O meu Pai é da geração da Revolução. Andou na rua a lutar por uma Liberdade. Os anos passaram. O meu pai foi da geração da Revolução. Dos cravos vermelhos. Das manifs. Do lutar por poder falar. De ver os Amigos fugirem para França, em busca de dias melhores, de vidas melhores, em fuga a uma prisão certa por elevar a voz contra o Regime. Os anos passaram. Hoje, tenho muitos mais anos do que o meu Pai tinha quando andou a lutar por uma Liberdade. Eu sou da geração rasca. Ou da geração à rasca. De uma geração que vê na mesma partir os Amigos. Que os vê sem perspectivas de futuro neste Portugal. De uma geração que se vê sem horizontes. Mais de metade dos meus Amigos partiram. Os que ainda cá estão, alguns, irão partir em breve. Outros, continuarão na esperança de melhores dias. Uns ficam porque querem, outros ficam porque partir (ainda) não é opção. Ponderei muitas vezes partir. Ir embora sem ideia de voltar um dia. Ficar do lado de lá do Atlântico. Ir para os Países Nórdicos. Mas fui ficando. Vou ficando. Ainda. Os anos passaram. E o meu Pai, hoje, recusa-se a falar dos dias e das noites em que saiu à rua a lutar por uma liberdade. Porque olha para a Filha e vê que sim, que pode falar, que pode exprimir a sua opinião sem isso acatar uma sentença de prisão. Mas onde lhe vê as mesmas dificuldades, a mesma luta, a que achou que quando saiu à rua e cantou "Grândola", seria a borracha das dificuldades em gerações vindouras. Eu olho para a minha Filha e não sei que futuro lhe poderei dar. Porque eu, até hoje, safei-me. Procurei. Esforcei-me. Tentei. Falhei. Voltei a tentar de novo. Tive sorte, admito. Não foi só sorte, mas tive-a também. Mas olho para a minha Filha e não sei que futuro lhe poderei dar. Gostaria de não ser esta geração tão à rasca. Tão desanimada. Tão soturna. Gostaria de lhe dar um Portugal de horizontes. Um Portugal onde a ideia de partir porque é impossível ficar não fosse o legado da minha geração. Esta, que a conta-gotas pesadas, se vai embora. Eu, vou ficando. Porque sei que se for, não voltarei a este meu País. E gostaria muito de pensar que, um dia, o meu Pai volte a achar que tudo valeu a pena. Que não foi em vão os riscos que correu. Que das cinzas que vejo neste meu País algo bom renascerá. Porque sou Portuguesa. E gosto do meu País.
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Adorei o teu texto... Parti não por necessidade mas por amor, no entanto, quando olho para o pais que deixei (mas que trago sempre comigo) acho que essa necessidade foi apenas adiada. Quando parti foi por escolha, não por obrigação. Hoje passados mais de 5 anos acho que seria obrigada a partir... será que vou regressar?
ResponderEliminarGosto tanto deste teu texto.
ResponderEliminarGosto tanto pela forma como escreveste, pelo que aqui expões.
Gosto tanto porque tanto dele também é meu. Nosso.
Um nó na garganta e a crença de que valeu a pena. São essas as dualidades que sinto e que tão bem descreves.
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