21 outubro 2013

Desabafo de uma Mãe à beira de um ataque de qualquer coisa.

Anda há dias que diz que vai chover. Choveu um pouco um destes dias, mas não o prometido pelo meu telemóvel. Também só sei que dia é hoje porque está escrito no verso da estúpida da pílula que ando a tomar. Hoje, ninguém dormiu. De novo. Mais uma vez. Francisca passou o seu dia de Domingo a pintar a manta. Fez asneira atrás de asneira, berrou, gritou, esperneou o tempo todo da sesta, atirou-se da cama, onde foi de novo colocado o dossel, que a fez cair e não sair sorrateiramente como na noite anterior. Hoje a grade sai, para evitar acidentes. Fez 30 por uma linha, bateu na Mofli, mexeu em tudo que não devia. Ficou de castigo sentada numa cadeira 2 minutos, até ter ordem para levantar. Não sei onde fui buscar esta, mas sossegou um pouco. Dei-lhe banho. Fiz-lhe o jantar. Vomitou parte do jantar porque puxou o vómito de propósito. Fui deitá-la, com a nossa lengalenga de sempre. Deu luta mas adormeceu. Dormiu 2 horas, tranquila. Depois, recomeçou tudo, de novo. Francisca quer que alguém se sente na cadeira e ali durma, em adoração da sua existência. Francisca grita, chora, berra. Birra, birra, birra. Francisca puxa de novo o vómito porque sabe que se o fizer alguém aparece. Troco a cama, lavo o vomitado da colcha à mão e apetece-me chorar. Mas não choro porque, pelo amor da santa, alguém com dois dedos de testa não se vai por a chorar porque está a lavar vomitado de madrugada e tem frio e sono. Francisca, está tudo bem. Fazer ó-ó com o KikoNico, com o Ursinho, com sei lá mais qual boneco. Luz de presença ligada. Luz do corredor acesa. Tanto faz, é indiferente. Eu sentada no chão à porta do quarto. Francisca, está tudo bem, a Mãe está aqui. As horas a passarem. Francisca só se cala quando alguém se senta na cadeira. Aí, deita-se em regozijo com a sua vitória e adormece num sono leve, que é interrompido pelo som do levantar da mesma. Não pode ser. Não há cadeira. Cadeira para o corredor. Fazer ó-ó, está tudo bem. Frio, tenho tanto frio. Francisca berra noite fora, madrugada dentro. Oscila entre gritos, berros, choro e conversa melada. Às sete e e meia, não quer dormir, não dorme. Enfio-lhe a papa pela boca abaixo, visto-a em modo automático e mando-a para a Escola com o Pai, que sai sempre muito antes de ela acordar. Nem sei se lhe lavei os dentes. Pede-me para lhe cantar uma canção qualquer das que costumo, mas digo-lhe "não". Dou-lhe um beijinho, digo porta-te bem na Escola e enfio-me no banho. Ah, a culpa. Será que a água me lava a alma da culpa? Não pode ser, não pode ser, não pode ser. Não é vida dormir numa cadeira, não é vida não dormir. Eu preciso desesperadamente de dormir, de descansar. Tenho frio. Hoje, tenho frio. A culpa, ah a puta da culpa. No sítio do meu coração hoje está uma uva passa, mirrada, pesada. Não, não, não. Não vem dormir para outra cama que não a dela. Não dorme ninguém na cadeira. Ainda a consigo ouvir nos seus gritos de birra, como se estivesse gravado na minha mente. Em repeat. Ligo para a minha Mãe em busca de um colo, de mimo, de carinho, de compreensão e apoio. Levo um atestado de incompetência enquanto Mãe, "que estou a fazer tudo mal, a traumatizar, a ser um bicho, que não sei fazer seja o que for bem, que sou casmurra e teimosa e "qual é o mal de a meteres a dormir contigo?!?" Oi?!?!?!?. Apetece-me chorar mas não choro. Não choro. Desligo a chamada e depois falamos, beijinhos. Recuso-me a chorar porque a minha Mãe não o soube ser e foi Avó.  Recuso-me a chorar porque tenho sono e frio. Recuso-me a chorar porque me sinto uma merda, um farrapo, uma péssima Mãe mas que só quer o melhor para a Filha. E o melhor não é ela dormir comigo ou de uma cadeira ser feita cama. Não, não, não. Hoje não me apetece ser Mãe. Hoje, apetece-me ser Filha e ter colo e carinho e que alguém me passe a mão no cabelo e me diga que vai ficar tudo bem e que eu não sou a reencarnação do Demo versão Maternidade, porque escolho não ceder às birras de uma criança de dois anos. Apetece-me enrolar-me sobre mim mesma, em silêncio. Hoje não me apetece ser Mãe mas isso é delírio. Sou-o todos os dias. Espero que hoje chova. Pelo menos, fica o cheiro bom da terra molhada no ar. 

8 comentários:

  1. Espero que isso passe depressa! Acho que devias passar ao modo "cama de solteiro"... Já tivemos umas noites piores e a solução passou por me deitar com ele na cama de solteiro e fugir depois, resultou...
    E aproveita para não seres mãe hoje, pelo menos até ao fim da tarde e esquece a culpa, não tens culpa de nada e não há pai nem mãe que no meio da exaustão não tenha pensado alguma vez "Eu atiro-o janela fora"... Olha a mim ocorre-me muitas vezes :D!
    Um beijinho muito grande

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  2. Não fiques assim...sei que custa porque já passei pelo mesmo com a Sofia, tal e qual com as birras, os gritos, os vómitos forçados tudo para nos chantagear e não cedi por muito que me custasse e magoasse não cedi. E acredita que puta da culpa não me largava mas sabes? Valeu a pena, aprendeu a dormi na caminha dela sem birras. Se eu cedesse uma vez tinha de ceder sempre e depois quem ganhava? Era ela, e eu e tu??? quando descansamos? Quando podemos dormir?? Custa muito mesmo mas às vezes temos de ser assim intransigentes por mais que nos doa afinal sabemos que é para o bem delas.
    Beijo grande grande

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  3. Minha querida... ser mae nem sempre é facil e a tua pequenina nao te está a dar treguas... mas isso vai passar e nao estás a ser uma má mae, bem pelo contrario, tentas acalmar e fazer de tudo para que a tua filha esteja bem, dás de ti muito e muito... e sei bem o que é sentirmo-nos sozinhas e sem colo... a minha mae tambem nao foi uma boa mae... e eu tb acho que ás vezes falho no papel de mae... mas quando as forças faltam, nao nos podemos deixar abater... sorri, mima a tua filha, daqui a uns meses ela vai agradecer e pedir desculpa por todas as birras que fez... ate lá so tens de estar calma e ser o melhor de ti como pessoa. Beijinho e força e aproveita para descansares um pouco enquanto a filhota está na escolinha.

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  4. Posso juntar-me ao teu desabafo??? por aqui andamos a sofrer do mesmo :S

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  5. Sei que falar é fácil (principalmente quando ainda não se tem filhos) mas... inspire... expire... lembre-se do sorriso lindo da Francisca... aquele que não vai desaparecer nunca, mesmo que a mãe não lhe faça as vontades todas.
    Um abraço!

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  6. Princesa, esse sentimento de culpa acabamos por sentir todos em algum momento. Não te martirizes. Pessoalmente tb não vejo problema em colocar a minha filha na minha cama, ela nunca se habituou a isso, mas ultimamente tb tem feito umas birras enormes para adormecer à noite. É de dar em louca, ainda mais porque não quero ceder a adormecê-la ao colo como me pede. Sejam quais forem as nossas convicções, ser firme representa mesmo termos que levar com as birras, é a forma deles tentarem valer a sua vontade. Bem td isto para te deixar um beijinho e muita força para estes momentos que nos sugam completamente.

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  7. Minha querida, qual culpa qual quÊ?!?
    Nada disso!
    Todas, todas mesmas pensamos o mesmo!
    O A. tem dias/noites do demo, também, e eu sou "a má"! A que não pode deixar que ele vença a dele. Porque também somos humanos, porque também precisamos de alguma paz...
    Estou contigo! De coração*

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  8. É uma merda essa culpa... Mas não fiques assim. Acredita, todas nos sentimos assim, uns trastes de quando em vez. O João também se lembrou de agora começar a dar noites dessas de vez em quando. Só que agora com o meu marido de pé partido, sou sempre eu que tenho de me levantar. E eu com o sono não raciocino muito bem. Ao fim de 1hora no máximo acabo a trazê-lo pra nossa cama. A única vez q nao o fiz, acabei por adormecer no tapete ao lado da cama dele, feita tolinha... Digo para mim mesma que sao fases. Para ver se me animo. Mas que é preciso muita paciência, lá isso é. Beijinho grande!

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