(imagem daqui)
Chuva e vento, muitos dias dos 365 (ou 366) do ano e um nevoeiro sublime, inexplicável. Francesinhas, no Aviz, no Piolho ou no Fase. É o sabor das Bifanas do Conga. O rio Douro. A Foz. A Ribeira. Da Ribeira até à Foz e aquele azul de mar, tão meu. O Porto é o arco da Ponte da Arrábida. Ou a ponte Dom Luís, onde passa o Metro de brincar da minha Cidade. Ou qualquer uma das outras pontes de atravessam o (meu) rio de Ouro. É a Rua de Santa Catarina. A Rua das Flores. A Avenida Brasil. A Rua de Cedofeita. A Rua Álvares Cabral, onde se me avariou o carro pela primeira vez, em dia de São João. O Porto é o São João, a festa mais democrática que conheço, a rua é de todos e para todos. É os Aliados, que ainda me recordo de terem árvores frondosas e lagos (charcos) no meio, onde corria atrás das pombas. O Porto são também os autocarros da STCP, apinhados em dias de chuva e a cheirar a ressoado e aquela velhinha que todas as manhãs levava flores no 79 (há muitos anos), para deixar na campa da Filha, todos os dias, flores frescas, sem excepção "porque sabe Menina, era a minha flor que se foi e só assim a consigo ter perto de mim". O Porto é gente de "pelo na benta", que usa palavrões como quem mete vírgulas no discurso, mas sem malícia, não é defeito, é feitio. É a 31 de Janeiro, onde já me espalhei ao comprido, rua abaixo, do alto dos saltos. É a rotunda da Boavista e o atentado visual que para mim é a Casa da Música. Não gosto, pedregulho, meteorito espacial caído naquela zona. O Porto são os croissants da Doce Mar e os rissóis da Império. E as flores no Mercado do Bolhão, onde há sempre um sorriso e um pregão para levar e ouvir. O Porto é também o meu Dragão que já foram as minhas Antas, não tenho como dissociar. O Porto é o Vigorosa, nos pliés e demi-pliés que lá fiz. No gesso das pontas e nas fitas bem apertadas, por vezes não muito. O Porto é a VCI onde gastei muitas horas, onde tenho saudades de me irritar, onde já cantei e buzinei um pouco (só um bocadinho…). É a lembrança de ter subido aos Clérigos com o meu primeiro namorado, que coisa mais melosa e adolescente, mas ficou-me na memória. São as re-inventadas Galerias Paris e as caipirinhas. São os Biscoitos da Ribeiro, o cheesecake da Ribeiro, tudo da Ribeiro. Na dos Pinhais da Foz ou na dos Leões, mas esta última em competição com os éclairs da Leitaria da Quinta do Paço. O Porto é o vinho, mas que não se faz nem fica no Porto, mas é assim, é vinho do Porto. É o Teatro Carlos Alberto e as noites em que lá dancei, tutu de tule. É o Fantasporto. É fantasma da Mariana e da Teresa, tão presentes na Cadeia da Relação e que velam o Porto, do lado de lá do rio, na Serra do Pilar, num Amor de Perdição. Foi a Cidade que me viu nascer e crescer e viu nascer a minha Filha. É terra onde se chama alguém de morcão mas povo pouco dado a morconices, de gente de coração na boca, de finos e não de imperiais. É as saudades do meu dia-a-dia, extraviada a Sul. O Porto é de quem lhe quer bem e dele gosta tal e qual como é, naquele cinza pardacento ou num azul curvilíneo, nos seus morros e becos, na sua pronúncia, tão nossa, tão minha. O Porto é mais, muito mais, muito para além de e das palavras. O Porto, vive-se. Não se explica. Não se traduz. Não se ensina.
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