11 abril 2015

Das noites.

Repito-lhe todas as noites que não há monstros. Que nunca estará sozinha porque a Mãe está sempre no seu coração. Minto, em parte porque há monstros no mundo, com muito melhor aspecto que os verdes gosmosos que os seus 3 anos e meio desenham na sua cabeça. Mas faz parte, não haveria bem sem mal. Duas faces da mesma moeda. Repito-lhe todas as noites que a levo sempre no meu coração, sangue do meu sangue, a melhor parte de mim. E todas as noites me chama e me diz que tem frio, de sorriso malandro de quem sabe que se destapou de propósito, quando sabe perfeitamente cobrir-se de novo. Mas não tem mal, aconchego-a e ouço-a suspirar quando saio do quarto, todas as noites. Há nela uma infinita capacidade de sorrir, penso. E de gostar de pessoas. Francisca gosta de pessoas. Vejo-lhe as bochechas e as covinhas marcadas à luz pequena da luz de presença. E há em mim esta certeza inabalável do melhor do meu mundo, enquanto ouço a ladainha das estrelas de "nefetuno" ao afastar-me pelo corredor. Mesmo que depois tropece num brinquedo esquecido, me sente em cima de um lápis de cor perdido no sofá (onde não podia desenhar) ou descubra restos de uma banana (roubada da fruteira) escondidos nos sítios mais insólitos. 

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