Não nasci assim, mas sou assim. Quando algo me inquieta, me atormenta, me preocupa ao ponto de me levar o sono, calo-me e fecho-me em mim. Falo comigo, muitas horas, na minha cabeça. Pergunto-me e respondo-me, no que chega a roçar a insanidade. Sou assim. Calo-me. Fecho-me. Reservo-me mais, brinco menos, sorrio menos. Perco-me na minha cabeça, em debates sem moderador, horas a fio. Fico calada, nestes monólogos da razão sentimental e do sentimento da razão. Preocupa-me saber que a Francisca vai ser operada sabendo no entanto que é uma coisa simples e que ao lado da tormenta que muitos Pais passam isto é um beliscão. Mas a Francisca é a única que sabe como bate o meu coração, que o ouviu como mais ninguém jamais o escutou. Fico calada, durante longos períodos, absorta nestas discussões que se geram em mim. Ralho-me, repreendo-me, mimo-me, acalmo-me, tudo em silêncios de altos decibéis. Porquê? Não sei. Não nasci assim, não fui sempre assim, mas sou assim. Sei, sobretudo, que passará. Quando a abraço de manhã, quando ela se abraça a mim e me pede macaquinho, sei que sim, que isto passará. E sei, com uma certeza inabalável, que os meus braços nunca deixarão de ser fortes o suficiente para a abraçar nem que o meu peito será pequeno demais para ela se aninhar.
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