05 novembro 2013

De realidades.

Quando era pequena, queria ser piloto de F1. Também passei por uma fase em que o eu queria mesmo ser, era Miss, daquelas que dizem que querem paz no Mundo, borboletas e acenam com a mão graciosamente. Seguiu-se uma fase em que o meu maior sonho era entrar nos "Jogos sem Fronteiras". Depois, voltei à parte de ser piloto de F1, até ao dia em que o meu Pai me acabou com o delírio, sem dó nem piedade, dizendo que não me poderia oferecer um F1, porque o carro era muito baixinho para andar ainda mais (aprendi anos mais tarde ser uma questão de aerodinâmica) e como no Porto havia muitos buracos na rua e ruas de calçada, o carter partia-se e estragava-se o carro. Foi inteligente da parte dele não referir a pipa de massa que a coisa custaria, uma vez que eu com 20 escudos me sentia a dona da minha rua e mais um par de botas. Fui crescendo sem saber ao certo o que havia de fazer de mim, sabendo apenas para o que tinha jeito e o que nunca conseguiria ou quereria ser. Aliás, há uma série de profissões para as quais eu seria dada como inapta ao fim do primeiro dia. Ou acabaria na cadeia. Um dia destes, do nada, a Francisca olhou para mim e disse, com todas as letras: "A Mamã é muito bonita. Gosto muito da Mamã". Não cheguei a ser piloto de F1. Não cheguei a entrar nos "Jogos sem Fronteiras" e ainda bem que a ideia de Miss me passou rapidamente do alto dos meus 5 anos. Não fui e fiz muito do que aos 5, aos 10 e aos 20 sonhei. Por muito que não se queira e se tente evitar, há sempre qualquer coisa que vai ficando para trás à medida que se cresce e os sonhos não chegam a tornar-se realidade. Mas há realidades que não se sonharam ou imaginaram que são melhores. Como ouvir dizer "A Mamã é muito bonita. Gosto muito da Mamã". Por incrível que pareça, dá mais adrenalina do que conduzir a alta velocidade.

1 comentário:

  1. O F. não me diz coisinhas fofas, mas pega na minha cara com aquelas duas mãos pequeninas e faz-me ganhar o dia!

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