Os olhos prenderam-se nela mal entrei na loja. Da "seita", diria o meu Pai. Teria uns 14/15 anos. Muito bonita. Daquelas miúdas a que não se fica indiferente. Não foi por isso que me chamou a atenção. Foi a pele desnutrida, baça, prematuramente envelhecida. Remexia nas prateleiras de produtos para emagrecer, com aquele ar de quem sabe perfeitamente que não o deveria mas tem de o fazer. Dei a volta e fiquei do outro lado das prateleiras, olhando-a. Teria uns 14/15 anos. O cabelo baço, comprido. Os olhos sem luz, perdidos nos produtos para emagrecer. Oscilava entre comprimidos, cremes e chás. Lia com atenção as embalagens, concentrada. Teria uns 14/15 anos. A roupa larga que não escondia a fragilidade. Estava sozinha. Talvez só. Fiquei largos minutos a olhá-la. Tive vontade de me aproximar. Sei que seria mal recebida. Sei que seria mal interpretada. Fiquei do outro lado, apenas. Com vontade de lhe dizer que há vida além disso. Que tem de parar, agora. Que se ultrapassa. Que a vida é tão melhor fora dessa prisão. Que basta ter coragem de chorar e deixar ser ajudada a erguer-se. Que as gramas da Vida valem mais que os kg do corpo. Um corpo que um dia cede ao peso dessa dor. Saiu depois de levar o que achou que lhe traria a paz a uma mente à deriva.. Não me consigo esquecer da cara dela. Não me consigo esquecer do meu silêncio ao assistir a um quase deja vú. Secretamente, quando a vi sair, pedi que deixasse que alguém a ajudasse a seguir em frente. Livre. Do alto dos seus tão bonitos 14/15 anos...
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nó na garganta..
ResponderEliminarNão sei quanto pesa essa dor, mas se me aflige ver imagino a quem sabe quanto doi! Um beijinho grande
ResponderEliminarEspero que sim, que tenha quem a ajude.
ResponderEliminarAlguém que lhe tire o peso dessa prisão, o peso dessa dor.
Um beijo para ti*