24 agosto 2016

Escolher ser (mais) feliz.

A vida é feita de escolhas. Desde o que vestimos de manhã ao decidir que está na hora de novos desafios e de mudar. No entanto, não acredito que se acorde um dia a pensar que se vai escolher, que se vai decidir mudar, seja de vida, seja de emprego, seja de cidade (em boa verdade, eu não penso quando acordo, sou incapaz de formular uma frase, quanto mais pensamentos profundos). Acredito sim que uma decisão dessas (destas) é algo que vai crescendo cá dentro, em silêncio. Um dia, a meio da noite, a insónia acorda-nos e um monte de "e se..." enfileiram-se na mente. Volta-se a dormir, sobre o assunto e os ses. A ideia, essa fica latente, como uma infeção que vai tomando conta da nossa mente. A ideia de mudar... Vai-se sentindo o sabor, os contornos do que a mudança poderá implicar, habituando o corpo a esta nova adrenalina, aprendendo a gerir o stress que qualquer mudança implica, treinado a mente para gerir a imprevisibilidade, na medida do possível.  
Não foi uma decisão tomada de ânimo leve, não foi fácil. Tenho a certeza de que não vai ser fácil mas só o tempo vai dizer se valeu ou não a pena. Passaram-se 4 anos desde que me desterrei no Alentejo, numa cidade na qual nunca me adaptei a viver, onde não consigo gostar de viver, onde estou longe de tudo e de tantos. Numa cidade (ermo) que me repele e que eu rejeito. Acho que já dei tempo suficiente ao tempo para todas as adaptações possíveis. E depois, há todas as outras questões, como a falta que os Avós fazem à Francisca e a falta que me fazem os Avós para ajudar (sim, é preciso uma aldeia). Há a vontade de não querer deixar morrer aquele impulso de querer sempre a "extra mile"e de me sentir desafiada mentalmente, catalisada pelo medo de estar a ficar uma abóbora.  A "fuga" constante para Norte sempre que possível foi uma constante ao longo das semanas, que viraram meses, que se somaram em anos. Chegou a altura de voltar aonde pertencemos. Aonde as raízes nos darão suporte para crescer, em tantas direcções diferentes, em tantas medidas diferentes. Caindo no cliché, digo muitas vezes "vai e se der medo, vai com medo mesmo". Porque as escolhas que fazemos também passam por tentar ser (mais) feliz. 

22 agosto 2016

Dúvidas existenciais de quem sofre dos nervos.

Depois das fotos dos pés na areia/água/whatvs, surgiu agora uma nova "moda". 
Esta consiste em tirar fotos às pernas, apanhando propositadamente o pipi tendo como cenário de fundo uma praia/piscina/qualquer outro cenário onde seja aceitável, ou minimamente aceitável, usar biquini, e pretende:  
a) mostrar que a pessoa fez a depilação na zona do pipi; 
b) mostrar que a pessoa tem as pernas morenas e fez a depilação na zona do pipi; 
c) mostrar que a pessoa tem um pipi e o levou de férias;
d) todas as anteriores.
Não ponho a hipótese de ser apenas para mostrar que se está de férias num qualquer sitio a apanhar banhos de sol, porque não sei muito bem onde a parte de focagem no pipi e paisagem em fundo se enquadra. Mas isso sou eu, que sou limitada e sofro dos nervos.  

Bom dia, bom dia...






(...)
Birds don't just fly, they fall down and get up
Nobody learns without getting it wrong

I won't give up, no I won't give in
'Til I reach the end and then I'll start again
No I won't leave, I wanna try everything
I wanna try even though I could fail
I won't give up, no I won't give in
'Til I reach the end and then I'll start again
No, I won't leave, I wanna try everything
I wanna try even though I could fail

[e repetir, como um lema de vida: nunca penses que já fizeste tudo.]

08 agosto 2016

Lugares comuns

Há dias que sinto que sou um todo de lugares comuns. Vazia. Oca. Repito mantras, mais para manter a cabeça ocupada, do que por outra coisa qualquer. "Vai e se der medo, vai com medo mesmo". Lugares comuns. Bengalas dos medos que carrego e que tento guardar para mim. Os sonhos agitados. O desligar do aqui e agora, em tantos momentos, para me fechar em mim, perdida em pensamentos vagos e desconectado de um todo. "Vai e se der medo, vai com medo mesmo". E se não sou boa o suficiente? E se não consigo? E se o medo se torna maior que eu e me dilacerar por dentro? "Vai e se der medo, vai com medo mesmo". Lugares comuns. Mas vou. t-minus... Com medo ou sem medo, vou. E quando o digo assim, o enrolar do "r" de regressar, as ondas revoltas, meu doce nevoeiro, repito: "Vai e se der medo, vai com medo mesmo".

06 agosto 2016

Eu sofro dos nervos.

Ah, a seita da "amamentação é um ato tão natural como a sua sede". 
(Prólogo: querem amamentar? Fixe para vocês. Não querem amamentar? É lá convosco! Tenho uma criança criada a leite artificial e não saiu burra, socialmente inadaptada ou enfezadinha. São escolhas, forçadas ou não, e só dizem respeito a quem as toma.) 
Agora... querem amamentar para quem quiser ver a Mãe Natureza em todo o seu esplendor? Eh pá... Tenham lá calma... Eu sei que as mamas são vossas, que todas as mulheres têm um par delas e mimimi. Acontece que eu não tenho de as ver. Eu não as quero ver, ponto final. E eu também estou no meu direito de estar sentada a tomar um café sem ter de levar com um mamaçal à minha frente.  Se querem que seja respeitada a vossa vontade de amamentar, então respeitem a dos outros quererem estar num restaurante sem terem de estar a ver a vossa criança a tomar a sua refeição diretamente da "fonte". Há muitas outras coisas que são atos da natureza ou tangas diversas, debaixo de nomes socialmente correctos, que são feitas com alguma privacidade. Ponham um avental de amamentação, uma fraldinha, qualquer coisa p'lo amor da santa! Não precisam de se fechar numa sala, num quarto escuro ou pensar em cenários semelhantes para alimentarem a vossa cria, da maneira mais natural possível. Até podem (e devem, se assim o desejarem) continuar a ter a vossa refeição/conversa/whatever... Só não precisam é de sacar a mama para fora e, enquanto eu como o meu bife, estar a assistir à natureza fazer o seu trabalho. É que por essa ordem de ideias, então eu, do outro lado da mesa, também podia começar a comer de boca aberta, mostrando o quão eficiente o meu sistema digestivo é em transformar um bife de meio kilo em algo digerível, porque afinal, é algo natural... Não querem ver o interior da minha boca enquanto mastigo, pois não? Então, eu também não quero ver a vossa mama enquanto alimentam. Simples.

05 agosto 2016

Um minuto de reflexão profunda...

... por todos aqueles que, quando reparam na tatuagem que tenho nas costas, duas patinhas, fazem a piada clássica do " ai menina, andou um bicho ai nas suas costas...".  E ainda esperam que eu me ria. 

04 agosto 2016

E então, tens irmãos?

(Tocam à porta de casa dos Avós. Francisca, cusca q.b, benzádeus, corre também para a porta, não vá perder pitada do que não lhe diz respeito) 
- Olá  Como te chamas? 
- Fráaancisca! 
- E quantos anos tens? 
- 4 mas vou fazer 5 no 30!
- E tens irmãos? 
- Olha  não tenho nem irmãos, nem irmãs. Mas sabes, tenho a Mofli, a Chica, o Nicky, a gatinha nova que se chama Khaleesi...
- Ah, está bem Francisca...  
- ... os outros dois gatinhos bebés, que se chamam Carlota Josefina e Peppa Capacete ... 
-  Pois, estou a ver, tanta gente... 
- ...  duas avós, dois avôs, uma Bió (=bisavó), a prima Clarinha, o primo Pedrinho, o primo GuimGuim 
-  Já percebi tanta gente que tens, que bom!...  
- ... a prima Carolina, o primo Rafael... 
-  Se calhar agora eu falava aqui com o Avô está bem?
- Está bem, eu agora "até" tenho de ir embora. Adeus!

Bicho mais bom desta Mãe, tão bem ensinadinha que está para responder à questão  que as 'ssoas insistem em fazer, sobre irmãos e irmãs. Talvez lhe ensine também a responder que "a minha Mãe diz que já deu para o peditório da Natalidade, obrigada!". 

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03 agosto 2016

Dos avessos e direitos

Não gosto de aplausos, de festas e palmadinhas nas costas. Gosto que me sorriam, tanto me faz que seja um sorriso aberto ou mais envergonhado. Gosto das mãos pequeninas da minha Filha, tão parecidas com as minhas, e de quando seguram na minha cara entre elas. Não gosto que me toquem incessantemente, enquanto falam comigo (não sou touchscreen). Gosto de noites e madrugadas mas gosto ainda mais de dormir.  Gosto de nevoeiro. Gosto da sensação de ser capaz de me controlar, inspira, expira e não pira. Não gosto de falar dos meus sonhos e planos e projetos... tenho medo de o fazer, muito pela sensação de que se não se concretizarem, seria uma desilusão para quem me ouviu. Não gosto de acordar atordoada. Não gosto de exposição pública ou desnecessária. Não gosto de rótulos. Não gosto de brejeirice mas foge-me pela boca fora o meu Porto, em expressões e, se estiver mesmo ou à vontade ou chateada, num belo palavrão, que dado na hora e altura certa, faz milagres. Gosto do cheiro do gel de banho da vasenol, o "normal". Não gosto de gente extremista. Gosto de quem é capaz de ficar perto de mim nos momentos maus ou quando sou a pior pessoa à face da terra no meu desânimo, lágrimas e aquele peso a afundar-me em camadas de tristeza inexplicável. Gosto da sensação que me provoca a roupa estendida ao vento, de forma tosca, na Afurada. Gosto que a Francisca chame à Igreja da Serra do Pilar "a igreja dela". Gosto de comer tapas e era capaz de o fazer mais vezes do que o aceitável. Gosto de gomas, de presunto, de pão, de queijo e de vinho tinto e de todo um monte e mundo de gordices. Não gosto do meu nariz. Não gosto de lutar todos os dias contra a minha cabeça mas gosto da minha resiliência em viver o melhor possível com ela... e gosto de tudo de bom que a minha cabeça já me permitiu fazer, a mesma que me levou para sítios muito escuros e estranhos, nos avessos da natureza humana. Não gosto da minha barriga, mas gosto de saber que fui capaz de gerar a minha Filha, pedaço de mim. Gosto dos olhos da minha Filha, aqueles olhos que guardam tudo, de uma doçura imensa no profundo castanho dos seus olhos. Não gosto que a Francisca seja tão sensível, temo pelas dores que  a vida lhe vai infligir mas gosto de sentir que aquela miúda tem bom coração. Gosto do meu querido mês de agosto, da luz que trouxe aos meus dias e ao sentido das escolhas. Não gosto de calor , nem do verão, nem de sol e prefiro mantas, chá e livros ou filmes, enfiada num pijama polar com zero glamour ou tentativa de sexyness possível. Não gosto de fotos de pés nas redes sociais, seja na areia ou na água, fazem-me confusão. Não gosto que me julguem mas gosto que quando opinam o consigam fazer de forma fundamentada. 
Existem muitos dias em que tenho de aprender, uma vez mais, a gostar de mim e a aceitar-me com todas as voltas e reviravoltas de mim, nos meus avessos e direitos, na impressão digital do meu ser. Em aceitar o tudo que gosto, o tudo que não gosto, aceitar tudo o que quero, tudo o que dói e tudo o que vai passar. A respirar fundo, uma e outra vez, com a certeza e a convicção de de que por muito que tudo me pareça impossível, difícil, doloroso, tenho de confiar nas voltas que o mundo dá.