Será que se anestesia a capacidade de sentir?
Será a vida, nos seus embates de frente com a realidade, a lidocaína dos sonhos? Como a vertigem da anestesia (vai contar até 10, está bem?), o frio (está tudo bem, vai só dormir um bocadinho), o queimar dos fármacos na veia. Aquela mão desconhecida que nos faz festas na face mas que, apesar de não saber nada sobre mim, segura a minha vida pelo fio invisível da combinação perfeita das drogas (bons sonhos...)... E depois, o vazio que se segue, os minutos perdidos que se transformam em horas esquecidas. Adormecer nesse torpor, com a certeza de que haverá sempre epinefrina capaz de fazer retomar a consciência, mesmo que não saibamos onde estamos ou quem somos. Há oxigénio nos pulmões e o coração bate, tudo o que importa. E é nessa fração de segundos, que encerra em si o que de mais primitivo se tem, que me apercebo que podemos viver sem a consciência do sentir. Apenas agarrados ao instinto de sobrevivência.
E que vivemos tantos dias assim, cirurgicamente removendo e suturando essa coisa a que alguns chamam de sentimentos.
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