e de discussão da condição feminina a nível global, analisando a actualidade informativa e dando palco a todas as mulheres, conhecidas e anónimas que tenham trabalhos válidos e que pretendam dar-lhes visibilidade."
Tinha tudo para correr bem, até ler ali a palavra "condição". Condição feminina?!?! Estamos no século XXI, vivemos num País onde felizmente as Mulheres são tratadas em pé de igualdade (ou pelo menos, assim reza a lei). Posso conduzir, posso dar a minha opinião, posso votar, posso estudar, posso ter filhos, posso não ter filhos, posso casar-me, divorciar-me, viver junta, viver sozinha, usar calças, usar soutien, queimá-lo se me der na telha, posso, basicamente, fazer o que me apetecer dentro dos limites da vida em sociedade e da lei. Somos um dos países onde a taxa de literacia feminina é muito superior à masculina. Se a vida é mais injusta para as Mulheres? Sem dúvida! Se a vida é bem mais fácil no lado XY? Acredito que sim. Se, infelizmente, há muitos sítios do planeta onde as Mulheres são tratadas como seres inferiores ou com um futuro muito definido, castrador ou limitado? Sim, infelizmente há. Mas não na realidade Portuguesa que eu conheço e aqui faço a ressalva da realidade em que eu felizmente vivo (assim como aquelas duas peças que fizeram a plataforma online, não me lixem). Claro que o Chefe fica de trombas porque a canalha está doente e até costumam chamar a Mãe primeiro (felizmente não me acontece que a minha Chefe até é muito compreensiva), claro que se uma Mulher tem sucesso vem logo a piadinha que ali chegou a troco de favores de uma certa ordem e não por mérito. Mas nós Mulheres, não fazemos também esse género de piadas, juízos de valores? Sim, fazemos e até somos, se quisermos, muito piores. Cabe a cada uma defender-se, lutar pelo que quer e vingar. E isto é válido para XX e XY. Esta coisa toda só me faz lembrar as paradas gays, que eu acho ridículas... Eu não tenho nada a ver com a sexualidade de cada um, nem tão pouco me interessa se gostam de homens, se de mulheres, se de ambos. Não me diz respeito, é do foro privado e pessoal de cada um, manifestar isso porquê? Sim, todas somos Capaz. Mas serão os ensaios literários ou fotográficos a fazer-nos mais Mulheres, mais capazes? Talvez não, talvez isso se faça no dia-a-dia, no que cada uma escolhe fazer da vida e com ela, sendo que tão Capaz é uma Mulher que decide ser Mãe, cuidar dos Filhos e educá-los em casa, como aquela que decide não o ser e é CEO de uma qualquer empresa. Já passamos a fase de queimar soutiens... Porque, enquanto nós Mulheres acharmos que há qualquer coisa para afirmar, para manifestar, é porque ainda nós próprias nos achamos inferiores, nos consideramos menos capazes. Somos diferentes, mas isso, somos todos uns dos outros... homens ou mulheres. Eu não tenho uma "condição feminina", eu sou Mulher.
Fui ver os saldos (online gente, online, que a vida no campo não se compadece com idas a shoppings, que cá não há disso, esses luxos consumistas do demos (uáiiii, uáaaaai????) …). Vi uma série de coisas, todas giras e algumas, seu doido Tio Ortega que está um mãos largas, 10 euros mais baratas, outras 7, outras 2, 2 euros a menos!!! Tanta pechincha, os meusjólhos quase se vidraram de moção com tal bondade. Maneiras que sim, vi muita coisa e no final do meu passeio virtual, fechei a página e disse:
"oh... não preciso de nada….".
Está bem então, devo estar meia falecida ou assim e ninguém teve a bondade de me avisar.
Todos (quase, vá) têm grandes resoluções para o ano que vem: ser mais saudável, correr uma meia maratona, viajar, poupar mais, ser feliz e beber caipirinhas (ou gin, que está na moda) ao luar com uma fogueira na praia e mimimimi. À minha volta, parece que toda a gente está resolvida da vida, resolução para cima e para baixo. Ouvir mais que falar. Ouvir mais do que falar. Ouvir mais. Falar menos. Talvez seja a minha resolução de Ano Novo. Aprender a ouvir mais e a falar menos. Não que fale muito, não que não saiba ouvir. Mas este ano ensinou-me que, muitas vezes, melhor que falar é ouvir. Por razões muito diferentes mas tão transversais que vão desde o estar lá e ouvir é o melhor que se pode fazer até ao célebre ditado que versa que "pela boca morre o peixe". Falar menos e ouvir mais.
E, sobretudo, quero poder continuar a encher o pote das moedas para levar a Francisca à EuroDisney. O pote que comecei a encher quando deixei de fumar (vá, mais ou menos, ainda fumo um outro cigarro que isto aqui não se vendem milagres, sim?).
Simples.
[há um filme composto de fotos numa rede social que se auto-intitula como capaz de mostrar como e o que o meu ano foi. não, o meu ano não está ali. o meu ano ficou-me gravado em sítios distintos. não foi, nem nunca será, propriedade de quem no caminho se cruza e indaga. não, o meu ano gravou-se em sorrisos e lágrimas, entre tantas outras coisas boas e umas quantas más. guardei-o em sitios que não se traduzem em 0 e 1 e não à disposição para o público ver, aplaudir ou achincalhar. um dia, quando a memória dos dias me falhar, sei onde armazenei a cor dos dias que não quis esquecer. talvez esteja mesmo a ficar velha, mas cada vez mais, guardar é um verbo que me faz sentido]*
Ato ou efeito de vigiar ou cuidar das coisas.
*(dias/ano)
Hoje é o dia mais curto do ano. Hoje é a noite mais longa do ano. Acredita-se em muitas culturas que o solstício de Inverno é o renascer, o triunfo da luz sobre a negra noite, uma vez que doravante os dias ganharão mais tempo, e a luz vencerá a escuridão.
O meu Pai nasceu há 59 anos, no dia mais curto do ano. O meu Pai traz com ele esse lado taciturno de certa forma: não é homem de beijinhos, abraços, manifestações de carinho. Guarda-as, hoje em dia, todas para a Neta, a Menina dos seus olhos, o seu "Menino Jesus da Cartolinha". O meu Pai não se ri nem sorri muito, mas quando o faz, faz com vontade e alegria genuína. Traz nele, também, essa capacidade da luz se sobrepor sempre à escuridão, embora ache que ele não o sabe. Por onde e com quem se cruza, ninguém lhe fica indiferente: é um Homem acarinhado, respeitado e que faz, à sua maneira, a diferença na vida de muita gente. Traz nele aquela calma de quem sabe que não há noite sem fim, não há noite sem dia e que o Inverno nunca será o fim, nem tão pouco o princípio do fim.
O meu Pai faz hoje 59 anos.
Parabéns, Pai!
Feliz Solstício de Inverno!!!
(já a devo ter posto umas quantas vezes aqui. não me importo. gosto tanto desta música, tanto. por coisas minhas, tão minhas. gosto, para lá de muito.)
[Não costumo pensar muito nisso mas, de vez em quando, passa-me pela cabeça que sim, um dia vou ficar sozinha. Não tenho irmãos, filha única que tanto e sempre gostei de ser, um dia, não terei ninguém do meu sangue. Ficarei sozinha. Depois lembro-me que tenho primos. Muitos, loucos, muito loucos mas meus. E tudo volta ao seu lugar. Francisca irá crescer como filha única, não faz de todo parte dos planos voltar a ser Mãe. Francisca perceberá um dia como é bom ter primos. E Amigos. Francisca está muito feliz de férias, sem rotina e pouca regra, a ser a Neta mimada, a Prima pequenina, o Ai-Jesus de muitos. Francisca vai um dia perceber que nunca, nunca ficará sozinha]
Anda uma Mãe a parir para ser despachada ao telefone com um "Mánhe estou muito ocupada a brincar com a C.!". E piu, foi-se aos berros e gargalhadas que isto há todo uma agenda para cumprir. Está bem então.
Estou farta de gente do bem. Gente fófinha, shinny happy people, gente que usa kits, gente que veste kits, gente que tem sempre coisas inspiradoras para dizer, gente que é life coach (wtf é isso afinal?ensinam a respirar? a comer? a meter-se na sua vidinha e a deixar a dos outros em paz?), gente com grandes lemas de vida, gente que faz bolachinhas, bolinhos, compotinhas e mais coisas acabadas em -inhas para oferecer com amor e paz e com naperons dos bolos colados nas embalagens vintage, gente que nunca diz uma caralhada ou que quando diz um palavrão é aquele célebre "vai à merda", com um sorrisinho envergonhado e "ai que estou a ser louca/o". Arre pá, olha "vai tu"ou ide todos. Eu sofro dos nervos e a gente do bem deixa-me os meus frágeis nervos em fanicos. E serem mais normais, não? Ou só têm dias do bem? Se calhar só têm dias do bem e eu não estou a ver bem a coisa… Vai-se a ver e sou uma ressabiada, se calhar é isso. Acordo de mau humor, praguejo em excesso, tenho humores bipolares, gosto de beber, gosto de comer, estou-me nas tintas para kits, os meus lemas de vida não dão para fazer frases bonitas, não tiro fotos inspiradoras a flocos de neve e escrevo por cima o meu lema de vida em letra desenhada, fujo da cozinha como o diabo da cruz. Vai-se a ver, sou ressabiada com a shinny happy people da gente do bem. Sim, sou uma ressabiada segundo muitos padrões. E eu com isso.
Finalmente, já posso estar descansada se me falecer numa valeta um destes dias: Francisca já está iluminada sobre o que é o Natal e o verdadeiro significado da coisa. Pois que então a minha sogra decidiu que estava na hora de tomar a coisa nas suas mãos, que isto já se sabe que eu sou uma Mãe que valham-me os santinhos como-é-possível-eu-não-gostar-do- Natal-sou-um-bicho e zás-aqui-vai-disto, despeja em 10 segundos à miúda que afinal o Natal não é nada do Pai Natal, que é mas é o nascimento do Menino Jesus, que foi um Menino que veio à Terra para nos salvar. Tumba, vai buscar. Francisca arregalou muito os olhos em pura confusão e disse:
"É o quêeeee? O que é um nascimento? Quem? Porque vai salvar-me óh Mánhe? Quêeeee? Óh mas eu não quero nada disso, eu só queria uma Doutora Móvel!".
A minha Filha, claramente, sabe estabelecer muito bem as suas prioridades.
O filme da minha vida está de parabéns, 75 anos que estreou, corria o ano de 1939."After all, tomorrow is another day..."
(Francisca texuga, tivesse nascido noutras paragens, teria-se chamado Scarlet... Piroso mimimimi lálálá e agora eu dizia "Miss Scarlet vá lavar os dentes" e a coisa tinha muito mais nível do que o meu esganiçado "Fraaaaaannnncíííscaaaaa, lavar os dentes, raça da catraia, Fráaaaaancisca", eu não digo Fráncisca ou acho que não digo, mas a coisa era que podia ter sido Scarlet e se fosse piroso e mimimimi era o "e eu com isso". )
(pode ser também um banco, banqueta, paneleirices modernas ou vintage ou até mesmo uma bicicleta estática, que o conceito é exactamente o mesmo)Todos a temos, certo? (digam-me que sim)
Eu sabia que havia uma coisa boa a tirar das minhas maleitas, eu sabia!!! É que, pelo menos, de cada vez que bati com os costados nos hospitais, não era Natal dos Hospitais nem tinha de ver isto…
acho que era capaz de me provocar uma embolia com o cateter ou enroscar o kit do soro ao pescoço para não sofrer mais… Já não basta uma pessoa estar doente, dass…
Claramente, ensinou-me que não sirvo para fazer listas de coisas que aprendi num ano que está quase a terminar. Tentei escrever uma coisa em cada dia do último mês do ano que 2014 me tivesse ensinado.
[Aprendi muitas coisas, umas boas, umas más, umas muito boas e outras que quero e vou esquecer. Aprendi coisas que não interessam ao Menino Jesus, como o genérico da Dra. Brinquedos, aprendi tudo o que consegui sobre adenóides e rins. Aprendi muito, quero sempre continuar a aprender. Aprendi a chorar mais, aprendi a sorrir mais, aprendi a guardar-me mais, a proteger-me mais. Aprendi que gosto muito, ainda mais, do meu anonimato e de estar no meu canto. Aprendi que nunca serei royal mas serei sempre royalty. Aprendi que já me pesa nos ossos ir a Casa mas que cada vez mais preciso de lá ir. Penso muitas vezes nos meus Pais, naquela casa grande, só os dois. Penso que tenho saudades deles mas aprendi a não deixar transparecer isso. Também aprendi que me deixam louca ao fim de 3 dias, mas que está bem. Isto tudo para dizer que aprendi muita coisa, coisas giras, coisas feias, coisas que me fizeram chorar, coisas que me fizeram rir até às lágrimas. Coisas que vou guardar porque são coisas minhas, algumas tão íntimas, de sítios tão só meus e de mais ninguém, que as vou guardar no lugar mais bonito que possuo.]
Além disso, o ano ainda não acabou. E eu sou terrível a fazer listas. Nem de compras, quanto mais listas inspiradoras e pópis-coise. Ideia de jerico.
Diz-se que quem tem uma Mãe tem tudo. Não sei. Francisca tem-me a mim. Eu tinha a minha Mãe. Francisca tem-me a mim, aqui, a tentar perceber se as melhoras se avizinham. A minha Mãe está longe, do outro lado da linha, a reclamar comigo ao telefone. A minha Mãe reclama muito comigo. Zanga-se, ralha muito. Diz muitas coisas que não gosto de ouvir, diz muitas coisas que nem sente mas di-las à mesma, porque sabe exactamente onde aquela seta me vai acertar. Sou adulta e Mãe mas a minha Mãe ainda ralha muito comigo. Com razão e sem razão. A minha Mãe pergunta-me " e o que queres que te faça?". Não quero nada. Se calhar, se me embrulhar como um novelo e fechar os olhos, isto passa-me, quase tudo me passa. Mas não posso, Francisca está doente. Francisca tem-me a mim, aqui. E eu sou a sua Mãe, o seu "quem tem uma Mãe tem tudo".
Em modo curandeira-entretém para a minha criança virosa, as cartas dizem-me o meu futuro: dar numa de Hélia. Eat this Maya e Maria Helena (é Maria Helena a mete medo da SIC, não é?)
(Mas se for a pensar bem, nunca vi a Hélia mudar camas vomitadas às 3 da manhã em 2 minutos... )
[Acordo a meio da noite, por vezes, com a sensação de que não sou: não sou suficiente, não sou tão como, não sou tanto como, não sou isto, aquilo, não sou tudo e sou nada. Não sou. Simplesmente, não sou. Acordo com dores agudas no peito, nessas noites, já as conheço. O ar que não chega ao fundo dos pulmões. Chamam-lhe ansiedade, os entendidos. Talvez sejam apenas dores de não ser. Há dias em que sinto que não sou colo suficiente, bonita o suficiente, interessante o suficiente, não sou suficiente. Nada em, pelo menos, suficiente. Sim, há noites que antecedem dias assim. ]
Quando o sol nascer, quando for manhã, vão voltar para o armário, já saíram para dançar. Enough.
A Francisca começou a parecer um Pierrot com camisolas de golas bordadas pipis. Foi muito giro enquanto era piquena, mas agora é tempo de passar para blusas e camisas.
Francisca não se interessou minimamente pelo Pai Natal. Gritou-lhe, de onde estava, que queria um Dra. Móvel. Disse um "Não" decidido quando o suposto Pai Natal lhe perguntou se queria sentar-se à sua beira e eu senti-me feliz. Por muitos motivos, fiquei feliz quando disse que não se queria sentar perto daquela personagem que não conhecia de lado nenhum. Senti orgulho na criança que a minha Filha é. Muito. Despachou uma "fada madrinha" que lhe apareceu pelo caminho, dizendo que "agora não posso, tenho de ir andar no carrossel com a Mánhe". E eu senti-me pequenina para tamanha declaração... Uma " Vila Natal" inteira e a única coisa que Francisca quis foi andar de carrossel comigo. Zero interesse por Pais Natais, árvores, bonecos de neve. Uma volta no carrossel foi o que pediu. "Mánhe, estamos no carrossel e o carrossel está a girar, a girar, a girar!" Horas depois, chegou em força a doença que a faz agora dormitar ao meu lado. Francisca agarrada à barriga, encolhida. As lágrimas. Doenças infantis, diz-se, fazem parte, mas não custam menos por isso. Francisca tem frio e eu aconchego-a com uma manta. Passo-lhe a mão no cabelo e ela adormece de novo. Dói-me a cabeça, parece que vai explodir. De tudo que tinha à sua disposição, uma ida à Vila Natal de propósito para ela , a única coisa que o meu passarinho quis foi andar no carrossel comigo. É tão fácil fazê-la feliz. Meu pequeno passarinho doente, de asa murcha a dormitar, shhhh... vamos ter sempre um carrossel para nós, a girar, a girar, a girar... agora fica boa. Depressa.
A minha bata nunca vai ser como as batas de CSIs desta vida; brancas imaculadas, sem vincos e bolsos sem coisas estranhas. A minha bata branca terá sempre nódoas de BB cream, porque nem sempre me apetece tirar as luvas para coçar a cara ou afastar o cabelo dos olhos. A minha bata branca estará sempre meia encurrilhada, abandonada na cadeira onde me sento horas a fio. Não é fancy, não tem nomes ou paneleirices bordadas, mas é minha. Sempre com lenços e luvas duvidosas nos bolsos. Sempre de apertar mas costas. Já aprendi que não terei uma bata pristine. E não me importo. Passamos muitas horas juntas, mesmo que a meta a 90 na máquina, sozinha. Curiosamente, saem as nódoas de BB cream, mas nunca o meu nome, no lado direito da parte de trás, escrito há anos com uma qualquer caneta de acetato. O meu nome está naquela bata há anos. E assim continuará enquanto a decidir vestir.
Mesmo que tenha 30 anos, continuo a espetar-me contra as portas e esquinas de móveis como se tivesse 3.
Tenho duas. As suficientes. Um ano, o meu Pai comprou-me um, com um Pai Natal barrigudo, em tons de azul e vermelho, sinistro todos os dias. Comi os chocolates todos nesse dia e fechei, religiosamente, as janelinhas de cada dia que supostamente faltava até ao grande dia. Não me queixei com as cólicas que tanto chocolate mau me deu, sob pena de ser descoberto o meu fraco espírito da época e "tão giro, estou que nem posso para abrir a última janelinha mas como sou muito bem comportada fico a olhar e não dou numa de selvagem". Yeah, right. A outra memória passa por um calendário cujo chocolate era de velha. E pensais: "que é isso, chocolate de velha?". Eu explico: é aquele chocolate que as tias-avós da aldeia têm em casa desde que o Salazar quinou da cadeira, mas que vos é carinhosamente oferecido como tendo sido para vós comprado propositadamente. O problema: está ressequido e eu nem projecto era no 25 de Abril, 5 anos depois da morte do dito. Fui às compras e vi uns calendários de advento. Pensei se deveria trazer um para a minha criança, anos de terapia que a esperam com a prima do Grinch como Mãe. Assim que as minhas memoires associadas aos calendários vieram à tona, passou-me depressinha o "I suck at parenting". Nisto, trouxe mais uma garrafa de Defesa tinto, que estava em promoção. Posso ser a prima do Grinch mas pelo menos tenho vinho tinto bom na garrafeira. E é isto a minha vida.
A notícia de duas mortes. Perguntam-me se conhecia. Respondi que não. Não lhes sabia o nome, se eram altos, se eram bem dispostos. Respondi que não conhecia. Nunca, sequer, os tinha visto. "Ah, ainda bem então! Ufa!". Dou por mim a pensar que é, talvez, na morte que me apercebo sempre que a natureza humana é, nos seus instintos mais básicos, do mais egoísta possível. E, no entanto, admito que não poderia ser de outra forma. Ou sobreviver seria absolutamente impossível.
Maneiras que quinta é sempre dia de alegria e detergentes diversos! Oksana Maria desce ao meu pardieiro e ao fim do dia, tenho a casa mais habitável, sem everestes de roupa para passar e camas para fazer. Por cinco minutos mas é melhor que nada. Deu-se-me nas ideias que há que limpar os azulejos da cozinha e das casas de banho. Dar-lhes assim uma boa esfrega que não se vão limpar sozinhos. Dada a minha aptidão para quedas e sendo que a coisa envolveria escadotes e afins, achei melhor assumir a minha incapacidade sopeira.Pus-me cá a pensar e decidi pedir a Oksana se por acaso, assim na loucura, não queria ir mais umas horas tratar desse assunto que me anda a afrontar a psique: limpar os azulejos todos. É que hoje ou bem que arruma, passa a ferro e essas coisas ou bem que lhe dava nos azulejos. Oksana, disse logo que sim, que ia no sábado mais umas horas. Mas eu que não fosse louca e marcasse hora para ir, que de manhã tinha que ir à feira e quando estivesse despachadinha das suas compras, logo me aparecia. Está certo.
"And all the science I don't understand, it's just my job five days a week".
Deixou de ser só uma parte de uma letra que gosto em 2014. Passou a ser algo que repito em surdina em muitos momentos de frustração e desânimo.
A segurar a mão da Francisca para a tranquilizar enquanto desmoronei por dentro.
A Estrela, à beira de outras obras que por lá vi, é um cão. Foi o que se arranjou.
[Mas Francisca estava orgulhosa da sua estrela, segurando-a e dizendo que "a Mánhe pôs cola e eu soprei brilhantes". E eu, no meu íntimo, fiquei feliz por a ver tão orgulhosa.]
Francisca, bicho bom desta Mãe, coisa mais boa, já tem a porra da estrelinha solicitada pela Escola feita. Até escrevi o que Francisca quis transmitir aos amiguinhos "O Natal vem já e ah olá!" (WTF?!?! bicho bom de sua Mãe!) A coisa vai na deadline, que é amanhã, nada de confusões! Há purpurina dourada em 7 divisões da casa, Francisca é toda ela bling-bling, há purpurinas doiradas na Chica, na Mofli, em mim e por to-do o santo lado. Reconforta-me especialmente e consola-me pensar que, quem teve a ideia dos adornos feitos pela canalha, vai ter de manusear a coisa. Yes, karma is a bitch! And so am I. Nailed it.
* Francisca pediu para fazer mais estrelas. Rejubilo por não a ter traumatizado mas ... not gonna happen...
Que nos lugares onde e pelas pessoas por quem não sou desejada é inútil tentar encontrar uma explicação, o querer saber porquê, o entender. Pura e simplesmente, basta seguir em frente, afastando-me.
Estava eu a ver o instagram e reparei que hoje, dia 1, diz que é tradição fazer a Àrvore de Natal (na Tribo, era dia 24 às 20h e eu que não dissesse que ia dali). Criatura chegou-me a casa com uma conversa estranhissima sobre "Óh Mánhe, onde está a minha árbore de natále?". Bem, lá lhe respondi que terá não uma mas duas, du-as, em casa dos Avós, no Porto. Depois, pus-me a pensar que a gente não é royal mas é royalty e que a última invenção da minha sogra afinal não era só um um monte de papel-apanha-pó. Assim, na tradição de gente bem do 1 de Dezembro, apresento-vos:
Estava eu em modo "iBitch", dissertando sobre a minha Cria ter de levar a porra de uma estrelinha ou o camandro para a Escola, quando uma Amiga, em profundo acordo e solidária com a minha dor e sentimento de "óh pá, deixem-me ser desajeitada e deslarguem-me dessas pantominas", me sugere comprar a dita já feita. Ponderei a coisa. Em boa verdade, já me tinha ocorrido diversas vezes essa hipótese e até tinha um plano delineado: comprava a estrela d'um raio e depois dava-lhe uns cortes, para a coisa parecer mais tosca e handmad. Seguidamente, pedia à piquena criatura para aesborratarcolorir. Depois de muito pensar (not, que tenho mais que fazer), concluí que isso pouca carga daria ao meu iBitch. Assim, fui comprar um papel-cenas-qualquer A5 que me custou 50 cêntimos, cola UHU em stick (a de tubo temi que a gata acabasse a snifar aquilo, sei lá, só dá doidos, e eu tão sã, bom de ver) , purpurinas douradas e estrelinhas douradas. O plano consiste agora em tentar fazer uma estrela no papel-caro-todos-os-dias, encher de cola o que dali resultar e dizer "Francisca, atira aí purpurinas para cima da estrelinha tão linda! E atira estrelinhas doiradinhas támen como se não houvesse amanhã". Francisca vai gostar que isto Mom knows best. E eu, ah, eu vou ter a bateria do iBitch carregadinha por uns tempos, que isto não vai ser só a pseudo-estrela a comer cola, purpurinas e estrelinhas doiradas. Nah, nah, nah!!!! Tu-do vai comer com esses artefactos e decorations bling-bling. TU-DO, desde sofá a cadela espanador. E eu vou poder ranhosar, de iBitch no máximo, com a porra da estrelinha de Natal. E com um bocado de sorte, na mensagem que também é solicitada, ainda escrevo "Ho fucking Ho!".
*app incluída desde os primórdios dos anos 80. De nada.
A admitir que não sou a super-mulher. Que tenho fragilidades, minhas, muitas. Que não posso querer ser a super mulher. Que, simplesmente, não sou capaz de o ser.