Por esta altura, começa(r)am as trovoadas. As mais bonitas aos meus olhos. Trovoadas em que avisos amarelos e vermelhos eram emitidos com a antecedência permitida pela inconstância do tempo. Por vezes, muitas vezes, 30 minutos antes do céu desabar. Foram as trovoadas mais bonitas que já vi. Lembro-me de uma vez em particular, em que escolhi caminhar a pé para casa. Seriam uns 45 minutos. em que precisava muito de caminhar em silêncio com a minha música. Saí num dia claro, de céu limpo. A meio do caminho, o céu ficou negro, escuro, carregado, num espaço de dez minutos. Escolhi continuar a pé. Precisava muito de caminhar em silêncio com a minha música. Lembro-me de ficar encharcada. De guardar a música e ir só assim, em silêncio, cortado pelo som dos trovões. Lembro-me também do silêncio nessas noites de tempestade. Cortado pelo som dos trovões. De me sentar naquela janela, por mim escolhida para temporariamente morar. Uma janela enorme, que inundava a sala de luz boa. Assim como se enchia com a luz branca que cortava o breu de quando em vez. Da chuva grossa a bater nela. Do som de um céu fechado, mas bonito. Por vezes, bebia um copo de vinho, sentada à janela. Para aquecer o peito e distrair a cabeça. Por esta altura, começa(r)am as trovoadas. Agora, o silêncio poderia ser diferente. Lá fora, há um céu limpo. A luz branca é a do luar, que entra tímida nesta janela pequena. Mas o silêncio, esse, permanece igual. Porque descobri que vive em mim, em mais sítio algum, este meu silêncio. Porque me pertence.
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Adorei!
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