Choca-me a morte inesperada. Choca-me, em boa verdade, a morte em si, mas não tanto quando se viveu a vida em pleno e se cumpriu um ciclo. A morte, diz-se, faz parte da vida, deste ciclo que se renova a cada criança gerada. Choca-me a morte das crianças, do ciclo que se quebra abruptamente, um elo perdido num ciclo que nunca mais se completará. Choca-me a morte da Nôno, às mãos do cancro covarde. Acho, porém, que depois de tanta dor deve haver algo melhor, tem de haver, não faz sentido o contrário. Choca-me a morte. Principalmente, pelos vivos. Pelos Pais órfãos de filhos, num ciclo dolorosamente invertido.
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