Nos últimos dias, Francisca tem feito uma espécie de desenhos na Escola que traz para casa, amarfanhados na mochila, mas de onde os retira com orgulho imenso, estendendo-os na minha direcção com as suas mãos ainda pequenas mas que desde sempre carregam tesouros tão maiores do que ela alguma vez saberá. Francisca olha-me de olhos brilhantes e diz-me de sorriso rasgado:
- São para ti Mánhe, fiz para ti! Olha: aqui estás tu, a minha cadélinha Mofli e eu, vês?
Pois que... não. Lamento, mas não. Vejo muitos riscos, muitas cores e é isso, assim numa primeira análise a frio. Francisca tem tanto jeito para desenhar como eu, a sua Mãezinha, trôpega de morte nas artes manuais. Mas a maternidade trouxe-me novos olhos, mais serenos, mais atentos, mais sedentos. E com esses olhos, eu, derretidinha de coração tolo de Mãe, digo que estão lindos. Apesar de parecerem ao meu lado racional uns borrões dignos de Rorscharch (e o que vês aqui? belos pastos verdes? então pastai que vos faz bem!) não são os sarrabiscos que me deixam tão de peito cheio... é o acto de mos querer dar, da sua felicidade ao apontar para mais uns riscos toscos e dizer "Mánhe, aqui estou de mão dada contigo, vês?". Não vejo (nem com muita imaginação), mas sinto em mim. E assim, os sarrabiscos tomam a forma que o meu coração quer. E que Francisca me dá.
Esta fase é deliciosa... O Francisco numa semana passou dos rabiscos aos bonecos com cabeça que os braços e pernas saem directamente da cabeça...
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