Vejo os planos dos outros. Delineados. Traçados. Com objectivos e metas e propósitos. Tudo de novo num Janeiro de um ano novo feito dos dias velhos. A instabilidade. A crise. O e agora? E o depois? Acabei a licenciatura, já estando a começar o Doutoramento. Acabei o Doutoramento e sem ter grandes certezas, tive a sorte de fazer a minha sorte. Em boa verdade, correu-me bem. Os anos passam e há sempre a instabilidade a que se devota quem escolhe esta vida. Os meses que passam naqueles que sabemos certos, menos um, menos dois. Penso muitas vezes em dedicar-me a outra coisa qualquer. Fico triste. Percebo que não tenho nenhum talento especial. Nada em que possa apostar e decidir que por ali é o caminho. Nada que consiga por numa bela foto em sépia, com letra desenhada, a explicar que sempre esteve dentro de mim a capacidade para tais feitos. Fico ainda mais triste. Percebo que o único talento que tenho é rir-me de mim. Mesmo que não tenha assim tanta piada. E sobreviver contra todas as expectativas. Saí do meu País, voltei, escolhi ficar no País, numa teimosia certa. Não quero sair. Por muitos motivos, meus e que me dizem respeito. Não quero sair do meu País. Os meus Amigos já foram quase todos. Falam-me de vidas melhores. Não as invejo. Gosto da minha. Tem dias, em boa verdade, tem dias que gosto mais que outros mas isso agora não importa. Passam os dias e os meses e sempre a incerteza do futuro. Penso e pergunto-me muitas vezes se seria mais feliz a fazer outra coisa qualquer. Seria? Nunca sei a resposta. Às vezes, quando está tudo baralhado, nem eu acredito muito em mim. Tenho dias assim. Vejo e ouço planos alheios. Tão delineados, tão definidos. A minha Vida sempre foi pautada pelo acaso. Pelas coincidências mais ou menos felizes. Flexível. Penso nos rios. Os rios correm invariavelmente para o mar. Todo o seu leito é definido com o passar do tempo, à força bruta da natureza. Depois, rio-me de mim. O meu único talento. Comparo-me a mim e à minha vida a um rio e acho de tamanha piroseira que me dói. Também me dói a incerteza do futuro mas abstraio-me e penso que tenho roupa para me aquecer e comida para me alimentar. Comida para por na barriga da minha Filha e roupa para lhe tirar o frio. Dinheiro suficiente para todas as necessidades básicas. Vejo que posso não ter grandes planos, ou objectivos e metas e propósitos mas também não faz mal. O futuro será sempre uma incerteza. Mesmo para quem tem planos escritos em agendas bonitinhas. Pergunto-me muitas vezes "E agora?". Quase nunca sei a resposta no imediato, mas sei que quando o agora passar, serei capaz de dizer que afinal, não foi assim tão mau.
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Tens o talento de escrever assim, hm? Que tal, para talento? :)
ResponderEliminarÉ tão verdade! Também eu faço parte dessas incertezas, o mundo de R&D!!!! :) Mas também tem tantas coisas boas...e crescemos a reinventar-nos todos os dias!
ResponderEliminarE esta loucura saudavel vai fazer das nossas filhas (tb tenho uma Francisca!) miudas cheias de iniciativa, personalidade e espirito critico. Acredito nisso (quase) todos os dias.
Beijinhos
Revejo-me muito neste post... Eu também faço parte das pessoas a quem as coisas vão acontecendo... Eu também não sei (nem nunca soube) para onde e como vou, vou só andando...
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