Não gosto de aplausos, de festas e palmadinhas nas costas. Gosto que me sorriam, tanto me faz que seja um sorriso aberto ou mais envergonhado. Gosto das mãos pequeninas da minha Filha, tão parecidas com as minhas, e de quando seguram na minha cara entre elas. Não gosto que me toquem incessantemente, enquanto falam comigo (não sou touchscreen). Gosto de noites e madrugadas mas gosto ainda mais de dormir. Gosto de nevoeiro. Gosto da sensação de ser capaz de me controlar, inspira, expira e não pira. Não gosto de falar dos meus sonhos e planos e projetos... tenho medo de o fazer, muito pela sensação de que se não se concretizarem, seria uma desilusão para quem me ouviu. Não gosto de acordar atordoada. Não gosto de exposição pública ou desnecessária. Não gosto de rótulos. Não gosto de brejeirice mas foge-me pela boca fora o meu Porto, em expressões e, se estiver mesmo ou à vontade ou chateada, num belo palavrão, que dado na hora e altura certa, faz milagres. Gosto do cheiro do gel de banho da vasenol, o "normal". Não gosto de gente extremista. Gosto de quem é capaz de ficar perto de mim nos momentos maus ou quando sou a pior pessoa à face da terra no meu desânimo, lágrimas e aquele peso a afundar-me em camadas de tristeza inexplicável. Gosto da sensação que me provoca a roupa estendida ao vento, de forma tosca, na Afurada. Gosto que a Francisca chame à Igreja da Serra do Pilar "a igreja dela". Gosto de comer tapas e era capaz de o fazer mais vezes do que o aceitável. Gosto de gomas, de presunto, de pão, de queijo e de vinho tinto e de todo um monte e mundo de gordices. Não gosto do meu nariz. Não gosto de lutar todos os dias contra a minha cabeça mas gosto da minha resiliência em viver o melhor possível com ela... e gosto de tudo de bom que a minha cabeça já me permitiu fazer, a mesma que me levou para sítios muito escuros e estranhos, nos avessos da natureza humana. Não gosto da minha barriga, mas gosto de saber que fui capaz de gerar a minha Filha, pedaço de mim. Gosto dos olhos da minha Filha, aqueles olhos que guardam tudo, de uma doçura imensa no profundo castanho dos seus olhos. Não gosto que a Francisca seja tão sensível, temo pelas dores que a vida lhe vai infligir mas gosto de sentir que aquela miúda tem bom coração. Gosto do meu querido mês de agosto, da luz que trouxe aos meus dias e ao sentido das escolhas. Não gosto de calor , nem do verão, nem de sol e prefiro mantas, chá e livros ou filmes, enfiada num pijama polar com zero glamour ou tentativa de sexyness possível. Não gosto de fotos de pés nas redes sociais, seja na areia ou na água, fazem-me confusão. Não gosto que me julguem mas gosto que quando opinam o consigam fazer de forma fundamentada.
Existem muitos dias em que tenho de aprender, uma vez mais, a gostar de mim e a aceitar-me com todas as voltas e reviravoltas de mim, nos meus avessos e direitos, na impressão digital do meu ser. Em aceitar o tudo que gosto, o tudo que não gosto, aceitar tudo o que quero, tudo o que dói e tudo o que vai passar. A respirar fundo, uma e outra vez, com a certeza e a convicção de de que por muito que tudo me pareça impossível, difícil, doloroso, tenho de confiar nas voltas que o mundo dá.
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