29 junho 2013

Porque sou má de pessoas...

Já o disse antes: eu sou má de pessoas. Por norma, não gosto muito delas, das pessoas. Em alturas da minha Vida em que tudo o que mais precisava era de sentir humanidade, essa que se diz quente, senti fel e frio. Muito frio. Senti olhares gelados, dilacerantes. Senti indiferença. Senti palavras que me ecoaram e me deitaram literalmente ao chão. Levantei-me, sempre. São marcas que não se apagam. São marcas que nunca vou conseguir apagar porque simplesmente não quero, porque me ensinaram e ensinam a valorizar o doce, o bom, o bem. Enquanto tiver capacidade de me lembrar, não quero esquecer. Não fui sempre assim. Não importa, sou assim agora. Quando gosto das pessoas, gosto mesmo. Gosto de verdade, não gosto mais ou menos, não gosto hoje e amanhã nem por isso porque me dói a cabeça, gosto. Há uns meses atrás, precisei de amparo para mim e para a minha Filha. Adoecemos ambas ao mesmo tempo. Precisei muito de ajuda. De colo. De carinho. Lembro-me de naqueles dias ser um farrapo rasgado pela doença e pela angústia de não conseguir cuidar da Francisca. Não pedi ajuda, a ajuda veio ter comigo. Levou a minha Filha doente e cuidou-a como se dela fosse. Passou a noite em claro com ela, tendo ela também dois filhos pequenitos para cuidar. Alimentou-a. Medicou-a. Deu-lhe banho. Vestiu-a. Deu-lhe colo e mimo, como se fosse dela. E eu nunca vou esquecer isso. Muito mais do que quem minha Filha beija, minha boca adoça, ela foi Mãe para a minha Filha quando a doença me deitou numa cama. Ela, vai sair desta Cidade onde me desterrei de raízes e das minhas Pessoas. Ela, a quem eu tanto me afeiçoei e de que tanto gosto, vai finalmente sair desta Cidade para a que há muito desejava, para melhor. Vai ser mais feliz, ou pelo menos, é o que se espera. Fico feliz por ela, de verdade que sim. Mas sei que no dia em que precisar, não lhe poderei ligar, despida de merdices de durona e dizer "preciso de ajuda". Sei que não vai haver tão cedo alguém que saiba que eu sou uma merda enquanto durona fechada entre quatro paredes e que se aperceba que eu preciso de ajuda muito antes de o admitir. Sei que sou má de pessoas. Mas sei que quando gosto, gosto mesmo. Gosto de verdade, não gosto mais ou menos, não gosto hoje e amanhã nem por isso porque me dói a cabeça, gosto. E por muito que a Vida mude, a Vida deu-me a benção de conhecer uma Pessoa assim. E o meu Mundo de Pessoas ficou mais bonito também por causa dela, porque um dia, aprendi que o que ela fez, poucos o fariam por mim. E que mesmo sendo má de pessoas, há Pessoas que se cruzam comigo e que me fazem perceber que afinal, apesar de ser má de pessoas, a Vida me tem dado a sorte de Pessoas como ela se cruzarem no meu caminho. Serei-lhe eternamente grata.  Quero que quando for tempo de ela começar a sua nova Vida, numa outra Cidade, numa outra rotina,  num outro céu azul, leve um abraço bem sentido meu e a sensação de que, por muito que a Vida mude, estarei aqui para ela. Como ela esteve para mim. 

Ar condicionado pré-histórico...

Cenário; eu, esbaforida, desesperada com o calor, capaz de sonhar com uma arca frigorífica onde coubesse e nem precisava de ser esticada. Ar condicionado (ainda) não está ao meu dispor. Solução: chaves do carro. dois sacos de gelo. um alguidar e uma ventoínha. Ah, como a necessidade aguça o engenho!!! 

Sabes que o calor te torrou a mioleira...

... quando vês uma velhinha com o seu abanico ou leque ou o que se chama e te dá vontade de ir comprar um. E usá-lo. 

Até me abafo só de olhar!

Quem, hein, quem, no seu perfeito juízo e capacidade mental plena, faz jogging rua fora com quase 40ºC? Quem, senhores, quem?!? Só de olhar dá-me uma coisinha má. Estão quase 40ºC! You gotta be freaking nuts! 

Talvez, um dia...

Os meus Pais desaprovaram quase todas as decisões que tomei na minha Vida, muito em particular, a minha Mãe. A minha Mãe é uma pessoa extremamente ácida, dura, não mede o impacto das balas que as suas palavras conseguem ser, só se apercebendo da dor que provoca quando vê os olhos rasos de água. Não retira o que disse, não altera a sua linha de pensamento, explica apenas que não tem o direito de me mentir e deixar de dizer o que verdadeiramente pensa, porque é minha Mãe e nunca ninguém me amará como ela. Sempre reprovou quase tudo que escolhi para mim, desde gostar de jeans rotas ao curso que fiz, insistindo até hoje que sim senhor, bata branca, mas de outro calibre. Se calhar, quase de certeza, ser Mãe também passa por aí. Em discordar, torcer o nariz mas quando chega a hora em que se precisa, apoiar, dar o litro, mesmo pensando I told you so... E se calhar, parte de crescer, é ter coragem de admitir que se estava errado. Em surdina, milhentas vezes pens(o)ei que ela sabia mais que eu e que a devia ter ouvido. Talvez um dia, eu cresça o suficiente para lho dizer olhos nos olhos. Mesmo que os meus fiquem rasos de água. Talvez um dia lhe diga que sim, tinhas razão, mas não em relação a jeans ou canudos. Um dia, serei eu do outro lado. Não sei como serei quando a minha Filha começar a tomar as suas decisões sem precisar do meu aval. Sei que pode contar comigo.  Incondicionalmente. E com a verdade dos meus pensamentos.

26 junho 2013

Vai ser uma adolescente tãaaaao gira...

- Francisca, vai dar um beijinho ao teu Prometido. (o Prometido é filho de uma Amiga e tem 3 semanas de diferença para a minha rica filha. Andam na Escola juntos). 
 Francisca vai decidida até à outra ponta da sala. Chega-se à beira do Prometido, incauto e distraído sem um sapato e sem mais demoras, prega-lhe um valente chocho. Com direito a segurar na cara do rapaz e tudo. Eu disse um beijinho. E ela prega-lhe um bate-chapas de relâmpago. Está certo. 

Cada um tem as suas pancas, ómessa!

Sapaaaaaaaatos. Não é defeito, é feitio. Eu com vontade de trazer mais uns para morar comigo e minha rica cria com vontade de os tirar dos pés. Há aqui qualquer coisa que não bate certo, creio. Eu a querer sapatos e ela a não querer.  Eu a querer descer as escadas do alto do salto e ela a sentar-se nas escadas, sacar do seu sapatinho rosa pónei precioso e a gritar "Chuléeeeee, chuléeeeee" (atrasadas até à quinta casa e mais uns trocos).  Eu a querer que ela cante com a Mãe as modas que a Mãe muito ouve e ela a sacar de novo do sapato e a gritar "chuléeeeeee, chuléeeeeee" com a maior felicidade possível. Temos de trabalhar nisso. Não na parte do chulé, mas sim na parte do sapato no pé. Sapaaaaaatos. 

25 junho 2013

Porque há dias assim...

Em conversa com uma colega grávida, eis que tudo volta à minha memória. Porque ela tem medo. Medo do que vem depois. Medo da depressão pós-parto. Medo da amamentação. Hoje em conversa com ela, veio mais uma vez a porcaria do sugar coating da Maternidade à baila. Deixem-se de tretas. Ser Mãe é maravilhoso. Mas não é uma estrada sem buracos. Não é um caminho perfeito. Nem sempre tudo é doce e harmonioso. Hoje, pela segunda noite consecutiva em que fui contemplada com gritaria desenfreada noite fora, com pouco mais de três horas de sono, pela segunda noite consecutiva, sleep deprived, ela abriu-se comigo. E eu, que fico desbocada quando me roubam o sono, disse-lhe a minha vivência. Disse-lhe que podia contar comigo para falar. Porque um dia, talvez haja mais gente com coragem de admitir que às seis da manhã, quando se vê o sol raiar e os ouvidos são invadidos por zumbidos, há nada onde por sugar coating. É duro. É desgastante. É extenuante. Apetece chorar. Apetece pedir por favor. Apetece cair no chão. Apetece pedir ajuda. Apetece pedir conforto para a Mãe que (também) sou. Ela abriu-se comigo. E eu ouvi. E ajudei como pude, com a verdade, sem sugar coating. Porque no dia em que houver mais gente a explicar que sim, é a melhor coisa da tua Vida, mas será a que mais te exigirá, te levará aos limites, haverá menos gente a achar-se estranha porque quando vê o sol raiar, às seis da manhã, lhe apetece chorar de cansaço. Mas não se chora. Aguenta-se. Admite-se o cansaço, mas não se chora. Não se desiste. Não é opção sequer. Lava-se a cara. Põe-se tapa olheiras em quantidades industriais. E a vida decorre. Ela abriu-se comigo. E eu respondi, de sorriso no rosto e voz trémula e olhos com água. Porque tudo voltou à memória, hoje, em que o cansaço fala mais alto. 

24 junho 2013

Está oficialmente aberta a época do desfralde.

Francisca anda nisto do desfralde já há umas semanas. Potinho, xixi, cocó. "Faz xixi cocó no potinho, Filha!" (gente, a Maternidade também fala assim em escatalogismos desta vida, aguentem-se que isto glamour, é só nas horas vagas). Umas vezes faz e palminhas e que bem, viva, viva, xixi no potinho e ela aponta e diz xixiiiii, xiiiiixiiiiiii, toda feliz. Outras, gosta é de estar ali sentada de rabo ao léu a dar leis: aponta para a sanita, aqui Mánheeeeee, aaaaaaqui, xixi, cocó e Mãe lá senta a ver se a coisa se dá. Um dos bonecos que apanha no caminho para a casa de banho também tem direito a sentar no espetáculo escatológico, ao lado de Francisca, no pote extra,  e ela lá lhe dá a lei de "bebé xixi cocó". E pronto, ali ficamos, eu, ela, o boneco, a Mofli sentada à porta, todos, à espera que saia. Literalmente. Mas maneiras que só este fim de semana decidi que estava oficialmente aberta a época do desfralde. E porquê, perguntais vós? Simples. Só se começa desfralde a sério quando se começa a limpar xixis do chão. É uma emoção. 

23 junho 2013

Bom São João...

Tenho um manjerico que trouxe comigo quando vim de Casa. Eu que nem sei manter plantas vivas, quis trazê-lo. Cheira (-me) a São João. Hoje, em noite de São João, é tudo o que tenho da Festa de Casa. Hoje, não há salada de pimentos assados. Não há chouriço assado. Não há broa de Avintes. Não há o cheiro das sardinhas assadas (que dispenso).  Não há sangria com fartura. Não há martelinhos. Não há a música pimba manhosa e muito mula da cooperativa. Nem bailarico. Não há balões que nunca voam mais que 3 metros antes de se precipitarem no chão. Nem a correria para (ainda) ver o fogo. Esta noite, não há São João para mim. Há só um manjerico, a lembrar-me das saudades de Casa. Para quem o vai (vi)ver... bom São João! 

Love it or return it...

(Zara)
Eu sei que tem flores e eu já para aqui dissertei sobre coisas com flores e jarras e coiso. Mas tem pinta de ser fresquinho e só por iso, 10 points, que isto no desterro não s'aguenta. Depois, gosto de maxi dresses. Não exigem pensar muito, é enfiar e está no ir. Além disso, de cada vez (raras) que entrei na loja, ficava a olhar para ele. É daquelas peças que me ficam nos olhos e eu depois fico no vai, não vai. Por norma, se quando me decidir a dar largas ao devaneio a coisa já não estiver disponível, é sinal que de facto era um não vai e eu ressabio menos. Mas hoje, imbuída de calores e de aborrecimento, fui-me à loja online. Há-de chegar numa caixinha às minhas mãos em breve. Se me sentir uma jarra canastrona, posso sempre devolver. Mas acho-lhe piada. Ah e tem pinta de ser fresquinho, que não sei se já disse, isto aqui não s'agueeeeeenta! 

22 junho 2013

Porque as Princesas podem sempre não ser Cinderelas...

"Paquica, Princesa", repete, ao ver-se ao espelho. Olha para mim e com um sorriso diz "Princesa Mánhe". Mas ela ainda não percebe que a única hierarquia dos meus dias é o seu sorriso, na anarquia da sua felicidade. Ela é a minha Rainha. Ela, que um dia me chamou Princesa. 

É isso... ou não...

Isto uma pessoa até que se pode habituar a não ter um shopping para dar azos a devaneios de retail therapy (ou não). Até se pode habituar a não ter uma sala de cinema com mais que um filme de cada vez, estreado nas metrópoles três quinze dias antes (ou não). Até se pode habituar a ter de fazer uns quantos km para ver porra de água, assim sem ser charco  miserável (ou não). Até se pode habituar ao calor dos Infernos e achar que estar parecida com uma Mulher menopáusica tem algum encanto (ou não). Mas uma pessoa, neste caso, eu, pessoa, está com sérias dificuldades a habituar-se às rolas, ou pombas ou passarinhos ou o que sejam, que isto a minha ornitologia é abaixo dos mínimos, e aos seus cú-cúrrú cú-cúrrú desde o nascer do sol. Desde o nas-cer do sol. Calem-se. Calem-se, pelo amor da santa. Estou aqui capaz de fazer uma fisga artesanal e me dedicar a procurar receitas de arroz de pombo para a Bimby Maria (esta parte, é mesmo ou não). 

21 junho 2013

E no dia mais longo do ano...

A minha Tese de Doutoramento tem para aí umas 200 páginas. Cinco anos da minha vida (o tempo de cama devido a gravidez de alto risco e a licença de maternidade também contam, que não desliguei). Cinco anos de coisas muito boas, de coisas muito más. Cinco anos onde conheci pessoas que me marcaram para a vida, pelo bom e pelo mau que me trouxeram. Sobretudo, pelo bom. Essas pessoas, sabem quem são. No meu jeito muito próprio de lhes dizer, porque sou má de pessoas. E elas sabem-me e sabem-no. Cinco anos que me proprocionaram experiências pessoais únicas. Onde aprendi que me podem mandar para o outro lado do Mundo sozinha, à laia de unshit yourself, que está tudo bem. Onde aprendi o significado de "Ever tried, ever failed. No matter, try again. Fail again, Fail better". Cinco anos de algumas (muitas) noites mal dormidas. Cinco anos onde cresci. Em tic-tac de contra relógio, fui a Casa e soube quando seria o dia do fim do principio de uma nova fase, como dizia Churchill "Now this is not the end. It is not even the beginning of the end. But it is, perhaps, the end of the beginning." Sei-lhe o dia. Sei-lhe os dias que faltam. Sei que será o que tiver de ser. Depois, nem tudo se resume a números. São 200 páginas. Foram cinco anos. Mas não consigo contabilizar tudo o que ganhei durante esses dias nesses 5 anos da minha vida. Também perdi, quanto mais não seja, alguma sanidade mental. Mas ganhei muito, muito mais. Em todos os aspectos. São 200 páginas de papel. Para mim, são 200 páginas de muito de mim. O "Doutora" é só um título que nada me diz. Tudo o resto, também sou eu. Em tic tac de contra relógio, dei por mim a ter a noção de que me fazem falta muitas pessoas, logo a mim, que sou má de pessoas. Que me fazem falta. Muita. Que me acarinham e acarinham a melhor parte de mim e isso, a mim, que sou má de emoções, me toca profundamente, num doce esconder da voz tremida. Em tic tac de contra relógio, voltei a pegar num recém nascido. Já não me lembrava de como são. Pequeninos, indefesos, num Mundo deles. Dormir. Comer. Comer. Dormir. Chorar. Sujar fraldas. Dormir mais. Chorar mais. Já não sabia o peso de um ser tão pequeno nos braços. Mas lembrei-me que de facto, gosto muito mais das fases seguintes. Não senti saudades da minha Filha recém-nascida, admito. Não senti nada cá dentro que me dissesse "que saudades tenho de bebés". Não tenho. Mas gosto daquele pequenote, gosto muito. Segurei-o e pensei que o importante é que cresça feliz, saudável. Que se torne num Homem bom. Desejo àquele pequenote o mesmo que desejo para minha Filha. Desejo que a Vida os molde para serem pessoas profundamente boas. O resto, virá. No dia mais longo do ano e porque a vida não funciona em binários, sorrio ao relembrar o que em três dias de contra relógio fez crescer em mim. Porque os tic tacs são pulsações, rítmicas ou descompassadas. No dia mais longo do ano, de mais luz, por mais tempo, em tic tac de contra relógio, sem outra meta que não viver. Sempre um bocadinho mais, a cada dia. 

20 junho 2013

Sabes que até que és uma gaja cheia de sorte...

... quando és naba, não carregas no botão que diz via verde apesar de estares a segurar o identificador, tiras o ticket a segurar no identificador, estacionas, vais à tua vida, voltas, nada de ticket, tudo fora, te preparas para ir convencer o segurança a andar umas horas para trás e vês o dito. No chão, o ticket, à tua espera. Tem dias que é assim! 

18 junho 2013

De Sul a Norte...

... ou de Este a Oeste ou o raio que me parta que eu não sei essa cena da rosa dos ventos, só que Norte é para o Porto, siga. Mas sei as estradas de cor e que ali costumam estar os "sinhores" da Brigada que já não se chama Brigada mas a multa é a mesma. E a porra da pepé que lhe voa sempre, seja uma sejam três, acabam em sítios inacessíveis a quem está a conduzir e assim de repente não me parece esperto virar-me para a apanhar. E as migalhas senhores, as migalhas das bolachas voadoras, toma uma bolachinha Filha, apanha, boa!, deve dar-te aí para uns 20 km, depois a Mãe atira outra do banco de chauffer a sua Alteza Real, pode ser? E olha Francisca, tão bom, já só faltam 250 km, que maravilha, consegues ir 250 km sem berrar, que achas da ideia? Olha a Mofli, tão 'sogadita, espera, esquece, esqueeeeece, está nada aqui a Mómó, não, não pode ir à tua beira. E as galinhas, as cabras das galinhas a cantarem e eu a pensar em arroz de cabidela que nem gosto, faz-me confusão aos nervos e eu sou má de nervos, ainda bem que quase nunca me dá para isso, que não sei se já disse, sou má de nervos. Mas depois penso nas Pontes todas e no cheiro de Casa e nas ruas de Casa e no mar de Casa e Casa e pronto sou nada de nervos. E é por isso que gosto de viajar de noite, sempre que posso. Mal por mal, não há galinhas e cabidelas.

17 junho 2013

Tostão, disse ela...

Os meus Pais contam, que quando era piquena, teria uns 4 anos, 5 talvez, encontrei uma moeda de 20 escudos. Achei que estava milionária com aquela moeda cor de prata. Uma verdadeira fortuna, 20 escudos!!! Fiz logo grandes planos e tratei de os anunciar: ia comprar um apartamento com vista para o mar, ia morar sozinha (?!?) e ia comprar um carro, porque o Fiat Ritmo 70 CL Cinzento do meu Pai já não dava para uma milionária a quem tinha saído a bárbara quantia de 20 escudos... "Mánhe, tostão!", disse ela com uma moeda de 5 cêntimos na mão, com pinta de ter sido pescada da máquina de lavar roupa. Lembrei-me dos meus devaneios de grandeza com 20 escudos. Ah, como tinha o Mundo na mão do alto do poder daqueles 20 escudos. Fui por a moeda negra num dos seus mealheiros. Aqueles que encho com os cêntimos que me pesam na carteira e me fazem parecer que assaltei a caixa de esmolas (sim, sou uma pessoa terrível que enche os mealheiros da Filha com 1 cêntimo, 2, 5, na loucura, 10 cêntimos). Um dia, talvez ela tenha os mesmos devaneios que eu tive com a minha fortuna de 20 escudos e me queira dizer, toda despachada, que vai mas é viver a Vida e ver o Mundo à maneira dela com os seus 5 cêntimos. Deve ter durado pouco a minha ilusão de grandezas, dado que demorei uns valentes anos a sair de casa e a comprar um carro. Ah, a inocência das crianças... 

15 junho 2013

Para se um dia a memória me falhar, fica aqui...

Quando um dia cresceres, te olhares ao espelho e achares que nenhuma base, nenhum rímel, nenhuma roupa ou nenhum sapato te é suficiente, ouvirás dizer-te que o sorriso é a coisa mais bonita que alguém pode usar. O que eu te dei, o que tu me devolves. 

14 junho 2013

Eu, aos olhos da minha Filha...

Site do Vidas, esse poço da cultura pop-sou-uma-estrela-com-prazo-de-validade-look-@-me. Isto uma pessoa tem que de quando em vez alimentar o lado obscuro das cusquices alheias. Francisca vê uma foto. Francisca aponta e diz " Mamã!". A foto era da Claudia Jacques. Em comum? Só o sotaque. Ou pensava eu. Está certo... ( e sim, vivo numa gruta, descobri ontem que o Correio da Manhã tem um canal de TV). 

A mim, criança...

Foste uma criança sozinha, mas não solitária. Foste, em boa verdade, uma criança feliz. Uma criança cujo Pai levava a andar nos lálés (baloiços) e para todo o lado. Uma criança de cabelo comprido, aos cachos, pelas costas. Gostavas muito quando alguém tinha tempo para te fazer uma trança, lembro-me que te sentias bonita.  Uma criança que gostava de Legos e de carros. Desde cedo, mostraste que a tua apetência para artes manuais roçava o hilariante. Mas tinhas ouvido para Música. Deram-te um órgão aos 5 anos. Foi o começo de um caminho que eu depois te encerrei. Sem mágoas. Foste uma criança que odiava comer e fazia por isso todas as refeições um martírio para quem tentava, a muito custo, alimentar-te. Sempre foste má de comida, verdade seja dita. Na festa de fim de ano (ou curso?) do Infantário foste a Cinderela, de vestido de cetim azul claro. Nunca perdoei a Zi ( a Educadora) ter-te posto em semelhantes propósitos. Lembro-me, ainda hoje, do desconforto de tantos olhos a caírem em mim. Aprendi aí que gosto de ser invisível, que nunca serias talhada para a spotlight. Foste uma criança que, quando aprendeu a ler, andava sempre com um livro pendurado. Aprendeste a negociar com o teu Pai em como ter um livro de 3 em 3 dias, explicando-lhe que não tinhas culpa de ler rápido e de gostares de o fazer. Dei os teus livros quase todos, a primos e a crianças que não tiveram a sorte de ter alguém que lhes pudesse proporcionar o prazer de sentir as folhas de um livro na mão, de sentir o cheiro dos livros, de dobrar os cantos das folhas. Foste uma criança com muito mimo mas pouco mimada, não havia espaço a ponderar sequer que o Mundo girava à tua volta. Foste a criança que o tempo fez crescer em mim, a mim. Eu. A ti criança, sei que nem consegui fazer de todos os teus sonhos realidades. Mas guardo o melhor de ti: a infantil inocência do bonito, a inocência do puro. Guardo-a com precioso carinho. Num sítio cujo mapa só eu conheço. Guardo a inocência de(a) criança e da pureza do sangue nas veias, em mim. 

13 junho 2013

Definição de "the baby days are over"...

... quando a tua Filha come um epá sozinha, recusa a tua ajuda e prontamente te avisa com um " sujou" que o gelado lhe caiu no vestido. E no fim, diz: " manana bom, Mánhe! Cabou!", com o ar mais desolado do Mundo. 

12 junho 2013

Coisas que me fazem profunda confusão...

So, here's the thing: eu viajo muito com a minha Filha sozinha. Ando muitas vezes com ela para a frente e para trás em Mommy&Me. Há coisas que fazer com ela são mais trabalhosas, como meter gasolina, porque implica ter de meter gota ( enquanto me sinto a ser roubada alarvemente), tirá-la da cadeirinha, pegar nela, pagar, voltar, põe na cadeirinha de novo. Já por aqui contei que ir à casinha em viagem dá origem a episódios rocambolescos. É uma canseira mas é assim, não consigo pensar em que são "só" 2 minutos e deixá-la fechada sozinha num carro. Em 2 minutos, uma vida muda. Para sempre. Hoje de manhã, parei o carro com os 4 piscas para deixar a minha cria. Atrás parou outro carro. Ligou os 4 piscas. Tirou uma criança com idade perto da minha do banco de trás. No banco da frente, no lugar do passageiro, estava uma coque. Com uma criança. O Pai desceu a rua atrás de mim, dizendo ao filho que carregava que o Mano esperava no carro. Gelei. Não disse nada. Não me diz respeito. Mas discordo. Em 2 minutos muita coisa pode acontecer. Em menos até. Paranóica? Talvez. Mas antes carregar a minha Filha para trás e para a frente, mesmo que sejam dois minutos, que carregar shoulda woulda coulda a vida toda. Não se deixa uma criança sozinha num carro. Na coque, na cadeirinha, no que quiserem. Não se deixa. Comigo, é assim. 

11 junho 2013

Como fazer de mim uma mariquinhas...

Ponham-me uma cadeira de dentista à frente. Mandem-me sentar nela. Tremo. Odeio dentistas. Tenho pânico às brocas. On the other hand, venham agulhas, suturas, cirurgias, sangues, dores do arco da velha e afins, que está tudo bem. Só dentistas e brocas é que me fazem querer fugir a sete pés, bem depressinha. Tanto, que a Dentista aonde vou, já me chegou a dar (por brincadeira, espero) um daqueles diplomas que se dão às criancinhas, a dizer qualquer coisa como :" ena, tem quase 30 anos e não chorou no dentista, valente hein?". Mas nunca levei chupa-chupa. É a prova que sou uma mariquinhas. Isso e as unhas que parti hoje, de me agarrar ao braço da cadeira. What a shame... 

10 junho 2013

Afinal, estava ligada...

Por preguiça, não me levantei da secretária para calar a TV. Preguiça da pura. Deixei no canal onde esteve o dia todo, na Fox Life. Vi um bocadinho de uma série que quase me prendeu, Scandal, mas depois acabou-se, vai de colar no computador (eu acho que vou arranjar ali um vício novo, mesmo em final de temporada... tenho de ver para trás a ver se me cai no goto). Esteve a dar o Doidos por Mary. Vi o fim. Só, porque a única coisa que me fez levantar a cabeça para olhar para a TV foi uma música da OST. Que eu a-d-o-r-o! 

And mess me around 
And then worst of all (Worst of all) 
You never call baby 
When you say you will (Say you will) 
But I love you still 
I need you (I need you) 
More than anyone darlin' 
You know that I have from the start 
So build me up (Build me up) 
Buttercup 
Don't break my heart 
I'll be over at ten 
You tell me time and again 
But you're late 
I wait around and then 
I went to the door 
I can't take any more 
It's not you 
You let me down again 
Baby Baby 
Try to find a little time 
And I'll make you happy 
I'll be home 
I'll be waiting beside the phone 
Waiting for you. 
Why do you build me up.... 
To you I'm a toy 
But I could be the boy 
You adore 
If you'd just let me know 
Although you're untrue 
I'm attracted to you 
All the more 
Why do I need you so Baby Baby.....
ooh ooh ooh 
Why do build me up .....

09 junho 2013

Sabes que algo de estranho se passa...

... quando começas a dar banho ao cão (vá, cadela, Mofli) e te cheira a Mustela. Ai tanta espuminha, tão bom Mofli, dá cá a patinha. Ah, cheirinho bom. E continuas, feliz e contente da vida, a esfregar as melenas da bicha. É pá, Mofli, cheiras mesmo bem desta vez. Chama-se lentidão de ideias. A mim, demorou o banho inteiro da bicha, a perceber que lhe dei banho com o shampoo da minha Cria. Pelo menos não arde nos olhos. A ver se não lhe cai o pelo nos entretantos... 

08 junho 2013

Olha, diz que são flores...

A moda (?) diz que agora se usam padrões florais. Assim, sei lá, nas calças, nos casacos, nas blusas e no que quiserdes mais. Eu olho para aquilo e fico um bocadinho sem perceber onde pouse as vistas. É muita cor junta, muita flor saltitante aos meus olhos. Eu não consigo usar roupa com padrão de flores (sapatos pode ser, estão a ver a minha coerência?), sinto-me um bocadinho uma versão andante de uma jarra canastrona. Flores é no jardim. Não é que ache feio, só não dá para mim. É como sapatos com o calcanhar à mostra, é coisa que me faz espécie. Abertinhos à frente que sim, mas o calcanhar só ao léu não dá. É isso e calças às flores. Ou casacos. Ou o que quiserdes. Sou cafona, é o que é. 

Sabes que estás velha e cínica...

... quando está a dar "o Guarda Costas" e tens uma vontade terrível de te rir com o filme. Pior, descobres que a Vida te fez um bocadinho cínica quando a músiquinha te deixa os cabelos de ponta, ao invés de te deixar aos pulos numa festa de garagem qualquer, à espera de ouvir um "alwaaaaaayyyyyssss loooooooveeeee yoooooou". Deve ser para estes casos que também inventaram o botão"mute". (sim, o comando tem mais botões e podia mudar de canal. Mas depois não descobria o quão velha me tornei. E ficava sem nada com que me rir de mim mesma. E não era a mesma coisa.)   
P.S- Salva-se o Kevin Costner, um poço de charme aos meus olhos. A idade, a ele, também lhe tem feito bem. 

O agridoce do doce silêncio...

Acordei sobressaltada. Tanto silêncio. Acordei e senti que me faltava algo. Levantei-me e vi a porta aberta. A persiana aberta. A cama branca de grades vazia. Um quarto, onde um dia decidi que haveria existir um céu pintado só para ela, para a minha Menina. Um quarto, hoje, em silêncio. Sentei-me ao lado da cama de grades vazia. Francisca não está em casa, foi a Casa. Eu fiquei. Por dever. Por opção de dever. Fiquei a ver as nuvens no tecto e a aspirar o cheiro da minha Menina, que paira no seu quarto. Depois, levantei-me e deixei para trás as nuvens brancas e de aspecto fofo que me pairavam sobre a cabeça. Lavei a alma enquanto a água quente, quase a queimar, me escorria pelas costas. Vi-lhe o sorriso rasgado por estar sentada ao lado da minha Mãe. Eu estou sentada num laboratório vazio, a olhar pela janela. O relógio da parede faz um tic tac rítmico, apesar de estar atrasado. Chove lá fora, cheira a terra molhada, deduzo que sim. Sei-me de bem com a minha opção, em paz comigo. Mesmo que as saudades da minha Menina, guardadas em surdina, façam um barulho avassalador no meu coração. 

07 junho 2013

O cancro é um cabrão.

O cancro é um cabrão. Perdoem-me a palavra, mas não lhe conheço melhor adjectivo. O cancro é um cabrão da pior espécie, fazendo com que o próprio corpo se atraiçoe. Uma célula normal, um dia, deixa de o ser, por uma lista infindável de possíveis factores, de diversas origens. Uma célula que deveria ter sido eliminada pelo próprio corpo, permanece. Divide-se. Uma vez. E mais outra. Num processo que estupidamente poderia ser análogo ao do começo de uma vida, mas que é, infelizmente, o possível começo da morte. Divide-se, uma e outra e outra vez, a uma velocidade vertiginosa e aberrante. E o que era uma célula que deveria ter sido eliminada, agora são já muitas, aberrantes, alteradas, fatais. O cancro renova-se, reinventa-se. Destrói o equilíbrio do corpo que, numa ironia parva, o alimenta e o faz crescer, providenciando-lhe tudo o que precisa, quase como que a tentar que se sinta confortável e bem-vindo. Depois invade, vai à conquista de novos espaços para destruir, porque precisa de mais. E enquanto o faz, para sobreviver na sua aberração, vai matando o corpo que o sustenta, alastrando assim a sua vida impregnada de morte. O cancro não tem regras de boa educação. Não quer saber de outra homeostase que não a sua. Suga nutrientes. Cria novos caminhos para se alimentar, usando toda a maquinaria do saudável em seu próprio proveito. Num Mundo ideal, não existiria cancro, o corpo não se atacaria desta forma estúpida. Pessoas que fazem o mesmo que eu, já saberiam de cor as suas regras, os seus caminhos, a maneira como cresce e devora vida. Existiria tratamento 100% eficaz para cada tipo de cancro. Para cada um de nós, que somos todos tão diferentes. Mas o Mundo não é assim. Sabe-se o básico e um pouco mais. Sabe-se que altera isto e aquilo. Sabe-se como o faz. Estuda-se como o impedir, como o iludir. Escolhe-se este e aquele alvo. E tenta-se, na esperança de que corra bem. In vitro. In vivo. Clinical trials. Drogas novas, mais poderosas. Técnicas cirúrgicas mais efectivas a excisar. E espera-se. Na fé da ciência porque, ironicamente, a ciência exige ter uma fé profunda. Exige acreditar que um dia, se vai conseguir, mesmo que o cabrão do cancro se reinvente a cada passo e nos apanhe blindsided. Exige acreditar que cada pequeno passo é uma vitória para que nunca mais o cabrão do cancro ceife vidas cegamente. Muito menos a de crianças. Como o Rodrigo. Porque não é essa a ordem natural da vida. Mas o cabrão do cancro é um anarca. E o problema dos mortos, são os vivos, os que ficam com a dor da perda, com a dor da saudade. Sou Mãe e não suporto essa ideia na minha cabeça. Varro-a furiosamente, afasto-a, digo não. Não imagino. Não sei o que é. Sei que não é justo. Depois, cerro os dentes e visto a capa fria da ciência. E repito que um dia, um dia será possível. Porque não é justo. 

Os "cá vamos indo"...

Se há coisa que me irrita são os "cá vamos indo". Também há a versão "cá estamos, nunca pior", mas são da mesma espécie. É uma espécie indefinida: não estão mal, não estão bem, só estão estando. Aliás, nem eles sabem muito bem, como indefinidos que são, se estão benzinho (esta espécie usa muito o "estar benzinho", também) ou na merda. Estão qualquer coisa de fazer encolher os ombros, nem mais para lá nem mais para cá. É a malta do arrasto. Arrastam-se-lhes os dias num gerúndio qualquer e por isso lá vão indo. Só que nunca vão, vão só indo. Não vão de bem com a vida, vão indo. Também não vão de mal com a vida, vão indo. É que ir a bem ou a mal implica ir de verdade, de pé firme, com vontade de alguma coisa definida, não combinando com o encolher de ombros do "cá vamos indo". São os "não vão, que os levam". Mas num ponto acordamos, eu e os "cá vamos indo": haja saúdinha. 

06 junho 2013

Não sei ser de outra maneira...

Gosto muito de ser Mulher, acho que caso a genética tivesse ditado outra sorte, seria um Homem péssimo. Mas a vida, essa que dizem ser linda, é muito mais dura para as Mulheres. Muito mais agreste, muito mais agressiva. As marcas, não só as do tempo, doem mais. Marcam mais. São mais profundas. A Vida exige mais, não pede, exige vincadamente. Um Homem é um Homem, por muito idiota que esta afirmação possa parecer. A vida é-lhes mais fácil, mais serena, mais complacente, sorri-lhes sem pedir muito mais que pouco ou nada, porque se diz, encolhendo os ombros, que é (um) Homem. Uma Mulher é uma imensidão de papéis e pede-se-lhe que seja absolutamente perfeita em cada um deles. Sem lhe perguntar se o quer ser sequer. Sem querer saber se está cansada.  Se tem água nos olhos. Se tem alegria no coração. Se precisa que a segurem por uns segundos, brevemente, só para depois seguir só, de cabeça erguida. Pressure makes diamonds. Deve ser por isso que a Vida tanto pede às Mulheres. Algumas, serão sempre diamantes em bruto. Outras, deixarão que a Vida as vá polindo, que lhes dê forma, que as apure até quase uma inatingível perfeição. Estou farta da perfeição. Estou farta de alinhamentos da sociedade, estereótipos. Sou imperfeita, não sei ser de outra maneira.

05 junho 2013

Ai, ai, ai, Mómó...

"Ai, ai, ai, Mómó". Mal entra em casa, só porque sim. Barulho fora do alcance da minha vista. Qualquer coisa ao chão. Segue-se um " ai, ai, ai, Mómó". Mãe ralha com Francisca. Francisca, muito despachada e de dedo em riste, aponta e diz" ai, ai, ai, Mómó". Ela descobriu o bode expiatório perfeito. Mais ainda, porque Mómó é uma verdadeira touça e apenas olha para Francisca com ar de quem me trouxe. E lá vai ela, corredor fora, a dizer " ai, ai, ai, Mómó". Estou bem arranjada.... 

04 junho 2013

Cortem-me a ligação à internet...

(Mango)
... e eu deixo de ver trapos. E de os ir procurar. E em caso de desapontamento, de os encomendar. A culpa, é da internet. Não minha, ómessa! 

Se calhar, tem nome que desconheço...

Por várias vezes na minha vida, fiquei "presa" em casa, quase todas elas relacionados com saúde (ou a falta dela). Se, em alguns momentos, eu é que me decidia a fechar em casa, em nome de uma doença, em muitos outros, a cabeça quer sair mas o corpo não concorda. Sinto-me presa quando tenho de ficar em casa. Podia dizer que me sinto muito bem, ai que nem tenho de me vestir para ir trabalhar, tenho tanto tempo para fazer nada, gosto tanto, vou trabalhar no computador que ou vai ou racha. Mas isso seria mentira. Sinto-me perto da claustrofobia. Sinto-me sufocada. Quer quando a saúde me falha a mim ou quando a minha Filha precisa da Mãe para a cuidar. Ao fim de um dia em casa, custa-me a respirar. Parece que as horas se arrastam e eu me arrasto de divisão em divisão. A TV aborrece-me. A sopeirice não me assiste muito. E parece sempre que o dia ficou mais bonito por eu não poder sair de casa. Claro que me dá paz e um sorriso enorme o poder proporcionar conforto à minha Filha, o poder cuidá-la. O estar com ela. O brincar com ela. O me sentar à beira dela quando ela diz, autoritária,: "aqui Mánhe, aqui". O andarmos a correr atrás uma da outra, enquanto eu canto a canção do quá-quá e ela faz que tem asas para abanar. O ficarmos as duas na varanda, sentadas na mesa, ao lado uma da outra, enquanto ela diz, em jeito de pregão "abála belé" (não faço ideia do que seja, mas tem uma sonoridade interessante). Sim, gosto disso. Mas não associado ao ela estar doente. Não associado ao ficar em casa por imposição. Se calhar, nem faz muito sentido, mas eu preciso de rua. De sair e ver o que há lá fora. Não sou passarinho de gaiola. Sinto-me perto da claustrofobia quando as chaves ficam pousadas na mesa da entrada e eu sei que não lhes vou tocar. 

A porra dos passarinhos...

Há quem tenha como sonho de vida acordar com os passarinhos chilreando na janela. Ah, a paz, que tranquilidade, qualidade de vida. Até há quem ponha como som de despertador passarinhos cantantes. Atrás de casa no desterro, há uma espécie de mata, com algumas árvores. E toda a gente sabe que as árvores são a casa dos passarinhos. Tão lindo, que idílico, só cá faltam as harpas. Eu digo raios partam os passarinhos. Com o calor, tenho cantoria desde as seis da manhã. S e i s da manhã, sabeis a dor que isso é? Não bastasse as noites de merda que cria dá porque está doente, pois claro, e os jogos de lençóis que se me esgotam na gaveta madrugada dentro, ainda tenho de levar com a porra dos passarinhos desde as s e i s, seeeeeis da manhã. Ah, tão fófnha, pensais, a ouvir os passarinhos. Porra lá para os passarinhos todos, é o que eu digo. Tenho sono. 

03 junho 2013

Eu só queria uma sala.

Tenho um escorrega no meio da sala. Estou em casa com a cria doente ainda a tosses e snifadelas e antibióticos. Tenho um escorrega no meio da sala. Não consigo decidir se o pior é o escorrega ou a tenda do circo ( eu odeio circo) que lhe deram. Tenho um escorrega naquilo que devia ser a minha sala. Vou continuar aqui sentada em negação, a olhar para o escorrega que está no meio do que foi, em tempos, uma sala. ( já experimentei fechar os olhos a ver se a coisa se eclipsava mas não, não me sai das vistas).